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Critica Thor: Amor e Trovão | Desventuras existenciais do viking espacial

No que só consigo descrever como uma "farsa teatral", Taika conduz um filme que não tem medo de ser ridículo. Thor: Amor e Trovão é o proverbial "filme Sessão da Tarde" contemporaneo; leve, divertido e com uma boa dose de ação. A despretensiosidade do título faz com que o espectador não se preocupe com qualquer desdobramento do MCU, das ameaças cósmicas ou do colapso iminente do multiverso; tudo o que importa é que Thor Odinson está em cena!

Extrapolando ao máximo varias ideias com as quais já havia experimentado em Thor Ragnarok, Waititi mistura gêneros, abusa da caricatura e nunca se deixa levar a sério. Thor: Amor e Trovão não é nem perto de perfeito, mas em nenhum momento parece almejar tal status. Taika Waititi e seu elenco embarcam nessa jornada sabendo o destino, mas sem se importar com o trajeto. O diretor e os atores experimentam o tempo todo ao logo da película, mesmo que nem sempre com sucesso.

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O elenco entrega tudo o que se espera de nomes como Christian Bale, Natalie Portman, Tessa Thompson , Chris Hemsworth e Russell Crowe — que beira o ofensivo em uma versão deliciosamente caricata de Zeus. Cada um, com seu estilo, consegue transformar personagens “unidimensionais” em figuras que chamam a atenção o suficiente para preencher algumas lacunas do roteiro.

Muito acaba se perdendo ao logo do caminho, mas o que chega até o final é mais do que suficiente para entreter e mostrar que é sim possível quebrar o molde dos filmes de heróis. Thor: Amor e Trovão não supera seu predecessor na franquia do deus nórdico da Marvel, mas é um filme que entende seu lugar dentro do MCU, ao mesmo tempo em que parece não se importar com isso.

Ana Raio e Zé Trovão

Sem perder tempo, Waititi nos joga direto na ação seguindo diretamente após os eventos de Vingadores: Ultimato, vemos Thor acompanhando os Guardiões da Galáxia em missões espaciais enquanto busca pela sua verdadeira essência. Logo a trupe do viking espacial encontra o rastro de morte deixado por Gorr, um vilão em busca de vingança contra todos os deuses do cosmos.

Para impedi-lo, Thor e Korg, seu trovador, partem para Nova Asgard para recrutar o auxílio da Valquíria, apenas para descobrir que o Mjölnir (seu ex-martelo) foi restabelecido e agora é empunhado por Jane Foster (sua ex-namorada), ou melhor a Poderosa Thor. Odinson acredita que a força combina dos três guerreiros não será suficiente para parar Gorr, e resolve tentar a sorte convocando outros deuses de outros panteões para ajuda-lo nessa batalha.

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Apesar de estar permeado de temas e personagens interessantes, o roteiro nunca deixa folego suficiente para estes possam se desenvolver. O humor sempre preenche os vazios e qualquer conflito pessoal interno acaba invariavelmente se transformando em uma risada.

A grande verdade é que as piadas funcionam, mesmo que de um jeito infantil, e fazem com que ninguém precise falar de assuntos mais sérios. Porém, entre uma piada e outra, e são muitas, Amor e Trovão tenta entender a essência do herói e até apresenta uma delicada história sobre pessoas procurando por um sentido na vida, seu lugar no universo, sua mortalidade e até mesmo seu relacionamento com o divino. 

Deus está morto... talvez

Adaptando, muito livremente, os arcos das histórias em quadrinho Carniceiro dos Deuses (2012) e A Poderosa Thor (2014), o filme nunca alcança todo o potencial das sagas comandadas por Jason Aaron. Waititi parece ter entendido muito bem a essência de ambos os quadrinhos, haja vista a forma competente como o diretor contrapõem Gorr e a Poderosa Thor.

Todavia, a avalanche de piadas e pressa narrativa rouba muito do desenvolvimento de ambos personagens. O pouco que vemos de Gorr é trabalhado mais pelo talento de Christian Bale do que pelo desenrolar natural da trama. Uma criatura incrivelmente complexa que injeta temas niilistas em um filme de ação cujo super-herói é uma divindade garantiria por si só uma longa exposição e desdobramentos filosóficos que certamente chamariam a atenção do público.

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Enquanto isso, a luta de Jane Foster, vulgo a Poderosa Thor, tenta transformar sua dor em esperança. Sem deixar de evocar conceitos teológicos, de mortalidade, do divino e como humanos e deuses lidam com a vida e a morte, o filme tenta trazer isso a tona, mas sem muita profundidade. 

Assim como Christian Bale, Natalie Portman extrai o máximo da sua Jane Foster, porém, o ritmo acelerado do filme não deixa muitas conexões se estabelecerem e no final, todas as subtramas não expõem toda sua capacidade. Fica um sentimento anticlimático de que algo está faltando, que havia muito mais por detrás das cortinas e demos apenas uma espiadela por entre os panos.

Se você não espera vislumbres fenomenológicos heideggerianos sobre o Ser-aí-no-mundo, Amor e Trovão vai te agradar em cheio!

Os problemas de Thor: Amor e Trovão derivam todos de um mesmo ponto, a sua pressa. Parece haver uma ansiedade generalizada que não permite que o roteiro tenha seus momentos mais lentos, que os personagens possam desenvolver suas emoções e que o espectador possa respirar.  Toda essa celeridade ajuda em muito a manter o ritmo elevado, e entregar piadas com muita suavidade, mas sem dúvida prejudica a dramaticidade de toda a história.

Abracadabra 2 | Trailer legendado, dublado e sinopse

29 anos depois de serem contidas, as irmãs do século XVII se encontram em uma aventura inédita, quando são ressuscitadas por três adolescentes que prometem fazer de tudo para complicar suas vidas na modernidade e evitar que um caos ainda maior tome conta da cidade.

Bob's Burger: O Filme | Teaser trailer oficial e sinopse

Baseado na série de animação infantil do canal Fox sobre as aventuras da família Belcher. No mês mais quente do ano, no verão, um cano quebra bem em frente ao Bob's Buger, bloqueando a entrada de qualquer pessoa ao estabelecimento e arruinando os planos de uma boa venda na época. Enquanto Bob e Linda lutam duro para manter o negócio funcionando, os filhos do casal tentam resolver o mistério do cano que arruinou o verão e restaurar o restaurante da família. Mas quando os perigos aumentam cada vez mais, a família terá que se juntar para continuar com o Bob's Burger.

Thor: Amor e Trovão | Trailer legendado, dublado e sinopse

A quarta aventura solo de Thor (Chris Hemsworth), personagem da Marvel. O vigésimo nono filme do universo cinematográfico da Marvel, é uma sequência direta de Thor: Ragnarok e Vingadores Guerra Infinia/Ultimato. Após os eventos de Vingadores: Ultimato (2019), Thor tenta encontrar a paz interior, mas é interrompido quando Gorr, o Deus Açougueiro, ameaça eliminar todos os deuses. Para eliminar a ameaça antes que seja tarde demais, Thor recruta o recém-nomeado rei de Nova Asgard Valquíria, Korg e Jane Foster, que se tornou a Poderosa Thor.

A Bolha (2022) | Trailer legendado e sinopse

No meio das gravações de um filme de ação sobre dinossauros voadores, um grupo de atores precisa iniciar o isolamento em um hotel de luxo, presos em uma bolha pandêmica. Com toda a equipe dentro do hotel, fugindo da pandemia de Covid-19, tudo fica mais complicado e o desafio será completar o filme que começaram - além de sobreviver à crise sanitária e aos próprios colegas de trabalho. Uma sátira aos desafios que o mercado cinematográfico encontrou - na pandemia real - para realizar suas produções.

Critica do filme Batman (2022) | O melhor de todos os tempos da última semana

Com um elenco afiado a nova aventura do Morcegão nos cinemas tira o retrogosto deixado pelo Snyderverso, ao mesmo tempo em que ainda dá acenos amistosos para as viúvas de Christopher Nolan e sua versão do Cavaleiro das Trevas. Matt Reeves aposta, inteligentemente, no clima noir para apresentar um herói e um vilão cujas concepções de justiça e vingança se confundem como diferentes lados de uma mesma moeda, enquanto ambos buscam a redenção de uma cidade atolada em um pântano de corrupção.

As quase três horas de duração são justificadas, mesmo que por momentos façam o filme parece mais lento do que necessário. Tudo tem um motivo de ser, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento dos personagens, mas obviamente, 176 minutos acabam exigindo um pouco do expectador. Se você espera apenas um filme pipoca, melhor se preparar, porque Batman (2022) é uma experiencia cinematográfica mais elaborada, com performances elevadas e uma narrativa esforçada.

Sem grandes reviravoltas, o novo Batman é um filme policial que calha de ter um “super heroi” como protagonista. Misturando estilos como muita habilidade, Reeves empresta elementos de David Fincher, Scorsese, Nolan e afins para  criar uma espécie de "thriller noir" com muito suspense e cenas de ação impactantes. Infelizmente todo esse afã tecnico não consegue explorar todas as facetas do homem morcego, entregando no fim um título que funciona muito bem, mas não atinge todo seu potencial. 

O cavaleiro das trevas ressurge no longo dia das bruxas...

O esmero técnico de Matt Reeves é perceptível em cada tomada, mas o roteiro não tem a mesma criatividade da direção. Assinado em parceria com Peter Craig, o texto apresenta vários elementos interessante, mas não alcança tudo o que almeja. Ao salpicar referencias de histórias famosas como O Longo Dia das Bruxas e Silêncio, entre outras, a dupla agrada aos fãs sem se comprometer como uma adaptação direta, desenvolvendo uma nova leitura do Cavaleiro das Trevas, ao mesmo tempo em que traz influências obvias de outras versões do personagem, sejam dos quadrinhos, animações, filmes ou seriados.

A fotografia expressiva de Greig Fraser e o olhar perspicaz de Reeves atrás da câmera se aliam perfeitamente a trilha maliciosa de Michael Giacchino. A união dos elementos técnicos consegue criar cenas ousadas que, na maior parte do tempo, sobrepujam as oscilações do roteiro; que quebra o ritmo e não consegue estabelecer um clima consistente ao longo de todo o filme.

Na realidade, ao focar quase que exclusivamente no "Batman", deixando "Bruce Wayne" de lado, o filme não consegue consolidar as forças que de fato constituem o personagem. Não há Bruce Wayne sem Batman, e não há Batman sem Bruce Wayne. A dualidade é um tema recorrente no mundo dos super herois e aqui não poderia ser diferente. Consiliar duas vidas, duas personalidades dentro de um mesmo ser é um desafio filosófico que certamente tornaria o filme muito mais denso e interessante.   

Como o próprio Charada infere, não há identidade secreta por trás do capuz do Batman, ele é verdadeira identidade do vigilante. É sob o capuz que o cavaleiro das trevas está confortável e sem amarras. Apesar da revelia do herói, é evidente que há uma troca real entre o justiceiro e o psicopata. Justiça e vingança não prestam o mesmo serviço, é essa caminhada sob a tenue divisa moral que encontramos toda a luta de Batman, um herói a um passo de se tornar um vilão; e é aqui que sentimos a falta de Bruce Wayne, a contra parte humana.  

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Com mil morcegos

Como já estamos em 2022 e já não é mais “cool” falar mal de Crepúsculo, ouvir pessoas reclamando da escalação de Robert Pattinson para o papel de Bruce Wayne soa ridículo por mais de uma razão, notadamente seu desempenho em obras como Bom Comportamento (2017), O Farol (2019),  e Cosmópolis (2012). Mostrando seu valor além do rosto bonito que encantou uma geração de adolescentes na pele do vampiro melancólico da Saga Crepúsculo, Pattinson já deixou claro que seu talento vai muito além da fantasia púbere que o lançou ao estrelato.

Como Bruce Wayne e seu alter ego mascarado, o ator britânico entrega uma atuação consistente, mesmo que em momentos sobrepujada pelo seus coadjuvantes. Curiosamente, Pattinson consegue aproveitar muito mais seus momentos mascarado do que quando desponta como Bruce Wayne – instantes em que acaba caindo no modo jovem melancólico cabisbaixo.

Por falar nos coadjuvantes, Jeffrey Wright (na pele do incorruptível James Gordon) consegue igualar sua presença na tela com a do vigoroso Batman de Pattinson, conseguindo inclusive estabelecer muito bem uma dinâmica de igualdade entre os dois. Enquanto isso, Zoë Kravitz parece ter entendido como Selina Kyle, a Mulher-Gato, é uma personagem a parte; uma “coringa” (com o perdão da piada), não se trata de uma vilã, ou de uma heroína e se precisa de ajuda é porque não teme entrar no meio da ação para conseguir seus objetivos.

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Se a flexibilidade moral da Mulher-Gato permite alguma reserva quanto ao uso do termo vilã, o mesmo não pode ser dito do Charada de Paul Dano. Em uma performance exuberante, o ator extrai o máximo de suas breves aparições, entregando um personagem que, mesmo fora de cena, está sempre na mente do espectador. Sua construção apaga a imagem caricata do Charada, percebendo-o como um terrorista psicopata em uma mistura de Ted Kaczynski e Zodíaco.

Não podemos deixar de apontar a composição de Colin Farrell como o Pinguim, alter ego do gangster Oswald Cobblepot. Irreconhecível sob uma elaborada maquiagem, Farrell está confortável na pele de um mafioso que parece saído diretamente de Os Bons Companheiros (1990) ou quem sabe Ajuste Final (1990). Por falar na obra dos irmãos Coen, John Turturro transplanta o “coração” de seu traiçoeiro Bernie Bernbaum para dar vida ao poderoso chefão do crime Carmine Falcone, em um desempenho sólido.

Eu sou a vingança

Matt Reeves não conseque equilibrar os diferentes "filmes" dentro de Batman, mas no final, a história funciona muito bem, especialmente se a percebemos como parte da origem do cavaleiro das trevas. Um momento em que o mascarado ainda não sabe se a raiva que o impele a lutar realmente está em busca de justiça ou apenas de uma catarse vingativa.

 Ao voltar seu foco ao Batman, Reeves não consegue enxergar toda complexidade do personagem

Talvez por isso a impressão de que esta nova aventura funciona muito bem como um "requel" da trilogia de Nolan, oferendo uma continuação e uma conclusão muito mais satisfatória do que a tivemos em O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Explorando temas similares e chegando a deduções parecidas, as duas produções mostram um Batman em conflito e um vilão com motivações espelhadas e não muito dispares daquelas defendidas pelo herói.

No final - ciente das armadilhas,  próprias dos superlativos - temos sim o melhor filme do Batman já feito; entretanto, a frase significa justamente isso, ou seja, um filme sobre o Batman e, mesmo sendo o protagonista,  o universo de Gotham não se resume ao cruzado encapado e ainda não sabemos direito quem é Bruce Wayne, e a oclusão da contraparte "humana" do famoso personagem da DC é uma falha que certamente precisara ser revisitada nas futuras iterações da franquia. Dito isso, Batman (2022) é um bom thriller policial e um ótimo filme de herói especialmente para aqueles que buscam algo diferente dos arrasa quarteirões multidimenssionais da Marvel.