Scott Derrickson - Café com Filme

Crítica O Telefone Preto | Não diga "Alô"! Diga "Socorro! Como vou sair daqui?"

O gênero de terror sofre bastante com a falta de inovação, permeado por filmes que aderem a clichês nos roteiros e na construção dos momentos assustadores. Assim, quando vemos um trailer promissor como o de “O Telefone Preto”, é perfeitamente normal manter a empolgação comedida para a decepção ser menor na hora de conferir o resultado final.

No entanto, aqui temos alguns pontos que permitem ter uma boa ideia de que o tempo e o ingresso não serão investimentos perdidos. Primeiro, é bom enfatizar que “O Telefone Preto” é dirigido e co-roteirizado por Scott Derickson, a mente por trás de “Doutor Estranho”, “A Entidade” e “O Exorcismo de Emily Rose”, ou seja, o LinkedIn do cara tem ótimas referências.

Além disso, temos a presença de Ethan Hawke no elenco de “O Telefone Preto”, o que pode não ser um indicativo de sucesso, já que há outras tantas obras de terror com famosos que acabam tendo resultados aquém do esperado, mas, ao menos, há alguns nomes aqui que acabam sugerindo que o potencial existe de fato.

Apesar do trailer caprichado, do diretor competente e do elenco promissor, é a trama de “O Telefone Preto” que chama atenção. Nesta obra, acompanhamos a história de Finney Shaw, um garoto de 13 anos que é sequestrado e mantido preso em um porão. Ali, há um telefone desconectado, o qual permite ao menino receber chamadas das vítimas anteriores do assassino.

otelefonepreto01 07cdbFonte da imagem: Divulgação/Universal Pictures

Se você quer a versão resumida da crítica, fica a dica: “O Telefone Preto” é um terror que capta muito bem a essência do gênero propagada em títulos recentes como “IT – A Coisa”, graças ao elenco infanto-juvenil, que é extremamente competente; bem como é uma obra que se destaca pela originalidade, ao mesclar lendas urbanas com paranormalidade. Agora, se você já viu o filme ou quer mais detalhes (sem spoilers), acompanhe o restante do texto.

Resgate do terror independente

Já faz algum tempo que Hollywood percebeu a magia do terror nostálgico, mas, não só isso, muitos estúdios perceberam como o terror independente lá da década de 1970 e 1980 tinha algo único: a originalidade. Mesmo que vários projetos antigos — hoje consideradas clássicos do gênero — não tivessem orçamentos mirabolantes, as ideias eram de fato muito boas, o que agradava a audiência.

É claro que há algumas décadas, o cinema de fato tinha recursos mais precários e a ausência da computação gráfica forçava tecnicalidades manuais na execução dos filmes, porém era bem comum ver roteiros originais. Com o passar dos anos, fica difícil reinventar a roda, afinal muitas obras anteriores já usaram todo tipo de ideia criativa, mas sempre há um jeito.

Aí é que entra dois fatores para “O Telefone Preto” merecer destaque. O primeiro é um conceito original (pelo menos na minha humilde memória de filmes do gênero, não me recordo de algum projeto que siga exatamente o mesmo percurso de ideias). O segundo é esse retorno ao charme visual da década de 1980, que pode ser algo proposital, mas que funciona muito bem.

otelefonepreto02 f1efaFonte da imagem: Divulgação/Universal Pictures

Bom, a originalidade deste filme vem de uma história curta concebida pelo escritor Joe Hill, também conhecido como Joseph Hillstrom King — e, para os menos familiarizados, este é um dos filhos do escritor Stephen King. Vencedor de prêmios como Eisner Award e Bram Stoker Awards, o autor famoso no segmento de títulos literários de terror iniciou sua carreira com Fantasmas do Século XX (20th Century Ghosts), obra que reúne alguns contos, incluindo “O Telefone Preto”.

Assim, a engenhosidade da versão cinematográfica está apoiada no material escrito, porém, pensando em obras audiovisuais, o filme “O Telefone Preto” traz um punhado de ideias que são inéditas. Bom, se você já viu o trailer, vai dizer que “um assassino sádico que sequestra crianças” não é algo bem original. E, de fato, a novidade não está nesta parte, mas sim no desenrolar da história.

O terror nos pequenos detalhes

A ideia de ser uma trama ambientada na década de 1980 ajuda muito, já que é difícil criar terror com os atuais artifícios de tecnologia, então situar um drama numa época sem celular, câmeras de segurança e localizadores garante simplicidade. De qualquer forma, é legal que “O Telefone Preto” acaba usando uma tecnologia (o nome já denuncia isso) para o desenvolvimento da trama.

E com essa pegada mais retrô, o filme acaba pegando carona na longa onda (eu diria até um tsunami) de filmes que imitam obras antigas e abusam de recursos saudosistas, como músicas, vestimentas, gírias e situações comuns de décadas anteriores. Nesse rumo, “O Telefone Preto” cativa facilmente e evita (ainda que existam) efeitos especiais, o que dá um ar de ousadia. Isto tudo combinado com uma fotografia impecável dá ao filme uma atmosfera sombria e constante.

otelefonepreto03c d2befFonte da imagem: Divulgação/Universal Pictures

Enorme parte do mérito do filme está justamente nas situações de construção da história, em que vemos como os personagens se entrelaçam e aí as menções vão para o elenco sumariamente composto por adolescentes muito talentosos. O destaque especial vai para Mason Thames, que assume uma parte gigante da trama sozinho e o faz de forma genial, certamente é um jovem que veremos em muitos títulos daqui para frente.

Interessante pontuar que Mason Thames e Madeleine McGraw até já tiveram outras aparições em filmes e séries recentes, mas nomes como Miguel Cazarez Mora, Rebecca Clarke, Spencer Fitzgerald e outros são estreantes, o que prova que o elenco escalado foi experimental, mas muito bem acertado, uma vez que o resultado ficou excelente!

Agora, é claro que Ethan Hawke dispensa comentários. O ator que estampa os cartazes do filme encarna o vilão da história. Aqui, vale elogios tanto à performance de Hawke — que não é alguém conhecido por papéis de terror, mas que acabou chocando pela sua dedicação ao papel — quanto ao desenvolvimento do personagem, que usa diferentes tipos de máscara, sendo mais um item simples, porém que traz originalidade à película.

otelefonepreto04 73d71Fonte da imagem: Divulgação/Universal Pictures

No todo, “O Telefone Preto” é um filme que agrada pelo desagradável, tanto que é possível que fique uma sensação de que podiam ter desenvolvido mais a história e mostrado outras situações de terror — mas, com o sucesso, nunca se sabe se não teremos mais história deste universo no futuro. É uma obra que evita o truque de “jump scare” (algo raro atualmente) e que aposta num suspense perene e flerta muito com o sobrenatural. Um longa-metragem para ver no cinema e rever em casa!

O Telefone Preto | Novo Trailer legendado, trailer dublado e sinopse

Finney Shaw, um menino tímido, mas inteligente, de 13 anos, é sequestrado por um assassino sádico e preso em um porão à prova de som, onde gritar é de pouca utilidade. Quando um telefone desconectado na parede começa a tocar, Finney descobre que pode ouvir as vozes das vítimas anteriores do assassino. E eles estão determinados a garantir que o que aconteceu com eles não aconteça com Finney.

Crítica do filme Doutor Estranho | Esqueça tudo que você sabe e divirta-se

O Universo Marvel continua expandindo a cada novo filme, e finalmente é a vez da magia entrar nessa história. Doutor Estranho, como o próprio nome sugere, tem uma história bem peculiar e talvez não seja um nome familiar para aqueles que não acompanham os quadrinhos.

Atenção! O texto contêm diversos spoilers!

Dr. Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) é um renomado neurocirurgião, conhecido por operar casos considerados impossíveis dentro de sua area profissional. Infelizmente sua motivação em remover tumores cerebrais inoperáveis e consertar espinhas dorsais irreparáveis é menos altruísta do que parece. Na verdade o Doutor gosta mesmo é da fama e da fortuna que seu trabalho proporciona, não se importando tanto com os pacientes quanto seu status.

Tudo isso fica bem claro logo na primeira parte do filme, sua arrogância e prepotência são equivalentes apenas a seu talento nas operações. Nesse momento conhecemos a enfermeira Christine Palmer (Rachel McAdams), que trabalha com as emergências do hospital e que além de ser extremamente competente no que faz, havia trabalhado lado a lado com Strange no passado, quando eles tiveram um relacionamento que acabou devido às “qualidades” egoísticas do Doutor.

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Em seguida, dirigindo uma Lamborghini em uma estrada nas montanhas e decidindo se vai pegar um caso que envolve um militar em uma armadura experimental que sofreu um acidente que danificou suas costas (Máquina de Combate em Guerra Civil?), Strange acaba perdendo a direção e é arremessado colina abaixo, mutilando suas mãos na queda. Meses se passam, milhões de dólares são gastos com procedimentos experimentais, mas nada consegue curar seus instrumentos de trabalho.

Em um último esforço para reparar suas mãos e recuperar a fama de habilidoso neurocirurgião, Strange viaja para Kamar-Taj, no Nepal. Lá ele descobre que a Terra vem sendo protegida por séculos por uma sociedade secreta de magos, homens e mulheres responsáveis por manter a ordem natural do mundo e protegê-lo de ameaças sobrenaturais.
Eles são liderados por uma figura que se chama apenas Anciã (Tilda Swinton), que entre outros diversos aprendizes é auxiliada por Barão Mordo (Chiwetel Ejiofor).

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É revelado para Strange, e consequentemente para o público, que o mundo não é tão óbvio quanto parece, e que diferentes planos de existência podem ser acessados para alterar a realidade. Porém, um antigo aluno corrompido pelas forças do mal retorna para ameaçar os portais que protegem a Terra, e Strange precisa decidir se vai usar seus novos conhecimentos a seu favor e voltar a sua vida antiga, ou tomar parte numa guerra interdimensional que provavelmente o levará a servidão e auto sacrifício.

Ampliando um grande universo para o infinito

Acompanhei diversos comentários e críticas a respeito do filme, acusando-o de seguir a “Fórmula Marvel”. Bem, estamos falando de uma sequência de filmes que se propõe a unir heróis distintos da Marvel em um universo compartilhado, iniciado com “Homem de Ferro” em 2008. A razão para seguir essa fórmula é porque ela funciona, e essa familiaridade que ela proporciona ajuda a explorar os conceitos particulares de cada herói sem precisar explicar cada ideia básica em todos os filmes, servindo então de base para contar cada história particular do herói em questão. Então adivinha só, já que é para falar o óbvio: é um filme da Marvel, por isso segue a “fórmula Marvel”.

Sim, é bem fácil traçar um paralelo entre “Doutor Estranho” e o primeiro “Homem de Ferro”. São histórias de origem, explicando como eles viraram heróis. Ambos são bilionários, playboys e gênios, o que os torna arrogantes e egocêntricos. Um acidente faz com que saiam de suas vidinhas perfeitas, exigindo um recomeço.

Stark baseia-se na tecnologia e ciência, Strange descobre a magia e faz o favor de ampliar o já grandioso universo Marvel para dimensões infinitas e poderes cósmicos. Não por acaso, esse é o primeiro filme solo da fase III, contando a origem, introduzindo novos conceitos e preparando o que virá a seguir, que não é pouca coisa.

O diretor Scott Derrickson conseguiu criar uma experiência visual única e personagens cativantes, e apesar das referências aos outros filmes do Universo Marvel, consegue se sustentar tranquilamente como filme solo.

No quesito humor, diversas piadas podem parecer forçadas ou em momentos inoportunos, mas isso também está previsto na supracitada “fórmula”. O carisma de Cumberbatch pode ser novamente comparado ao de Robert Downey Jr, pois ambos possuem um estilo descontraído e natural para seus respectivos personagens, às vezes parece até que eles nem estão interpretando.

Visualmente, esse é sem dúvida o mais interessante até agora. Os efeitos psicodélicos de viagens interdimensionais, cidades sendo distorcidas enquanto as lutas acontecem, um mundo paralelo espelhado em um caleidoscópio e mandalas de energia sendo utilizadas como escudos contra espadas feitas de ar, para falar o mínimo.

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É fácil comparar aos filmes de Christopher Nolan, como Inception e Interstellar, mas Derrickson foi muito além e revelou em sua conta no Twitter que se inspirou em O Gabinete do Doutor Caligari (1920), Viagem Alucinante (2009), 2001 - Uma Odisseia no Espaço (1968) e Viagens Alucinantes (1980) para criar esses efeitos, algo que os cinéfilos vão sacar de cara e agradecer a referência, ou apenas entrar junto na loucura.

As cenas de luta acontecem de diversas formas, nada de armas de fogo ou gente se acotovelando. Aqui vemos verdadeiras danças coreografadas com efeitos de luz surreais. E para sustentar a mágica, diversos apetrechos místicos são apresentados, o que é praticamente parte do conceito do Doutor Estranho nos quadrinhos.

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O famoso Manto de Levitação, que possui vontade própria e acaba proporcionando diversos momentos cômicos, o Olho de Agamotto, que já é importante na história original e se revela ainda mais relevante dentro dos filmes, entre diversos outros itens com nomes fantásticos e funções incríveis, tudo isso servindo para enriquecer ainda mais a história.

E por falar em enriquecer, por ser uma história de origem os coadjuvantes acabam ficando meio de lado, mas nem por isso eles são menos geniais. Karl Mordo (Chiwetel Ejiofor), Christine Palmer (Rachel McAdams), e Wong (Benedict Wong) são personagens que ainda serão explorados nos próximos filmes, por isso acabaram servindo só de suporte.

Já o antagonista Kaecillius (Mads Mikkelsen) conta com a interpretação desse incrível ator, apesar de ser um personagem fraco, assim como diversos vilões dos filmes Marvel (a fórmula, pois é…) ele é apenas uma versão sombria do protagonista. Mas é inegável que ele possui motivações reais, seus atos são sinceros e me pareceu uma ameaça muito maior do que o verdadeiro vilão do filme, e todas as suas cenas são bem cativantes.

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Tilda Swinton como Anciã (em inglês é Ancient One, sem gênero definido), causou muita polêmica entre os fãs puristas, pois o personagem original é masculino e tibetano. Pessoalmente achei o papel impecável, Swinton já é uma atriz consolidada, além de quebrar o modelo de “velho sábio da montanha”, é interessante ver uma mulher num papel de destaque, lutando e manjando dos paranauês sem ser objetificada de nenhuma forma. Além de quebrar a arrogância e ensinar todos os conceitos mágicos para o Doutor Estranho, ela é responsável por diversas lições e até momentos de dúvida moral durante o filme.

O terceiro ato possui o famigerado buraco negro que vai engolir o mundo (sim, a fórmula, não vamos mais falar sobre isso!). Porém, novamente Derrickson distorceu esse conceito e conseguiu utilizar o poder do tempo para recriar a cidade ao invés de destruí-la.

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Apesar de ser uma solução inventiva e um dos momentos mais cômicos do filme, a luta final contra Dormammu me decepcionou um pouco. É um personagem que tem um design bem maneiro, mas virou apenas mais uma cabeça flutuante no espaço, tipo o Zordon dos Power Rangers, ou se quiser mesmo revirar o lixo: Galactus e Parallax, dos filmes Quarteto Fantástico e Lanterna Verde, respectivamente. Entendo que são entidades cósmicas e que não tem como vencê-los no soco, mas não consigo aceitar essa solução visual.

Mas não acredite apenas em minhas palavras, se você não assistiu ainda, junte suas economias e veja em IMAX, pois a experiência visual vale muito a pena. Até o 3D, essa “tecnologia” realmente estranha que tentam nos empurrar goela abaixo está incrível.

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Por fim, é um ótimo filme que deixa o gosto de “quero mais”, de saber o que vai acontecer daqui pra frente ou só vê-lo fazendo alguma coisa que distorça a realidade com um efeito lisérgico. E como já é uma regra (a fórm… ah, parei), o filme possui duas cenas extras.

A primeira é no meio dos créditos, com o Doutor se inserindo de vez no Universo Marvel entrando em contato com um dos Vingadores, e a que passa depois dos créditos de fato mostra o futuro de um personagem aliado se tornando um vilão. Pra quem acompanha os quadrinhos, não é uma grande novidade, mas é interessante ver que não será subaproveitado.

Em tempo, a presença obrigatória de Stan Lee sempre divertida, aqui é um easter egg a parte. Ele está lendo "As Portas da Percepção" de Aldous Huxley, sobre estados alterados de consciência que abrem a percepção para o infinito, e o próprio Stan Lee ri sobre essa loucura. Então esqueça tudo que você sabe e vá praticar sua visualização de portais!

A Entidade 2 | Trailer legendado e sinopse

Após os chocantes acontecimentos do filme "A Entidade", uma mãe protetora (Shannyn Sossamon, de Wayward Pines; Beijos e Tiros) e seus filhos gêmeos de 9 anos (Robert e Dartanian Sloan) se mudam para uma casa no campo marcada pela morte. James Ransone, que viveu O Delegado no primeiro filme, repete seu papel em A Entidade 2.

Crítica do filme Livrai-nos do Mal | Mais susto do que medo

Já é um clichê “reclamar” de filmes de terror que abusam dos cortes, da trilha sonora e dos aparecimentos repentinos de seres na tela para arrancar suspiros de seus espectadores. Provavelmente, a maioria dos filmes de terror que você tem visto ultimamente carregam essa características, abusando de recursos específicos e pontuais em vez de criar um verdadeiro clima de suspense e terror no qual você se sente imerso.

Como era de se esperar, “Livrai-nos do Mal” não é uma exceção a essa regra e, apesar de apresentar bons recursos técnicos, não chega a ser empolgante, sem dúvida não é um daqueles filmes de terror que vale a pena ter na sua prateleira para ver de vez em quando.

Na história, o diretor Scott Derrickson ("O Exorcismo de Emily Rose") volta a tratar do tema de expulsão de demônios de corpos que não lhes pertencem. “Livrai-nos do Mal” é baseado em fatos reais e mostra a cruzada de Ralph Sarchie (Eric Bana), um sargento da polícia de Nova York, para solucionar crimes misteriosos envolvendo violência doméstica e que, a princípio, parecem desconexos um do outro.

Conforme a trama se desenrola, Sarchie e seu parceiro Butler (Joel McHale) conhecem o padre pouco convencional Mendoza (Edgar Ramírez) e descobrem que o problema vai ainda mais longe, mais especificamente à região da Mesopotâmia, atualmente conhecida como Iraque, onde o domínio dos romanos sobre os persas gerou bem mais do que uma mescla forçada de culturas.

 Livrai-nos do Mal

Enfim, quando tudo fica claro, o filme se transforma numa espécie de libelo contra a falta de fé, no caso do sargento Sarchie, que deve buscar uma “minirredenção” diante de Deus para poder enfrentar de coração leve o demônio que tenta se manter na Terra. Nesse ponto, a história de “Livrai-nos do Mal” também esbarra em um ponto bastante convencional nesse tipo de filme, de como a fé seria capaz de exaltar o lado bom de alguém, especialmente em lutas contra entidades malígnas.

Demônios possuidores e bons de briga

Um fato curioso em “Livrai-nos do Mal” é que o demônio em questão não inutiliza o corpo de seu possuído, muito pelo contrário. O primeiro dos possuídos é uma espécie de “pastor” na trama, trazendo novos sujeitos de mente fraca para o lado do Mal, mas, quando precisa, ele sabe se virar na troca de socos, briga com armas brancas ou o que for. Isso dá um toque de originalidade à trama (isso, é claro, no caso de você nunca ter lido ou visto algo sobre John Constatine).

Nesse sentido — de colocar um pouco de ação em gênero no qual isso é pouco convencional — a obra de Derrickson também frustra um pouco. O padre Mendoza aparece dando toda a pinta de ser bom de briga, e algumas cenas até criam a expectativa de que ele vá tentar resolver alguma treta com a entidade malígna no braço, mas isso nunca acontece. Assim sendo, a sequência de cenas que apresentam o religioso ao público acabam ficando um tanto quanto sem nexo em relação ao restante da trama.

O filme pareceu um pouco extenso (são quase 2h de exibição), arrastando cenas assustadores de forma previsível, como brinquedos se mexendo, luzes se apagando e crianças apavoradas. Essa combinação dá a “Livrai-nos do Mal” um ar de exagero, como se a trama ficasse um pouco em segundo plano apenas para carregar nas cenas de susto e reafirmar que aquilo é, sim, uma obra de terror.

Confesso que me empolguei mais com “O Exorcismo de Emily Rose”, o primeiro filme de Scott Derrickson, e que esperava um pouco mais de “Livrai-nos do Mal”. O filme é bem feito, tem boas atuações e até mesmo uma trama interessante, mas não consegue passar perto do impacto causado pela estreia do diretor.