Crítica do Filme Mais Forte que o Mundo
A Maior Luta de José Aldo
Não é de hoje que o cinema brasileiro superou o estigma da baixa qualidade e vem nos presenteando com belíssimas produções. É o caso de Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo, filme dirigido por Afonso Poyart que esteia hoje (16) em território nacional.
O longa conta a vida do lutador de MMA, desde a infância pobre na periferia de Manaus até chegar ao Rio de Janeiro e se tornar um grande atleta. Com muitos elementos indispensáveis para se obter um bom drama, o filme mostra como o garoto cheio de traumas venceu o histórico de violência doméstica para se tornar um campeão mundial.
José Aldo (José Loreto) realmente teve uma vida que rende bem um enredo de cinema, sem que seja necessário muita invenção. Sua história com o pai alcoólatra e abusivo, algumas vezes vilão outras vezes amigo, é um prato cheio de grandes reflexões sobre como as pessoas que nos amam e incentivam também podem ser as que mais nos agridem e ferem. A história em si não é muito diferente do que estamos acostumados a ver no dia a dia de muitos brasileiros e cumpre bem a lista de itens de uma película que vai cair nas graças do povo: tem drama, ação, romance e superação, tudo isso em grande quantidade.
A ideia para o filme partiu da produtora Paris Filmes, que desejava aproveitar a evidência que o MMA ganhou nos últimos anos com a boa safra de atletas brasileiros para trazer o tema à tona. O cineasta então foi buscar no Google as informações de que precisava, pois desconhecia o universo do esporte. Foi quando se deparou com o nome de José Aldo e encantou-se com sua história.
A película foi anunciada em 2011, mas devido a conflitos de agenda do diretor que mantinha outros grandes projetos em paralelo e várias pausas na produção, só foi finalizada agora. Essa demora no andamento do processo fez com que o elenco sofresse diversas alterações até chegar à configuração final. Marcelo Rubens Paiva também foi chamado para ajudar a agilizar o roteiro, que é assinado em conjunto com o próprio diretor.
Se a história já é abundante em possibilidades, a forma como ela é contada é o ponto alto do filme. As cenas de luta são cheias de ação e ricas em detalhes, prendem a atenção e nos fazem sentir dentro do octógono. O roteiro e a edição conduzidos de forma brilhante e fazem tudo sair um pouco do caminho óbvio, criando momentos de tensão e expectativa, mas equilibrando com pitadas de comicidade. Isso porque embora as imagens das lutas sejam bem feitas e envolvam até mesmo quem não é fã do esporte o foco é mantido muito mais na vida pessoal do lutador do que na carreira. É na relação com seu pai que se dão os combates mais violentos.
José Loreto visivelmente despendeu sangue e suor ao mergulhar de cabeça no papel e o resultado é um personagem muito bem construído, convincente. Embora seja retratado como um herói vencedor, fica evidente o descontrole emocional do lutador e como ele transfere para suas relações, inclusive com a esposa, o exemplo de violência que recebeu do pai. Esse é também um aspecto muito positivo ao passo que o filme se mantém na realidade dos fatos e não tenta romantizar ou amenizar o clima sombrio tanto do esporte quanto da personalidade do protagonista.
Seja pela beleza estética e técnica do filme, pelo elenco experiente e bem selecionado, pelo exemplo de superação emocionante ou até mesmo pelos momentos de comédia que estão garantidos, vale muito a pena ver no cinema e prestigiar as bilheterias nacionais.
O lado sombrio de um herói nacional