Critica do filme Magnatas do Crime

Se você não é o predador, você é a presa!

por
Carlos Augusto Ferraro

18 de Janeiro de 2021
Fonte da imagem: Divulgação/Paris Filmes
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 4 min

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Dentre as muitas vítimas cinematográficas do proverbial “micróbio maldito” (ou mais precisamente a pandemia de Covid-19) está o excelente, Magnatas do Crime. Retorno às origens do britânico Guy Ritchie — depois do malfadado Rei Arthur: A Lenda da Espada e do genial, mas nada original, Alladin — o filme que até pode parecer um clichê dentro da cinematografia do diretor é, na realidade, uma grande análise de seu currículo.

Mesmo com nomes como Colin Farrell e Matthew McConaughey, é a dupla Hugh Grant e Charlie Hunnam quem comanda a película. Em um debate shakespeariano que desenrola toda a história do filme em um formato não linear e metalinguístico, a dupla mostra todo seu talento seja em longos monólogos expositivos ou em rápidas trocas bem humoradas de insultos.

Ritchie não se desculpa pelo estilo familiar, pelo contrário, parece se deleitar o que contribui para o desenrolar do filme e certamente mostra maturidade artística na capacidade de reciclar o próprio método, manipulando o seu estilo e conteúdo já característico para entregar um trabalho competente. Sem definir o que é autoindulgência ou assinatura artística, Guy Ritchie consegue lapidar Magnatas do Crime em um filme divertido e coerente.

A citação de um cavalheiro é a palavra de um cavalheiro...

Em Magnatas do Crime a história principal gira em torno de um chefão do tráfico que quer abandonar o negócio. Sem dilemas morais à lá Michael Corleone, Michael Pearson (Matthew McConaughey) é apenas um homem de negócios que faz uma “leitura do mercado” e percebe que está na hora de vender o seu lucrativo império de produção de maconha sediado no Reino Unido.

Entre a logística, análise financeira e outros riscos próprios da indústria em questão, Pearson precisa estudar com cuidado as ofertas para “passar o ponto, sem cair no conto”.  Como em outras obras de Guy Ritchie a história principal não é a única, e tudo o que acontece em cena é importante para o desfecho da trama. Até aqui, nenhuma novidade, mas a forma como o roteiro se desenvolve é inteligente, mesmo que confusa em alguns momentos.

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Ray — Charlie Hunnam em uma das melhores atuações da sua carreira — é o principal capanga de Michael Person. Certa noite ele é surpreendido por Fletcher, um investigador particular/jornalista seboso que é deliciosamente interpretado por Hugh Grant. Fletcher assume o papel de narrador (nada confiável) que explica um roteiro de cinema escrito por ele para seu anfitrião relutante.

O roteiro em questão é baseado nas operações da gangue de Pearson e como o seu intricado esquema de subornos e violência criou o império que agora está a leilão. Essa ginástica metalinguística flexiona o roteiro de Fletcher, salta entre flashbacks, e alonga diálogos expositivos, criando uma dança elaborada que captura a atenção até o último movimento da coreografia.

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É mais do mesmo, mas mesmo assim eu quero mais

Erroneamente percebido como uma obra amiudada, Magnatas do Crime, é uma belo exercício de técnica do diretor. Mostrando um refinamento de suas habilidades, Ritchie, explora vários elementos próprios de sua filmografia com mais cuidado e equilíbrio, chegando inclusive a revisitar sua carreira dentro do filme em um momento metalinguístico que espreme as barreiras entre ficção e realidade, criador e criatura, personagem e ator...

Em um ano tão atípico como 2020, Magnatas do Crime pode sim ser considerado um dos melhores lançamentos do cinema. Com poucas exibições e um desdém precoce por conta do supracitado “cinema repetitivo” de Guy Ritchie, o filme acabou passando despercebido por muitos, mas certamente vale uma conferida; seja apenas por seus méritos próprios como uma boa comédia policial ou por ser um título que abriga tanto material conceitual por trás da tela.

Afinal, quando o estilo de um diretor deixa de ser uma muleta e passa a ser reconhecido como uma assinatura?

Sim, você pode ver como “mais do mesmo”, ou seja, um filme de comédia policial que se resume a gangster britânico, pitadas de humor e cenas em câmera lenta, mas um olhar mais minucioso revela todo um estudo sobre o estilo de um diretor. Guy Ritchie, pretenciosamente ou não, retorna às origens justamente para aparar as arestas e mostrar sua evolução artistica, entregando um filme inteligente e bem acabado. 

Fonte das imagens: Divulgação/Paris Filmes

Magnatas do Crime

Estirpe criminosa

Diretor: Guy Ritchie
Duração: 113 min
Estreia: 16 / abr / 2020