Crítica Terror em Shelby Oaks

Um filme de terror independente irregular, mas intenso e assustador

por
Fábio Jordan

23 de Novembro de 2025
Fonte da imagem: Divulgação/Diamond Films
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 8 min

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Terror em Shelby Oaks” nasceu de um jeito que já chama atenção: uma campanha no Kickstarter que mobilizou mais de 14 mil apoiadores. É aquele tipo de caso que faz a gente perceber como o terror independente está mais vivo do que nunca e, às vezes, mais corajoso do que muito blockbuster.

Na história, acompanhamos Mia, que não consegue superar o desaparecimento da irmã, Riley, uma youtuber especializada em investigar o paranormal. Quando uma fita misteriosa surge com indícios de que Riley pode estar viva, Mia mergulha de cabeça em uma busca desesperada que mistura dor, paranoia e aquela sensação de que algo na escuridão está observando.

O filme marca a estreia de Chris Stuckmann como diretor e roteirista de longas. Apesar de ser novato, adianto que ele mostrou sua capacidade já no primeiro projeto. Parte do bom resultado pode ser também por conta da ajuda de Mike Flanagan (diretor de séries como A Maldição da Residência Hill, A Maldição da Mansão Bly, A Queda da Casa de Usher, bem como do filme Doutor Sono e outros de terror). Flanagan assume aqui como produtor executivo e deu toques importantes no caminho, ajudando a intensificar cenas e refinar decisões de edição.

terroremshelbyoaks03 b07feFonte: Divulgação/Diamond Films

E aí surge a pergunta que paira sobre o público desde o anúncio do filme: será que esta é a reinvenção do terror found footage? Ou será que estamos diante de mais um daqueles projetos repletos de câmeras tremidas, com pouca ousadia e que terminam com criaturas jogadas na tela? Vamos falar sobre isso!

Terror em Shelby Oaks vale a pena?

Sim, talvez com algumas ressalvas, mas vale. “Terror em Shelby Oaks” começa irregular e até cansativo, mas quando engrena, entrega um terror atmosférico, tenso e surpreendentemente ousado. Não reinventa o gênero, não acerta sempre, mas tem identidade, tem coragem e tem momentos realmente marcantes. É aquele tipo de filme que cresce com o tempo e recompensa quem fica até o final.

🤩 Pontos fortes

  • Atmosfera consistente e bem construída
  • Fotografia e direção de arte mostram esmero
  • Clímax ousado com cenas realmente marcantes
  • Terror sólido sem apelar a jump scares fáceis
  • Boa estreia de Chris Stuckmann no gênero

😕 Pontos fracos

  • Abertura arrastada e narrativa inconsistente
  • Repetição de elementos e falta de refinamento em certas cenas
  • Algumas conveniências de roteiro reduzem o impacto dramático

Entre fitas perdidas e segredos enterrados

O filme se estrutura em fases — e não, ele não escolhe um formato para chamar de seu. Primeiro, temos o found footage clássico, depois um falso documentário, até finalmente cair no estilo tradicional de terror. Parece bagunçado? Um pouco. Mas funciona melhor do que deveria. Achei chato que, nas duas primeiras fases, o roteiro insiste um pouco demais no “Paranoid Paranormals” (nome do grupo de YouTubers que desapareceu), repetido isso como se fosse palavra do dia.

A introdução é o trecho mais fraco: longa, repetitiva, com ritmo quebrado. Mas depois que a trama engrena, o projeto ganha força na maneira como constrói tensão. Não há chuva de jump scares baratos; em vez disso, o terror é sólido, baseado em atmosfera, violência brusca ocasional e algumas cenas bem ousadas. O clímax, especialmente, é quando “Terror em Shelby Oaks” realmente mostra do que é capaz.

terroremshelbyoaks01 50180Fonte: Divulgação/Diamond Films

Camille Sullivan interpreta Mia, que é o coração emocional do filme e também praticamente a estrutura do projeto, já que é a única protagonista e há poucos coadjuvantes. Sua busca é turbulenta, cheia de escolhas impulsivas e algumas incoerências típicas do gênero, mas é justamente isso que mantém a história viva e imprevisível.

Realmente, um trabalho fantástico de atuação de Sullivan ao fazer um equilíbrio de pratos, já que ela é responsável por praticamente todas as emoções do filme. Ótima atuação, convincente, impactante e, por vezes, até perturbadora. Os demais nomes do elenco fazem um bom trabalho, mas por fazerem pequenos trechos, acabam não brilhando muito.

Da câmera tremida ao horror cinematográfico

A variação entre câmeras tremidas, câmeras fixas e fotografia cinematográfica tradicional poderia ser um problema, mas aqui se encaixa melhor do que o esperado. Primeiro, é bom pontuar que ainda que não seja meu estilo favorito, é inegável que dá muito trabalho construir uma narrativa com "found footage", tanto na captação quando para o time de edição. O trabalho é bem feito nesse quesito, mas por preferência própria, eu acabo preferindo o estilo mais tradicional de terror.

terroremshelbyoaks02 8e6d4Fonte: Divulgação/Diamond Films

De qualquer forma, há coerência suficiente para evitar o caos visual, sendo que após engrenar no estilo mais comum de filme, o longa-metragem prende nossa tensão facilmente e graças ao bom trabalho de fotografia e direção de arte. Graças a esse bom trabalho, a cidade abandonada, as investigações, os mitos e o universo ficcional se tornam super interessantes e têm potencial de expansão — mesmo que não saibamos se haverá espaço para isso.

Tecnicamente, “Terror em Shelby Oaks” impressiona. Um dos elementos fundamentais para um filme assim funcionar é justamente criar ambientes perfeitos para o terror se esconder nas penumbras. Aqui, temos luzes pontuais que criam um clima inquietante e cenários que parecem respirar junto da protagonista. Algumas escolhas visuais realmente chamam atenção, especialmente nas sequências mais tensas.

A trilha sonora segue uma linha segura: nada muito inovador, mas extremamente funcional. O filme não tenta nos forçar sustos com sons estridentes, o que já é um alívio. É tudo bem equilibrado, reforçando a atmosfera sem brigar por protagonismo. Importante ressaltar que nem sempre musicalidade é a melhor proposta. Nas cenas de extremo silêncio, por exemplo, temos a melhor trilha sonora: a tensão evidente na respiração da protagonista, que demonstra o pavor do desconhecido.

terroremshelbyoaks04 80f0aFonte: Divulgação/Diamond Films

A direção de arte também merece aplausos. Os cenários abandonados, as sombras projetadas, o uso de pequenos elementos em meio à escuridão para induzir ao medo do oculto e até a criatividade na condução do roteiro por meio de ambientes pouco comuns mostram que o projeto teve excelente êxito em sua concepção e execução. É aquele tipo de terror que não tem medo de mostrar e, quando mostra, faz direito.

Enfim, “Terror em Shelby Oaks” é um filme de terror que está longe de ser perfeito por não ter uma constância em seu estilo, mas que, mesmo em meio aos tropeços, consegue encontrar um espaço para inovar e nos deixar apreensivos na cadeira do cinema — resta torcer para que não haja gente sem noção conversando e usando o celular durante a projeção. Minha recomendação: veja e descubra o mistério por si próprio, a probabilidade de se surpreender é muito maior do que de se arrepender.

Fonte das imagens: Divulgação/Diamond Films

Terror em Shelby Oaks

Desaparecidos em meio a morte e podridão

Diretor: Chris Stuckmann
Duração: 99 min
Estreia: 30 / out / 2025