Crítica do filme The Post: A Guerra Secreta
Como é bonito o jornalismo!
Depois do sucesso de "Spotlight: Segredos Revelados", o universo dos cinemas nos presenteia agora com mais um belo retrato de um tipo de jornalismo que já está quase extinto: aquele que coloca a notícia acima do dinheiro e das relações pessoais. "The Post: A Guerra Secreta" estreia nos cinemas brasileiros com a missão de contar um fato vivido pelo jornal local The Washington Post durante a Guerra do Vietnã.
No recorte temporal retratado no filme, temos o editor Ben Bradlee (Tom Hanks) com uma pulga atrás da orelha sobre o que anda fazendo um dos repórteres do New York Times - seu concorrente indireto.
Na outra ponta da mesa, temos sua chefe, a presidente do The Post, Kay Graham (Meryl Streep ), uma herdeira que cresceu entre os magnatas de Washington e que tem os governantes dos Estados Unidos no speed dial.
Acontece que durante o governo Nixon, uma bomba midiática estoura e o The Post precisa se reinventar pra não ficar sempre atrás dos outros jornais e Kay é colocada em várias sinucas de bico, enquanto se esforça para tornar o jornal uma empresa de capital aberto.
Antes de mais nada, gostaria de deixar claro que quem escreve esse texto é uma pessoa apaixonada pelo jornalismo, por sua história. Então realmente me emociona assistir a uma produção cinematográfica que ressuscita o processo histórico de construção da notícia, de investigação, de caça às fontes e à informação.
Sentada no cinema, assistindo a "The Post: A Guerra Secreta", as letras se ligando, as palavras se encaixando, a prensa rodando, o boneco do jornal sendo transferido dos rabiscos dos editores e das frases datilografadas em máquinas de escrever aos tipos, à prensa, ao papel, tudo isso me emocionou, consegui sentir o cheiro do papel e da tinta. Que belo trabalho fez Steven Spielberg em romantizar o jornalismo.
O roteiro tenso e cheio de pequenas viradas de jogo construído por Liz Hannah e Josh Singer a partir de fatos históricos contribui muito para o belo resultado, mas é claramente a mão do diretor que faz do filme o que ele é.
Particularmente, gosto muito de filmes que retratam a segunda metade do século XIX. O fervor nas ruas, as manifestações em diferentes lugares do mundo... Acho que foi nas décadas de 50 e 60 que o mundo começou a se transformar no que é hoje, em termos de circulação da informação, então é muito legal ver o cinema contando isso - afinal, o próprio cinema é parte dessa mudança.
O que também começou a mudar muito nessa época foi a participação da mulher, e a questão de gênero, o lugar e papel social da mulher também passaram a ser vistos de outra forma, e "The Post: A Guerra Secreta" traz também um feminismo claramente estampado nas suas entrelinhas.
O posicionamento da personagem de Meryl Streep (claro, tinha que ser ela!), seu desabrochar a partir do papel de esposa viúva a quem cai de paraquedas a missão de comandar toda uma corporação - algo que até então cabia exclusivamente a homens - também é essencial para a história.
A fotografia do filme contribui com o bom retrato histórico, e a ambientação da redação, das salas repletas de repórteres, das casas dos personagens onde em parte se constroem a trama e a notícia, tudo é bem amarradinho. Não que seja difícil para um cara que nem o Spielberg, que criou ambientes incríveis em filmes de ficção científica, reproduzir uma redação de jornal.
Mas no fim das contas você nem presta muita atenção nos espaços, tamanho o brilhantismo do elenco e a tensão da trilha sonora, que mantém o espectador ansioso o tempo todo.
As seis indicações que o longa-metragem recebeu para o Globo de Ouro (Melhor Filme Dramático, Melhor Diretor, Melhor Roteiro, Melhor Atriz e Ator em Filme Dramático, Melhor Trilha Sonora Original) não foram à toa, então podemos esperar algumas indicçaões e - espero! - também algumas estatuetas no Oscar.
Filme recomendadíssimo para os amantes de jornalismo!
Fato noticioso