Crítica do filme Quatro Vidas de um Cachorro
Uma missão repleta de ternura
Filmes com animais protagonistas tendem a ser engraçadinhos ou emocionantes. No primeiro caso, é provável que bichos falantes dominem a cena em altas confusões. Agora, se a história é dramática, as chances de vermos uma lição com direito a muitas lágrimas é grande.
No polêmico “Quatro Vidas de um Cachorro”, que ganhou atenção após um vídeo sugerir maus tratos a animais (algo que foi negado após uma investigação), somos presenteados com a bela e dramática história do cachorro Bailey.
Sim, é um filme que segue a segunda categoria de filmes com bichos, mas nem por isso ele não tem seu lado engraçado e boas ideias para mostrar como um cachorro enxerga o mundo. Como o nome sugere, a trama acompanha as quatro vidas do cãozinho, que continua voltando à Terra para concluir uma missão.
Não se trata de um roteiro extremamente genial – também, qual filme desse tipo ganha algum Oscar, não é mesmo? –, porém há bonitas lições e piadas para fazer a família refletir sobre seus bichinhos de estimação. Apesar de um bocado previsível, há muito o que aproveitar nesta obra e a ida ao cinema é recomendada!
Bom, o título “Quatro Vidas de um Cachorro” (que em inglês é “A Dog’s Purpouse” ou “O Propósito de um Cachorro”) é bastante esclarecedor em sua composição. Só pelo nome já podemos saber que a história acompanha um cachorro ao longo de sua jornada, que transcende gerações ou, mais especificamente, quatro reencarnações.
Quando entramos no cinema, já sabemos que veremos quatro histórias distintas que se conectam de alguma forma. O relacionamento entre o cachorro Bailey e seu humano Ethan é o ponto central, mas há muitos acontecimentos que servem de base para o desenvolvimento do roteiro, incluindo a apresentação de outros animaizinhos e seus respectivos donos.
Não, este não é um filme sobre espiritismo ou qualquer teoria sobre a possibilidade dos cachorros terem almas e transitarem entre diferentes corpos. O longa-metragem baseado no livro homônimo de W. Bruce Cameron apenas usa este argumento para dar embasamento a uma trama muito mais interessante, que nos leva a refletir sobre nossas relações com os cães.
A ideia de mostrar vários cachorros e humanos é um dos grandes diferenciais do filme, que foge daquele roteiro engessado de filmes similares. Normalmente, títulos desse tipo só mostram um cãozinho passando pelo processo de adoção, aprendendo lições, amando seu humano e assim por diante. Só que são histórias únicas, lineares e pouco inovadoras.
Você sabe no que estou pensando? Pizza!
Sim, é claro que é pizza! Bom cachorro!
Em “Quatro Vidas de um Cachorro”, as diferentes histórias mostram diversos comportamentos, propósitos, reações, manias, ideias e amores entre cães e pessoas. Com essa tática, o filme tem grandes chances de fisgar os espectadores de alguma forma, já que ele lança situações das mais diversas para tentar mostrar as percepções dos cachorros sobre o nosso mundo, bem como retratar os diferentes tratos que damos aos nossos bichinhos.
Ainda que o filme tenha sacadas espertas sobre “o amor incondicional” de um cachorro, ele se diferencia ao mesclar a parte afetiva com a hilária. Há boas piadas, cenas engraçadas, situações inusitadas e ideias bizarras que só poderiam vir da mente de um cão. Com a narração de Bailey em segundo plano, “Quatro Vidas de um Cachorro” convence e diverte de um jeito agradável.
É claro que a composição de um filme nem sempre se mostra palpável, mas há sequências desta obra que retratam bem situações da vida real. Com a abordagem de diferentes histórias, o filme entrega cenas convincentes, sem deixar de lado a fantasia de Hollywood. O resultado é uma história “melzinho na chupeta” com pitadas de sabores incomuns.
Momentos com Bailey correndo em meio a campos de trigo belíssimos dão aquela pincelada cinematográfica, mas muitas gravações internas, principalmente em ambientes domésticos, tentam fazer uma conexão natural com o público. Independente do cenário em questão, a produção acerta na fotografia, bem como não deixa a desejar em questões técnicas.
Tão importante quanto toda essa parte visual é a questão sonora do filme. A composição original foi bem pensada para dar tanto o tom de aventura constante quanto para embalar os momentos mais tristonhos. A interseção entre áudio e visual é funcional, sendo de extrema competência para emocionar a plateia e arrancar lágrimas.
Ah, claro, os humanos até têm alguma relevância no filme, sendo que os atores escolhidos entregam bons complementos para o desenvolvimento da trama, mas a graça do filme mesmo é a atuação de Bailey, falando aqui tanto do cachorro diante das câmeras quanto do ator Josh Gad, que dá vida ao animalzinho com frases pontuais, cheias de graça e com boa entonação.
Apesar de previsível e melodramático (características óbvias num filme desse naipe), “Quatro Vidas de um Cachorro” é um filme legal para fugir da onda de filmes cults e cheios de significados que levam a longos debates. Um bom programa para crianças e adultos que já tiveram a maravilhosa sensação de amar um cachorrinho.
Ps.: deixo aqui meu muito obrigado ao Pingo (o cachorro mais bonzinho da galáxia) e à Mila (a mais sapeca), que já me proporcionaram tantos momentos de alegria e afeto.
Todos têm um destino para ser cumprido