Crítica do filme Capitã Marvel

Não tenho que te provar nada

por
Thiago Moura

14 de Março de 2019
Fonte da imagem: Divulgação/Walt Disney Studios
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 8 min

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Essa crítica não possui spoilers, leia sem medo!

Desnecessário dizer que “Capitã Marvel” chega com uma força notável ao já consagrado Universo Marvel. Esse é o primeiro filme solo protagonizado por uma personagem feminina,  simplesmente a heroína mais poderosa até o momento, superando até mesmo Thor, além de ser a conexão mais próxima com o aguardado “Vingadores: Ultimato”. Todo esse peso gerou enormes expectativas e criou polêmicas com boicotes anunciados por fãs descontentes com a protagonista, mas é seguro dizer que todos os nerds chatos e preconceituosos já não são relevantes.

Está mais do que claro que os estúdios Marvel estão se distanciando do sólido passado das histórias em quadrinhos para criar algo novo. Os quadrinhos sempre serão a fonte de inspiração e os personagens tem alguns parâmetros que precisam ser respeitados, mas no geral tudo que se tem como certo pode ser mudado em prol dos filmes. Para o estúdio o foco é gerar uma quantia absurda de dinheiro, enquanto para o fãs é se divertir enquanto vê heróis fazendo o que eles sabem: entreter o público.

A direção fica por conta de Ryan Fleck e Anna Boden, que também assinam o roteiro juntamente com Geneva Robertson-Dworet. A trama se passa antes de todos os filmes, exceto por “Capitão América: O Primeiro Vingador” e tem o injusto papel de preencher as lacunas deixadas pelos filmes anteriores. Em que situação Nick Fury (Samuel L. Jackson) perdeu seu olho e como Carol Danvers, a Capitã Marvel (Brie Larson), chegará até os dias atuais para enfrentar Thanos são alguns dos detalhes que o filme se propôs a elucidar, mas isso é apenas a superfície de um universo que está constantemente em expansão.

Mais Alto, Mais Longe, Mais Rápido

Em 1995, no planeta Hala, Vers (Carol DanVERS) é membro da Starforce e sofre com recorrentes pesadelos envolvendo uma mulher mais velha. Yon-Rogg (Jude Law), mentor e comandante de Vers, treina ela para controlar suas habilidades enquanto a Suprema Inteligência (Annette Bening), uma inteligência artificial e governante dos Kree, insiste que ela mantenha suas emoções sobre controle.

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Em meio à guerra entre os Kree e os Skrulls, uma raça de alienígenas capaz de assumir a forma de qualquer pessoa, Vers acaba caindo na Terra. Na década de 90, a SHIELD ainda estava tentando entender seu papel, Nick Fury ainda tinha os dois olhos e videolocadoras estavam na moda. As diversas referências ao mundo pop desse período não passam despercebidas, incluindo as excelentes músicas que essa década proporcionou.

A estrutura apresentada não é totalmente nova, mas é uma história de origem interessante mesmo assim. Em Hala, Carol tem vagas memórias de sua vida antes de entrar para Starforce, e essa memórias são apresentadas de forma vaga e aleatória. Apenas na metade do filme é revelada a razão dela ter adquirido seus poderes, e aí que a coisa fica realmente envolvente.

Nem tudo que brilha são rajadas fotônicas

É difícil avaliar um longa da Marvel apenas como um filme, e não um “filme de super-heróis baseado em quadrinhos incríveis”, já que esse tipo de produto está tão consolidado que fica difícil enxergá-lo individualmente. Enfim, o problema de “Capitã Marvel” é exatamente a protagonista. Brie Larson é uma atriz excelente, particularmente considero ela bastante expressiva e qualquer um que diga o contrário não prestou atenção na atuação dela.

Porém, Carol Danvers é uma personagem absurdamente sem graça, algo que normalmente é contornado quando a história é adaptada para o cinema, mas “Capitã Marvel” elevou essa dificuldade porque sua fonte original depende mais do conjunto de fatores ao seu redor do que a personagem em si, algo praticamente impossível de ser introduzido em um filme solo.

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Adicionado a isso temos o problema dela ser parcialmente amnésica, então nem ela sabe direito quem é. Contudo, ela é uma excelente personagem quando está interagindo com outros, e nesse ponto essa versão do MCU tem um potencial infinito a ser explorado, em especial no aguardado “Vingadores: Ultimato”.

Outra dificuldade é o roteiro, com vários diálogos forçados. Porém, os personagens secundários são excelentes nesse sentido, destaque especial para Maria Rambeau (Lashanna Lynch) que eleva as ideias e subtextos do filme para o patamar que merece. Nick Fury está irreconhecível e grande parte da diversão é por conta da interação entre ele e Danvers, e principalmente o gato Goose, que rouba a cena sempre que aparece. Essa inversão na personalidade do sisudo diretor da SHIELD é a prova de que não importa o quanto os fãs acreditem que sabem tudo, a Marvel está aqui para surpreender e divertir. Vale ainda mencionar o cativante Talos (Ben Mendelsohn), um Skrull que vai muito além das aparências.

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Por sinal a presença de Skrulls no longa é um dos aspectos mais aguardados de Capitã Marvel, dando espaço a diversas teorias de fãs, algumas envolvendo até os X-Men, e alimentando boa parte da ansiedade acerca deste projeto. A abordagem sem dúvida irá surpreender os fãs, mas qualquer informação a mais pode estragar a surpresa para quem não viu ainda.

Os efeitos especiais e cenas de ação, obrigatórios para um filme desse porte deixam um pouco a desejar, talvez pelo fato dos diretores Fleck e Boden estarem acostumados com filmes menores. As lutas são sempre em planos fechados, com muitos cortes e os dublês tiveram todo o trabalho nesses casos. As lutas aéreas, onde todo o potencial de poder da Capitã poderia ser explorado, são constituídas por efeitos fracos, destoando da qualidade que vinha sendo apresentada até então. Nada que estrague o filme, mas os fãs mais detalhistas com certeza vão se incomodar.

Lute como uma garota

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Por mais que seja repleto de falhas, nada pode tirar a relevância de Capitã Marvel. É um filme que quebra paradigmas e mostra que veio para ficar, sem precisar se justificar. Carol Danvers não precisa de um par romântico apenas porque é mulher, ela tem uma amiga que a ama incondicionalmente. Ambas se amparam mutuamente, cada vez que alguém disse que não podiam seguir a carreira militar, já que não era coisa para mulheres, ou todas as vezes que falharam nas provas físicas, elas se ergueram e mostraram que podiam sim.

Quando Yon-Rogg pede para que o enfrente sem utilizar seus poderes, para provar que ela é melhor e tem valor, Danvers diz: Eu  Essa cena por si só já serve para rebater qualquer ódio gratuito daqueles que tentam rebaixar essa obra. Capitã Marvel toca diversos assuntos de relevância social, alguns timidamente, mas que ainda estão presentes.

Não bastasse isso, os trailers sublinham a frase "tudo começa com uma heroína", e de fato temos uma ótima representação do que significa ser herói. Não basta ter superpoderes ou buscar vingança em uma guerra, mas servir de exemplo, ser um farol de esperança e acima de tudo, lutar pelo que é certo mesmo que isso signifique abdicar de seus interesses pessoais. Capitã Marvel é um bom filme, a sensação que fica é de que foi pouco para tudo que ela poderia ser, mas a parte boa é que esse é apenas o começo e logo teremos muito mais.

Fonte das imagens: Divulgação/Walt Disney Studios

Capitã Marvel

Como surge um herói?

Diretor: Anna Boden, Ryan Fleck
Duração: 128 min
Estreia: 7 / Mar / 2019
Thiago Moura

Curto as parada massa.