Crítica do filme Somente o Mar Sabe

Espectador à deriva

por
Lu Belin

25 de Abril de 2018
Fonte da imagem: Divulgação/Paris Filmes
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 4 min

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Um aventureiro cheio de sonhos e crente no próprio potencial, uma família desconfiada e ansiosa, um grupo de investidores ambiciosos. "Somente o Mar Sabe" reúne o que pode ser uma verdadeira fórmula para o desastre em um empreendimento pessoal e, infelizmente, no longa-metragem dirigido por James Marsh, não é muito diferente.

No longa-metragem roteirizado por Scott Z. Burns, Colin Firth (O Discurso do Rei) é Donald Crowhurst, um empresário dono de uma companhia de fundo de quintal de engenharia para barcos.

Envolvido no universo da navegação graças aos dispositivos que inventa, ele se anima para participar da Sunday Times Golden Globe Race, competição realizada em 1968 que levou velejadores a encararem um dos maiores desafios do esporte: dar a volta ao mundo sozinho em um barco, sem fazer nenhuma parada sequer.

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Acontece que, para começo de conversa, Crowhurst não tem nem mesmo um barco e nem nunca navegou para o alto mar. Talvez por isso a ideia não tenha animado muito a esposa dele, Clare (Rachel Weisz, de "A Luz Entre Oceanos").

Sem rumo

Embora o protagonista saiba exatamente de onde está partindo e onde quer chegar, o filme parece seguir na direção oposta. Depois de investir tempo demais na parte da história que acontece em terra firme, "Somente o Mar Sabe" deixa o espectador com vontade de uma aventura, mas não entrega a adrenalina prometida.

Enquanto a trilha sonora não tem força para dar ao filme o ritmo que merecia, a adaptação da trama real também fica bastante aquém do que poderia ter oferecido. A impressão é de que Scott Burns usou pouco a licença poética e não investiu em tornar de fato a história palatável ao cinema.

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Assim, o barco do filme vai sendo levado pelo vento de forma que o espectador está sempre esperando a ação rolar, mas ela nunca acontece da forma como você espera.

Não significa que filmes sobre o mar precisem necessariamente seguir um checklist de clichês, mas quando se trata de uma película que envolve o alto mar, inevitavelmente o público senta no cinema esperando ondas gigantes, buracos no casco e tubarões à espreita.

O que recebe, no caso de "Somente o Mar Sabe", são devaneios de um capitão manco apenas em substância e insosso no conteúdo. Colin Firth definitivamente fica devendo na interpretação, mostrando que mudanças físicas não fazem sozinhas boas caracterizações. O ator não consegue convencer no papel - o que é um problema sério considerando que boa parte do longa-metragem é centrada exclusivamente em seu personagem a bordo do Teignmouth Electron.

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Nem mesmo a presença de David Thewlis, o Lupin de Harry Potter, e Ken Stott, o Balin, d'O Hobbit, ajudou a salvar o caldo da interpretação, apesar de ter contribuído em parte para melhorar o sabor. Mas é Rachel Weisz que abrilhanta o cenário. A atriz mostrou competência em viver o drama cauteloso de uma esposa que, ao mesmo tempo em que quer esganar o marido pelas ideias mirabolantes e sem sentido, compreende sua necessidade e quer mostrar apoio à crise de meia idade.

Talvez por isso as cenas internas que se passam na casa da família Crowhurst se tornam as mais emocionantes - graças ao drama envolvido, o medo do não retorno do pai da família, a pressão dos investidores, entre outros.

Assim, infelizmente, um filme que se passa boa parte em alto mar acaba sendo desprovido da emoção que normalmente acompanha marujos solitários. Em outras palavras, sem sal!

Fonte das imagens: Divulgação/Paris Filmes

Somente O Mar Sabe

A vida sem luta é um mar morto...

Diretor: James Marsh
Duração: 101 min
Estreia: 26 / Abr / 2018
Lu Belin

Eu queria ser a Julianne Moore.