Crítica do filme White God

O mês do cachorro louco levado a sério

por
Lu Belin

13 de Maio de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Imovision
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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Ter que se despedir precocemente de um bichinho de estimação amado é um drama que fez parte da vida de muitas crianças. Mas, é ainda pior quando isso acontece puramente pela crueldade ou preguiça de um adulto.

Esse poderia também ser o grande trauma da vida da mocinha Lili, a protagonista de "White God" que, aos 13 anos, se muda temporariamente para a casa do pai, com quem ela convive muito pouco, depois que a mãe precisa ficar um tempo fora do país.

Qual é a surpresa do açougueiro Daniel (Sándor Zsótér), porém, quando ela chega acompanhada por Hagen, o inseparável companheiro da menina. Ele até tenta por umas horinhas, mas não aguenta a presença do amigo peludo e além disso, se recusa a pagar a multa por ter em casa um cão de raça mestiça.

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Num instante de raiva, se livra do bicho abandonando-o sem o menor pudor. Lili, no entanto, está determinada a não se afastar do amigo por nada na vida.

Não é mais um Marley e Eu

Todo filme de cachorro tem um potencial imenso de se transformar em uma dramédia, e é provável que mesmo os donos dos corações mais durões já tenham se sensibilizado e se divertido com essas criaturinhas mágicas.

Pois bem, se tem uma coisa que os roteiristas Kata Wéber, Kornél Mundruczó e Viktória Petrányi conseguiram fazer, é criar um filme que se distancia completamente do padrão e de tudo o que você já viu quando o assunto é "filme de cachorro".

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Esqueça os clichês: Hagen não fala (não, nem dentro da cabeça dele), não faz carão, não faz truques, não salva bebês de dentro da água, nem é sacrificado por estar doente. Ele tem sua própria trajetória, que, eu diria, é bem única dentro do cinema, e consegue, com isso, conquistar o coração do público.

Aliás, todo o filme é realmente bem único. Para nós ocidentais, acostumados ao sotaque malemolente dos blockbusters norte-americanos, assistir a filme húngaro já é uma experiência diferente. Quando o roteiro é peculiar, então, nem se fala.

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Do diretor Kornel Mundruczó, o longa-metragem explora recursos como a paleta de cores neutras e de tons quase obscuros e a trilha sonora tensa e diversificada pra criar um ambiente que beira ao suspense e consegue surpreender o espectador na maior parte do tempo.

Bons dogs, maus humanos

Como avaliar a capacidade artística de um cachorro? É muito fácil mandar bem em um papel quando você está se autointerpretando, certo? Mas eles fazem essa cachorrada fazer cada proeza nos filmes, que não tem como não se impressionar. E, nesse sentido, o Body, cachorro escolhido pro papel de Hagen, arrasa!

A menina Zsófia Psotta, que interpreta Lili, também manda bem na atuação, irritando um pouco o espectador com sua impertinência adolescente.

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Por falar em irritar, esse é o sentimento que predomina enquanto você assiste a "White God". As figuras humanas do longa-metragem são extremamente irritantes, com sua personalidade intolerante e puramente má – ao contrário dos cachorros.

Repara, por exemplo, nessa carinha de galã de Hollywood na foto abaixo. Essse cara ganhou até mesmo uma Palm Dog, a versão canina da Palma de Ouro, do Festival de Cannes! E, por falar em Cannes, "White God" venceu o prêmio Un Certain Regard, em 2015, e foi selecionado para representar a Hungria como Melhor Filme Estrangeiro no mesmo ano, mas não chegou a ser indicado.whitegod 5 bdbcc

Mas, voltando aos humanos e ao universo quase distópico do filme, é exatamente por conta dessas cenas mais pesadas que não se trata exatamente de um filme prazeroso de ver. Fica inclusive aqui o nosso alerta!

Se você está pensando em juntar a criançada para ver um filme de cachorrinhos, "White God" não é a escolha mais adequada. 

Pensado unicamente para chocar e mostrar a realidade de como vivem os cachorros de rua, o longa se utiliza de alguns exageros e cenas pesadíssimas de maus tratos aos animais para alcançar esse objetivo. Então, fique atento à classificação indicativa e não deixe de reservar uns vídeos de dogs bonitinhos pra ver depois, porque, se você é um amante de animais, a bad com certeza vai bater depois de ver este filme.

Fonte das imagens: Divulgação/Imovision

White God

Aqueles que ninguém quer, um dia terão a sua vez

Diretor: Kornel Mundruczó
Duração: 121 min
Estreia: 18 / Feb / 2016
Lu Belin

Eu queria ser a Julianne Moore.