David S. Goyer - Café com Filme

Crítica do filme Cidade das Sombras | A Matrix antes do fenômeno Matrix

“Dark city” (1998), em português, “Cidade das Sombras”, é um thriller de ficção científica que prova haver vida antes do fenômeno Matrix, de 1999. Dirigido por Alex Proyas, “Dark city” segue na mesma temática inovadora de Matrix.

Mesmo sendo produção de custo mais baixo (27 milhões de dólares perante os 65 milhões do filme das irmãs Wachowski), “Dark City” nos envolve em sua atmosfera de jogo entre realidade e ilusão. Será que sua história também nos leva a tomar a pílula vermelha?

De forma aproximada ao despertar de Mr. Anderson (Keanu Reeves, em Matrix), John Murdoch (interpretado por Rufus Sewell) desperta em uma noite, dentro de uma banheira, em uma cena de crime claramente plantada para ele.

Antes de ser perseguido por sujeitos estranhos, Murdoch encontra o telefone de Dr. Schreber, o qual lhe explica que sua memória fora apagada e dá as coordenadas para a fuga do local. De forma caricata (um cientista tímido, justo e antissocial), Kiefer Sutherland é Daniel Schreber, um médico envolvido com alienígenas, os quais fazem daquela cidade escura um ambiente de experimento para seres humanos, por meio de um simulacro no qual todos acreditam ser a própria realidade.

Uma das bases conceituais de Matrix

Cidade das Sombras” pode nos levar a entender que possui referências a Matrix, mas a lógica é oposta. Por ser uma produção anterior, há momentos que pensamos referenciar Matrix, como a cabine telefônica por meio da qual o protagonista recebe a ajuda inicial do Dr. Schreber.

O mesmo acontece quando Trinity foge dos agentes da cena inicial de Matrix e recebe ajuda ao utilizar um telefone público; ou até mesmo quando Morpheus liga para Neo em seu trabalho, o guiando para fora do ambiente, no qual agentes o perseguem também. Essas tendências narrativas já aparecem, portanto, em Dark City.

cidadedasombras03 b5532Imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Apesar de os méritos do tema “realidade simulada” estarem vinculados à superprodução Matrix, “Cidade das Sombras” dá o tom inicial de outras produções que viriam também a tratar da temática, como o filme “S1m0ne” (2002), “Simulation one”, mas com um tom dramático e cômico ao mesmo tempo, cuja atuação de Al Pacino brinda com um papel ora cômico ora dramático, ao simular a criação de uma atriz pop star, por meio de um programa de simulação.

Enfim, outros recursos técnicos, como o foco na noite e nas sombras presentes nos enquadramentos, bem como o ambiente mais lúgubre de “Cidade das Sombras” nos fazem imergir no ambiente de intrigas e nos fazem refletir que Matrix não foi uma novidade na época, mas uma produção que abriu as portas para filmes novos e para o conhecimento do grande público sobre autores que já trabalhavam essa temática da realidade e da ilusão na literatura, em relação com as distopias do futuro, como:

  • “Simulacres et simulation” (Simulacros e simulação, de Jean Beaudrillard);
  • I, robot (EU, robô), de Isaac Asimov;
  • Neuromancer, de William Gibson;
  • Do Androids Dream of Electric Sheep?, romance de Philip K. Dick, que originou Blade Runner.

Em suma, a série também Black Mirror aproveita todos esses temas, o que faz dela, hoje, a série como mais argumentos para esses assuntos de ficção especulativa.

cidadedassombras02 e1475Imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Para fechar a questão sobre Dark City, o foco em ambientes fechados e muitos corredores com pouca luz, além dos planos fechados e contra-plongé, nos causam a sensação de pequenez e estranhamento, pois são recursos da expressão fílmica utilizados para produzirem o efeito de uma realidade estranha, possivelmente simulada, ou que simula que vivemos em um laboratório, um ambiente de constante experimentação.

Veja também a crítica de Cidade das Sombras em vídeo:

A Casa Sombria | Novo trailer legendado e sinopse

Lutando por conta da morte inesperada de seu marido, Beth (Rebecca Hall) vive sozinha em sua casa à beira do lago. Ela tenta o melhor que pode para se manter bem, mas possui dificuldades por conta de seus sonhos. Visões perturbadoras de uma presença na casa a chamam, acenando com um fascínio fantasmagórico. Indo contra o conselho de seus amigos, ela começa a vasculhar os pertences do falecido, ansiando por respostas. O que ela descobre são segredos terríveis e um mistério que está determinada a resolver.

Crítica O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio | Diversidade que dá gosto!

Nas últimas décadas, o conceito de franquia cinematográfica ganhou proporções além do que podíamos imaginar – isso sem nem entrar no papo de universo compartilhado. A verdade é que inspirados em casos de sucesso, às vezes até de concorrentes, alguns estúdios tentar transformar algo que incialmente era planejado para uma aventura isolada em algo que possa ter diversos capítulos.

Às vezes, essa ideia não surge de imediato, mas, a cada intervalo de tempo, algumas franquias parecem ressurgir do esgoto para trazer um pouco mais de alegria para o público dinheiro aos produtores. Assim, nascem aberrações como o penúltimo capítulo de “O Exterminador do Futuro” (também conhecido como Gênesis), uma obra que o senhor James Cameron faz questão de não ter qualquer associação com seu nome.

O ponto é que existe uma nítida diferença entre franquias pensadas desde o começo para contar uma história e outras projetadas com base na reação do público. É o caso de “O Exterminador do Futuro”, que obviamente funcionava bem em seus dois primeiros episódios, mas que degringolou com o passar dos anos, devido a tantas reviravoltas não planejadas.

Com o passar dos anos, a adição de novos roteiristas acabou desvirtuando o propósito da franquia. Particularmente, eu não considero o terceiro e quarto título como obras inconcebíveis (e na verdade até simpatizo com a guinada no filme com Christian Bale), porém é claro que fica cada vez mais difícil voltar à essência. E aí é perfeitamente normal que o público tenha um certo receio com o anúncio de um novo capítulo.

oexterminadordofuturodestinosombrio02 1d7b3

Afinal de contas, o que “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” pode ter de tão genial para valer a ida ao cinema? Bom, se você procura inovação ou genialidade como a dos primeiros filmes da saga, pode segurar seu cavalinho robótico aí, pois é claro que este filme não reinventa a máquina. Repleto de ideias repetidas e permeado por algumas inconsistências, o novo título não é algo único ou imperdível.

No entanto, o roteiro com um mínimo de coerência e a direção tradicional já evita um desgosto inicial. Além disso, a adição de algumas temáticas modernas, a diversidade de protagonistas e a ação na dosagem certa resultam numa obra que ao menos diverte e não agride nossa inteligência. Um filme que remete aos antigos e que ainda garante algumas risadas. Boa opção para curtir com pipoca.

O Exterminador tem uns furos

É natural que após tantos anos de invenções mirabolantes, uma franquia já desgastada tenha dificuldades em fazer sentido. Afinal, como é possível consertar o passado se ele já aconteceu e o mundo todo presenciou tais eventos? Não existe solução fácil, por isso “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” opta por ignorar quase tudo que acontece depois do segundo filme.

A boa notícia é que para quem nunca viu nada deste universo, o resumo inicial dá conta de apresentar personagens e fatos importantes. E aos fãs da saga que não sabem a partir de que ponto a nova história tem seu pontapé inicial, a introdução é a base para o desenvolvimento dos fatos que serão apresentados no decorrer das quase duas horas de projeção.

oexterminadordofuturodestinosombrio01 9d011

Bom, repetição é algo inevitável nos filmes desta série, afinal todos têm o mesmo tipo de situação: humanos fugindo constantemente de um exterminador e pensando em formas de derrotá-lo. Não há como fugir da fórmula, então é normal que você veja diversas familiaridades nesta história. Então, a inovação fica exclusivamente por conta da ambientação proposta, que aqui foi muito bem acertada.

Diferente dos tantos episódios da saga, este novo capítulo aposta em levar a história para outro país: o México. Com isso, temos personagens latinos (mas sem o famoso “Hasta la vista”) e uma série de temas bem recentes. Algumas justificativas são pífias e o desenrolamento tem suas falhas, mas é tudo aceitável quando a gente vê que os caras estão se esforçando para honrar a saga e manter uma boa de entretenimento.

oexterminadordofuturodestinosombrio03 7d5d9

Contudo, não importa o quanto o filme tente se justificar ou driblar inconsistências, é muito difícil uma obra que mexe com viagem no tempo conseguir criar algo coerente. Assim, o desenvolvimento de “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” tem seu destino sombrio: paradoxos temporais e brechas para novas linhas do tempo. Para quem sempre faz uma mínima reflexão, esse tipo de coisa pode incomodar um tanto.

Ele voltou, mas o futuro é feminino

Além da história genial e de jargões marcantes, o trunfo da franquia sempre foi os personagens caricatos e imponentes. Não é por acaso que até mesmo algumas continuações trouxeram versões alternativas do T-800 até mesmo parecendo um boneco de cera (com um modelo de Arnold Schwarzenegger todo digitalizado).

E parafraseando o filme me que o próprio robô falava “I’ll be back”, agora podemos ter a certeza de que ele não estava mentindo. O retorno deste exterminador clássico é um dos pontos altos do filme, porém ele não é nem de longe tão marcante quanto o trio protagonista. Na verdade, o personagem está aqui mais para fazer uma graça, bem como para dar suporte na história sem deixar tantos buracos.

oexterminadordofuturodestinosombrio04 04f63

Até agora eu sequer tinha falado da história do filme, afinal esta é uma crítica sem spoilers, mas a sinopse não machuca e é importante agora. Em “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” acompanhamos Sarah Connor e Grace (uma nova personagem da história) tentando proteger uma jovem mexicana de um novo tipo de Exterminador.

Eis aí o nosso trio protagonista: Sarah Connor (Linda Hamilton) em toda sua glória de matadora de robôs – e ela está muito empoderada, num visual muito badass –, Grace (Mackenzie Davis), responsável por boa parte da ação frenética do filme, e Dani Ramos (Natalia Reyes), que tem sua importância revelado no decorrer da trama.

É muito legal que quase toda a trama é baseada nas três personagens, sendo que as duas mulheres brancas devem reconhecer a importância da protagonista latina. Isso mostra que um pouco de diversidade não faz mal e pode dar espaço para novos diálogos e abordagens. Talvez, o único problema é que a personagem mexicana fica muito de lado, como alguém frágil, mas isso até tem sua justificativa.

Sobre as atuações, temos um elenco competente, principalmente quando falamos desse trio e do novo Exterminador, que é interpretado por Gabriel Luna, outro ator latino que fica muito coerente na trama e tem expressões bem robóticas. A jovem Natalia Reyes se desenvolve bem, porém é perceptível as limitações da personagem, o que acaba dando a impressão de que a atriz não se sobressai como deveria.

oexterminadordofuturodestinosombrio05 65764

Em questões técnicas, “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” faz bonito, seja pela direção de Tim Miller (que a gente conhece de “Deadpool”), pelos efeitos visuais caprichados ou mesmo pela direção de arte que remete aos predecessores, mas que tem sua dose de inovação. Talvez a única crítica fique por conta dos trechos futuristas muito breves e pouco ousados.

Tudo se completa com a trilha que aposta no óbvio, então a dose de nostalgia é garantida. Novamente, longe de ser fantástico, mas também longe de ser um fracasso, o novo Exterminador é um filme que traz os ingredientes certos da franquia, que ousa pela temática do roteiro e que deve divertir em boa parte. Não espere muito, mas curta a ação e aproveite a pipoca!

Cidade das Sombras | Trailer oficial e sinopse

Um homem acorda sozinho em um quarto sem saber seu nome e sem ter lembraças de seu passado. Agora, ele tenta descobrir quem fez isto com ele, mas para isto ele deve fogir da polícia e de homens em trajes esquisitos que o perseguem durante uma longa noite nesta cidade que nunca vê a luz do dia.

Alma Perdida | Cena dublada, trailer oficial e sinopse

Alma Perdida é um suspense sobrenatural sobre uma jovem que se vê num mundo de assombrações depois que um espirito demoníaco passa a aterrorizá-la espalhando medo à sua volta. A jovem Casey Beldon (Odette Yustman) odeia sua mãe por tê-la abandonado quando criança. Mas eventos inexplicáveis e assustadores começam a acontecer, trazendo à tona o real motivo que fez sua mãe fugir.

O principal deles é a aparição do fantasma do seu irmão gêmeo, morto antes de nascer, que agora quer se apoderar do corpo de Casey para ficar de vez no mundo dos vivos. Desesperada, Casey busca ajuda e acaba cruzando o caminho de Sendak (Gary Oldman), a única pessoa capaz de livrá-la de seus pesadelos e fazer a assombração parar.

Crítica Batman vs Superman | O Universo DC nos cinemas começou e isso é o que importa

Essa crítica possui o selo "Livre de Spoilers". Leia à vontade! 

Quando estreou em 2013, o Homem de Aço veio com a proposta de revigorar a história do super-homem nos cinemas, recriando a mitologia kryptoniana e repaginando o personagem aos tons sombrios de Christopher Nolan, diretor da estrondosa trilogia de sucesso O Cavaleiro das Trevas. Ali, como muitos já especulavam na época, eram os esboços iniciais para criar um universo de filmes compartilhados da DC, arquirrival editorial da também americana Marvel Comics. Não deu outra.

Foi durante uma Comic-Con, em San Diego (EUA), que o painel da Warner Bros. anunciou no telão o logo de Batman e Superman, com o locutor recitando uma passagem da graphic novel na qual os dois heróis se enfrentam. O auditório ficou eufórico e foi plantada a bomba da expectativa, o famoso "hype". A continuação de Men of Steel teria dois maiores heróis da cultura pop em cena, lutando entre si, e seria o ponta pé inicial para os futuros filmes da Liga da Justiça. O mundo nerd foi à loucura. 

Batman vs Superman: A Origem da Justiça é o começo dessa fase. O diretor Zack Snyder e sua equipe de produção, com nomes de peso como David S. Goyer, Chris Terrio, Hans Zimmer e o próprio Nolan, não pouparam esforços para criar minuciosamente cada parte integrante desse grande cosmo super-heróico da DC, o que é o mais visível e que se sobressai no filme. Era um desafio grande introduzir tantos novos personagens e criar um plano conciso onde Homem Morcego e Superman existam  algo nunca feito antes nas telonas. A primeira hora e meia do filme é basicamente responsável por isso. Vemos o desenrolar da destruidora batalha de Metrópolis, do final de Homem de Aço, e as consequências que essa trouxe a vida de Clark e Lois. Em contrapartida, temos a introdução do novo Batman, suas intenções e interesses.  

002 d6896

As capas vermelhas estão chegando

Clark Kent, filho de fazendeiros de Smallville, está com sua vida consolidada em Metrópolis. De dia, repórter do grande Planeta Diário ao lado de sua amada Lois Lane. A noite, um Deus todo poderoso. Para alguns, um salvador. Para outros, uma verdadeira ameaça. A forma como Snyder explica essa dualidade é muito interessante, com as relações diretas do dia a dia de Kent ao mesmo tempo que exibe indiretamente a opinião pública por meio de telejornais e diálogos coadjuvantes. A presença de especialistas reais dando entrevista na CNN sobre o assunto é pedagógica e encantadora. Clark ainda está aprendendo a viver com o fardo de ser um 'estrangeiro' entre os humanos e as consequências de seus atos, o que, basicamente, é um caminho de amadurecimento interessante para um personagem tão forte. 

Mas, temos que falar sobre o novo Batman. Ben Affleck é o Batman, pessoal, e não tem o que discutir. Saudosistas de Christian Bale irão comparar, e muitos o criticarão, mas a verdade é só uma. Affleck incorporou o espírito do herói como nenhum outro ator tinha feito até agora. Esse cavaleiro das trevas é perturbado de verdade, um maníaco ao meio de uma cidade igualmente louca. "Temos um histórico ruim de malucos vestidos de palhaços", diria Bruce Wayne para se afirmar. Essa é a versão do herói velho e cansado, com 20 anos de vigilância nas costas e que já viu quase de tudo nessa vida, mas igualmente analítico, experiente e inteligente. É o Batman soldado, detetive, estrategista, sedutor e puto da vida, com aquela febre dentro do coração e os olhos focados em uma única missão: derrubar um certo alienígena.

O que me preocupava mais nessa mistura toda era como eles fariam essa ligação entre os dois principais, mas isso é bem trabalhado na trama. O longa balanceia muitos bem os dois heróis em tempo de cena, cruzando-os em passagens marcantes. Outro ponto importante e que é muito bem apresentado é a kryptonita verde, elemento essencial nos quadrinhos do homem de aço, e que acabou ficando de fora do primeiro filme. Ela é um dos elementos de ligação, que costura detalhadamente a ameaça real.

A Mulher Maravilha de Gal Gadot é outro destaque. Com presença marcante, forte e, por que não, sensual, a atriz é incorporada entre os dois brutamontes de forma certeira, dando um espetáculo na grandiosa batalha final do terceiro ato. Apenas um sorriso maroto e debochador, quanto é fortemente atingida, mostra que a heroína tem um passado de lutas e glórias, excelente forma para ligar ao seu vindouro filme solo.   

Você sangra? Vai sangrar!

Nem só de glórias Batman vs Superman é feito. Muito pelo contrário, o filme tem vários problemas e falhas. Tenho que ser honesto e dizer que não sou o maior fã de Zack Snyder, apesar de reconhecer suas várias qualidades, como design de produção e coreografias das lutas. 

Porém, diversas manias do diretor me irritam, como sua clássica assinatura de cenas em câmera lenta em demasia. A passagem final, por exemplo, após 2 horas de meia de tensão misturada com adrenalina, a última coisa que quero ver são cápsulas de tiro de canhão caindo no chão em câmera lenta numa cena triste que em pouco agrega ao conjunto. Junta-se a esse detalhe, uma direção que expõem diversas falhas de montagem e cortes de cena mal feitos. Uma hora está numa ascensão crescente, visando grandes emoções, mas, acaba sem sentindo algum cortando para a mãe de Clark servindo café numa lanchonete, por exemplo. Também há muitas subtramas desnecessárias e personagens aleatórios com importância aumentada, vide a senadora do congresso americano, apresentada nos trailers, que serve apenas de apoio para a formação de Lex Luthor como vilão. 

003 a638f

Alexander Joseph "Lex" Luthor, versão Mark Zuckerberg encarnada por Jesse Eisenberg não convence, fato que com certeza dividirá as opiniões públicas. A guinada da personagem para um jovem gênio do mal, bilionário e lunático mais se aproxima das características de um Coringa do que o próprio Lex. O nemêsis do Superman culto extrapola em vícios vilanescos e metáforas de impacto cartunescas. "Sabe qual é a mentira mais antiga? Que os demônios não vêm do inferno, eles vêm do céu", profere Eisenberg, o que certamente funcionaria com um Lex Luthor de Kevin Spacey, mas fica empobrecido pelo jovem ator. Não por falta de talento, apenas por escolha de linha de atuação. Ele, ainda assim, confere um interesse único pela história e as oportunidades que pode oferecer futuramente no Universo Cinematográfico DC. 

O mais triste e síntese disso tudo, novamente, são os trailers. Já comentava com meus amigos próximos sobre o segundo preview liberado, no qual mostrava uma cachoeira de informações. Ele realmente entrega muito. Não há espaço para grandes surpresas nessa película se você viu os materiais marketeiros liberados. Mesmo assim, a maior delas e da sala de cinema ao todo, é ver a trindade: Superman, Batman e Mulher Maravilha juntos pela primeira vez. O embate final é muito bem arquitetado, assim como as demais lutas do homem morcego. Ele consegue ao mesmo tempo animar, depois de você esperar duas horas, e nos deixar empolgados pelo que virá nos próximos capítulos. Referências para a Liga da Justiça não faltam e tudo parece estar bem fundamentado. Não considero esse capítulo como um prelúdio para o Grand Show, mas, quando se tem esse trio de heróis para utilizar, as expectativas se tornam o maior vilão.

Quem ganha essa luta?

Batman vs Superman: A Origem da Justiça é um bom filme do gênero super-herói, com um charme sombrio e tenso, bem diferente dos cômicos da Marvel. Nele está presente o tom que a Warner/DC resolveu assumir em seu universo compartilhado, o que faz um contraste necessário num mercado que já começa dar sinais de sobrecarga. Compete agora a coordenação da casa consertar os erros sem atropelar o andamento do projeto ao todo. 

Batman vs Superman: A Origem da Justiça | Novo trailer legendado e sinopse

Preocupado com as ações de um super-herói com poderes quase divinos e sem restrições, o formidável e implacável vigilante de Gotham City enfrenta o mais adorado salvador de Metrópolis, enquanto todos se questionam sobre o tipo de herói que o mundo realmente precisa. E com Batman e Superman em guerra um com o outro, surge uma nova ameaça, colocando a humanidade sob um risco maior do que jamais conheceu.

Crítica do filme Fury - Corações de Ferro | A guerra nunca acaba bem mesmo

Essa crítica contém spoilers, veja o filme antes de ler.

Como não existem muitos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, David Goyer teve a sacada de fazer um longa sobre esse assunto inédito, "Fury - Corações de Ferro". A "novidade" é que dessa vez a guerra é mostrada do ponto de vista dos soldados de um tanque de guerra Sherman batizado de "Fury". O sargento norte-americano chamado Wardaddy (Brad Pitt) é quem lidera a tripulação de cinco homens em uma missão mortal.

Para David Ayer essa é uma história pessoal, pois além de ser um veterano de guerra e vir de uma linhagem de veteranos, conhece muitos relatos de soldados que realmente estavam na guerra, e seu objetivo foi retratar tudo isso na telona, pois considera os filmes já feitos sobre o tema muito diferentes de suas experiências.

Acontece que apesar de toda essa boa vontade, o filme é recheado de clichês e padrões irreais. Na primera parte, vemos a tripulação lutando e vencendo mais uma batalha, porém um dos membros acaba morrendo para ser substituído por um recruta inexperiente e que na verdade era apenas um datilógrafo.

Norman (Logan Lerman) não queria estar ali, odeia a guerra em todos os aspectos e odeia Wardaddy, que agora é seu sargento e precisa obedecer suas ordens e matar todos os alemães que ele enxergar. Nesse momento é suposto que o expectador se identifique com o recruta, entrando nesse mundo estranho e desconfortável que é a guerra.

Wardaddy não está feliz também, mas acaba acolhendo e ensinando o garotinho juvenil a se virar na guerra. Em pouquíssimo tempo eles se tornam muito próximos, e o favoritismo de Warddady ao seu novo recruta é vísivel.
O que nos leva a segunda parte, que é consegue ser ainda mais desconfortável do que estar enfiado em um tanque de guerra com um bando de malucos. Avançando dentro de um uma cidade alemã, os residentes acabam se rendendo e um breve período de descanso acontece.

Então, sem motivo aparente, Wardaddy resolve invadir  uma casa levando Norman com ele. Lá uma mãe e sua filha adolescente estão escondidas e morrendo de medo dos soldados americanos. O clima de tensão é óbvio, todos esperam que Wardaddy faça algo terrível, pois desde o começo do filme ele deixou bem claro seu ódio por todos os alemães. Mas não acontece absolutamente nada!

Ele pede para a mãe cozinhar ovos para eles enquanto se barbeia e Norman se apaixona e perde a virgindade com a filha. Depois de diálogos estranhos e desnecessários, e com um evento ainda mais impróvavel do que tudo que aconteceu a menina acaba sendo morta. Todo uma sequência desconfortável apenas para mostrar ao Norman e aos expectadores que "a guerra é assim mesmo" ou "as mortes não acabaram, os assassinatos não acabaram".   

fury1 8d057

A terceira parte é ainda mais impossível e improvável, mas como é disso que os filmes são feitos tudo bem. Após uma sequência de batalhas, todos os tanques acabam sendo destruidos, restando apenas o Fury. As batalhas entre os blindados é bem empolgante, mas eu não conseguia parar de pensar que se os tiros tivessem um som diferente, seriam exatamente iguais as armas dos Storm Troopers em Star Wars. Eu não sou veterano de guerra, mas acho que um tiro de metralhadora não se parece tanto com um raio vermelho.

Como Wardaddy não é de brincadeira, ele decide seguir em frente e completar a missão, mas o Fury acaba passando por uma mina terrestre e não pode mais ser movimentado. Então, enquanto os outros tentavam consertar o querido tanque, Norman descobre que um batalhão de soldados da SS está vindo naquela direção e resolve avisar o Papai Guerra. E como todo bom herói americano ele resolve encarar sozinho todo eles!

Do ponto de vista estratégico, eles poderiam se retirar e lutar outro dia com mais aliados, mas não vamos comentar sobre isso. Basta saber que eles ficam lá, matam muitos soldados e só morrem porque a munição acabou. O final é bem mais improvável do que tudo que já foi dito, mas é preciso um final feliz após tanto sofrimento.

As atuações ajudam a manter o filme interessante até certo ponto, mas os clichês se repetem aqui. Vale ressaltar que em nenhum momento os tripulantes do Fury se parecem com soldados disciplinados e treinados. Eles são um bando de loucos com um tanque de guerra, só atiram pra matar e seguem ordens de um sargento que já tá de saco cheio dessa guerra. E eles são bons nisso.

Não sou o maior fã de filmes de guerra, e com certeza "Fury - Corações de Ferro" não contribuiu para mudar isso.