Brad Pitt - Café com Filme

Vencedores Globo de Ouro 2020 | Quais filmes ganharam prêmios?

A premiação do Globo de Ouro acaba de finalizar e, como de costume, o público e até muitos críticos são surpreendidos com algumas escolhas inusitadas, mas que podem indicar um certo favoritismo para os demais eventos que acontecerão na Award Season deste ano.

Para nós, brasileiros, alguns pitacos são até mais complicados, já que vários filmes não chegaram por aqui — alguns por falta de distribuição e outros porque não couberam no cronograma brasileiro. Assim, o filme "1917" que ganhou o prêmio de Melhor Filme de Drama (e também de Melhor Diretor para Sam Mendes) no Globo de Ouro 2020 ainda é um mistério.

E contrariando as estatísticas das indicações, não foi "História de um Casamento" que conseguiu mais prêmios (já que ele estava concorrendo em seis categorias). O destaque da noite ficou para "Era uma vez em... Hollywood", que faturou três prêmios no Globo de Ouro 2020, incluindo: Melhor Filme de Comédia ou Musical (nessa categorização bizarra do evento), Melhor Roteiro com texto de Quentin Tarantino (claro) e Melhor Ator Coadjuvante para Brad Pitt.

Aliás, falando em filmes da Netflix, o tão comentado "História de um Casamento" só conseguiu um prêmio, enquanto que "O Irlandês" não levou a melhor em nenhuma categoria. O filme "Dois Papas" (leia nossa crítica do filme Dois Papas), dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles também não alcançou a graça da premiação.

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Para deixar tudo mais interessante, o controverso "Coringa" riu por último com as estatuetas de Melhor Ator para Joaquin Phoenix e também de Melhor Trilha Sonora, uma obra de Hildur Guðnadóttir. Veja os demais vencedores e indicados do Globo de Ouro 2020:

Melhor Filme – Drama

Vencedor: 1917 (DreamWorks Pictures / Reliance Entertainment / New Republic Pictures / Neal Street Productions / Mogambo; Universal Pictures)

Demais indicados:

  • O Irlandês (Netflix / Tribeca Productions / Sikelia Productions / Winkler Films; Netflix)
  • História de um Casamento (Netflix / Heyday Films; Netflix)
  • Coringa (Warner Bros. Pictures / Village Roadshow Pictures / Joint Effort;Warner Bros. Pictures)
  • Dois Papas (Netflix / Rideback; Netflix)

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Melhor Filme - Musical ou Comédia

Vencedor: Era uma Vez em... Hollywood

Demais indicados:

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Melhor Diretor

Vencedor: Sam Mendes - 1917

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Demais indicados:

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Melhor Atriz – Drama

Vencedora: Renée Zellweger - Judy - Muito Além do Arco-Íris

Demais indicadas:

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Melhor Ator  – Drama

Vencedor: Joaquin PhoenixCoringa

Demais indicados:

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Melhor Atriz - Musical ou Comédia

Vencedora: Awkwafina - A Despedida

Demais indicadas:

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Melhor Ator - Musical ou Comédia

Vencedor: Taron Egerton - Rocketman

Demais indicados:

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Melhor Atriz Coadjuvante

Vencedora: Laura DernHistória de um Casamento

Demais indicadas:

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Melhor Ator Coadjuvante

Vencedor: Brad Pitt - Era uma Vez em... Hollywood

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Demais indicados:

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Melhor Roteiro

Vencedor: Quentin Tarantino - Era uma Vez em... Hollywood

Demais indicados:

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Melhor Filme em Língua Estrangeira

Vencedor: Parasita (CJ Entertainment; Barunson E&A; NEON) - Coréia do Sul

Demais indicados:

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Melhor Animação

Vencedora: Link Perdido (LAIKA / Annapurna Pictures; United Artists Releasing)

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Demais indicadas:

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Melhor Canção

Vencedora: (I’m Gonna) Love Me Again - Rocketman

Demais indicadas:

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Melhor Trilha Sonora Original

Vencedora: Hildur GuðnadóttirCoringa

Demais indicados:

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Indicados ao Globo de Ouro 2020 esquentam apostas para o Oscar

A Awards Season, temporada de premiações do cinema, televisão e música que culmina com a entrega dos Oscars está a pleno vapor e o anúncio dos indicados ao Globo de Ouro 2020 já começa a dar uma ideia geral do que pode acontecer na noite mais famosa do cinema mundial.

77ª edição do Globo de Ouro, uma das maiores premiações anuais do cinema e televisão, divulgou a lista dos indicados para a edição de 2020. Esquentando de vez a Award Season, foram divulgados os indicados para as 25 categorias (incluindo cinema e televisão). História de um Casamento é o filme com mais indicações (seis), seguido por Era uma Vez em... Hollywood e O Irlandês, com cinco, mostrando toda a força da Netflix cujas produções somam 17 indicações, mais do que o dobro do que a Sony Pictures, segundo estúdio com mais indicações.

Coringa também aparece na lista, com quatro indicações (incluindo melhor ator para Joaquin Phoenix e diretor para Todd Phillips). O Brasil não conta com nenhum produção na briga, mas o filme Dois Papas, do brasileiro Fernando Meirelles, recebeu quatro indicações. 

Os Prêmios Globo de Ouro de 2020 são escolhidos pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (AIEH), e a cerimônia de entrega dos prêmios acontece dia 5 de janeiro de 2020 no tradicional hotel Beverly Hilton com Ricky Gervais como anfitrião da noite, marcando sua quinta participação como apresentador da premiação.

Confira a lista completa de indicados nas categorias de cinema: 

Melhor Filme – Drama

  • O Irlandês (Netflix / Tribeca Productions / Sikelia Productions / Winkler Films; Netflix)
  • História de um Casamento (Netflix / Heyday Films; Netflix)
  • 1917 (DreamWorks Pictures / Reliance Entertainment / New Republic Pictures / Neal Street Productions / Mogambo; Universal Pictures)
  • Coringa (Warner Bros. Pictures / Village Roadshow Pictures / Joint Effort;Warner Bros. Pictures)
  • Dois Papas (Netflix / Rideback; Netflix)

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Melhor Filme - Musical ou Comédia

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Melhor Diretor

melhordiretor c4e46

Melhor Atriz – Drama

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Melhor Ator  – Drama

melhorator 6b60e

Melhor Atriz - Musical ou Comédia

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Melhor Ator - Musical ou Comédia

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Melhor Atriz Coadjuvante

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Melhor Ator Coadjuvante

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Melhor Roteiro

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Melhor Filme em Língua Estrangeira

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Melhor Animação

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Melhor Canção

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Melhor Trilha Sonora Original

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Crítica do filme Ad Astra - Rumo às Estrelas | Uma longa jornada pessoal

Há um certo encanto nos filmes que é difícil de descrever, uma atmosfera hipnotizante que nos mantêm vidrados por horas contemplando existências fictícias. Boa parte desse encanto provêm de excelentes atores e atrizes que tanto amamos, como Brad Pitt.

Como protagonista dessa aventura espacial, a escolha desse magnífico ator é bastante acertada, pois os adjetivos e elogios servem tanto para ele quanto para “Ad Astra – Rumo às Estrelas". É fácil notar que tudo que estamos presenciando é a partir do ponto de vista do protagonista, desde seus pensamentos e avaliações psicológicas até momentos de extrema tensão em que ele se mantém plácido e extremamente eficaz na resolução dos problemas, tanto físicos quanto filosóficos.

James Gray assina a direção e co-escreveu o roteiro com Ethan Gross em um longa que assim como a performance de Brad Pitt, é bastante controlado e contemplativo, ainda que possua boas doses de adrenalina e desespero em momentos chave. Há uma familiaridade em “Ad Astra”, obviamente devido a todos os filmes sobre exploração espacial, mas também há uma certa particularidade que torna o filme um misto de realidade e ficção, uma espécie de sonho lúcido de um futuro próximo que talvez nunca aconteça.

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A sequência inicial já impressiona bastante. Após um terrível acidente que passa a ser conhecido como “O Surto”, o major Roy McBride (Brad Pitt) recebe a notícia de que a sobrevivência de nosso planeta está ameaçada graças a uma misteriosa onda de energia que viaja através do espaço.

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Isso pode ter relação com o sumiço de seu pai, Clifford McBride (Tommy Lee Jones), um astronauta dedicado a encontrar vida inteligente fora da Terra. Agora sua missão é viajar em direção ao espaço profundo e solucionar esse mistério, com segredos que podem ameaçar a existência humana.

A trama se passa em “um futuro próximo”, deixando propositalmente em aberto os eventos que o filme retrata. Apesar de ter um os pés bem firmes no chão e ser incomodamente semelhante a nossa realidade, “Ad Astra” possui muitas liberdades poéticas nas questões científicas.

Isso já foi abordado por diversos cientistas em sites sobre o tema, então não compensa comentarmos a respeito. Basta dizer que é tudo bastante convincente, sem os exageros que a ficção científica normalmente se utiliza, simplesmente pelo desenvolvimento da história e o que ela significa. Em “Ad Astra” o que importa é a jornada e não o destino.

Pai, por que me abandonaste?

Praticamente o filme todo é ancorado por Roy. É um personagem cativante, misterioso e totalmente controlado. Além de ser filho de um astronauta admirado como um herói por todos, ele é conhecido por sua capacidade inexplicável de manter-se calmo em situações de extrema tensão, algo que se mantêm ao longo do filme, ou quase isso.

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Ao prestar atenção nos diálogos internos, descobrimos que essa armadura de frieza são resultado do projeto espacial que seu pai iniciou quando Roy ainda era criança e como a dedicação ao trabalho atrapalhou sua vida pessoal. Por fora, ele é calmo, responsável e simpático, mas internamente ele não consegue se relacionar com outras pessoas e vive apenas fugindo de seus conflitos internos e isso tudo transparece na película em detalhes sutis, mas que entregam exatamente o que o protagonista está passando.

Infelizmente, por ser tão focado em Roy, “Ad Astra” nunca explora os outros personagens devidamente. Eve (Liv Tyler), a esposa de Roy, tem no máximo duas falas no filme todo, apesar de ser tão importante para o protagonista. Helen Lantos (Ruth Negga), personagem que lidera a colônia em Marte serve apenas como um facilitador de eventos para Roy, ainda que sua relação com o protagonista seja no mínimo conflitante. A sensação é de que cada um dos personagens pudesse protagonizar um filme a partir de seu ponto de vista, tamanha sua complexidade e subutilização.

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Pode-se dizer que filmes sobre exploração espacial não são novidade, por isso mesmo que “Ad Astra“ chama atenção. Já é tudo familiar, ainda que com suas características próprias e de certa forma, um ângulo diferente. A expectativa sobre o que pode acontecer é tão subvertida que acaba surpreendendo pelo óbvio. Mas a verdade é a que a mensagem que o filme passa é tão impactante que é difícil ficar impassível como Roy. Vale a pena embarcar nessa jornada, tanto pela inspiração quanto pelo entretenimento.

O Rei | Novo trailer legendado e sinopse

Descontente com a realeza, o príncipe herdeiro Hal (Timothée Chalamet) decide viver entre os plebeus. Mas, com a morte de seu pai tirano e coroado Rei Henrique V da Inglaterra, ele é forçado a retornar para o mundo que havia deixado para trás. Agora, o jovem rei precisará lidar com as pressões políticas e o legado de guerra deixado por seu pai ao mesmo tempo em que enfrenta suas próprias questões emocionais, como a relação com seu amigo e mentor, o cavaleiro alcoólatra John Falstaff (Joel Edgerton).

Crítica Era Uma Vez em... Hollywood | O melhor filme de Quentin Tarantino?

Quando falamos em diretores icônicos, não há dúvida de que Quentin Tarantino se destaca em inúmeros rankings, ainda mais tratando dos cineastas mais marcantes das últimas décadas — bom, pelo menos na minha lista, eu acho que ele deve ficar facilmente no Top 5. E se a ideia é pensar no jeito de criar e contar histórias, então Tarantino certamente se destaca por ser um cara de ideias pra lá de inusitadas.

Sempre focado no lado mais absurdo, sanguinário e até sádico do ser humano, Tarantino criou um portfólio que se destaca pelo exagero, seja dos personagens, das situações ou da execução mesmo. Se pegarmos os filmes dele, nenhum tem um viés muito realista, mas é justamente o apelo para o surreal que cria essa conexão com o público. E aí temos inúmeras marcas registradas dele em suas películas.

Ok, talvez você já viu todos os filmes dele ou quem sabe um punhado, mas com tantos títulos de vingança, sarcasmo, perseguição, ação (às vezes, com um bocado de faroeste), o que teria de novidade no filme “Era Uma Vez em... Hollywood”? Oras, se você prestar atenção ao título, a dica fica bem clara: por que não uma pitada disso tudo e uma adição da fantástica fábrica de realidades chamada Hollywood?

Sim, você entendeu direito, este é um filme que se passa nos estúdios de Hollywood, na Los Angeles de 1969. Aqui, acompanhamos as aventuras — nos sets de gravação e na carreira — do astro de TV Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e de seu dublê Cliff Booth (Brad Pitt). Os dois têm de lidar com as mudanças constantes da indústria, o que inclui novos desafios nos papéis de Dalton, e também com as bizarrices da região.

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Essa sinopse provavelmente não diz muito, mas esse é o objetivo. É sempre melhor ver as surpresas na telona. E, SIM, você precisa ver o filme no cinema! Agora, para a outra dúvida: este é o melhor filme de Quentin Tarantino? Essa resposta vai depender de quem avalia, mas, na minha opinião, sim esse é o melhor DE Tarantino, mas não DO Tarantino. Ele não é o mais inovador em história e direção, mas é o que mais tem traços do diretor.

Sabe qual é a minha impressão? Com tanto hype, o cineasta resolveu fazer um filme bem numa pegada exibicionista — até indo na contramão do preciosismo de “Os Oito Odiados”. Aí o resultado é um punhado de coisa genial, mas que não necessariamente agregam para contar a história. O filme que tem suas quase três horas é um deleite para ver DiCaprio e Pitt esbanjando atuação, mas a história mesmo podia ser contada em menos de duas horas.

Isso é um problema? Bom, depende de quem está vendo. Eu achei o filme maravilhoso em cada segundo, porque cada divagação dá um charme a mais e abre espaço para gente curtir toda a genialidade do cara, que adora mostrar seus hobbies na telona (seja vinhetas dos filmes da década de 1960, seja trechos de faroestes, seja a galera hippie da época). Só que para quem gosta de algo mais direto ao ponto, boa parte do filme pode parecer enrolação.

Hollywood como você nunca viu

Você pode ser um grande cinéfilo, ter visto milhares de filmes que tentam retratar a rotina nos bastidores de Hollywood, mas é bem improvável (ou talvez quase impossível) que você já tenha visto algo próximo da visão que Tarantino tem da indústria dos anos 1960. E o motivo para esse ineditismo é bastante óbvio: cada idealizador pode partir para uma abordagem completamente distinta para retratar um mesmo cenário.

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Uma coisa bem legal é que num projeto tão amplo (pois apesar de ser longo, o filme não foca tanto nos detalhes, mas no número de variáveis para contar a história) podemos ter uma ideia bem variada de um mesmo universo. Assim, Tarantino aproveita os dois fios condutores (que são os protagonistas) para mostrar alguns dos tantos profissionais dos estúdios, até dando uma pequena aula das tarefas e peculiaridades, e também dos tipos bizarros da cidade.

É claro que a escolha dos filmes fictícios que existem dentro de “Era Uma Vez em... Hollywood” só podia ser títulos de faroeste — afinal, estamos falando do cara que fez “Django Livre” e “Os Oito Odiados”. E é legal ver que o diretor se preocupou em mostrar tanto versões finalizadas da época quanto os bastidores mesmo, incluindo as rotinas mais simples dos atores da época, com seus desafios até para decorar falas.

Ok, tudo isso pode parecer detalhista, mas pode ficar tranquilo que você não terá uma cena de dez minutos com uma carruagem vindo de longa distância até parar em frente à câmera. Todavia, é interessante colocar que os detalhes aqui são usados de forma mais pontuais e para acrescentar algo à história dos protagonistas. E, aliás, vale pontuar que os personagens fictícios até têm inspirações reais, mas há uma boa dose de invenção aqui.

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Claro, para dar coerência para toda essa ficção, Tarantino retrata uma Hollywood nos mínimos detalhes, numa produção que leva em conta figurino, carros, mansões, lojas e também os figurantes. Tudo é planejado com uma minúcia para garantir que o espectador mergulhe nesse conto de fodas (mesmo que não seja um filme com essa pegada, as ideias do cara são inegavelmente fodas).

É bom ser o Rei!

Como eu já disse, a ideia de “Era Uma Vez em... Hollywood” parece ser uma produção única e exclusivamente para criar um mundo imaginário de Tarantino em sua cidade favorita. Foi ali que o cara teve suas maiores realizações, então é óbvio que ele queira mostrar um pouco do todo que o fez se apaixonar pelo mundo do cinema. Assim, as quase três horas de película são quase que totalmente dedicadas a dar essa degustação ao público.

E, nessa altura do campeonato, Quentin Tarantino pouco se importa se os críticos ou o público não vão gostar de algo, pois ele já tem seu espaço para pintar e bordar como quiser, ainda mais num filme que é totalmente idealizado por ele. Mesmo com algumas ressalvas, é inegável que o cineasta tem muita coisa a mostrar, ainda que tenha várias cenas que o público possa julgar como irrelevante, o homem prefere trabalhar a sua maneira.

Se em outros verões, o diretor já teve suas divagações para criar clima de tensão através de enormes diálogos (quem não lembra daquela cena tensa de “Bastardos Inglórios” com o general fumando seu cachimbo?), aqui ele prefere dar espaço até mesmo para tarefas como o retrato de um cachorro ansioso por sua refeição ou uma atriz admirando sua própria performance no cinema. Tudo isso pode representar pouco no fim da jornada, mas a construção é tão charmosa, que a gente só admira toda essa paixão de Tarantino.

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A influência do cineasta para atrair Leonardo DiCaprio, Brad PittMargot Robbie para um mesmo filme é sensacional. Sério, os dois dominam o filme como se tivessem dando um passeio no parque. É um combo de experiência tão bem acertado, que toda cena vira mágica e a gente fica só admirando os dois se exibindo nos sets de filmagem. Não que os demais atores e atrizes não façam ótimos papéis, mas é inevitável não tecer elogios para a dupla.

E aliás, também é interessante pensar na complexidade desse filme, que por ser um longa-metragem realmente longo, ele teve um trabalho muito maior de produção, ainda mais por contar com outros pequenos filmes inseridos na trama. No fim, parece que a gente tá vendo vários cases e demos que Tarantino tinha guardado na gaveta e tem espaço até para brincadeiras comerciais e participações especiais como a de Bruce Lee (que até gerou polêmica, mas isso não vem ao caso aqui).

E meus amigos, sabe aquele ditado de que “o melhor ficou guardado para o final”? Então, se você tiver paciência, curtir sua pipoca e apenas aproveitar toda essa ficção nos mínimos detalhes, certamente o senhor Tarantino vai se encarregar de entregar sua recompensa da melhor forma possível! O fim da película é algo impagável de bom, então, fique tranquilo, pois você vai sair do cinema bem satisfeito com essa dose tarantinesca.

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Por fim, mas não menos importante, eu acho totalmente válido você conferir “Era Uma Vez em... Hollywood” no cinema, pois — além da direção com maestria — essa talvez seja a penúltima chance de curtir uma obra inédita do cineasta, que já declarou pensar na aposentadoria após o décimo filme (que deve ser o próximo Jornada nas Estrelas). Bom espetáculo para todos!

Ad Astra: Rumo Às Estrelas | Trailer legendado e sinopse

Após um terrível acidente, um astronauta recebe a notícia de que há algo misterioso ameaçando a sobrevivência de nosso planeta, algo que também está relacionado com o sumiço de seu pai. Agora,  ele recebe a missão de viajar para tentar solucionar este mistério, que tem segredos que desafiam a existência humana e nosso lugar no cosmos.

Era Uma Vez Em... Hollywood | Trailer legendado, trailer dublado e sinopse

Era Uma Vez... em Hollywood, de Quentin Tarantino, revisita a Los Angeles de 1969 onde tudo estava em transformação, através da história do astro de TV Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e seu dublê de longa data Cliff Booth (Brad Pitt) que traçam seu caminho em meio à uma indústria que eles nem mesmo reconhecem mais. O nono filme do diretor e roteirista conta com um grande elenco e múltiplas histórias paralelas para fazer um tributo aos momentos finais da era de ouro de Hollywood.

Critica do filme Vice | Isso é tudo “fake news” de esquerdista, talkei!

Adam McKay criou uma carreira sólida no reino das comédias idiotas. Ao lado de Will Ferrell, parceiro de SNL, a dupla entregou alguns do melhores e mais abusados títulos do gênero, incluindo O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy, Quase Irmãos e Os Outros Caras, e é aqui que as coisas começam a ficar mais interessantes.

É muito fácil classificar a filmografia de McKay como um mero apanhado de piadas de “pinto e peido”, mas com um pouco de atenção podemos observar sua crítica social mesmo dentro da comédia mais absurda. Em Os Outros Caras — comédia de ação policial de 2010 com Will Ferrell e Mark Wahlberg — o diretor faz uma crítica ferrenha ao sistema financeiro estadunidense, mostrando que Wall Street opera no mesmo nível de criminalidade que um esquema de pirâmide à lá Charles Ponzi.

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Ainda em 2013, Adam McKay dirige O Âncora 2: Tudo Por um Furo, outra “comédia ridícula”, na qual ele desfere mais golpes contra a “indústria da notícia” e a mercantilização da informação, navegando pelas fake news. Culminando com A Grande Aposta, filme de 2015 sobre a crise financeira de 2007.

Em A Grande Aposta, McKay provou que é capaz de entregar muito mais do que piadas de gosto duvidoso. Indicado em cinco categorias no Oscar 2016, levando a estatueta de Melhor Roteiro Adaptado, o filme se camufla com um estilo de “clipe musical” — extremamente ágil e rítmico — para explicar as minúcias da intrincada estrutura financeira estadunidense que colapsou em 2007. O elenco recheado de estrelas e a estrutura dinâmica misturando drama, comédia e documentário entregam uma crítica mordaz a todos os operadores do sistema. O que finalmente nos traz até Vice.

A nova empreitada de Adam McKay acompanha a asquerosa jornada de Dick Cheney — vice-presidente dos Estados Unidos durante as administrações George W. Bush — pelos meandros de Washington. Com o mesmo estilo de A Grande Aposta, e um elenco tão qualificado quanto, Vice explora a carreira de um dos políticos mais influentes da história dos Estados Unidos para pintar um retrato caricato de quem só pode ser descrito como um amigável agente do anticristo — ou algo menos ofensivo, caso você não seja um esquerdopata propagador de mentiras.

Podres poderes

O estilo ágil de McKay é percebido já nos primeiros segundos de filme. Entramos na vida de Dick Cheney em um momento crucial, durante os ataques terroristas de 11 de setembro. Conforme seguimos a agitação dos funcionários da Casa Branca somos transportados para Wyoming de 1963, onde Cheney é um jovem trabalhador braçal, bêbado, sem perspectivas que acabara de largar a faculdade e é confrontado por sua esposa Lynne Cheney que estabelece um ultimato para que seu marido se endireite e encontre seu caminho na vida.

Com muito humor e uma linguagem extremamente acessiva, o diretor segue acompanhando a carreira de Cheney, saltando para 1969 quando trabalhou com Donald Rumsfeld, assessor econômico de Nixon, tornando-se um agente político experiente enquanto conciliava a vida em família, chegando até ao cargo de chefe de gabinete da Casa Branca para o presidente Gerald Ford, enquanto Rumsfeld se torna secretário de Defesa.

Mesmo sem nunca permitir a total empatia pelo protagonista, Adam McKay ainda consegue entregar momentos de humanidade dentro de um personagem tão moralmente lacônico. Com a saída dos republicanos da Casa Branca o político veterano resolve concorrer para o congresso, época em que sofre seu primeiro ataque cardíaco.

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Fragilizado físico e politicamente, sua esposa Lynne entra em cena para apoiar o marido, mostrando que as alianças de Cheney começam dentro do seu lar, com um relacionamento sólido com uma esposa e filhas que o apoiam incondicionalmente. Eis que Mary, a filha mais nova do casal se assume homossexual, fazendo com que o pai — por motivos altruístas ou meramente estratégicos — resolve deixar suas ambições presidenciais de lado em prol da privacidade de sua filha, cuja sexualidade certamente seria utilizada como arma política em uma eventual campanha. Neste momento temos uma pequena amostra do homem por trás do enxofre.

McKay vilifica Cheney na medida das ações do homem, mas não se esquece que até mesmo Lúcifer foi um anjo. Entretanto, esse não é o fim da história de Dick Cheney, mesmo que o diretor brinque que a escolha por proteger sua filha teria resultado em uma vida digna, saudável e feliz ao lado de toda sua família.

Tudo muda quando em 2000, o então candidato republicano George W. Bush chama Cheney para compor a sua chapa na campanha. Eis que as engrenagens maquiavélicas do veterano negociador de influencias percebe na imaturidade do jovem Bush um atalho para a presidência.

Mal encarnando

A história de Cheney é atraente por si só, mas é a performance de Christian Bale que realmente entrega o engenho ardiloso por trás de suas ações. Se a transformação física já é impressionante, é a atenção aos gestos, cacoetes e até mesmo timbre de voz que esconde a malícia do personagem. Como o próprio Bale “brincou” em seu discurso de agradecimento pela estatueta de melhor ator no Globo de Ouro, Satã foi sua maior inspiração para o papel; deixando assim bem claro o sabor diabólico de sua interpretação.

No mesmo nível infernal de qualidade, temos Steve Carell. Na pele do abrasivo Donald Rumsfeld o ator entrega mais um desempenho sólido, mostrando que a parceria com McKay é projetada exclusivamente para fazer a Lu Belin  morder a língua (brincadeira Lu)

Enquanto isso, Amy Adams se transforma em Lynne Vincent Cheney com um misto de austeridade e compaixão. Sua força na tela faz jus a verdadeira Lynne cujos princípios religiosos, políticos e familiares nem sempre se mostraram alinhados, mas que estabeleceu fundações sólidas para que seus familiares pudessem edificar suas carreiras.

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Flerte comunista da grande mídia contra o cidadão de bem

Adam McKay refinou suas habilidades e deu mais corpo ao estilo apresentado em A Grande Aposta. Algumas ideias do título anterior são incrementadas, enquanto a o diretor/roteirista ainda brinca com formatos e narrativas.

O elenco excepcional da um toque especial ao filme. O destaque maior fica para Christian Bale, um dos favoritos ao Oscar 2019, mas não podemos deixar de mencionar o trabalho Amy Adams e Steve Carell, ambos entregam atuações sólidas.

Vice é um ótimo filme, seja por aspectos técnicos ou artísticos. A direção é inventiva e bem estruturada, enquanto o roteiro é suficientemente inteligente para ser didático sem ser enfadonho. A condução é ágil, e repleta de humor, sendo que os textos, diálogos e a composição do filme estão todos muito bem amarrados. 

A imagem demoníaca do ex-vice-presidente é um olhar liberal dos feitos de um republicano conservador, mesmo que não traga inverdades

Para além da película, McKay nunca precisou dizer abertamente seu posicionamento político, pois sempre ficou evidente sua inclinação liberal. Em outras palavras, se a sua visão política do mundo não está alinhada com a do diretor, certamente ficará enraivecido com todo o “mimimi” canhoteiro que permeia a narrativa. Dito isso, a visão da vida de Dick Cheney apresentada por McKay pode até conter um exagero ou outro, mas no final não traz nenhuma grande inverdade.

Crítica do filme Deadpool 2 | Um filme família

Se "Deadpool" é definitivamente um filme romântico perfeito para o dia dos namorados, "Deadpool 2" vai além. Agora é um filme para (e sobre) a família, repleto de violência pesada, diversos palavrões e nudez, mas como a classificação indicativa é 18 anos, não há com os pais não precisam se preocupar muito.

Mas acredite, os roteiristas, o diretor e todos os envolvidos na produção se esforçaram muito para entregar o que prometeram, ainda que da forma totalmente deturpada que esperamos de um filme do Deadpool. Ryan Reynolds retorna para o papel perfeito de sua vida, onde Wade Wilson é um mercenário com um incrível poder de regeneração que permite a recuperação de qualquer ferida física.

Então quando tenta viver feliz para sempre com seu amor Vanessa (Morena Baccarin) e tudo da terrivelmente errado, ele vai até a Escola para Jovens Superdotados do Professor Xavier, lar dos X-Men, tentar aprender a fazer parte de algo maior, ou uma família. Em sua primeira missão como estagiário X-Men, ele encontra o jovem Russel (Julian Dennison), um garoto perdido em raiva descontrolada com o poder mutante de gerar fogo pelas mãos.

Como se não tivesse problemas suficientes, Cable (Josh Brolin) vem do futuro para matar Russel, e Deadpool usa todo seu instinto familiar para proteger o garoto, contando com a ajuda do recém-formado grupo X-Force. Os membros dessa equipe são Zeitgeist (interpretado por Bill Skarsgård, o palhaço de IT), capaz de vomitar ácido; Bedlam (Terry Crews), capaz de gerar um poderoso campo bioelétrico; Shatterstar (Lewis Tan), uma espécie de alienígena capaz de fazer tudo que Deadpool consegue, só que melhor.

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Os trailers e imagens de divulgação mostravam um paraquedas vazio, e o misterioso personagem é Vanisher (ou Sumiço), interpretado por um ator reconhecidamente talentoso e bonito, responsável por um dos momentos mais engraçados do filme. Temos ainda a incrível Domino (Zazie Beetz), cujo poder é manipular as probabilidades gerando um campo de “muita sorte”. Ela rouba os holofotes em todas as cenas em que aparece, sendo uma escolha acertada tanto pelo talento da atriz quanto do uso criativo de seu poder nas telas. O mesmo vale para Cable, sem dúvida os dois servem como uma injeção de adrenalina que um filme de ação como esse precisa.

Além deles, Peter (Rob Delaney), um humano comum com um bigodão chamativo, aparece para integrar o time e acaba conquistando a afeição de Deadpool, mais uma adição bem inusitada e engraçada. Os personagens do filme anterior também retornam, Colossus (Stefan Kapicic), Míssil Adolescente Megassônico (Brianna Hildebrand), Al Cega (Leslie Uggams), Weasel (T.J. Miller) e o taxista Dopinder (Karan Soni).

O diretor Tim Miller foi substituído por David Leitch (de "Atômica" e "John Wick"), enquanto os roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick continuam escrevendo, buscando ampliar o sucesso do primeiro filme. Isso posto, é fácil reconhecer que diversas situações e piadas foram “recicladas”, mas como o próprio filme nunca se propôs a ser sério, não podemos cobrar muito. A autodepreciação está bastante presente, com Deadpool gritando “que roteiro preguiçoso” diversas vezes.

A quebra da quarta parede como estrutura narrativa

Já ficou claro que o maior poder de Deadpool não é a regeneração acelerada, mas sim a metalinguagem presente na famigerada “quebra da quarta parede”. Não se sabe muito bem como esse termo surgiu, mas é originado nas peças teatrais medievais, referindo-se a uma parede imaginária que separa o público dos atores no palco.

Essa “parede” nunca existiu em Deadpool, pois o contato com o público é constante desde sua primeira aparição. A utilização da metalinguagem é a fonte principal das piadas, diversas zoações com outros heróis tanto da Marvel quanto da DC são recorrentes, focando totalmente nos fãs do gênero “super-herói”.

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Apesar dos diversos acertos, algumas piadas são extremamente datadas. Além disso, Deadpool anuncia a piada momentos antes de acontecer, o que acaba soando como uma piada repetida. Um bom exemplo é quando ele pergunta para Cable se dubstep ainda é moda no futuro, segundos antes da trilha tocar um dubstep durante a ação. A mesma situação é repetida mais adiante no filme, além de piadas literalmente repetidas do primeiro filme.Claro que é tudo engraçado, mas não é hilário como da primeira vez.

Em nenhum momento o filme tenta ser mais do que puro entretenimento. É despretensioso, pesando nas piadas e na metalinguagem com o único objetivo de divertir.

Os efeitos do primeiro filme foram suficientes, considerando o baixo orçamento da produção. Em “Deadpool 2”, os efeitos melhoraram mas ainda estão longe de serem perfeitos. Colossus ainda é completamente animado em computação gráfica, claramente um bonecão, mas a gente se acostuma e deixa passar. Ele participa de uma luta intensa com um vilão surpresa, que apesar de bastante fantasioso, faz bastante juz ao personagem.

A trilha sonora foi muito bem trabalhada, o compositor Tyler Bates fugiu da tradicional trilha padrão para heróis e adicionou músicas com letras adaptadas e referências a musicais. Sem contar a maravilhosa canção Ashes, interpretada pela diva canadense Celine Dion. Para quem espera algo bagunçado e tosco, as surpresas são bastante positivas.

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A mesma reclamação não pode ser feita a respeito das cenas de ação. David Leitch sabe conduzir lutas coreografadas muito bem, basta assistir seus outros filmes. Um dos pontos altos do filme é a sequência de perseguição no meio do filme, seguido de combates intensos, a maioria com a participação de Cable.

Deadpool 2” é uma versão melhorada de seu antecessor, tanto na ação, nas piadas e principalmente na violência gratuita e extrema. O filme até tenta ir além, com momentos mais “sérios”, mas acho que o estilo do personagem não suporta esse tipo de coisa por tempo suficiente para o público se importar.

O quanto você gosta de filmes de heróis, e principalmente os que não se levam tão a sério (DC, estamos falando de você) vai ditar o quanto “Deadpool 2” vai te agradar. Os fãs do primeiro filme não terão do que reclamar, mas para quem caiu de paraquedas no cinema e estava passando só esse filme, talvez a escolha não tenha sido a mais acertada.

A tradicional cena pós crédito já vale o ingresso, totalmente autorreferencial e autodepreciativa, exatamente a essência do que Deadpool sempre foi.