Crítica do filme Moonlight

Sexualidade e sensibilidade em três atos

por
Lu Belin

25 de Fevereiro de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Diamond Films
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 7 min

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Chiron, o protagonista de "Moonlight - Sob a Luz do Luar" é um menino negro que vive na periferia de Atlanta com a mãe Paula (Naomie Harris), com quem tem uma relação complexa. Diferente de muitos colegas - mas, da mesma forma que tantos outros meninos -, ele não consegue gostar das atividades e brincadeiras mais comuns e parece se sentir deslocado nos grupos dos quais participa.

Por ser diferente - embora nem ele saiba muito bem de que forma - Chiron sofre bullying dos colegas de turma. Em um dos episódios em que tenta escapar das agressões dos outros meninos, seu caminho cruza com o de Juan (Mahershala Ali), um chefão do tráfico de origem cubana e impressionantemente sensível ao momento vivido por Chiron.

Esse contato com Juan também faz com que ele conheça Teresa (Janelle Monáe), uma mulher sensível e sensata que o acolhe nos momentos mais difíceis. A casa de Juan e Teresa se transforma em uma espécie de refúgio onde Chiron se esconde de seus problemas, enquanto encara uma fase difícil de descobertas e autoconhecimento e o despertar da sexualidade.

Doses de subjetividade

É sempre meio esquisito quando você está com determinadas expectativas para um filme, mas ele acaba sendo completamente diferente do que você imaginava. Nem sei exatamente o que estava esperando, mas assistir "Moonlight - Sob a Luz do Luar" me trouxe uma sensação muito parecida com a que tive depois de ver "Carol" e "Aquarius".

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Trata-se de um filme com diversos bons elementos, se considerados individualmente, mas que, como conjunto, parecem não compor adequadamente. Quase como se estivesse faltando uma peça do quebra-cabeças. Explico por partes, vem comigo!

"Moonlight - Sob a Luz do Luar" é um daqueles filmes que não é pra qualquer público e que parece que dialoga melhor com determinados grupos do que com outros. Não estou dizendo que a gente só devia ver filmes que são sobre pessoas como nós, não é nada disso. Mas o longa-metragem é um tanto subjetivo e conceitual e tende a sensiblizar muito mais pessoas que se identificam com as temáticas de homossexualidade, relações familiares e dramas envolvendo consumo de drogas, por exemplo.

Muitos assuntos ao mesmo tempo

Com um ritmo lento e compassado, "Moonlight - Sob a Luz do Luar" nos conduz pelas diferentes fases da vida de Chiron, enquanto vai pincelando algumas questões como plano de fundo.

Como conceito e como espaço de expressão e discussão, o longa é extremamente sensível e complexo. O roteiro e a direção de Barry Jenkins são precisos ao voltar o olhar ao mesmo tempo apenas para um menino e para um universo inteiro de pessoas que podem se identifcar com ele.

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Quando criança, Chiron é "Little" (Alex R. Hibbert). Bullying, agressividade e os primeiros contatos com a própria ideia de sexualidade vêm à tona, assim como os primeiros conflitos familiares. Na adolescência, Chiron é vivido por Ashton Sanders, e as mesmas questões continuam evidentes, mas intensificadas.

Por fim, enquanto adulto, de Little ele vira "Black" (Trevante Rhodes), e somos apresentados a quem aquele menino se tornou depois de exposto a todas as questões que perturbaram sua infância.

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Moonlight nos soterra em diversas questões complexas e pesadas, criando uma abertura enorme para diversas questões. E, enquanto história, é realmente uma bela obra. No entanto, enquanto produto cinematográfico, lhe falta um climax.

Acontecem tantas coiosas e acompanhamos Chiron durante vários anos, mas ainda assim saímos do cinema com aquela sensação de que o ponto alto do filme ainda está por vir.

Interpretações dignas de Oscar

Tecnicamente, e como uma produção feita com certa independência de grandes produtoras, "Moonlight - Sob a Luz do Luar" consegue ser até um pouco ousado, principalmente no que diz respeito aos movimentos de câmera.

A primeira cena já chega chegando, com movimentos circulares de câmera que deixam o espectador até um pouco tonto. Há ainda outras cenas em que a câmera persegue os personagens,  enquadramentos diferenciados e jogos de imagem que surpreendem e dão qualidade de direção.

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Por outro lado, a trilha sonora é algo que poderia contribuir muito mais para tornar o filme um pouco mais emocionante ou talvez tirar toda a história daquela sensação de que algo irá em breve acontecer, porém nunca acontece.

Dessa forma, a maior parte da expressividade acaba ficando mesmo por conta dos atores que, por sua vez, são excelentes - todos! As indicações ao Oscar pelas atuações foram muito justas. Mahershala Ali e Naomie Harris concorrem como melhor ator e atriz coadjuvantes muito justamente - e com boas chances de levar a estatueta para casa.

Os três atores que interpretam Chiron também estão muito bem colocados em seus papéis - especialmente os dois meninos, que vivem as fases mais intensas e dolorosas em tantos sentidos.

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Outro ponto excelente do filme é a valorização de atores negros, que são colocados em evidência e cuja cor da pele não é o grande ponto do roteiro. Moonlight poderia facilmente ter elenco composto unicamente por pessoas brancas sem interferir em absolutamente nada na história. Mas foi feito com atores negros e finalmente isso vem acontecendo com mais naturalidade.

Em resumo, como disse a galera dos Trailers Honestos, "Moonlight - Sob a Luz do Luar"  tem tudo o que um filme-que-ganha-oscar precisa ter e, de fato, tem grandes chances de ser escolhido como o melhor do ano pela Academia. Isso além das outras indicações de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Diretor, Melhor Fotografia, Melhor Montagem e Melhor Trilha Original.

Particularmente, produções como "Estrelas Além do Tempo" e "Até o Último Homem" me ganharam muito mais porque trabalham com mensagens tão profundas e relevantes com a deste, mas com andamento melhor. Mas é muito mais uma questão de preferência pessoal por estilo. Caso ganhe, também não seria injusto.

Fonte das imagens: Divulgação/Diamond Films

Moonlight: Sob a Luz do Luar

Uma hora você precisa decidir quem vai ser

Diretor: Barry Jenkins
Duração: 111 min
Estreia: 23 / Feb / 2017
Lu Belin

Eu queria ser a Julianne Moore.