Crítica do filme Para Minha Amada Morta
Uma morna rebeldia
Uma relação melancólica entre pai e filho que, aos poucos, vai nos mostrando uma ausência pesada sobre o fotógrafo Fernando (Fernando Alves Pinto) e o menino Daniel (Vinicius Sabbag). "Para Minha Amada Morta" conduz o telespectador pela trajetória dessa família que vem tentando superar a morte de Ana, esposa de Fernando e mãe de Daniel.
Não se sabe ao certo o que aconteceu nem como Ana morreu, mas é possível perceber que foi repentino e que agora eles precisam lidar com as memórias e o que ficou da vida da mulher.
Enquanto mexe nos pertences da falecida esposa na tentativa de organizar ao menos os objetos da mulher, Fernando descobre uma fita de vídeo que vai mudar a forma como ele lembra dela.
Essa descoberta vai colocar Fernando em uma situação de curiosidade e dúvida que o atrai para um outro mundo no qual a Ana também estava envolvida, conduzindo o público por uma trama intrigante e cheia de suspense.
Dirigido e roteirizado por Aly Muritiba, Para Minha Amada Morta é uma produção brasileira que foge bastante dos padrões nacionais mais recorrentes. Com uma estética mais sombria do que estamos acostumados a ver, o longa tem uma trama muito mais focada nos conflitos internos do protagonista do que nas ações do elenco de maneira geral.
Para construir um clima de suspense intenso e um tanto nebuloso - como é característico das produções de Muritiba –, o diretor se utiliza de recursos como jogos de sombra, ambientes pouco iluminados, contrastes e brincadeiras com claro e escuro. Isso contribui bastante para uma sensação de que algo pode dar errado a qualquer momento na história.
A trilha sonora também faz toda a diferença neste sentido. Com poucas entradas em efeitos e instrumentais, o longa traz apenas algumas músicas de mais destaque, mas boa parte do filme se passa sem trilha, apenas com a fala dos personagens e o som ambiente. Em boa parte das cenas, acompanhamos o protagonista em silêncio e mesmo nessas cenas não há canções, o que leva o espectador pela mão para um destino desconhecido junto com o personagem.
Acompanhar a perspectiva do protagonista, inclusive, é na maior parte do tempo o que contribui para que o ritmo do filme seja deveras lento – esse talvez seja o ponto que mais depõe contra Para Minha Amada Morta. Não é um ritmo que agrade o grande público, que por sinal já não é lá muito fã de cinema nacional, então para muita gente pode parecer um filme arrastado e difícil de concluir.
Nos últimos anos, a indústria cinematográfica nacional vem mostrando que tem sim motivos para alcançar projeção internacional. Ao lado de filmes como "Hoje eu quero voltar sozinho" e "Que horas ela volta?", “Para Minha Amada Morta" ajuda a escrever a história do nosso cinema seguindo por um caminho que vai além das comédias escrachadas naquele estilo "Os caras de pau".
O longa de Aly Muritiba traz algumas características que também enxergamos em outras produções brasileiras – um toque sombrio, o mergulho no dia a dia e nas culturas regionais e as locações bem brasileiras são alguns dos elementos que denotam essa brasilidade.
Se seguir por esse rumo, o país tem boas chances de entrar em um circuito um pouco mais apreciado internacionalmente. É uma pena que ainda não sejam gêneros muito reconhecidos positivamente também aqui no Brasil.
Um filme curitibano que ganhou vários prẽmios