Crítica do filme Clube de Compras Dallas

Lidar com a adversidade é difícil

por
Fábio Jordan

23 de Fevereiro de 2014
Fonte da imagem: Divulgação/
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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Ah... A vida. Essa cretina que nos prega algumas peças e nos coloca em cada cilada. A verdade é que mesmo sabendo dos infortúnios, vez ou outra, acabamos caindo nos encantos da vida e nos dando mal. O filme "Clube de Compras Dallas" vem justamente para contar o caso dramático de um homem que acabou abusando demais da sorte.

Baseado na história real de Ron Woodroof, um eletricista texano que é diagnosticado com o vírus da AIDS, o longa dirigido por Jean-Marc Vallée vem para mostrar a difícil aceitação e os problemas que permeiam este complicado quadro clínico. O tema não é novo, mas as situações no decorrer dão ineditismo à proposta. Adianto que a obra é espetacular!

Conheça o Ron

Ron Woodroof (Matthew McConaughey) é o típico machista que vive sua vida de eletricista, drogado, beberrão, pilantra e comedor. Tudo vai quase bem, mas é perceptível que a saúde dele vai de mal a pior. Logo, o protagonista descobre que é soro positivo e o filme que poderia ter um viés festivo acaba virando um drama daqueles.

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O primeiro choque vem quando ele recebe a notícia sobre a doença. Como outras tantas pessoas, o protagonista da história se recusa a acreditar e logo cogita que houve algum engano médico, ainda mais porque — estamos na década de 1980 e — isso era coisa de homossexual. A coisa piora quando ele recebe a perspectiva de que tem apenas mais trinta dias de vida.

Em uma época em que os tratamentos ainda estavam em testes, a mente de um paciente com esse tipo de condição fica turva e logo o desespero bate à porta. É interessante que Clube de Compras Dallas vem também para mostrar — e abrir espaço para discussão sobre — a questão da influência do governo, da medicina e da indústria farmacêutica na vida das pessoas.

É interessante que, presumo eu que, poucas pessoas de fato têm contato com esse tipo de situação, o que deixa o filme mais curioso. Mesmo tendo visto e ouvido coisas sobre a AIDS, o público talvez não tenha noção sobre os pormenores (ajuda médica ineficiente, amigos que não apoiam, o preconceito, as crises, as infelicidades) que dificultam a vida do portador.

É pra aplaudir de pé!

Matthew McConaughey está em seu melhor momento. Quer dizer, o currículo do ator texano é bem diversificado, mas parece que, de uns tempos para cá, McConaughey acertou em tudo que fez. Bom, mesmo que eles não levem o Oscar, é bom lembrar que a dupla protagonista deste filme (McConaughey e Leto) já faturou os prêmios no SAGA e no Globo de Ouro.

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Depois de participar em “O Lobo de Wall Street” (Hum hum...) e dar alma à série True Detective, ele conseguiu se superar e ir muito além do esperado. Sério. É difícil assistir ao filme sem pensar o quanto o cara teve de incorporar e aprender para conseguir se colocar na pele de um personagem de tamanha complexidade.

A começar pela aparência, que evidencia o quanto McConaughey teve de se esforçar para entrar “em forma” para fazer uma representação fiel e convincente. Quanto à atuação, não tenho a menor dúvida de que o ator tenha se superado e esteja apto a conseguir a estatueta da Academia — o problema é que o páreo está complicado com DiCaprio e Ejiofor na parada.

As primeiras cenas não são tão difíceis, mas ao descobrir sobre sua condição McConaughey nos convence de que estamos acompanhando um caso real. Ele consegue passar o drama, a tensão, as incertezas, o medo, a inconstância e a coragem de alguém que está na pior. Mesmo sendo um personagem dramático, o ator consegue tirar risadas dos espectadores.

Ainda que não conduza a maior parte das cenas, Jared Leto rouba a atenção em diversos momentos do filme. Interpretando o homossexual Rayon (amigo e parceiro de negócios de Woodroof), Leto abraça a causa de tal forma que é difícil acreditar que estamos tratando de uma atuação para um longa-metragem.

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A maquiagem e as roupas de Rayon são perfeitas, mas o que deixa o personagem chamativo é a incrível versatilidade de Leto em encenar e mudar sua voz para combinar com o papel. Ele está quase irreconhecível de tão convincente e dedicado. Não há dúvidas de que os prêmios concedidos foram merecidos e não fique surpreso se ele ganhar o Oscar.

O improvável deixa a história ainda melhor

A justificativa para o nome do filme só vem depois de um bom tempo, quando Ron Woodroof resolve abrir um Clube para ajudar (pela modesta quantia de 400 dólares mensais) a outros milhares de portadores do HIV. O nome do local é apenas uma faixada para que ninguém desconfie dos negócios de Ron e Rayon.

É engraçado pensar que não se trata de um filme, mas sim da história de alguém que fez muitos trambiques na vida real para conseguir drogas ilícitas. Contrabando de remédios provenientes do México, negociação com médicos de outros países, falsificação de prescrições e outras ideias malucas deixam o filme inusitado e divertido.

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Toda a trama é acompanhada de boas músicas. A trilha foca mais nas canções comerciais, portanto não há realmente qualquer razão para que o filme seja indicado em alguma categoria do tipo. Em alguns casos, aquele silêncio absoluto fala tudo e deixa a película dramática.

Quanto à direção, devo dizer que gostei de ver a variação de efeitos e tomadas que deixam o ritmo do filme diversificado. A escolha de alguns ângulos de câmera mais ousados também são bem-vindos, pois eles não causam estranheza e dão identidade própria ao longa. O figurino é fantástico. Jeans apertados, saias abaixo dos peitos, chapéus e outros elementos foram bem aproveitados e deixam o filme de acordo com a época.

É difícil comparar filmes e não é meu intuito dizer que um é melhor que outro. Assim, posso dizer que Clube de Compras Dallas é tão bom quanto outros títulos aclamados que estão nos cinemas. Ele é diferente e muito convincente.

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Temos aqui uma obra que é impactante e muito bem executada. Novamente, os elogios são para Matthew McConaughey e Jared Leto que dão vida ao filme. "Clube de Compras Dallas" é altamente recomendado para quem está cansado das porcarias comuns de Hollywood e quer ver o drama pelo qual muitas pessoas ainda passam.

Fonte das imagens: Divulgação/