Crítica do filme Mãe!

Sobre amor, devoção e sacrifício

por
Thiago Moura

21 de Setembro de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Paramount Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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Desde que “Mãe!” foi divulgado, causou muita confusão e curiosidade no público. O trailer não revela muito e apenas algumas pistas foram reveladas nos cartazes, mas tudo só faz sentido (mais ou menos) no decorrer da película. Por essa razão, é praticamente impossível falar desse filme sem nenhum spoiler, ainda que eles tenham sido evitados ao máximo durante o texto, é fortemente recomendado ler apenas depois de assistir.

Talvez seja cômodo tentar classificá-lo como um terror psicológico, mas raramente essas classificações fazem jus a obras complexas como essa. “Mãe!” é escrito e dirigido por Darren Aronofsky, já famoso por suas obras desafiadoras, com narrativas incomuns que normalmente lidam com assuntos controversos, e claro que dessa vez não seria diferente.

O filme se passa inteiramente dentro de uma bela casa no meio de um campo circulado por árvores, habitada por dois personagens sem nome: uma jovem dona de casa (Jennifer Lawrence) e seu marido bem mais velho (Javier Bardem), um famoso escritor que está sofrendo com um longo bloqueio criativo. Enquanto Ele tenta encontrar inspiração para sua próxima obra, ela passa a maior parte do tempo reformando a casa, pois foi completamente queimada.

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A falta de nomes nos personagens é uma peculiaridade estranha, pois só descobrimos seus “nomes” durante os créditos finais do filme. Javier Bardem é creditado como Him (Ele, em português) sendo o único personagem com letra maiúscula. Jennifer Lawrence é chamada de “mãe”, emprestando seu “nome” ao título do longa e servindo como condutora da história. Todo o filme se passa através de sua perspectiva, o que é ao mesmo tempo interessante e inquietante.

Ela tenta criar um paraíso para os dois, mas o bloqueio criativo criou uma barreira no relacionamento. Certa noite um homem aparece na casa (Ed Harris), procurando um lugar para ficar após uma longa jornada. Ele fica empolgado com a companhia do visitante, enquanto ela fica hesitante em abrigar um completo desconhecido. No dia seguinte, a esposa do homem (Michelle Pfeiffer) chega a casa também, e a partir daí fica tudo realmente esquisito.

Ele aprecia a companhia inusitada do casal, interessado principalmente em suas histórias, enquanto “mãe” está bastante incomodada com a situação, já que os visitantes praticamente dominaram a casa e seu marido.

Mother 1 5fbeeSe isso tudo confundiu sua cabeça, espere até ver o filme e sua cabeça vai explodir. Como dito, "Mãe!" é feito totalmente a partir do ponto de vista da própria, e seria fácil entender tudo se não fosse todos os elementos surreais que acompanham ela. Cores, sensações e visões que não são explicadas, mas apenas parcialmente concluídas apenas nos últimos minutos do filme.

A maior parte do filme é feita em close, a câmera é utilizada para causar a maior sensação de desconforto e claustrofobia possível. Se isso não bastasse, a respiração ofegante de Jennifer Lawrence acompanha a trilha sonora constantemente, é praticamente agonizante! A produção sonora é composta de forma a desnortear e até mesmo agredir o espectador, mais uma forma de se sentir na pele da protagonista e sua pseudo sinestesia.

Já ficou bem claro em “Noé” que Aronofsky gosta de temas bíblicos, e em “Mãe!” a dose parece ter sido ainda maior. Também é claro que esse assunto será polêmico, pois ao retratar esses assuntos ele baseia-se não na bíblia cristã "tradicional", mas sim na tradição gnóstica, o que pode confundir ainda mais os incautos e puritanos.

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Bem, o roteiro é uma enorme metáfora sobre o mundo e a humanidade, a mensagem fica bem clara durante o filme. A ideia é boa enquanto conceito, só que executá-la não é a tarefa mais simples. A simbologia e arquétipos são o foco aqui, mas é difícil manter o interesse nas personagens quando não existe uma investida na relação entre eles e no seu desenvolvimento.

Mas é preciso valorizar a ousadia e originalidade da obra, que é apoiada quase totalmente na excelente performance de Jennifer Lawrence. Seria redundante enaltecer seu trabalho, basta alguns minutos para esquecer que ela é qualquer coisa além da mulher pura que está sendo arremessada em direção a loucura.

O mesmo pode ser dito sobre Javier Bardem, ainda que com um bom distanciamento entre as duas atuações. Quanto ao elenco de apoio, Michelle Pfeiffer e Ed Harris são os principais e suas performances são impecáveis, ainda que seus papéis sejam bem superficiais além das metáforas que o filme propõe.

Sem dúvida “Mãe!” é um ótimo caso de “ame ou odeie”. Sua temática é bastante ousada e sua execução pode causar mais confusão do que qualquer tipo de prazer em ver um filme. Não espere nada que seja tradicional e para aproveitar de verdade a película, preste atenção em todos os elementos colocados ali, pois nada é sem propósito simbólico.
Dessa forma, talvez - com muita ênfase no talvez - você saia renovado da sala de cinema.

Fonte das imagens: Divulgação/Paramount Pictures

Mãe!

Tome cuidado ao abrir a porta

Diretor: Darren Aronofsky
Duração: 121 min
Estreia: 21 / Set / 2017
Thiago Moura

Curto as parada massa.