Stan Lee - Café com Filme

Troco em Dobro | Trailer legendado e sinopse

O ex-policial Spenser (Mark Wahlberg) retorna ao submundo do crime de Boston quando descobre a conspiração por trás de um assassinato midiático. Apesar das ameaças constantes, Spenser decide fazer justiça com as próprias mãos para provar que ninguém está acima da lei.

Oscar 2020 | Indicados, favoritos, filme coreano em destaque e Brasil presente!

E dando continuidade à temporada de premiações, ontem a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas divulgou a lista de indicados aos prêmios do Oscar 2020. Como de costume, o evento acontece após tantos outros, de modo que os selecionados para as principais categorias não representam exatamente uma surpresa neste momento.

Todavia, vale algumas menções interessantes no caso da lista de indicados da 92ª edição do Oscar. A primeira informação relevante é que finalmente temos um representante brasileiro no evento. Apesar de o Brasil não estar entre os indicados para Melhor Filme Estrangeiro, o título "Democracia em Vertigem" se destaca entre os concorrentes para Melhor Documentário do Oscar 2020.

Outa surpresa é a presença do filme sul-coreano "Parasita" na categoria de Melhor Filme. E se isso já não fosse bastante surpreendente, o longa-metragem também ganha destaque em outros segmentos, incluindo uma indicação para o diretor Bong Joon Ho na categoria de Melhor Direção do Oscar 2020 e também nas categorias de Melhor Roteiro Original, Melhor Design de Produção, Melhor Montagem e Melhor Filme Estrangeiro.

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Além disso, curiosamente, "Coringa" é o filme com mais indicações (são 11 no total, incluindo as principais categorias como Melhor Filme e Melhor Direção). E também temos uma enxurrada de indicações em várias categorias para "O Irlandês" e  "Era uma Vez em... Hollywood", ambos com 10 indicações no Oscar 2020. O filme de Sam Mendes, "1917", corre na terceira colocação com 9 indicações. Por fim, vale os destaques para "Jojo Rabbit", "História de um Casamento" e "Adoráveis Mulheres" que conseguiram 6 indicações.

Confira abaixo a lista de indicados ao Oscar 2020 em todas as categorias. E aproveita para comentar quais são seus favoritos!

Indicados ao Oscar de Melhor Filme - Oscar 2020

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Indicados ao Oscar de Melhor Ator - Oscar 2020

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Indicadas ao Oscar de Melhor Atriz - Oscar 2020

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Indicados ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante - Oscar 2020

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Indicadas ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante - Oscar 2020

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Indicados ao Oscar de Melhor Animação - Oscar 2020

Indicados ao Oscar de Melhor Fotografia - Oscar 2020

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Indicados ao Oscar de Melhor Figurino - Oscar 2020

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Indicados ao Oscar de Melhor Direção - Oscar 2020

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Indicados ao Oscar de Melhor Documentário - Oscar 2020

Indicados ao Oscar de Melhor Curta Documentário - Oscar 2020

  • In the Absence - Yi Seung-Jun, Gary Byung-Seok Kam
  • Learning to Skateboard in a Warzone (If You're a Girl) - Carol Dysinger, Elena Andreicheva
  • Life Overtakes Me - John Haptas, Kristine Samuelson
  • St. Louis Superman - Smriti Mundhra, Sami Khan
  • Walk Run Cha-Cha - Laura Nix, Colette Sandstedt

Indicados ao Oscar de Melhor Montagem - Oscar 2020

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Indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro - Oscar 2020

Indicados ao Oscar de Melhor Maquiagem e Cabelo - Oscar 2020

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Indicados ao Oscar de Melhor Trilha Sonora Original - Oscar 2020

Indicados ao Oscar de Melhor Canção Original - Oscar 2020

  • "I Can't Let You Throw Yourself Away" - Toy Story 4 - Randy Newman
  • "(I'm Gonna) Love Me Again" - Rocketman - Elton John, Bernie Taupin
  • "I'm Standing With You" - Superação - O Milagre da Fé - Diane Warren
  • "Into The Unknown" - Frozen 2 - Kristen Anderson-Lopez, Robert Lopez
  • "Stand Up" - Harriet - Joshuah Brian Campbell, Cynthia Erivo

Indicados ao Oscar de Melhor Design de Produção - Oscar 2020

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Indicados ao Oscar de Melhor Curta Animação - Oscar 2020

  • Dcera (Daughter) - Daria Kashcheeva
  • Hair Love - Matthew A. Cherry, Karen Rupert Toliver
  • Kitbull - Rosana Sullivan, Kathryn Hendrickson
  • Memorable - Bruno Collet, Jean-François Le Corre
  • Sister - Siqi Song

Indicados ao Oscar de Melhor Curta-metragem - Oscar 2020

  • Brotherhood - Meryam Joobeur, Maria Gracia Turgeon
  • Nefta Football Club - Yves Piat, Damien Megherbi
  • The Neighbors' Window - Marshall Curry
  • Saria - Bryan Buckley, Matt Lefebvre
  • A Sister - Delphine Girard

Indicados ao Oscar de Melhor Edição de Som - Oscar 2020

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Indicados ao Oscar de Melhor Mixagem de Som - Oscar 2020

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Indicados ao Oscar de Melhor Efeitos Visuais - Oscar 2020

Indicados ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado - Oscar 2020

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Indicados ao Oscar de Melhor Roteiro Original - Oscar 2020

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Crítica do filme Entre Facas e Segredos | Longe do óbvio, próximo do genial

Auguste Dupin, Sherlock Holmes, Hercule Poirot, Miss Marple e outros tantos detetives da ficção permearam nossa imaginação por anos sugerindo todos os tipos de histórias, modus operandi, manias, trejeitos e frases de efeito. Muitos dos fãs do gênero investigativo foram educados pelos personagens de Poe, Doyle e Christie, sendo difícil termos uma surpresa no segmento, seja em obras escritas ou do tipo audiovisual.

Muitas das vezes, o que temos são releituras ou colchas de retalhos com detetives que usam traços de diferentes personagens clássicos. Assim, é de pontuar logo de cara como “Entre Facas e Segredos” consegue algo inusitado, não tanto pelo ineditismo, mas pelo brilhantismo na construção de uma trama que flerta com o impossível, porém que nos mantêm atentos aos detalhes que revelam algo improvável, mas verdadeiro.

Nesta história, acompanhamos A Grande Família os Thrombey em um momento delicado. Era para ser uma manhã tranquila após a festa de 85 anos de Harlan Thrombey (Christopher Plummer), que é famoso por seus romances especializados em crimes. Todavia, os familiares são surpreendidos quando o patriarca da família é encontrado morto em sua propriedade, o que deixa todos muito assustados e sem saber exatamente o que aconteceu.

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Dadas as circunstâncias esquisitas do ocorrido, o detetive James Bond Benoit Blanc (Daniel Craig) aparece misteriosamente no local e se dispõe a investigar o caso. Agora, ele pretende examinar absolutamente todos os fatos, desde a família, que assim como tantas outras tem suas desavenças, bem como a equipe que cuidava do senhor Thrombey.

Num esquema investigativo que lembra muito o clássico jogo Detetive (ou Clue, no original), somos levados a acompanhar as técnicas distintas de Blanc, que tem de examinar meias-verdades e descobrir os fatos nessa teia de mentiras. A premissa já tem muito potencial, mas o roteirista e diretor Rian Johnson vai muito além do óbvio e nos presenteia com uma obra que certamente se destaca em 2019, bem como aflora em seu portfolio.

Vale resumir que “Entre Facas e Segredos” é o tipo de filme único em seu estilo. Apesar de beber da fonte de Agatha Christie, relembrar filmes como “Os 7 Suspeitos” e de se aproveitar de um elenco de talentos (o que, às vezes, até dá um medo), este longa-metragem se destaca pelo equilíbrio perfeito entre suspense e drama, mas isso sem deixar de encontrar espaço para uma dose de comédia. Um filme imperdível!

Todos são suspeitos até que se prove o contrário

Ora, e o que seria dos detetives sem possíveis culpados? Pois é, não há trama investigava sem um fato e, ao menos, alguns poucos suspeitos. Possivelmente pensando nessa equação e tomando como inspiração outros títulos clássicos, Rian Johnson opta por desenvolver uma trama com quase uma dúzia de personagens, o que deixa a coisa bem interessante e, por incrível que pareça, não é um filme cansativo.

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O intrigante é a forma como as pontas vão se conectando. Através dos mais variados perfis de personagens e com base na investigação minuciosa de Blanc, o roteiro vai se amarrando de forma desparelha: por vezes as informações se conectam, mas há outras em que os fatos não parecem fazer muito sentido. Assim, o filme nos coloca como investigadores junto ao detetive, de modo que tentamos desvendar a verdade sobre esses sujeitos perspicazes.

E não são quaisquer pessoas, estamos falando de personagens diversos (às vezes um tanto caricatos) interpretados por atores e atrizes gabaritados, incluindo: Chris Evans, Ana De Armas, Jamie Lee Curtis, Don Johnson, Michael Shannon, Toni Collette, LaKeith Stanfield, Katherine Langford e Jaeden Martell. Reforço que nomes não significam muito, pois temos exemplos de como isso pode dar errado, mas nesse caso, em específico, o resultado é excelente!

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Obviamente, uma coisa está amarrada na outra, de modo que os atores interpretam de forma coerente graças ao roteiro e o roteiro fica convincente graças aos bons atores. Importante pontuar, contudo, que apesar de vários famosos e de cada um ter seu tempo e importância em tela, é Ana de Armas que se destaca, pois ela não é apenas uma peça-chave na trama, mas também interpreta uma imigrante, o que agrega um tópico adicional bem aproveitado.

Com grandes fortunas vem grandes investigadores

Bom, se por um lado temos uma personagem improvável conduzindo o roteiro, de outro temos um detetive inusitado complementando cada trecho. É James Bond na melhor vibe Freelancer que faz “Entre Facas e Segredos” ter seu charme, pois mesmo sendo um detetive gabaritado, o filme se prolonga por mais de duas horas até resolver todos os detalhes. E o melhor é que ele consegue prender nossa atenção e guardar o melhor para o fim.

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Contudo, é importante pontuar que Benoit Blanc não surge apenas do talento de Daniel Craig, mas também do personagem muito bem construído por Johnson, que consegue dar ênfase ao investigador com uma direção sensacional. O cineasta abusa de composições inesperadas para criar uma aura sobre o detetive e posteriormente inova ao salientar o modus operandi com diversas cenas bem inteligentes.

E falando em direção, é interessante como as coisas avançam de forma simultânea no filme. Conforme a investigação vai progredindo, o roteiro sai do cenário básico e explora mais locais que podem ter relação com o caso, o que amplia consideravelmente as possibilidades para o diretor. Com isso, o filme deixa de ser apenas uma investigação básica e ganha proporções maiores, que permitem explorar um bocado de ação com direito a perseguições insanas.

Tudo isso obviamente só é possível graças ao nível de detalhes elevado da produção. O cenário principal é a mansão do Sr. Thrombey, a qual já tem muitos ambientes e possibilita a criação de várias situações simultâneas. E interessante perceber também como uma coisa está atrelada a outra, pois parte da elegância do filme está justamente na fotografia e nesse local aconchegante, mas cheio de nuances misteriosas.

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Eu poderia passar horas comentando de tantos detalhes bem pensados e de como este filme consegue fisgar os fãs de suspense, mas o que vale é deixar claro que “Entre Facas e Segredos” encontra seu próprio estilo e surpreende pelos detalhes. Isto é o que eu chamo de cinema inovador, sem precisar cair na mesmice ou apelar para remakes. Certamente, um filmão para você investir seus dons investigativos e curtir com um balde de pipoca.

Crítica do filme Ford vs Ferrari | Uma volta triunfal ao passado

O tempo passa rápido e pode ser cruel. Passa tão rápido quanto as incríveis máquinas que percorrem as 24 horas do circuito de Le Mans e pode ser tão desgastante quanto o evento. Assim, muitas vezes, alguns grandes feitos na história são esquecidos como as marcas de pneus desgastados na pista.

Pode parecer um tanto poético, mas essa introdução é uma boa partida para falarmos de “Ford vs Ferrari”. Aliás, importante não deixar se levar pelo título, que pode dar a impressão de uma guerra entre duas fabricantes de automóveis, quando, na verdade, temos aqui um filme sobre seres humanos.

Então, para começo de conversa, este não é um filme dedicado somente aos fãs do automobilismo. A base da obra é a guerra entre as duas marcas na década de 1960, batalha iniciada pela Ford, que queria ir além dos carros de passeio:  ela queria ser a campeã de Le Mans, dominada, até então, pela Ferrari.

Todavia, apesar deste pano de fundo, o que temos aqui é um filme muito mais denso, que fala da ambição, da garra, do heroísmo e também da coragem do homem. E temos um tanto dessas características vindas de dois lados distintos: dos empresários e dos pilotos. É uma volta ao passado, uma busca para entender um pouco do que move esse mundo da corrida automobilística.

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E a soma de tudo isso poderia resultar em um filme superficial, afinal não é um bicho de sete cabeças filmar carros e fazer um relato histórico. Contudo, o que temos aqui é uma obra feita com paixão, que parece justamente dar vez às emoções, em vez de focar somente nos fatos.

Também não poderia ser diferente com talentos como Matt Damon e Christian Bale tomando o volante e um ótimo diretor para mostrar o que de verdade importa. Se o filme é tudo isso que estão falando? Sim, tudo isso e mais um pouco.

Há considerações a serem feitas – afinal, mesmo uma corrida perfeita pode ter algumas derrapagens – e como sempre há um público-alvo. No entanto, temos aqui um excelente retrato de homens que correm pela paixão, alguns que até podem ser desconhecidos para uma grande parcela dos espectadores.

Complexo como uma corrida

Eu não sei vocês, mas eu sempre me pergunto o porquê da escolha de alguns temas. Afinal, o que levou os irmãos Butterworth e Jason Keller a contarem essa história? Com tantos episódios na corrida, por que eles queriam falar deste episódio em específico? Qual a relevância do tema para o grande público?

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É claro que após tantos anos de acompanhamento da indústria de filmes, nós já temos uma percepção formada sobre os tipos de temas que Hollywood gosta de abordar, sendo um deles o reforço constante a supremacia das marcas e dos heróis americanos. Então, nesse sentido é bastante óbvio que eles queiram relembrar de como alguns heróis viraram o jogo em Le Mans e garantiram glória mundial para seu país.

Por outro lado, é interessante notar que esta não é uma história apenas de vitória, mas também de lutas e derrotas. O filme que é quase tão longo quanto algumas corridas (são 2 horas e 30 minutos) pode parecer cheio de curvas, aceleramentos e reduções de velocidade, porém há boas justificativas para esse ritmo inconstante e também para a duração prolongada.

Nesta volta ao passado, o roteiro de “Ford vs Ferrari” precisa dar o contexto histórico, apresentar os fatos, desenvolver protagonistas e fazer isso de forma emocionante – afinal, estamos falando do mundo das corridas, que é pura adrenalina. Dessa forma, apesar de muito coeso, o script alongado pode parecer cansativo para espectadores que gostam de filmes que vão direto ao ponto.

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E, novamente, parte do problema é o título enganoso, que nos atrai para uma corrida, mas acaba nos colocando no box para acompanhar a vida dos protagonistas. Só que isto não é uma coisa ruim, pois a emoção da coisa é justamente ver os “heróis” em suas próprias corridas para lutar contra o corporativismo e enaltecer o espírito do automobilismo mesmo.

Aqui sim, finalmente temos o que faz de “Ford vs Ferrari” ser um campeão: os humanos. E não estou falando apenas dos protagonistas, mas do elenco competente. O dinamismo entre Matt Damon e Christian Bale é perfeito, algo que só é possível também graças aos desempenhos individuais muito impactantes. Eles retratam seres humanos mesmo e são muito convincentes.

Sabe aquele tipo de coisa que só grandes atores como Matthew McConaughey conseguem fazer em filmes como “Interestelar”? De parar e chorar na frente de uma TV e fazer a gente mergulhar nas emoções? Esse é mais ou menos o feeling com Christian Bale aqui, que muitas vezes está sozinho no veículo e com uma câmera pegando todas as suas reações e somos convencidos com sua interpretação perfeita.

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E o mérito não é só deles, pois temos outros grandes talentos aqui que também ajudam a dar o contexto, como é o caso de Tracy Letts, que é responsável por uma das cenas mais hilárias e, ao mesmo tempo, emocionantes da película. E é na composição de pequenos trechos que “Ford vs Ferrari” leva o mérito de ser um dos melhores filmes do ano e também do gênero.

Voltando ao passado

É claro que uma produção desse nível não pecaria em detalhes técnicos, afinal o contexto é importantíssimo para o resultado final. Dessa forma, temos uma “direção impecável” (entendeu o trocadilho?) de James Mangold – que você possivelmente adora pelo incrível trabalho em “Logan” (não o carro da Renault, o filme neste caso).

Mangold prova sua versatilidade aqui por ter que lidar com situações muito distintas e que são bem difíceis de colocar num filme que tenta retratar uma época passada com tantos detalhes. Das situações domésticas, passando por diálogos mais intimistas, aos momentos mais acelerados nas pistas, com ângulos muito fechados nos atores, e mostrando com detalhes os acidentes comuns no automobilismo, somos levados a crer que estamos em 1960, mas vendo um retrato sem defeitos.

Tão bonito quanto uma Ferrari, tão emocionante quanto a adrenalina de correr num Ford GT40!

Mérito também da equipe de produção, que caprichou no design, e também do diretor de fotografia, que juntos pintam essa ambientação. Importante notar o trabalho também na reconstrução dos veículos e na simulação dos ambientes, pois ainda que muita coisa ainda esteja bem conservada, é preciso muita competência (e dinheiro) para criar essa atmosfera permeada por supermáquinas.

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O evento fica completo com a trilha sonora muito puxada para o lado emotivo, que nos permite sentir o batimento cardíaco acelerado e embarcar na emoção da corrida. Enfim, um filme que acerta no dinamismo entre planejamento e execução. Não é de se duvidar que ele realmente esteja indicado em diversas categorias do Oscar.

E, para finalizar, é bom ver uma obra que volta para contar sobre alguém como Ken Miles, que apesar de seus defeitos e de ter tido seus momentos de glória, merecia uma homenagem (e talvez esse tipo de reparação) proporcionada pelo filme. Vá ao cinema e sente no banco do carona, porque a corrida de “Ford vs Ferrari” é emocionante!

Critica do filme Doutor Sono | O Mundo é um lugar faminto

Doutor Sono agrada, mas não encanta. O grande problema do filme é que, por mais injusto que seja, ele deve ser diretamente comparado com as obras de Stephen King e o filme O Iluminado de Stanley Kubrick. A comparação é necessária não apenas por se tratar de uma sequencia da história, mas por conta de todas as diferenças da controversa adaptação de Kubrick, até hoje execrada por King e celebrada por cinéfilos. Assim, é necessário antes de qualquer coisa se posicionar como uma sequencia do livro ou do filme, algo que Mike Flanagan não consegue definir ao longo de toda a película.

Caso você seja capaz de olhar para além do clássico talvez Doutor Sono pareça de fato melhor do que realente é. Sem desmerecer o trabalho de Flanagan — que já mostrou capacidade com o gênero na boa adaptação de Jogo Perigoso e no excelente A Maldição da Residência Hill — ele não é nenhum Kubrick e suas escolhas empurram o filme mais a aventura fantástica do que para o suspense sobrenatural.

De maneira encapsulada, Doutor Sono é interessante, mesmo que não acerte em cheio os fãs de terror. A história de King cria uma mitologia própria ao mesmo tempo em que revisita os demônios exorcizados em O Iluminado. O filme acerta o ritmo, mas perde boas chances de se tonar algo maior. Com pouco mais de duas horas e meia é um filme se mantém ágil, mas sem apresentar muito conteúdo.

No final, ficamos com a sensação de que, seja em seu formato literário, ou como uma grande adaptação cinematográfica hollywoodiana, O Iluminado não precisava de uma continuação.

Fantasmas do passado

Após os acontecimentos do Hotel Overlook, Danny Torrance e sua mãe se mudam para Flórida, mas os fantasmas seguem atormentando o garoto. Até que o espírito de Dick Hallorann surge para ensinar Danny a utilizar seus poderes psíquicos para conter as assombrações. Nesse tempo, somos apresentados a Rose Cartola a líder do Verdadeiro Nó, uma guilda de seres quase-imortais que se alimentam da essência de pessoas “iluminadas” como Danny.

Quase trinta anos se passaram desde a morte de seu pai Jack no hotel Overllok, mas Danny ainda sofre com outros fantasmas do passado, o legado de alcoolismo e temperamento violento de seu pai. Tentando fugir desses demônios pessoais, Danny vaga pelo interior dos Estados Unidos, até o dia em que chega à pequena cidade de Frazier, onde parece encontrar um lugar de paz tanto física e emocionalmente.

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Danny trabalha em uma clínica de cuidados paliativos, onde utiliza seus poderes para ajudar pacientes terminais a morrer em paz com tranquilidade, quando descobre a existência de Abra Stone, uma garotinha “iluminada” que mantém contato psíquico com ele.

O que era apenas uma “amizade a distância” é forçada quando Rosie e o Verdadeiro Nó descobrem a existência de Abra e, atraídos pelo tremendo poder da garota, começam uma caçada sobrenatural para consumir a essência dela.

A trama possui vários elementos interessantes e o trabalho de Flanagan torna tudo muito ágil, apenas do filme rodar por mais de duas horas e meia. O problema aqui é que, mesmo com todo esse tempo de duração, o filme não consegue explorar os pontos mais interessantes da obra, como os membros do Verdadeiro Nó e, principalmente, o relacionamento de Danny com seu pai.

Um mundo iluminado

Por incrível que pareça Ewan McGregor (Danny Torrence), maior nome da película, não é o grande destaque do filme. Operando em baixa rotação, talvez por escolha criativa do ator para evocar o cansaço mental do personagem, McGregor não brilha tanto quanto suas companheiras de tela, Rebecca Ferguson (Rose Cartola) e Kyliegh Curran (Abra Stone).

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Ferguson que passou a chamar a atenção depois de aparecer nos últimos dois filmes da franquia Missão: Impossível entrega uma personagem intrigante que cativa o espectador apesar de seus atos perversos. Enquanto isso, Kyliegh Curran se destaca com sua confiança (que beira a arrogância) em um equilibro que mistura elementos de ambas as personagens e ainda sim emana inocência.

Sem entrar em detalhes da trama e estragar eventuais surpresas da história, é uma pena que, nem mesmo nos flashbacks, não tenha sido utilizados modelos dos atores originas de O Iluminado, dito isso, Carl Lumbly, Alex Essoe e Henry Thomas fazem um bom trabalho na pele de personagens que foram eternizados por Scatman Crothers, Shelley Duvall e Joe Turkel. Fica também o destaque para ótima cena de Jacob Tremblay que em poucos minutos de cena dá um tom muito mais sinistro a todo o filme, desencadeando toda a trama.

Se a sua estrela não brilha, não tente apagar a minha

A verdade é que Mike Flanagan não faz nada muito errado, mas também não apresenta nenhum acerto sensacional. O filme se desenvolve com relativa agilidade e não se torna enfadonho em nenhum momento — há sempre algo acontecendo na tela para prender a atenção. Alguns truques bem elaborados do diretor, que também assina o roteiro, criam imagens inteligentes para a representação dos poderes psíquicos dos iluminados e do Verdadeiro Nó.

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O problema de Doutor Sono é bem mais simples e impossível de ser contornado, não se trata de um filme de Stanley Kubrik. Além disso, apesar da fala de Flanagan, o filme não se posiciona definitivamente como sequencia do livro ou do filme. É preciso entender as diferenças criativas por trás de cada obra e isso guia sim o desenvolvimento de uma continuação.

Doutor Sono não é ruim, mas não empolga. Falta o tempero kubrickiano e umas pitadas de Nicholson para dar sabor ao filme

King escreve O Iluminado e o descreve como uma de suas obras mais autobiográficas, tendo concebido o livro enquanto ele próprio lutava contra o alcoolismo em um hotel muito similar ao Overlook. Enquanto a produção de Kubrick é tão complexa que existem filmes sobre o filme e seus significados.

Ao tentar agradar ambos os lados o filme peca por não encontrar a sua própria identidade, parecendo algo estéril. Doutor Sono é um bom filme e certamente encontrará um público cativo, mas nunca terá o mesmo apelo que o original.