Crítica do filme Horácio
Loucura bandida
O que pode acontecer em um dia? Você se esconder do juiz que declarou a sua prisão ao mesmo tempo que você mantém a sua filha trancada no quarto? Ou você se apaixonar por alguém misterioso que só viu pela internet? Hm, melhor. Dar um golpe em um contrabandista de 80 anos!
Tudo isso aconteceu em um dia no filme brasileiro “Horácio” de Mathias Mangin, que conta a história de Horácio (José Celso Martinez Corrêa), um contrabandista excêntrico de 80 anos que resolve se esconder em seu apartamento no bairro Bixiga, região tradicional de São Paulo, enquanto mantém Petula (Maria Luísa Mendonça), sua filha de 40 anos, presa num quarto.
Quem o ajuda, é Milton (Marcelo Drummond), seu fiel capanga, que está apaixonado por uma loira misteriosa. Neste mesmo tempo, Faraó (Ricardo Bittencourt), um apostador atrapalhado, e Nádia (Sylvia Prado), uma prostituta que perdeu a guarda do filho, armam contra Horácio.
O que poderia ser uma grande história de crime, violência e suspense policial se torna uma comédia trágica sobre as fragilidades e loucuras do ser humano. Um senhor que não superou o luto da sua esposa, uma moça que se opunha frontalmente contra o seu pai torna-se uma bandida, o surgimento de história de um amor que é considerado tabu. Uma moça que fará de tudo para ter o seu filho de novo. E o piores dos males que envolve o homem: o vício.
Entre uma narrativa arquitrama e uma minitrama, Mathis Mangin trabalha com cinco histórias diferentes, de forma episódica, a fim de mostrar as fraquezas e transformações que cada personagem teve ao decorrer de um dia. Este modo não tão corriqueiros nos filmes de comédia, torna o conteúdo uma aventura misteriosa.
Longe do moralismo, o longa se preocupa em explorar as cargas de valores e as diferentes situações de vida, de forma que confunda o espectador e o faça pensar: “Tem algo estranho aí”. Essa estranheza não se restringe somente aos diálogos, mas na forma que eles são produzidos
Novamente afastado do convencional, o diretor Mangig realiza vários cortes rápidos e sem continuidade no decorrer do filme, o que causa estranheza para quem assiste. Uma estratégia que torna rica a forma que a história ganha até o seu final.
Nesta união de drama comédia, o longa garante momentos de descontração e de risada, ao mesmo tempo que provoca o espectador a entender os anseios e transformações do ser humano. E, claro, a responsabilidade de decidir o que aconteceu no próximo dia fica para o público.