Matthew McConaughey - Café com Filme

Critica do filme Magnatas do Crime | Se você não é o predador, você é a presa!

Dentre as muitas vítimas cinematográficas do proverbial “micróbio maldito” (ou mais precisamente a pandemia de Covid-19) está o excelente, Magnatas do Crime. Retorno às origens do britânico Guy Ritchie — depois do malfadado Rei Arthur: A Lenda da Espada e do genial, mas nada original, Alladin — o filme que até pode parecer um clichê dentro da cinematografia do diretor é, na realidade, uma grande análise de seu currículo.

Mesmo com nomes como Colin Farrell e Matthew McConaughey, é a dupla Hugh Grant e Charlie Hunnam quem comanda a película. Em um debate shakespeariano que desenrola toda a história do filme em um formato não linear e metalinguístico, a dupla mostra todo seu talento seja em longos monólogos expositivos ou em rápidas trocas bem humoradas de insultos.

Ritchie não se desculpa pelo estilo familiar, pelo contrário, parece se deleitar o que contribui para o desenrolar do filme e certamente mostra maturidade artística na capacidade de reciclar o próprio método, manipulando o seu estilo e conteúdo já característico para entregar um trabalho competente. Sem definir o que é autoindulgência ou assinatura artística, Guy Ritchie consegue lapidar Magnatas do Crime em um filme divertido e coerente.

A citação de um cavalheiro é a palavra de um cavalheiro...

Em Magnatas do Crime a história principal gira em torno de um chefão do tráfico que quer abandonar o negócio. Sem dilemas morais à lá Michael Corleone, Michael Pearson (Matthew McConaughey) é apenas um homem de negócios que faz uma “leitura do mercado” e percebe que está na hora de vender o seu lucrativo império de produção de maconha sediado no Reino Unido.

Entre a logística, análise financeira e outros riscos próprios da indústria em questão, Pearson precisa estudar com cuidado as ofertas para “passar o ponto, sem cair no conto”.  Como em outras obras de Guy Ritchie a história principal não é a única, e tudo o que acontece em cena é importante para o desfecho da trama. Até aqui, nenhuma novidade, mas a forma como o roteiro se desenvolve é inteligente, mesmo que confusa em alguns momentos.

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Ray — Charlie Hunnam em uma das melhores atuações da sua carreira — é o principal capanga de Michael Person. Certa noite ele é surpreendido por Fletcher, um investigador particular/jornalista seboso que é deliciosamente interpretado por Hugh Grant. Fletcher assume o papel de narrador (nada confiável) que explica um roteiro de cinema escrito por ele para seu anfitrião relutante.

O roteiro em questão é baseado nas operações da gangue de Pearson e como o seu intricado esquema de subornos e violência criou o império que agora está a leilão. Essa ginástica metalinguística flexiona o roteiro de Fletcher, salta entre flashbacks, e alonga diálogos expositivos, criando uma dança elaborada que captura a atenção até o último movimento da coreografia.

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É mais do mesmo, mas mesmo assim eu quero mais

Erroneamente percebido como uma obra amiudada, Magnatas do Crime, é uma belo exercício de técnica do diretor. Mostrando um refinamento de suas habilidades, Ritchie, explora vários elementos próprios de sua filmografia com mais cuidado e equilíbrio, chegando inclusive a revisitar sua carreira dentro do filme em um momento metalinguístico que espreme as barreiras entre ficção e realidade, criador e criatura, personagem e ator...

Em um ano tão atípico como 2020, Magnatas do Crime pode sim ser considerado um dos melhores lançamentos do cinema. Com poucas exibições e um desdém precoce por conta do supracitado “cinema repetitivo” de Guy Ritchie, o filme acabou passando despercebido por muitos, mas certamente vale uma conferida; seja apenas por seus méritos próprios como uma boa comédia policial ou por ser um título que abriga tanto material conceitual por trás da tela.

Afinal, quando o estilo de um diretor deixa de ser uma muleta e passa a ser reconhecido como uma assinatura?

Sim, você pode ver como “mais do mesmo”, ou seja, um filme de comédia policial que se resume a gangster britânico, pitadas de humor e cenas em câmera lenta, mas um olhar mais minucioso revela todo um estudo sobre o estilo de um diretor. Guy Ritchie, pretenciosamente ou não, retorna às origens justamente para aparar as arestas e mostrar sua evolução artistica, entregando um filme inteligente e bem acabado. 

Como Perder um Homem em 10 Dias | Trailer legendado e sinopse

 Ben Barry (Matthew McConaughey) é um publicitário que faz uma grande aposta com seu chefe: caso faça com que uma mulher se apaixone por ele em 10 dias ele será o responsável por uma concorrida campanha de diamantes que pertence à empresa. A vítima escolhida por Ben é Andie Anderson (Kate Hudson), uma jornalista feminista que está desenvolvendo uma matéria sobre como perder um homem em 10 dias e está decidida a infernizar a vida de qualquer homem que se aproximar dela. Ambos se conhecem em um bar, sendo que escolhem um ao outro como alvo de seus planos.

Trovão Tropical | Trailer legendado e sinopse

Tugg Speedman (Ben Stiller), Kirk Lazarus (Robert Downey Jr.) e Jeff Portnoy (Jack Black) são grandes astros de Hollywood, que acertaram suas presenças em "Trovão Tropical", novo filme do diretor inglês Damien Cockburn (Steve Coogan). O projeto é a adaptação da biografia de 4 Folhas Tayback (Nick Nolte), um veterano da Guerra do Vietnã. A equipe vai ao próprio Vietnã para realizar as filmagens, mas logo o ego dos atores principais causa problemas. Tentando controlar o trio, Damien decide rodar as cenas em plena floresta, sem imaginar os perigos que sua decisão traria.

Bernie: Quase um Anjo | Trailer legendado e sinopse

Na pequena cidade de Carthage, Texas, a população fica surpresa quando o agente funerário Bernie Tiede (Jack Black) se envolve com a senhora Marjorie Nugent (Shirley MacLaine), uma viúva de 81 anos rica e mau humorada. De uma hora para outra ela aparece morta, o que causa um grande alvoroço, levando o advogado Danny Buck (Matthew McConaughey) a assumir o caso. Baseado em uma história real.

Crítica do filme Ford vs Ferrari | Uma volta triunfal ao passado

O tempo passa rápido e pode ser cruel. Passa tão rápido quanto as incríveis máquinas que percorrem as 24 horas do circuito de Le Mans e pode ser tão desgastante quanto o evento. Assim, muitas vezes, alguns grandes feitos na história são esquecidos como as marcas de pneus desgastados na pista.

Pode parecer um tanto poético, mas essa introdução é uma boa partida para falarmos de “Ford vs Ferrari”. Aliás, importante não deixar se levar pelo título, que pode dar a impressão de uma guerra entre duas fabricantes de automóveis, quando, na verdade, temos aqui um filme sobre seres humanos.

Então, para começo de conversa, este não é um filme dedicado somente aos fãs do automobilismo. A base da obra é a guerra entre as duas marcas na década de 1960, batalha iniciada pela Ford, que queria ir além dos carros de passeio:  ela queria ser a campeã de Le Mans, dominada, até então, pela Ferrari.

Todavia, apesar deste pano de fundo, o que temos aqui é um filme muito mais denso, que fala da ambição, da garra, do heroísmo e também da coragem do homem. E temos um tanto dessas características vindas de dois lados distintos: dos empresários e dos pilotos. É uma volta ao passado, uma busca para entender um pouco do que move esse mundo da corrida automobilística.

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E a soma de tudo isso poderia resultar em um filme superficial, afinal não é um bicho de sete cabeças filmar carros e fazer um relato histórico. Contudo, o que temos aqui é uma obra feita com paixão, que parece justamente dar vez às emoções, em vez de focar somente nos fatos.

Também não poderia ser diferente com talentos como Matt Damon e Christian Bale tomando o volante e um ótimo diretor para mostrar o que de verdade importa. Se o filme é tudo isso que estão falando? Sim, tudo isso e mais um pouco.

Há considerações a serem feitas – afinal, mesmo uma corrida perfeita pode ter algumas derrapagens – e como sempre há um público-alvo. No entanto, temos aqui um excelente retrato de homens que correm pela paixão, alguns que até podem ser desconhecidos para uma grande parcela dos espectadores.

Complexo como uma corrida

Eu não sei vocês, mas eu sempre me pergunto o porquê da escolha de alguns temas. Afinal, o que levou os irmãos Butterworth e Jason Keller a contarem essa história? Com tantos episódios na corrida, por que eles queriam falar deste episódio em específico? Qual a relevância do tema para o grande público?

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É claro que após tantos anos de acompanhamento da indústria de filmes, nós já temos uma percepção formada sobre os tipos de temas que Hollywood gosta de abordar, sendo um deles o reforço constante a supremacia das marcas e dos heróis americanos. Então, nesse sentido é bastante óbvio que eles queiram relembrar de como alguns heróis viraram o jogo em Le Mans e garantiram glória mundial para seu país.

Por outro lado, é interessante notar que esta não é uma história apenas de vitória, mas também de lutas e derrotas. O filme que é quase tão longo quanto algumas corridas (são 2 horas e 30 minutos) pode parecer cheio de curvas, aceleramentos e reduções de velocidade, porém há boas justificativas para esse ritmo inconstante e também para a duração prolongada.

Nesta volta ao passado, o roteiro de “Ford vs Ferrari” precisa dar o contexto histórico, apresentar os fatos, desenvolver protagonistas e fazer isso de forma emocionante – afinal, estamos falando do mundo das corridas, que é pura adrenalina. Dessa forma, apesar de muito coeso, o script alongado pode parecer cansativo para espectadores que gostam de filmes que vão direto ao ponto.

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E, novamente, parte do problema é o título enganoso, que nos atrai para uma corrida, mas acaba nos colocando no box para acompanhar a vida dos protagonistas. Só que isto não é uma coisa ruim, pois a emoção da coisa é justamente ver os “heróis” em suas próprias corridas para lutar contra o corporativismo e enaltecer o espírito do automobilismo mesmo.

Aqui sim, finalmente temos o que faz de “Ford vs Ferrari” ser um campeão: os humanos. E não estou falando apenas dos protagonistas, mas do elenco competente. O dinamismo entre Matt Damon e Christian Bale é perfeito, algo que só é possível também graças aos desempenhos individuais muito impactantes. Eles retratam seres humanos mesmo e são muito convincentes.

Sabe aquele tipo de coisa que só grandes atores como Matthew McConaughey conseguem fazer em filmes como “Interestelar”? De parar e chorar na frente de uma TV e fazer a gente mergulhar nas emoções? Esse é mais ou menos o feeling com Christian Bale aqui, que muitas vezes está sozinho no veículo e com uma câmera pegando todas as suas reações e somos convencidos com sua interpretação perfeita.

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E o mérito não é só deles, pois temos outros grandes talentos aqui que também ajudam a dar o contexto, como é o caso de Tracy Letts, que é responsável por uma das cenas mais hilárias e, ao mesmo tempo, emocionantes da película. E é na composição de pequenos trechos que “Ford vs Ferrari” leva o mérito de ser um dos melhores filmes do ano e também do gênero.

Voltando ao passado

É claro que uma produção desse nível não pecaria em detalhes técnicos, afinal o contexto é importantíssimo para o resultado final. Dessa forma, temos uma “direção impecável” (entendeu o trocadilho?) de James Mangold – que você possivelmente adora pelo incrível trabalho em “Logan” (não o carro da Renault, o filme neste caso).

Mangold prova sua versatilidade aqui por ter que lidar com situações muito distintas e que são bem difíceis de colocar num filme que tenta retratar uma época passada com tantos detalhes. Das situações domésticas, passando por diálogos mais intimistas, aos momentos mais acelerados nas pistas, com ângulos muito fechados nos atores, e mostrando com detalhes os acidentes comuns no automobilismo, somos levados a crer que estamos em 1960, mas vendo um retrato sem defeitos.

Tão bonito quanto uma Ferrari, tão emocionante quanto a adrenalina de correr num Ford GT40!

Mérito também da equipe de produção, que caprichou no design, e também do diretor de fotografia, que juntos pintam essa ambientação. Importante notar o trabalho também na reconstrução dos veículos e na simulação dos ambientes, pois ainda que muita coisa ainda esteja bem conservada, é preciso muita competência (e dinheiro) para criar essa atmosfera permeada por supermáquinas.

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O evento fica completo com a trilha sonora muito puxada para o lado emotivo, que nos permite sentir o batimento cardíaco acelerado e embarcar na emoção da corrida. Enfim, um filme que acerta no dinamismo entre planejamento e execução. Não é de se duvidar que ele realmente esteja indicado em diversas categorias do Oscar.

E, para finalizar, é bom ver uma obra que volta para contar sobre alguém como Ken Miles, que apesar de seus defeitos e de ter tido seus momentos de glória, merecia uma homenagem (e talvez esse tipo de reparação) proporcionada pelo filme. Vá ao cinema e sente no banco do carona, porque a corrida de “Ford vs Ferrari” é emocionante!