Última semana da mostra "300 anos de cinema" da Cinemateca Brasileira

por
Lu Belin

25 de Setembro de 2016
Fonte da imagem: Cinemateca Brasileira
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 7 min

A programação de setembro da Cinemateca Brasileira vem destacando as diferentes facetas de seu trabalho cultural e científico e convida a uma reflexão sobre suas funções primordiais, o alcance de suas ações, sua abrangência local e nacional.

"300 anos de cinema" é um acontecimento que reúne momentos da história da sétima arte para compor novas constelações cinematográficas: cinema antigo/moderno/clássico/de vanguarda/sonoro/falado/calado/mudo/gritado/vociferado/pulsante/vivo e em transformação constante na sua relação com as artes, com o teatro, o circo, a música e as artes plásticas.

Da lanterna mágica ao cinema digital, do teatro à performance, do circo à vanguarda. Obras fundamentais da história do cinema, restauradas e preservadas pela Cinemateca Brasileira.

Inspirado no trabalho de Henri Langlois (1914-1977), esse conceito de difusão audiovisual procura fortalecer o debate sobre os novos caminhos da cultura cinematográfica. Não basta restaurar filmes. Não basta apresentar filmes, se eles não podem testemunhar a favor de uma ideia dos rumos da história do cinema e da própria situação das cinematecas.

Para que seja possível discutir sobre as recentes transformações do cinema, é preciso novas formas de história, novos enquadramentos que o revitalizem. Para isso, 300 anos de cinema articula filmes de épocas diferentes, espetáculos teatrais e circenses com conferências científicas, projetando no presente lições aprendidas em diferentes fases. O cinema em suas diversas fases.

Acesse o site para conferir a programação e veja a vinheta da Mostra!

Confira as atrações principais:

Elogio a Langlois

A mostra é uma homenagem a Henri Langlois (1914-1977), o notável fundador da Cinemateca Francesa, que revolucionou a história do cinema ao difundir filmes de diferentes períodos sem conexões evidentes. Personalidade marcada pelas batalhas que empreendeu em favor do patrimônio audiovisual mundial, Langlois é o emblema da luta pela legitimidade das cinematecas como instituições de cultura.

Para recuperar o legado dessa figura vulcânica, a Cinemateca Brasileira exibe obras do próprio acervo, preservadas e restauradas ao longo dos últimos anos, reafirmando o lema de Langlois, para quem a missão fundamental de uma Cinemateca era “restaurar o filme na cabeça das pessoas”. Ao exibir obras-primas do cinema mundial em relação com momentos do cinema brasileiro restaurado, a mostra festeja o nonagésimo aniversário do mais convicto dos guardadores de filmes.

Cômicos e mais cômicos

Evocação da era de ouro do cinema cômico norte-americano, quando Mack Sennett, Ben Turpin, Harold Lloyd, Harry Langdon, Roscoe “Fatty” Arbuckle, Charles Chaplin e Buster Keaton desfrutavam de extrema liberdade criativa e, artistas múltiplos, praticavam a acrobacia, a dança, o circo, a mímica, a poesia.

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Com filmes do acervo da Fundação Armando Alvares Penteado, a seleção terá apresentação de Máximo Barro, que discorrerá sobre a evolução do gênero cômico no cinema.

Mais que um complemento

A modernização conservadora brasileira e a convulsão social cubana por meio das lentes das edições de cinejornais do acervo da Cinemateca Brasileira: Cine Jornal Brasileiro, Cine Jornal Informativo, Atualidades Atlântida, Notícias da Semana, Canal 100 e o excepcional Noticiero Icaic Latinoamericano.

Séries estatais e privadas destacam imagens de homens públicos, acontecimentos que marcaram a história política e social, assim como as emoções do esporte e a propaganda de ações filantrópicas. Merece destaque o experimento radical dos Noticieros Icaic, cinejornal capitaneado pelo cineasta Santiago Alvarez em prol da Revolução.

A comunicação de massa e o experimento estético em sintonia com a transformação social permitiram o desenvolvimento da forma do cinejornal, gênero tão rebaixado quanto significativo da história do cinema.

O filme-poema

Segundo o restaurador e teórico Saulo Pereira de Mello, existe na história do cinema uma tradição que pode ser chamada de filme-poema – que não se confunde com o cinema de poesia – da qual faz parte Limite (1931). Essa tradição é representada por um conjunto de filmes que se destaca por novas propostas para a experiência da poesia cinematográfica.

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Isolados em momentos diversos no fim da década de 1920, em contextos ainda mais diversos, esses filmes, vistos em conjunto, se iluminam de forma surpreendente. Como marca, essa tradição propõe o abandono da narrativa linear, em prol do rigor formal e da expressão da individualidade do cineasta-poeta, que reconstrói o mundo por meio de signos rigorosamente compostos, que compõem versos com imagens, abrindo mão da lógica tradicional estabelecida pela narrativa.

Para homenagear Saulo Pereira e seu trabalho de guardião de Limite, a mostra traz grandes clássicos do cinema mundial, como Terra (1930), de Dovjenko, e A paixão de Joana D’Arc (1928), de Theodor Dreyer. Ao recuperar o filme de Mário Peixoto, Saulo penetrou como ninguém nos mistérios de Limite e seus ensaios constituem o que há de mais significativo sobre o filme emblema brasileiro.

A homenagem se completa com o lançamento da edição em DVD de Limite, incluído no segundo número da Revista da Cinemateca Brasileira.

Atrações cênicas

Essa revista teatral articula lanterna mágica, personagens do cinema, elementos do imaginário popular, em atmosfera de horror e mistério. Com dramaturgia e direção cênica de Felipe de Moraes e a participação dos atores Aline Olmos, Ederson Miranda, Fernanda Januzelli, Jeferson Bazilista e Raiane Steichmann, e com a apresentação de uma seleção de imagens para a lanterna mágica concebida por Luisa Malzoni e Ubirajara Zambotto.

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O advento do cinema na França e nos Estados Unidos, 1905-1914 – Curso do Professor Richard Abel. Para acompanhar os primórdios da história da indústria cinematográfica em contextos nacionais diferentes, a mostra traz títulos raros do chamado primeiro cinema.

Filmes que definiram os caminhos do cinema e ajudaram a formar gêneros que se consagrariam no cinema narrativo. Para discutir as culturas, as economias e as sociedades que esses filmes representam, a Cinemateca Brasileira convidou o historiador Richard Abel, professor da Universidade de Michigan. Autor de livros indispensáveis ao estudioso do cinema antigo, como The Red Rooster Scare (Berkeley, 1999), Abel renova os estudos de cinema ao relacionar a história cultural com a história do cinema, descrevendo um contexto amplo através de fontes praticamente intactas.

A Cinemateca Brasileira publica o livro Americanizando o filme – ensaios de história social e cultural do cinema, que reúne ensaios de Richard Abel.

Grafitti cinematográficos

O grafiteiro Presto cria um grande mural inspirado na história do cinema. Intuitivo e com estilo singular, o artista mescla cores e formas, com gêneros e fisionomias da sétima arte.

De forma mais reflexiva, em abordagem erudita, Leon Kossovitch, em Nox São Paulo Grafitti, recupera as origens do graffiti para realizar um ensaio teórico sobre a escrita e a gravura, ao lado de Carlos Matuck, Waldemar Zaidler e Kenji Ota, que colheram imagens dessa manifestação numa soturna São Paulo.

E mais: Maureen Bisilliat e Lúcio Kodato revisitam o Turista Aprendiz em Decantando as Águas, um diálogo cine-foto-gráfico.

Lu Belin

Eu queria ser a Julianne Moore.