Crítica do filme Café Society

Saboroso, mas um tanto morno

por
Lu Belin

02 de Setembro de 2016
Fonte da imagem: Divulgação/Imagem Filmes
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

☕ Home 💬 Críticas 🎭 Romance

Se o novo filme de Woody Allen fosse um café, talvez ele pudesse ser avaliado como um grão proveniente de um bom produtor, com uma boa torra, de sabor encorpado e com notas de intensidade, porém nem de longe a melhor saca desta safra. Prepare seu cafezinho e vem comigo pra saber porque achamos isso!

Café Society” foi bastante esperado pelos românticos de plantão e pelos fãs incondicionais deste diretor que já se tornou um dos ~clássicos contemporâneos.

Com um casting bastante inovador para um romance do cineasta, o longa-metragem se passa na década de 30 e faz referência à época de ouro de Hollywood e da indústria cinematográfica, durante um tempo em que os círculos sociais das celebridades famosas pelos filmes eram celebradíssimos. Nessa época, a alta sociedade que se formou a partir disso e os novos ricos que se reuniam para beber e curtir ficou conhecia como Café Society.

Três cubos de açúcar

A trama do longa-metragem gira em torno do jovem nova-iorquino do Bronx Bobby Dorfman (Jesse Eisenberg), que vive em uma família de trabalhadores e se muda para Hollywood, em Los Angeles, para buscar novos rumos e crescimento pessoal.

6 f44df

Na cidade das estrelas, ele é orientado a procurar pelo tio, Phil Stern (Steve Carrel), um conhecido agente de grandes celebridades locais. Acontece que Phil é extremamente ocupado e não dá muita atenção ao sobrinho e pede que uma secretária acompanhe o novo californiano a conhecer os encantos de Los Angeles.

Certamente, o ingênuo Bobby se encanta com muito mais do que com a cidade. O que chama a sua atenção é Veronica (Vonnie), papel de Kristen Stewart. Inteligente, decidida e livre das alienações típicas das meninas de Hollywood, ela vira a cabeça de Bobby de cabeça pra baixo, dando início a uma série de encontros e desencontros que trazem a clara assinatura de Woody Allen – que, além da direção, é responsável pelo roteiro.

Qualquer café é melhor com um bom papo

O plot de “Café Society” não tem nada de grandioso ou mirabolante, mas é certeiro e vai direto ao ponto, como vários outros longas do diretor. Com o pretexto de contar a história de Bobby, Vonnie e Phil, o filme na verdade retrata toda uma época e todo um contexto em que a alta sociedade passa a se organizar em torno do cinema.

É um verdadeiro retrato do universo das fofocas e maracutaias hollywoodianas. 

Assim, é no talento para transformar o plano de fundo e no questionamento da superficialidade de toda uma geração que se concentra Woody Allen neste filme. E o grande tempero para isso são os diálogos, nos quais o diretor e roteirista é um grande mestre.

3 6b199

Sem incríveis reviravoltas – já que o narrador conduz o público, que é onisciente e sabe o tempo todo o que está acontecendo, diferente dos protagonistas –, o filme consegue nos manter curiosos, intrigados e interessados durante todo o tempo, com diálogos extremamente divertidos e com aquela pitada de humor ácido clássica do diretor.

Encorpado e bem apresentado

Mas nem só de texto se faz “Café Society”. Além de um bom roteiro e dos diálogos bem-feitos, os personagens são, na sua maioria, bem construídos e consistentes. E não apenas os protagonistas. A produção traz atores coadjuvantes muito bons em personagens interessantes, com suas próprias histórias paralelas, mas sempre relacionadas ao centro da narrativa.

5 3efc8

Assim, o filme é muito bem dirigido, com todo o esmero típico de um diretor consagrado como Woody Allen. Para tanto, alguns fatores contribuem demais com o andamento da trama. A narração, marca registrada do diretor, está presente em “Café Society”, assim como uma primorosa e certeira trilha sonora.

Assinadas majoritariamente por Vince Giordano – que já marcou presença em produções aclamadas como o longa Carol e as séries Boardwalk Empire e Mildred Pierce, todas histórias da mesma época – as canções dão o tom da trajetória percorrida pelos protagonistas e ajuda a marcar a linha do tempo do filme.

1 994c7

Destaque também para a caracterização dos personagens e para o figurino. Além dos cenários montados com cuidado, das locações belíssimas e da fotografia superbonita, os trajes são adequados e lindos, com toda a atenção necessária a detalhes como os acessórios.

Curiosidade: você sabia que o Woody Allen na verdade se chama Allan Stewart Königsberg?

Por falar em cuidados e preciosismo, vale mencionar o quão bem construída é a estrutura narrativa, que segue um padrão diferente, com entradas de tomadas que quebram a linha do tempo, circulando entre memórias, tempos futuros e cenas que “explicam” detalhes sobre a trama de uma forma descontraída e que descontínua muito interessante, que reserva algumas surpresas.

Quando analisado isoladamente, cada aspecto do filme “Café Society” consegue ser altamente premiável. No conjunto, no entanto, o filme é interessante, distrai e flui bem, mas não traz nada de muito diferente ou extraordinário: é mais uma história de amor ou de amores, com um pano de fundo legal. Mas claro, um prato cheio (ou uma xícara cheia – tu-dum-tssss) se você é um romântico de carteirinha ou se é fã de retratos de época, e também se aprecia um filme bem construído tecnicamente.

Fonte das imagens: Divulgação/Imagem Filmes

Café Society

Um romance, uma sociedade em construção, muitas dúvidas

Diretor: Woody Allen
Duração: 96 min
Estreia: 25 / Aug / 2016
Lu Belin

Eu queria ser a Julianne Moore.