Crítica do filme Esquadrão Suicida

Nem sempre é bom ser mau

por
Thiago Moura

04 de Agosto de 2016
Fonte da imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 7 min

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"Esquadrão Suicida" foi a grande aposta da DC Films para afastar o tom "maduro", controverso e sombrio que dividiu fãs e críticos em "Batman v Superman: A Origem da Justiça".

Mas essa aposta só entrou em jogo quando o filme já estava praticamente finalizado, então o filme precisou passar por refilmagens e mudanças para agradar um público que já estava acostumado com a diversão e humor de filmes como "Guardiões da Galáxia" e "Deadpool". Apesar de pertecerem ao mesmo gênero, comparações entre esses filmes são desnecessárias, então vamos deixá-las de lado.

Segundo o site The Hollywood Reporter, em Maio a Warner exibiu duas versões do filme, uma versão do diretor David Ayer no estilo DC de sempre, mais sombria e séria, e outra mais parecida com os trailers iniciais, com vários personagens sendo introduzidos de uma vez, gráficos de suas habilidades e personalidade e músicas marcantes.

E como a Warner queria MESMO agradar a maior quantidade de expectadores possível, resolveram misturar as duas versões. Essa informação é importante pelo simples motivo que a quebra de estilo é abruta dentro do filme, e isso não passa despercebido e incomoda.

A ideia de formar o "Esquadrão Suicida" vem de Amanda Waller (Viola Davis), uma agente de alto escalão dentro do governo norte americano, envolvida em operações clandestinas. Ela vê a chegada do Superman como um alerta, e o medo de um alienígena superforte arrancar o teto e matar todos os burocratas é a ferramenta que permite ela juntar a chamada "Força Tarefa X", um grupo formado pelos piores criminosos, inclusive alguns metahumanos.

O objetivo é mandá-los em missões "suicidas" contra ameaças difíces demais para o exército dar conta, incluindo outros metahumanos. Em troca, os criminosos recebem uma redução da pena perpétua, o que é obviamente justo.

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A sempre excelente Viola Davis encarna com maestria o papel de Amanda Waller, que deve ser vista como a maior vilã do filme, visto que ela coagiu diversos criminosos a trabalhar para ela praticamente de graça ou morrerem se recusassem a proposta.

Em seguida, somos apresentados aos integrantes: o matador de aluguel Pistoleiro (Will Smith); a violenta, insana e obcecada pelo Coringa, Arlequina (Margot Robbie); uma bruxa com milhares de anos e poderes desconhecidos chamada Magia, que possuiu o corpo da arqueóloga June Moone (Cara Delevingne); um latino com o corpo coberto de tatuagens capaz de gerar fogo com as mãos, chamado El Diablo (Jay Hernandez); um crocodilo humano chamado Killer Croc (Adewale Akinnuoye-Agbaje); e um australiano que é praticamente inútil chamado Capitão Bumerangue (Jai Courtney).

Essa apresentação possui um ritmo exageradamente frenético. Em segundos você ouvirá vários clássicos que estão sobre o domínio da Warner (como nos trailers, que são todos muito bem montados, ao contrário do filme) e terá que entender quem são todos esses super criminosos altamente perigosos, quase todos inimigos do Batman, como foram parar na prisão e porque serão úteis.

Exatamente por conta desse dinamismo, a montagem do filme foi um desafio imenso, segundo David Ayer. E mesmo com todo esse trabalho, a primeira meia hora é truncada e apressada, chegando a não fazer sentido dentro da continuação em determinados momentos.

Somos apresentados também ao famigerado Coringa (Jared Leto). Ao contrário do que se esperava (e os trailers prometiam) ele não passa de um coadjuvante para a história de origem da Arlequina, e seu estilo gângster/cafetão não convence muito.

Ele aparece em poucas cenas, e todas elas bem dispensáveis. Ele não passa a ideia original do Coringa caótico, é só alguém bem estranho, se fosse no Brasil ele seria facilmente um MC qualquer. Segundo Jared Leto, muitas cenas gravadas acabaram não entrando no corte final, o que de certa forma é bom, visto que o foco são os outros personagens, e ele só está aqui como um chamariz para o filme.

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Felizmente o vilão do filme ficou de fora dos trailers, porque ele é tão fraco que nem vale a pena dar o spoiler. O Esquadrão é chamado para sua primeira missão as pressas, pois um incidente que potencialmente pode levar ao fim do mundo™ acontece.

A missão nunca fica clara para eles ou como vão completá-la, mas eles continuam indo, sobre ameaças de morte e planos de fuga. E como se os personagens que já apareceram não fossem suficientes, mais gente se junta a missão. Pra liderar esse bando de maluco, Amanda conta com Rick Flag (Joel Kinnaman), um soldado totalmente submisso ao governo e ao seu amor, June Moone. Isso mesmo, a moça que tem uma bruxa anciã com poderes inimagináveis no corpo.

Além de ter uma tropa de soldados de elite com armas de fogo gigantes ao seu dispor, ele conta com a ajuda de Katana (Karen Fukuhara), uma pseudo samurai com uma espada que suga as almas de suas vítimas. Não bastando isso tudo, junta-se ao grupo o Amarra (Adam Beach), um criminoso especializado em cordas e escaladas. Pra que precisam deles? Essa é mais uma resposta que você deve encontrar por conta própria.

Enfim, após sequências de ação que não acrescentam muito, nem mesmo uma ameaça aos protagonistas, o plano parece falhar apenas para levar ao grande final dramático, que nem é tão impactante quanto deveria.

Praticamente todos os personagens tem sua história e motivação na família ou relacionamento. Os destaques ficam por conta do Pistoleiro de Will Smith, tanto pela compêtencia do ator quanto pelo tempo em tela que sua história é desenvolvida, e também a Arlequina de Margot Robbie.

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A representação da personagem está decente, incluindo uma homenagem ao uniforme original. Ela também é responsável por uma pequena dose do humor contido no filme, mas nada surpreendente. Sua atitude positiva, apesar de louca, é um elemento interessante dentro do grupo, mas é um pouco incômoda sua relação com o Coringa, sem contar a sequência final que me pareceu absurda.

Eles são retratados realmente como um casal apaixonado, e ainda que a relação seja claramente abusiva, não é nem perto tão deturpada e unilateral como no conceito original. É claro que a personagem evoluiu muito desde sua criação, mas sua presença no filme é mais interessante pela ideia da Arlequina do que por suas ações. Faltou a ousadia e loucura características da personagem.

E quanto aos outros personagens, a maioria está ali só para as cenas de ação. Outro ponto importante, é que para grandes vilões terríveis todos eles são bem heróicos. Tudo bem que matar pessoas por aí não é muito nobre, mas além disso o maior crime que eles cometem é roubar uma bolsa de uma vitrine em uma cidade devastada. Muito se deve a classificação indicativa de 14 anos, então não espere muito sangue e atrocidades por conta dos "caras maus".

É claro que ter a responsabilidade de tirar o universo cinematográfico da DC das trevas não é tarefa fácil, além de ter que apresentar diversos personagens desconhecidos pelo público e ainda fazer a história andar, então é preciso dar um desconto para o filme nesse quesito.

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Enfim, basta se acostumar com a quebra do ritmo no meio do filme e as falhas justificáveis do roteiro para curtir a história. Existe uma cena pós-crédito que serve mais como um lembrete de que outros filmes estão por vir no universo DC, e justifica em partes a criação da "Liga da Justiça".

Fonte das imagens: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Esquadrão Suicida

Os piores heróis do mundo

Diretor: David Ayer
Duração: 123 min
Estreia: 4 / Aug / 2016
Thiago Moura

Curto as parada massa.