Crítica do filme Sobrenatural: A Última Chave

Traiçoeiro até o último suspiro

por
Fábio Jordan

17 de Janeiro de 2018
Fonte da imagem: Divulgação/Sony Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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Apresentada há quase oito anos, a série Sobrenatural conquistou seu espaço ao revelar um universo de espíritos ousado, ainda que, vamos combinar, pouco convincente em muitas vezes. Ao longo dos anos, o título original ganhou sequências, que nos levaram a ficar perdidos e, vez ou outra, assustados em meio às tantas peripécias da parapsicologista Elise Rainier.

Neste quarto filme, que pode ser o último da saga (dado a dica no nome), acompanhamos uma história que mescla passado e futuro ao revelar os primeiros contatos da protagonista com o além. Sim, novamente, temos uma história que se encaixa antes do primeiro filme, já que você já deve estar ciente do destino fatídico dado à personagem.

Como de praxe, a sinopse repleta de adjetivos medonhos nos leva a crer que agora temos um demônio ainda mais perigoso e assustador. Na prática, a história pode ser levemente diferente, mas não se deixe enganar, porque o roteirista Leigh Whannell pode não ter se perdido totalmente e, quem sabe, talvez haja alguns pontinhos de medo e choro aqui.

Conforme você deve se lembrar do terceiro episódio, os personagens engraçadinhos que ajudam a caçar os espíritos estão de volta — e agora com uma participação talvez até excessivamente prejudicial à trama. De qualquer forma, o idealizador da história ainda tem truques, porém é possível que os fãs do terror não aceitem tão bem esse novo capítulo, ainda mais depois do filme anterior.

Chega de bagunça

Bom, em teoria, a história de “Sobrenatural: A Última Chave” vem para dar um início concreto à carreira espiritual de Elise. Com uma casa assombrada por entidades — provenientes das execuções de uma prisão de segurança máxima nas redondezas — como cenário principal, o longa começa a tomar forma de maneira forçada, mas engata depois de muita insistência.

O pulo no enredo para um futuro com a personagem já em sua fase mais experiente (como a conhecemos em outros filmes) vem a calhar, já que o filme deixa de patinar em argumentos pouco sólidos do passado. Entretanto, a personagem que antes roubava a cena com sua expertise parece estar bastante frágil — e o problema é que o roteiro todo se apoia nela.

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O grande xis da questão, no entanto, são os argumentos fracos para os casos paranormais da jovem Elise e também de seu retorno ao local mal-assombrado. Acompanhando sem prestar muita atenção ou aceitando tudo mastigado até pode funcionar, mas a falta de coerência na construção da protagonista é algo que acaba sendo um verdadeiro tombo no escuro.

Fora isso, a questão familiar de Elise também não é lá muito interessante. O destaque fica para a mãe da jovem médium, porém o restante dos parentes se mostram desastrosos em quase toda a construção do roteiro. Novamente, enfatizo que dá para engolir, mas umas pitadas de inspiração poderiam ter gerado uma trama mais ousada para uma saga tão famosa.

O último a sair apaga as luzes

E falando em parentes e amigos, vale voltar ao ponto dos personagens secundários. A dupla de “médios” (uma piada que será repetida incessantemente) clama por atenção a todo instante, o que só deixa a história mais chata e pouco atraente. Fora isso, a ideia de colocar relacionamentos forçados é uma verdadeira besteira num filme desse tipo. Simplesmente péssimo!

Falando na família, há integrantes (fora a mãe) que acabam agregando valor a este universo espiritual. Sim, se você pensou em mais alguém com poderes, você acertou na mosca. Não é preciso dar spoiler, mas é claro que a inclusão de alguém especial pode ser um gancho para uma futura continuação. Oremos para que isso não aconteça, pois as ideias parecem já ter se esgotado em termos de história.

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Quem acompanha filmes de terror sabe que é muito difícil inovar no desenvolvimento dos momentos de tensão, sendo ainda mais desafiador bolar sequências que culminem em cenas realmente assustadoras, dado que a plateia já conhece 99% dos truques. Contudo, eis aqui um ponto que vale menção em “Sobrenatural: A Última Chave”. O novo vilão é, de fato, bem assustador, muito mais do que aquele outro de cara pintada.

Não, não se trata de algo tão ousado como “Invocação do Mal 2” ou “IT – A Coisa”, porém as situações mais amedrontadoras levam algum mérito por evitar o óbvio. Parte do trabalho fica por conta da fotografia caprichada, que usa muito bem luz, sombra, fumaça e tons de azul para moldar o além, mas nada de novo se pensarmos nos episódios anteriores.

Aliás, a produção aqui parece ser mais modesta, algo limitado principalmente em função do roteiro. Dado a proporção do “além” visto nos primeiros filmes, os fãs certamente podem estar ansiosos por algo mais ousado, mas não crie expectativas tão altas. Enfim, é uma pena que uma saga com vários episódios tenha seu fim de forma sucinta e pouco convincente. O negócio é apagar as luzes e deixar essas coisas ruins de lado.

Fonte das imagens: Divulgação/Sony Pictures

Sobrenatural: A Última Chave

O Medo vem para Casa!

Diretor: Adam Robitel
Duração: 103 min
Estreia: 18 / jan / 2018