Crítica do filme Medianeras
Buenos Aires na Era do Amor Virtual
Medianeras (ou pared medianera) é o nome dado aquelas paredes sem janelas dos edifícios, também chamadas de paredes cegas. Geralmente, são as paredes laterais de um prédio, que, por sua proximidade com o edifício vizinho, não se pode "abrir janelas". Muitas vezes, estes espaços são usados para cartazes, outdoors ou algum tipo de publicidade.
O longa argentino de 2011 dirigido por Gustavo Taretto trata de um tema que não é novidade pra ninguém, mas a forma como é apresentado torna o filme interessante. O tema é a solidão, não de uma forma dramática e melancólica, mas a solidão urbana que todo mundo aprendeu a suportar, aquela sensação de estar só no meio de uma multidão. Trata ainda do "amor líquido", como postulado por Zigmunt Bauman, ou relacionamentos que não são feitos para durar, e duas pessoas que estão buscando exatamente o oposto.
A história é narrrada por Martín (Javier Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala), que são vizinhos solitários isolados dentro de seus respectivos mundos. Martin tem fobia de lugares abertos e interações sociais, mas está em processo de recuperação. Pouco a pouco, ele consegue sair do isolamento de seu apartamento e da frente do computador. Ele é um web designer e se refugia em uma realidade virtual.
Mariana acabou de terminar um longo relacionamento, e sua cabeça está uma bagunça, assim como o apartamento onde ela se isola e precisa reaprender a viver sozinha, apesar da sua claustrofobia. Martin e Mariana vivem no mesmo quarteirão, mas ainda que seus caminhos se cruzem eles não chegam a se encontrar, passando pelos mesmos lugares sem nunca se perceberem.
Eles vivem no centro de Buenos Aires, a metrópole que os une e também os separa. A narrativa traça um paralelo entre o planejamento urbano, estilos arquitetônicos, irregularidades estéticas e éticas da cidade. Assim como as Medianeiras, uma enorme tela exposta que é vista por todos mas percebida por poucos, em uma sociedade visual em que somos bombardeados por imagens, o mais importante é conseguir enxergar.
E por falar nisso, a película é tão bela que cada frame é como uma fotografia, e assim como o protagonista encontra nas fotos um jeito de superar sua fobia perante o mundo e as pessoas, é através de lentes fotográficas que a princípio a história nos é revelada.
A narrativa é extremamente simples, e por essa razão é muito fácil se identificar com as situações apresentadas, nosso dia a dia de fugas pessoais e busca por amor estão estampados ali, tudo muito óbvio, exposto e escancarado, mas assim como as Medianeiras, as vezes essas questões passam despercebidas.
Confira o trailer deste filme dirigido por Gustavo Taretto