Crítica do filme Verão de 84

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por
Fábio Jordan

17 de Outubro de 2020
Fonte da imagem: Divulgação/Sofa Digital
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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É curioso como desde o lançamento de “Stranger Things”, todo filme ambientado na década de 1980 com personagens adolescentes faz as pessoas comentarem coisas do tipo: “Nossa, esse filme é muito Stranger Things, né?”.

É claro que já existiam muitos filmes ambientados nesta década, protagonizados por adolescentes e com músicas de suspense, mas algumas características específicas, usadas em conjunto, fizeram a série virar um referencial.

O filme “Verão de 84” é mais um filme que lembra muito a série “Stranger Things”, mas de comum ela só tem essa atmosfera dos anos 80 e a trilha sonora Synthwave que lembra bastante as composições de Jean-Michel Jarre, Vangelis e Giorgio Moroder.

Aliás, é interessante perceber a dificuldade para os cineastas inovarem ou, ao menos, para não dar a impressão de que eles copiaram outras obras, como o próprio “IT – Uma Obra do Medo”, que traz uma “turminha do barulho” de investigadores.

Mas a trama de “Verão de 1984” vai por um caminho completamente diferente, então não espere nada sobre mundo invertido, crianças com superpoderes, aliens do filme “Super 8” ou palhaços assustadores retirados da mente de Stephen King.

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Muito mais pé no chão e com questionamentos interessantes, o roteiro aborda o grupo de adolescentes que desconfia que o vizinho policial é, na verdade, um serial killer. A partir disso, eles decidem passar o verão investigando e juntando provas, mas conforme eles se aproximam de descobrir a verdade as coisas ficam perigosas.

Já adiantando que, se você veio aqui para descobrir se o filme é bom, eu posso dar a resposta rápida: sim, “Verão de 1984” é um filme que diverte na medida e entrega uma boa trama. O desenvolvimento do filme é um tanto lento e mesmo com a trama um tanto óbvia, o final consegue surpreender e vale muito a pena.

Suspense constante

Filmes que entregam o ouro já no trailer acabam não tendo muito para contar, eis talvez o fator mais limitador de “Verão de 84”. Quer dizer, mesmo que haja uma reviravolta surpreendente, você ter um norte específico, impede que o roteiro voe para ideias inusitadas.

Assim, ao dar play no filme, a gente já sabe exatamente o que esperar: uma turminha do barulho tramando planos para investigar seu alvo. Assim, toda a trama do filme é ver os garotos divagando sobre as suspeitas que têm do vizinho e como eles podem provar que ele tem culpa no cartório.

Veja que isso não é um problema, existe muitas opções de investigação e o andar da carruagem depende somente da criatividade do roteiro. Infelizmente, o script não tem uma criatividade de outro mundo, mas, por outro lado, é de se questionar se todo filme precisa ser um Stranger Things com situações de cair o queixo.

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O ponto é que a trama mais se aproxima de “Detetives do Prédio Azul” do que de “Sherlock Holmes”. Totalmente normal para uma turminha que só tem lanternas e walkie-talkies como ferramentas. Contudo, o filme não prende tanto nossa atenção pelos desenrolar dos fatos e tenta compensar de outras formas.

Um dos apoios mais evidentes para o suspense é a trilha. No entanto, a produção exagera no uso das músicas como alavanca de mistério e só parece algo deslocado. Em alguns casos, a trilha com sintetizadores de graves reforçados em loop é inserida em cenas simples, como uma espiada pela janela ou numa simples reunião do grupinho.

Assim, com quase uma hora e cinquenta minutos de duração, o filme dá muitas voltas para chegar à conclusão. Não que seja um problema, pois temos atuações excelentes, boas piadas, ótimos figurinos, excelente ambientação e a trilha sonora competente. Tudo se encaixa, só parece que poderia ser mais curto para chegar ao mesmo ponto.

Pra deixar a gente pensando

Apesar da enrolação evidente no roteiro, o filme “Verão de 84” entrega uma conclusão muito surpreendente, que não só encerra o período das investigações, como foge do clichê e deixa o público pensativo. Aliás, é interessante que eu falei em como o filme “dá voltas” e, talvez, isso seja até proposital.

Uma indagação proposta no início da trama deixa a gente com a pulga atrás da orelha: “você já pensou que até mesmo assassinos em série têm vizinhos”? Encerrar o filme com questões similares mostra que esse é o tipo de coisa que nunca é respondida, pois temos muitos vizinhos e não conhecemos as pessoas de verdade.

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Todavia, o melhor de “Verão de 84” é justamente a fuga do clichê. Mesmo o filme apostando em vários argumentos e técnicas comuns no desenrolar do script, ele faz uma reviravolta muito potente na reta final. Primeiro, com uma redenção importante, depois com um desfecho impagável.

É raro ver títulos que apostam em finais tão ousados, pois a gente realmente espera os finais clássicos: o bem vence o mal ou vice-versa. Todavia, há mais opções fora do lugar comum. Uma ótima pedida de nostalgia, com acompanhamento de boa música e piadinhas. Quem já assistiu sabe que a conclusão é impagável. Agora, se você ainda não viu, vale gastar os R$ 4,90* pra alugar na Apple TV, pois é um bom entretenimento!

*Valor pode variar conforme período promocional na loja da Apple TV. 

Fonte das imagens: Divulgação/Sofa Digital

Verão de 84

"Aprendi que havia dentro de mim um verão invencível"

Diretor: François Simard, Anouk Whissell, Yoann-Karl Whissell
Duração: 106 min
Estreia: 29 / Ago / 2019