Crítica do filme Mal Nosso
Ora pro nobis
Considero qualquer cineasta brasileiro que se aventure a realizar um filme de terror na terra da “zorra total” um verdadeiro herói. Longe estão os dias de Zé do Caixão e sua trupe de amaldiçoados que conseguiam fazer o público olhar para os seus filmes mais pelo espetáculo do que pela produção em si.
Fazer terror no Brasil é muito fácil, pena que o mesmo não se aplica no cinema, e não faço aqui nenhuma critica as produções nacionais do gênero — que vem ganhando cada vez mais qualidade —, me refiro aqui ao mercado, e mais especificamente ao espectador, que parece não comprar a ideia. Mal Nosso, do diretor Samuel Galli, é um bom exemplo do bom cinema de terror brasileiro. Com uma proposta inteligente e uma mistura de subgêneros, o filme é sólido e bem amarrado, e que mesmo arrancando elogios da crítica especializada dificilmente chegará ao grande público.
Galli, que estreia na direção, apresenta uma visão inventiva para o bom e velho terror sobrenatural. Com a benção do “George Romero” brasileiro, Rodrigo Aragão — os miolos por trás de Mangue Negro, Mar Negro e As Fábulas Negras —, Mal Nosso é inteligente e uma escolha certa para os fãs do gênero.
Arthur (Ademir Esteves) contrata um matador para executar um serviço. Sem poder recorrer às páginas amarelas, o homem se aventura pelos becos escuros da internet até encontrar Charles (Ricardo Casella) um serial killer empreendedor — afinal se ele vai matar porque não faturar uma grana também.
A história que já se desenrola com elementos intrigantes ganha um novo elemento quando descobrimos que o serviço contratado apresenta um componente sobrenatural. Aparentemente, Arthur é uma espécie de médium e sua ligação com o mundo espíritos lhe trouxe uma revelação sobre a chegada de um demônio ao plano terrestre.
É interessante descobrir como o filme navega entre o suspense psicológico, o suspense policial — com algumas pitadas de slasher — e culmina em um terror sobrenatural de marca maior. A estrutura diferente confere ainda mais estranheza ao filme — apesar de atrapalhar um pouco o fluxo da narrativa. A divisão pouco usual dos arcos cria uma ruptura muito grande entre as histórias, fato que prejudica o ritmo, mas que não compromete o enredo.
O grande problema de Mal Nosso são suas limitações “técnico-orçamentáis”. Fazer cinema no Brasil já é difícil, quando falamos de cinema independente as coisas ficam ainda mais laboriosas, mas se o assunto é cinema nacional independente de terror…
Samuel Galli faz uma bela estreia na direção. Apostando em um roteiro que mistura narrativas, quebra a linearidade e atravessa diferentes subgêneros do terror e suspense, Galli entrega um filme que realmente prende a atenção.
A mudança de gêneros afeta o tom do filme, o que é interessante, mas mal executado. Nada que afete o filme como um todo, mas é algo que evidencia o fato deste ser o primeiro filme de Galli, que parece ter ainda muito mais talento para nos mostrar.
A esperança falha, o destino não