Crítica Um Dia de Chuva em Nova York
Um Filme de Woody Allen em cartaz
É difícil separar uma obra de seu criador. Dito isso, diante das polêmicas, muita gente possivelmente boicotará o novo projeto de Woody Allen. Contudo, tirando as questões controversas, devemos admitir que o cineasta encontrou seu estilo que, ainda que não agrade a todos, merece reconhecimento.
Dito isso, vou me concentrar em falar da obra “Um Dia de Chuva em Nova York”, tanto de seu brilhantismo quanto de seus momentos mais nublados. Em mais um roteiro de autoria própria, Woody Allen resolve trazer mais algumas historinhas cotidianas da cidade que ele tanto ama e sempre retrata em seus filmes.
Assim como em outros projetos, Woody Allen opta por criar uma trama montada aos pedaços através de desventuras dos personagens mais inusitados possíveis. No centro desta bagunça da vida, temos a jovem Ashleigh (Elle Fanning) que precisa ir à Nova York fazer uma entrevista com o cineasta Roland Pollard (Liev Schreiber) que lhe renderá uma matéria para o jornal da faculdade.
Aproveitando a carona, Gatsby, o namorado excêntrico e antigo morador de Nova York, decide acompanhá-la para passar um dia romântico na cidade. Entretanto, nada sai conforme o planejado e os dois têm experiências completamente distintas num dia chuvoso, algo que pode resultar em grandes aprendizados para ambos.
Como de praxe, eu gosto de adiantar o papo e esclarecer o assunto para quem não quer ler a crítica completa. Basicamente, “Um Dia de Chuva em Nova York” é mais um filme com a marca registrada de Woody Allen: personagens inusitados, aquele humor característico e um roteiro que sai do nada e vai a lugar nenhum.
O cineasta sempre teve esse jeito de fazer recortes do dia a dia, então nada de novidade aqui, mas isso não significa que o filme é ruim. No todo, é um filme que tem seu charme, principalmente pelas cenas bem planejadas, que aproveitam muito a sofisticação da cidade e a romantização de personagens que só existem em filmes.
Eu já vi uma penca de filmes de Woody Allen, mas eu acho que esse é um dos mais vagos em sua proposta. O filme tenta manter vários protagonistas, mas fica difícil compreender qual é o rumo que ele quer dar à história. Sim, há um desenvolvimento e um ponto final, mas isso não significa que a moral seja convincente.
De um lado, temos uma personagem humana, uma jornalista que ilumina o filme, que dá o tom cômico. Do outro, há o jovem namorado que deixa o clima pesado, tanto por sua personalidade forçada e nada convincente quanto por sua falta de humor. É uma jogada ousada do roteiro, que usa contrapontos numa história de amor e ciúmes.
O problema é que ele não engata em nenhum momento, devido a falta de conexão com a realidade. Ok, pode ser que existam pessoas assim, mas também é verdade que elas não necessariamente são as mais interessantes para um filme. Me parece que o resultado é só mesmo “Um Dia de Chuva em Nova York”, uma pura divagação sobre a vida juvenil.
E, pra ser honesto, no andar da carruagem, a gente acaba gostando muito de algumas cenas, mas pegando um ranço em outras situações. E mesmo que esse jogo de toma lá dá cá acabe culminando em algumas situações engraçadas, é difícil levar o filme no mesmo tom do começo ao fim.
Falo tudo isso com sinceridade, pois assim como há pessoas que amam o humor proposto aqui, há também uma boa parcela do público que até pensa em degustar tons de comédia diferentes, porém que não vai encontrar nesta obra o melhor de Woody Allen.
E eu não sei o porquê, mas parte da história de “Um Dia de Chuva em Nova York” me dá a impressão de que Woody Allen tentou utilizar seus personagens para retratar parte de suas experiências profissionais ou, ao menos, podemos ter essa impressão com a história do cineasta fictício dentro do filme.
Apesar dos personagens um tanto deslocados da realidade, é preciso atentar ao fato de que este filme consegue ao menos conversar com o público jovem. Parte do sucesso obtido aqui é do elenco muito bem escolhido, que sabe conduzir a história de forma elegante e bem-humorada (ou muito esquisita, como é o caso de um dos protagonistas que já comentei).
Todavia, tão importante quanto os protagonistas são os coadjuvantes que não apenas agregam muito ao humor do filme, como em alguns casos até roubam as cenas para criar situações cômicas. Novamente, muitos dos caminhos apresentados sequer soam plausíveis, mas talvez essa seja graça da coisa.
Bom, apesar de obter sucesso em termos humorísticos por conta dos esforços do elenco, é inegável que Woody Allen já não tem o mesmo feeling com relação ao público, uma vez que ele não entende a nova geração que vai aos cinemas. As piadas até funcionam, mas somente com um pouco de esforço e paciência, pois é preciso digerir os personagens incomuns.
Como de praxe, uma característica positiva do filme é a composição muito marcante de direção de arte e trilha sonora. Sabe aquele tom sépia de fim de tarde alaranjada com cenários apaixonantes e as músicas em piano (aqui até tocadas por um personagem durante as cenas) já característicos de Woody Allen? Então, isso jamais sai de moda e claro que o diretor não iria tirar essa assinatura desta obra.
É sempre complicado sumarizar obras que ficam no limiar entre o agradável e o duvidável, mas eu acho que no fim, apesar das chatices e da moral fraca, Woody Allen ao menos consegue entregar um filme bonito e engraçadinho. Ele não encontra um gênero para seu filme e tenta mesmo manter essa ideia de como os caminhos se cruzam de forma aleatória numa bem imprevisível.
Qual é a sua paixão?