Crítica do filme Vidro

Genialidade ameaçada pela Fragilidade

por
Fábio Jordan

21 de Janeiro de 2019
Fonte da imagem: Divulgação/Buena Vista International
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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A gente já sabe que Hollywood tem essa mania feia de querer fazer fortunas com qualquer ideia que convença o público, mas esse não parecia ser o caso do diretor M. Night Shyamalan. O cineasta que lançou um punhado de filmes geniais, também teve sua carreira permeada por uma penca de obras que deixaram o público dividido.

Fato é que suas últimas investidas foram muito bem acertadas, principalmente quando falamos de “Fragmentado”, filme muito bem construído que exigiu não apenas um roteiro e um direcionamento bem acertado, como também uma atuação impecável para convencer o público – algo que a gente reconhece na performance aprofundada de James McAvoy.

Bom, mas independente do sucesso do filme, parece que Shyamalan já tinha a ideia de dar continuidade a este universo de seres extraordinários, que foram apresentados lá em 2000, com o brilhante “Corpo Fechado”, tanto é verdade que os créditos de “Fragmentado” já tinham uma cena trazendo Bruce Willis de volta, numa clara intenção de fazer uma salada.

O longa-metragem “Vidro” vem para dar continuidade à história de seu antecessor e tentar fazer uma longa viagem ao passado para conectar as pontas com “Corpo Fechado”. Nesta nova história, Kevin Crumb (McAvoy) continua suas loucuras e faz novas vítimas, mas logo ele começa a ser perseguido pelo justiceiro David Dunn (Bruce Willis).

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Todavia, essa caçada só se intensifica mesmo quando eles são manipulados por Elijah Price (Samuel L. Jackson), que já havia manifestado suas fraquezas e habilidades lá em “Corpo Fechado”. A situação é inusitada, o jogo de presa e predador é intenso, mas a verdade só será revelada nos acréscimos do segundo tempo. Se vale a pena? Até que a ideia é interessante, mas há alguns pontos a considerarmos neste movimento ousado de Shyamalan.

Juntando os pedaços

Primeiro, é válido enfatizar que a sinopse acima não contém spoilers que vão prejudicar a sua experiência e, para ser sincero, o desenvolvimento de “Vidro” até tem adendos interessantes para dar substância a esta história.

No entanto, é bom ressaltar que o roteiro deste capítulo (com seres humanos bizarros) é de uma simplicidade um tanto preocupante. A maior dificuldade para o autor da história era ligar as pontas depois de um período tão longo do lançamento do primeiro filme. E aí que a coisa fica complicada.

Eu não sei vocês, mas eu tenho a impressão de que o roteirista não tinha essa concepção de expansão na época do “Corpo Fechado”. A ideia talvez nasceu com “Fragmentado”, tanto que tivemos uma cena, mas essa conexão tardia pode soar bem forçada.

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Digo isso pelo simples fato de que tudo em “Vidro” parece ser muito acontecimento do acaso. As peças se encaixam facilmente e a união dos personagens não convence, ainda mais porque a plateia não sabe o que Elijah Price e David Dunn fizeram ao longo de todos esses anos. O filme até tenta se explicar, mas ficam várias lacunas que deixam dúvida na plateia.

Não bastasse isso, a forma como o script conecta os protagonistas é bem lenta. A impressão que dá é que o roteiro não tinha muito a contar, então o autor preferiu ficar se enrolando para aumentar a duração. O resultado é que ficamos cansados com pouca coisa acontecendo, bem como questionando se esse é o mesmo roteirista dos outros filmes.

Nem tudo é tão transparente

Se por um lado o roteiro é preguiçoso, por outro temos boas cenas com os protagonistas. E felizmente, dessa vez, Shyamalan teve o capricho de desenvolver melhor as múltiplas personalidades de Kevin Crumb. O resultado é que temos uma breve continuação de “Fragmentado”, com novas facetas do personagem ganhando projeção significativa.

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Nesse sentido, não há absolutamente nada a reclamar, pois os atores estão perfeitamente confortáveis em seus papéis. Mesmo tendo uma pausa de quase duas décadas entre o primeiro filme e este novo episódio, Bruce Willis e Samuel L. Jackson parecem ser exatamente os mesmos homens, porém mais velhos. James McAvoy dispensa comentários, pois ele é o centro das atenções.

E, justamente seguindo a vibe do filme anterior, podemos ver que a pegada em “Vidro” é mais reclusa e contida. Há pouco a se desenvolver em questão de fotografia e as locações são bem limitadas, também fazendo questão de trancafiar os espectadores em espaços apertados com esses seres inusitados. Se a ideia era deixar a gente angustiado, então o trabalho foi bem feito.

Um acerto em cheio novamente é a direção, que consegue aproveitar o melhor de cada personagem. É notável inclusive a diferença e evolução de M. Night Shyamalan de 2000 para 2017 e 2019. O diretor está mais ousado no comando da câmera, passeando pelos cenários e retratando de forma tensa as habilidades dos protagonistas.

“Vidro” é um filme ousado, mas seu brilhantismo é ofuscado pelo roteiro pouco transparente 

No fim do dia, temos uma produção redondinha, mas cheia de fragilidades, que são expostas à plateia por conta do roteiro um tanto vago e pouco criativo. Se a ideia era fazer dinheiro, talvez Shyamalan até consiga uns trocados, porém este “universo” baseado em quadrinhos pode não ter muito futuro. Enfim, vale a ida ao cinema, mas diminua as expectativas.

Fonte das imagens: Divulgação/Buena Vista International

Vidro

Você não pode conter o que não pode ver!

Diretor: M. Night Shyamalan
Duração: min
Estreia: 17 / Jan / 2019