Crítica do filme Antes do Pôr-do-Sol

Desenvolvendo sentimentos de forma ímpar

por
Ana Luíza Rodrigues

22 de Julho de 2014
Fonte da imagem: Divulgação/
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 4 min

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Semana passada passou por aqui a crítica do filme "Antes do Amanhecer", o primeiro de uma trilogia que hoje tem sua segunda parte se fazendo presente. O nome agora é "Antes do Pôr-do-Sol" (Before Sunset), pôr-do-sol este que demorou nove anos para acontecer.

No filme anterior somos apresentados à Celine (Julie Deply) e Jesse (Ethan Hawke) no momento em que o caminho dos dois se cruza e eles começam a conversar, flertar e, enfim, se apaixonar. No entanto, o propósito era passar apenas aquela noite juntos aproveitando uma experiência única e o fato de que não haveria compromisso algum depois disso.

A ideia era empolgante, mas essa história chega ao fim com o sentimento de solidão e chateação inevitável depois de uma conexão tão forte. Porém, havia uma luz no fim do túnel. Antes de seguir viagem os dois fazem uma última promessa: em exatos seis meses os dois se encontrarão no mesmo lugar em que agora estavam se despedindo. Os dois não trocaram telefone, endereço ou se quer os próprios nomes completos, deixando tudo na mão do destino.

Como citado um pouco antes, o destino foi um pouco mais lento do que o esperado e algumas coisas deram erradas no meio do percurso, fazendo com que os personagens seguissem suas vidas em rumos diferentes por nove anos até terem se cruzarem novamente.

Graças a um livro bem sucedido que Jesse escreveu baseado na noite em que passou ao lado de Celine, o escritor acaba por fazer uma turnê promocional que o leva até Paris, onde a moça continua morando. Enquanto conversa com os jornalistas presentes na entrevista que acontece em uma pequena livraria, Jesse vê Celine no fundo da loja e o mundo para por alguns segundos e é dai que se dá partida ao segundo filme da trilogia.

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Os dois saem juntos em direção a um café enquanto colocam o assunto em dia e saciam as nossas dúvidas sobre o rumo da vida de cada um, seus desencontros, sucessos, sonhos e frustrações. O filme foi feito com o intuito de retratar uma conversa em tempo real que se desenrola no decorrer dos 80 minutos de produção, ao contrário do filme anterior onde temos uma noite inteira condensada em 105 minutos. Mesmo assim, essa segunda parte se mostra muito mais densa do que a anterior.

Com a mesma atuação ótima dos dois atores e a presença de dois personagens mais maduros se reencontrando, o espectador se depara com um filme um pouco mais frio, porém com a sensação constante de torcer para que as coisas deem certo.

Parte da naturalidade do filme vem do fato de que é uma produção conjunta dos atores e de Linklater, que se mantinham em contato direto oferecendo partes de suas experiências ao diretor durante a escrita do roteiro. Dessa forma, é possível sentir de fato uma ligação com as palavras ditas. Além disso, seguindo a linha do primeiro filme, os diálogos são envolvidos nos sentimentos de forma tão sutil e natural que é impossível não percebê-los escondidos por trás de cada olhar dos atores.

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Um ponto interessante sobre a produção, é que, devido ao período em que o filme se passa (um fim de tarde), o diretor escolheu por gravar todas as cenas em tempo real, em um mesmo período do dia para manter a sua atmosfera e ser realista, contando muito com o bom preparo dos atores para que as tomadas fossem realizadas em momentos exatos. Isso reduzia as horas de filmagem para apenas duas a quatro horas diárias, e o filme acabou sendo todo gravado em apenas 15 dias.

O filme funciona bem mesmo que seja assistido de forma isolada, mas é interessante ver a trilogia dentro do conjunto para notar a evolução dos personagens e da relação entre eles. No decorrer de "Antes do Pôr-do-Sol", nós vemos duas pessoas que se reencontram e parecem devolver um pouco da vontade de viver de cada um, ao passo em que uma memória, que antes era nostalgia, agora tem espaço pra reviver e respirar por mais um tempo e cessar as incertezas do que poderia ter acontecido de acordo com os rumos que a vida leva.

Ame ou odeie. Todos os filmes da trilogia são bem diferentes do padrão que muitos podem estar acostumados. Mas se você gostou do primeiro, não vai se decepcionar com essa sequência.

Fonte das imagens: Divulgação/
Ana Luíza Rodrigues

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