Lista | Os filmes mais rosa de outubro

O câncer de mama é segundo tipo com mais incidência entre as brasileiras, em torno de 25% de todos os cânceres que afetam o sexo feminino. No Brasil, em 2019, são estimados cerca de 59.700 casos novos de câncer de mama, com um risco estimado de 56 casos a cada 100 mil mulheres.

Não existe um único causador para o câncer de mama, são elementos que vão desde a predisposição genética até a exposição à radiação ionizante. Fatores como idade, vida reprodutiva da mulher (idade da primeira menstruação, ter tido ou não filhos, ter ou não amamentado, idade em que entrou na menopausa), consumo de álcool, excesso de peso, atividade física insuficente são alguns dos elementos que podem contrinuir para o desenvolvimento da doença, que pode ser fatal, mas pode ser prevenida, e tratada sem perda de qualidade de vida pela paciente.

Para conscientizar as mulheres da importância da prevenção e detecção rápida surge em 1990 a Corrida pela Cura, corrida de rua realizada pela prefeitura de Nova York que se tornou uma precursora do Outubro Rosa que temos hoje. No Brasil, as campanhas de conscientização sobre o câncer de mama são realizadas desde 2002, sendo que em 2011 também se adicionou o combate ao câncer de colo do útero como parte dos esforços preventivos da saúde da mulher.

O câncer é uma doença maliciosa, cujo tratamento é tão destrutivo quanto ela própria, portanto não é de se espantar ver relatos intensos e histórias de coragem de pessoas que venceram, ou lutam contra o câncer. Algumas dessas hitórias foram transportadas para o cinema, incentivando e dando forças para outros. Nesse Outubro Rosa preparamos uma seleção com alguns títulos que mostram a força de mulheres que encararam essa briga contra o câncer de mama.

O cinema branco de cada dia e a resistência da mulher negra

*Texto: Felipa Pinheiro, especial para o Café com Filme

O cinema nacional sofre historicamente com a falta de pluralidade em suas produções de maior circulação e não reflete a realidade da maioria da população brasileira. O estudo inédito da Agência Nacional do Cinema (ANCINE) sobre diversidade e gênero baseado na distribuição de longas metragens em cinemas comerciais de 2016 revela o motivo: a direção dos filmes é branca e masculina.

De 142 filmes analisados, 75,4% foram dirigidos por homens brancos. Enquanto, apenas 2,1% por homens negros e 19,7% por mulheres e desta porcentagem NENHUMA mulher é negra. Todas são brancas. O estudo revela ainda que, das obras que foram incentivadas por recursos públicos geridos pela ANCINE em 2016, 100% foram dirigidas por pessoas brancas, assim como 98% dos roteiros.

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Com estes dados, a Agência, após abrir o edital de concurso para Cinema 2018, lançado em março deste ano — que destina R$ 100 milhões do Fundo Setorial do Audiovisual a projetos de longas-metragens independentes — adotou as cotas de gênero e raça na seleção dos projetos inscritos no edital.

Ao menos 35% dos valores investidos nos projetos selecionados deverão ser dirigidos por mulheres, incluindo mulheres transexuais, e pelo menos 10% desses valores serão reservados a diretoras(es) negras(os) e indígenas. As inscrições vão até o dia 3 de maio de 2018. Veja o edital completo aqui.

A primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem no Brasil

A única função técnica no cinema que aparece mulheres negras na pesquisa da ANCINE é a de produção executiva. Mas, a porcentagem de apenas 1%, ainda é dividida com mulheres brancas. Isto faz lembrar a história da primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem no Brasil, a Adélia Sampaio.

Adélia iniciou sua carreira no final da década de 1960. Foi continuísta, maquiadora, câmera, montadora e produtora, passou por quase todas as funções dentro de um set de cinema, em mais de 70 produções, até chegar à direção.

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Irreverente, inaugurou a temática lésbica no cinema brasileiro na década de 1980 com o seu primeiro longa, o “Amor Maldito” (1984). Considerado a crônica da lesbofobia nacional, o longa é baseado em fatos reais ocorridos no Rio de Janeiro sobre a relação entre a jovem executiva Fernanda Maia (Monique Lafond) e a ex-miss, filha de um pastor evangélico, Sueli Oliveira (Wilma Dias), que acaba se suicidando. Apontada como culpada pela morte de sua companheira, Fernanda é levada aos tribunais e massacrada pelos valores machistas e moralistas da sociedade.

A Embrafilme — a estatal brasileira produtora e distribuidora de filmes da época — classificou o tema como absurdo e não ofereceu financiamento para o filme. Sem recursos financeiros, o longa foi realizado a partir da colaboração entre a equipe de elenco e de produção com apenas uma ajuda de custo.

Como o cinema nacional dos anos 1980 era dominado pela pornochanchada e nenhum cinema paulista aceitou exibir o longa, Adélia teve que ceder e divulgar o longa como um filme pornográfico para chegar ao público.

As meninas mulheres da pele preta no cinema contemporâneo

Camila de Moraes

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Após 34 anos da estreia do filme de Adélia, a diretora Camila de Moraes está fazendo história com o lançamento neste ano do segundo longa dirigido por uma mulher negra no cinema brasileiro. O documentário denominado “O Caso do Homem Errado” conquistou o prêmio de melhor longa-metragem pelo voto popular no 9º Festival Internacional de Cine Latino, Uruguayo y Brasileiro e denuncia o genocídio preto com a história do operário negro Júlio César de Melo Pinto, que foi executado por policiais militares, ao ser confundido com assaltantes de um supermercado em Porto Alegre.

Assim como Adélia, Camila também teve problemas para financiar o filme até conseguir apoio da produtora Cinema Praça de Filmes, de Porto Alegre. A cineasta, além do longa, produziu o documentário chamado “Mãe de Gay”, que ganhou dois Galgos de Ouro no Festival Universitário de Gramado de 2008 e em 2016 dirigiu o curta-documentário “A Escrita do Seu Corpo”, que participou de diversos festivais pelo país.

Juliana Vicente

juliana vicente foto reprodução bea01Juliana é produtora e diretora de cinema e fundadora da Preta Portê Filmes. Com uma carreira consolidada, seu trabalho vem ganhando público e reconhecimento através de premiações em diversos festivais de cinema. Entre eles, a produção do “Filme para Poeta Cego” (2012), que participou do International Film Festival of Rotterdam — 2013 e recebeu mais de 50 prêmios, e a direção do curta “Cores e Botas” (2010) (Festival Iberoamericano de Huelva — 2011 e Festival de Havana — 2010).

Recentemente, a cineasta em parceria com o canal Futura lançou a série “Afronta” (2017). A série está disponível online com 26 episódios sobre artistas, empreendedores e produtores culturais negros. Nomes como Rincon Sapiência, Tássia Reis, Karol Conka e Liniker fazem parte da série.

Renata Martins

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Diretora e roteirista premiada, Renata tem muito a contribuir com o cinema brasileiro. Entre suas grandes produções, está a direção do curta “Aquém das nuvens” (2010), que foi exibido em mais de dez países e premiado no Festival Unasur na Argentina e no concurso TALTV — Televisão da América Latina em 2014; e o roteiro da série “Pedro & Bianca”, ganhadora do Emmy Internacional Kids Awards 2013, na categoria Melhor Série InfantoJuvenil, e do Prix Jeunesse Iberoamericano 2013 e Internacional em 2014 na categoria “ficção para o público de 12 a 15 anos”.

Em 2015, lançou em conjunto com a cineasta Joyce Prado a primeira temporada da web serie “Empoderadas”, que traz histórias de mulheres negras em diferentes áreas de atuação. Um dos episódios mais vistos da série e que viralizou no ano de 2015 foi o da rapper MC Soffia. Com apenas 11 anos, a menina compõe músicas que trazem poesia, ritmo, cultura e um respeito por suas raízes. Conforme sua fala no vídeo, através da sua música “quer que outras crianças sejam livres”.

Viviane Ferreira

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A cineasta baiana, que vive atualmente na capital paulista, é uma das fundadoras da Associação Paulista dos Profissionais do Audiovisual Negro (Apan) e dirigiu o curta “O Dia de Jerusa” (2014), que fez parte da programação do Festival de Cannes de 2014.

O curta ficcional, que traz a temática da solidão na velhice e as raízes afro e baianas, emociona pelo encontro entre duas mulheres negras, de diferentes gerações. Silva, a moça que faz pesquisa sobre de uma marca de sabão em pó não sabia o que a tarde de trabalho ia lhe render: a história de uma mulher negra de 77 anos que tem muito a ensinar.

Yasmin Thayná

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O nome Yasmin Thayná vem ganhando cada vez mais força. A estudante de comunicação de 23 anos, desde os 16, escreve, dirige e participa de produções audiovisuais. Dentre suas produções, está o curta “Kbela, o filme” (2015), que traz às telas a experiência sobre ser mulher e tornar-se negra e foi premiado em festivais como o 5º Festival Curta Brasília e o 2º MOV Festival Int. de Cinema Universitário de Pernambuco e exibido no International Film Festival Rotterdam — IFFR.

A diretora carioca também criou a “Afroflix”, uma plataforma colaborativa online que divulga filmes produzidos, dirigidos ou protagonizados por negros. No site, você pode conferir mais trabalhos de Yasmin, como o curta “Batalhas” e também de diversos talentos do cinema brasileiro.

As mulheres no cinema | Teste de Bechdel e #FilmHerStory

Vamos fazer uma brincadeira, juntos? Sim? Então, pega na minha mão e vem comigo:

– Primeiro, pense em um filme que tenha pelo menos duas mulheres.

Pensou? Essa é fácil, né? 

– Agora, nesse filme que você escolheu, essas mulheres conversam uma com a outra?

Já ficou um pouco mais restrito, né? Aquele primeiro filme que você pensou não se aplicava? Pense em outro.

– Agora responda: Elas conversam sobre alguma coisa que não seja um homem?

Ihhhh, agora complicou, hein? 

Gif Meryl Streep no Oscar 2015

Pois é. Isso não era beeeem uma brincadeira. O nome desse desafio que você acabou de fazer é Teste de Bechdel e ele surgiu nos quadrinhos Dykes to Watch Out For [Lésbicas com quem você tem que tomar cuidado, em uma tradução bem livre], da cartunista norte-americana Alison Bechdel. As perguntas foram inspiradas na fala de uma amiga de Alison, Liz Wallace, e fazem referência a um trecho do ensaio “Um Teto Todo Seu” de Virginia Woolf, que já trazia o tema da superficialidade na representação feminina.

Originalmente, o teste estava na tirinha A regra, publicada, vejam vocês, em 1985. A peça era uma forma da artista de se manifestar contra a forma como as mulheres eram retratadas no cinema – e nas produções audiovisuais de maneira geral –, sempre em papeis coadjuvantes, superficiais e quase sempre vivendo em função de um drama que envolve um homem. 

A Regra, que deu origem ao Teste de Bechdel

Bem, se eu ainda estou escrevendo esse texto aqui hoje, é porque o cenário ainda não é o ideal, não é mesmo? Faça o teste e aplique você mesmo as três perguntinhas de Bechdel a todos os filmes que você for assistir, você vai ver porque as mulheres ainda têm muito caminho pela frente quando o assunto é igualdade de representação e de direitos.

Film Her Story

Isso não é um teste oficial com um nome legal, mas agora se faça mais uma pergunta: quantos filmes você viu que falam sobre mulheres importantes da história da humanidade? Cientistas, inventoras, ativistas, nomes que contribuíram para evolução do ser humano? E não venha me dizer que eles só não existem porque as mulheres não contribuíram!

Às vezes, a gente esquece que a história da humanidade contada nos livros ignora a participação feminina. E o cinema com frequência reflete isso. A campanha #FilmHerStory (Filme a História Dela) é uma iniciativa que nasceu justamente para criticar isso e propor uma mudança. Tudo começou em 2015 com o lançamento do trailer oficial de As Sufragistas, no mês da mulher, março. 

As Sufragistas

Além de comemorar o lançamento do filme que conta a luta das inglesas que lutaram pelo direito do voto feminino, a campanha ajuda a lembrar que existem milhares de outras mulheres ainda não tiveram suas histórias contadas nem na literatura e nem no cinema. 

É uma iniciativa que parte do público e que acompanha um movimento que vem acontecendo dentro da própria indústria cinematográfica. 

As mina pira no cinema

Manifestações discretas das mulheres em eventos cinematográficos não são novidade. Contudo, nos últimos cinco anos parece que grandes nomes de Hollywood realmente cansaram do absurdo que é o gap salarial entre atrizes e atores, produtoras e produtores, diretoras e diretores, e daí por diante, entre tantas outras injustiças. 

Embora não se declarem feministas, várias mulheres da história do cinema já colocaram a boca no trombone contra essa realidade. Quem não lembra e não se emociona com o discurso de Patricia Arquette? Vencedora do Oscar de melhor Atriz Coadjuvante em 2015, ela foi ovacionada por uma plateia ensandecida que incluía outra diva do cinema, Meryl Streep rainha suprema da categoria "não aguento mais essa palhaçada que é a desigualdade de direitos das mulheres no cinema"

O discurso de Patrícia era finalizado com a frase:

"A toda mulher que já deu à luz, toda cidadã que paga impostos, nós lutamos pelos direitos de todo mundo. É nossa vez de ter salários igualitários para todos e direitos iguais para as mulheres nos Estados Unidos"

Me arrepio só de lembrar! Veja o discurso na íntegra:

No mesmo ano, Viola Davis fez todo mundo chorar no Emmy, com seu emocionante discurso sobre mulheres negras e (falta de) oportunidades. Não vou nem fazer um recorte, porque esse merece ser visto por inteiro:

É claro, elas não foram as únicas. Emma Watson, com sua (polêmica) campanha He for She também vem chamando a atenção para a necessidade de prestarmos mais atenção sobre isso, bem como as mulheres que lançaram a hashtag #AskHerMore, rebelando-se contra a diferença no tratamento que se dá a mulheres e a homens nas entrevistas. Para as mulheres, se pergunta sobre os vestidos, sobre dicas de beleza e sobre como mantêm a forma física. Para os homens, se pergunta sobre carreira, planos, dificuldades para construir um personagem, etc.

Isso sem falar nos closes de cima a baixo no tapete vermelho, né Cate Blanchett?

Cate Blanchett pergunta: você faz isso com os caras?

Essa rebeldia das mulheres com um cinema dominado pelos homens vem se mostrando presente em todo o mundo. Aqui no Brasil, o desabafo da diretora Anna Muylaert, de Que Horas Ela Volta?, contra declarações machistas de amigos homens sobre seu trabalho também foi bastante discutido no ano passado.

Você conhece mais iniciativas nesse sentido? 

Ah, e se você conhece algum filme que passe no Teste de Bechdel que traga mulheres em papeis mais consistentes, mande pra gente! Comente neste post ou mande um email para [email protected], pois estamos trabalhando em uma lista pra compartilhar aqui no Café com Filme!