Crítica do filme Z: A Cidade Perdida

A aventura está logo ali

por
Fábio Jordan

08 de Junho de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Imagem Filmes
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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Nós aprendemos ao longo da vida sobre a ganância e a desejo infindável do homem em desbravar cada canto do planeta — o que geralmente inclui a necessidade de acabar com inúmeras formas de vida e também a imposição de tirar proveito de tudo e todos.

Neste nosso mundão enorme e cheio de surpresas ainda existem lugares que não foram tocados pelo homem, lugares onde ainda há esperança e paz. Todavia, os exploradores sempre se esforçaram em chegar aos mais remotos cantos para explorar o desconhecido.

Alguns nomes gravados na história ficaram conhecidos pelas barbáries, outros como o de Percy Fawcett, no entanto, foram eternizados pela vontade de conhecer diferentes habitats, variadas culturas e histórias escondidas nas pedras.

O explorador inglês é famoso por suas aventuras pelo mundo lá por meados de 1910 e 1920, mas principalmente pela expedição em busca da Cidade Perdida de Z. O destino em questão ficava no coração da Amazônia e, supostamente, era feito de ouro. Em “Z: A Cidade Perdida”, podemos acompanhar esta jornada para conhecer os segredos da América do Sul.

O grande explorador da natureza

Apesar de ser um soldado e de sonhar com condecorações, Percy Fawcett se destacou por sua destreza em explorar territórios e mapear tudo que via pela frente. Um dos focos do filme é esta mudança na carreira do protagonista, que o levou a deixar a agressividade do campo de batalha para assumir a bandeira da aventura e da compreensão para com o próximo.

Assim, um tanto da história se desenvolve com base na relutância de Fawcett e, depois, outro pelo fascínio que ele desenvolveu pela mata e os diferentes seres humanos que dão vida a tal ambiente. O personagem nos guia de forma empolgante pelos cenários desconhecidos e se mostra aberto às novidades, sempre motivado pelo anseio de realizar uma grande conquista e também de voltar para sua família como um homem de muito orgulho.

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A representação do homem frente às câmeras é muito similar à de um Indiana Jones das selvas, mas com um heroísmo mais controlado, já que o perigo não é tão recorrente. Nesse ponto, a escolha de Charlie Hunnam (que também é o protagonista do novo “Rei Arthur: A Lenda da Espada”) para o papel foi curiosa, mas, após ver o resultado, também foi muito surpreendente.

O roteiro de James Gray foca bastante na personalidade diferenciada de Fawcett, que tenta a todo instante convencer os demais sobre os inúmeros segredos da Amazônia e a necessidade de dar atenção especial aos povos inteligentes do local. Uma mente dessas parecia bastante rara para a época em que o filme é ambientado, já que o homem branco ainda era supremo perante qualquer outro povo.

Em sua simplicidade, o explorador britânico conquista o público ao mostrar parcimônia para com a missão e um trato diferenciado para com aqueles que conhecem a mata. Com muito tato para abraçar o personagem, Hunnam faz aqui um ótimo trabalho, principalmente ao guiar muitos dos coadjuvantes pela jornada inusitada.

O mundo é belo e cheio de surpresas

Ao longo de vários capítulos, temos a oportunidade de embarcar na jangada de Fawcett pelos rios em meio à Amazônia, rumo aos matagais e às belas cachoeiras da fronteira entre a Colômbia e o Brasil. Os cenários permeados por tons de verde guardam inúmeros segredos, incluindo animais, armadilhas e tribos que dão algum tom de perigo à jornada.

Em busca de realismo, a produção “Z: A Cidade Perdida” levou quase oito anos para ser finalizada, sendo que muitos dos ambientes no filme realmente foram gravados na floresta da América do Sul. A fotografia é simplesmente arrasadora. Cada palmo explorado pelas lentes de James Gray nos leva a respirar esse ar de aventura permeado por uma flora de beleza ímpar.

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Apesar do verde predominante, o tom sépia é marcante em muitas cenas, talvez para dar a característica de época ao filme. Com alguns flashbacks e viagens para outros cenários, essa mudança no colorido até acaba fazendo sentido, até para não deixa o espectador cansado diante de tanta natureza.

E o termo “tanta” merece ser grifado, pois este longa-metragem é realmente longo. Ele não precisa de subterfúgios para deixar a história mais interessante, sendo que todo o material apresentado é, de fato, essencial para a composição da história. Todavia, esse aviso é importante para os desavisados que vão buscando um filme mastigado do tipo blockbuster.

Este é um filme histórico e muito investigativo, pautado muito na fotografia e no diálogo, então não espere ação desenfreada. O convite é para uma viagem pela floresta e pelas memórias de um grande explorador, sendo que as descobertas são o grande prêmio. Nesse sentido, temos aqui uma obra muito rica em detalhes e bastante curiosa.

A jornada pensada em detalhes

Nessa missão de descobertas, os nomes que completam a equipe são conhecidos, mas o destaque fica para Robert Pattinson. Com barba volumosa e muito peso na história, ele faz um ótimo trabalho ao complementar as lacunas no roteiro. Sienna Miller e Tom Holland são outros dois grandes personagens que dão um tom diferenciado à história.

Inclusive, Sienna Miller dá vida à Nina Fawcett, esposa do explorador que faz bons questionamentos na obra, principalmente no que diz respeito à questão do papel da mulher na sociedade daquela época — até porque ela era muito participativa nas pesquisas e queria ter seu reconhecimento.

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Contudo, o filme só fica mesmo completo com a participação dos nativos, que não apenas atuam, como dão vida à história. Sem a presença dos índios, certamente o resultado seria muito abaixo do esperado, então é uma vitória ver esse tipo de cuidado. Legal também ter a participação do ator italiano Franco Nero aqui, ainda que só numa pontinha.

Para dar coerência à aventura, o time de produção caprichou muito nas maquiagens, nos figurinos e também nos objetos que dão consistência aos cenários. Tudo foi pensado com cuidado e orquestrado para casar perfeitamente com a trilha empolgante. Apesar do ritmo cadenciado, “Z: A Cidade Perdida” tem um charme incomum no cinema, com uma magia legítima que nos leva a uma experiência bastante gratificante. Recomendado ver na telona!

Fonte das imagens: Divulgação/Imagem Filmes

Z: A Cidade Perdida

Estava perdida, mas foi achada

Diretor: James Gray
Duração: 141 min
Estreia: 1 / Jun / 2017