Crítica do filme A Múmia

Volta pra tumba, por favor?

por
Thiago Moura

20 de Junho de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Universal Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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Cansados de franquias que começam em trilogias e acabam com 18 filmes? Não se preocupe, a moda agora é outra: Universos Compartilhados. Isso quer dizer apenas que os estúdios estão conectando todos os seus filmes e situando todos no mesmo universo ficcional. Claro que isso não é novidade faz tempo, um exemplo recente (10 anos?) são os filmes da Marvel, e logo teremos filmes juntando Godzilla a King Kong e outros monstros gigantes, culminando num Universo Hollywoodiano Único (UHU!, para abreviar).

Mas por enquanto vamos nos ater aos filmes da Universal Pictures, chamado de "Dark Universe - O Legado dos Monstros", um universo sombrio que vai mesclar várias criaturas clássicas sinistras. Para iniciar essa nova empreitada, chegou novo filme estrelado por Tom Cruise, "A Múmia".

E se isso soa familiar, é porque já existem vários filmes com esse tema e título, mas é tudo parte do plano. O Café com Filme comentou bastante a respeito no Podcafé, ouve aí.

Importante avisar que é preciso baixar bastante as expectativas para aproveitar minimamente esse longa. A começar pela propaganda de “Universo Sombrio”, não espere por algo sério, assustador, bizarro ou qualquer coisa que “Sombrio” possa remeter. Ao contrário, “A Múmia” está mais para uma aventura genérica semelhante a qualquer outro filme estrelado por Tom Cruise, então espere muita correria, explosões e alguma cena arriscada que ele faz questão de gravar sem dublês. A cena do avião em gravidade zero foi idealizada pelo próprio, por exemplo.

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A história é bem simples, uma princesa egípcia chamada Ahmanet (Sofia Boutella, também conhecida como amor da minha vida) era a única filha do faraó, sendo assim destinada a governar o Egito Antigo, até que a esposa de seu pai dá à luz um filho que rouba seu direito na linha hereditária, simplesmente por ser homem. Com sangue nos olhos e em busca de vingança, ela faz um pacto com o deus da morte Set, em troca de poderes sinistros e um ritual que deveria trazer o deus a forma humana, ela consegue matar todos os que roubaram seus direitos, mas acaba sendo mumificada viva antes de completar o ritual.

Já nos dias atuais, somos apresentados a Nick Morton (Tom Cruise), uma espécie de Indiana Jones militar que ganha muito dinheiro ao lado de seu parceiro Chris Vail (Jake Johnson), simplesmente indo a lugares inexplorados e saqueando os tesouros para vender no mercado negro, tudo isso extra-oficialmente, é claro.

Após uma sequência de explosões e tiros no Iraque, eles acabam encontrando a tumba de Ahmanet, juntamente com a antropologista Jenny Halsey (Annabelle Wallis), que teve o mapa do local roubado por Nick na noite anterior. Em seguida, depois de uma tentativa falha de transportar o sarcófago da múmia  uma sequência de eventos catastróficos culminam na morte de Chris e Nick saindo ileso de uma queda de avião.

Enquanto isso, Ahmanet desperta e busca completar o ritual interrompido, com Nick sendo o escolhido para abrigar Set. As coisas ficam ainda mais estranhas com a presença de uma organização chamada Prodigium, grupo que emprega Jenny em suas pesquisas que é liderado pelo Dr. Henry Jekyll (Russell Crowe) cujo objetivo é identificar, classificar, conter e combater o Mal em todas as formas, principalmente monstros, tais como a Múmia.

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Me chama que eu vou!

Com direção de Alex Kurtzman e roteiro de David Koepp, Christopher McQuarrie e Dylan Kussman, além dos boatos de que Tom Cruise exigiu que o filme fosse reescrito para ter mais tempo em tela do que a própria Múmia, o que explicaria a “beleza” do resultado final, possui muitas falhas, principalmente se essa for a base para o tal Universo Sombrio.

Como já foi citado anteriormente, o filme não consegue nem flertar com algo levemente sombrio e sério, e ao mesmo tempo não chega a ser explicitamente descontraído. É tudo ação genérica, com a Múmia sendo deixada em segundo plano para dar lugar a cenas de perseguição pelo improvável e insosso casal Nick e Jenny. O personagem Chris Vail aparece ocasionalmente com o propósito de alívio cômico e fazer a história andar de alguma forma, porque é tudo tão sem nexo que é preciso uma assombração ditar os próximos passos para algo acontecer.

Mas de longe a pior parte de toda essa história é a presença de Russell Crowe como Dr. Henry Jekyll / Edward Hyde. Se você não pegou a referência escancarada ainda, ele é o personagem de “O Médico e o Monstro”, de Robert Louis Stevenson. O principal plot twist da obra é a revelação de que Jekyll e Hyde são as mesmas pessoas, mas é claro que já não há espaço para o ineditismo dessa história nos tempos atuais. O público mas antigo está cansado de ver essa história, e os mais novos estão acostumados com personagens como Hulk da Marvel, ou mesmo a interpretação do personagem em a “Liga Extraordinária”.

Enfim, a transformação do personagem é lamentável, e sua principal função é de juntar todos as aberrações dentro do Universo Sombrio, algo semelhante ao que Nick Fury fez durante os filmes da Marvel, e a escolha de Crowe para encarnar esse personagem não parece a mais acertada, já que ele provavelmente vai participar de todos os outros filmes e sua capacidade de atuação já não é mais a mesma.

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Sendo assim, essa tentativa de reanimar os clássicos monstros da Universal começa meio capenga, sendo um mero filme de ação que sai do Egito para Londres, apenas para mostrar uma ameaça genérica, destruição de uma grande metrópole e uma batalha final feita inteiramente em computação gráfica (nem tão boa assim, infelizmente). A torcida agora é que os próximos títulos sigam por caminhos próprios e bem distantes de “A Múmia”, para não serem apenas mais um reboot fraco e desnecessário.

Fonte das imagens: Divulgação/Universal Pictures

A Múmia (2017)

Ela é real, ele a viu

Diretor: Alex Kurtzman
Duração: 110 min
Estreia: 8 / Jun / 2017
Thiago Moura

Curto as parada massa.