Crítica do filme No Fim do Túnel

Um roubo, um cadeirante e algumas surpresas

por
Thiago Moura

05 de Outubro de 2016
Fonte da imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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O cinema argentino vem conquistando cada vez mais espaço com produções de excelente qualidade em diversos aspectos, mas que se destacam principalmente pelos roteiros bem trabalhados. “No Fim do Túnel” é um suspense do cineasta Rodrigo Grande, que também assina o roteiro da película.

Todos os elementos apresentados servem para o desenvolvimento da história, alguns até meio óbvios, mas como um bom filme de diversas camadas, mesmo os detalhes óbvios são utilizados de forma satisfatória e surpreendente. Evitarei spoilers para não estragar a história, vou reservar um parágrafo para apontar alguns momentos da trama.

Informação é poder

Joaquin (Leonardo Sbaraglia) é um homem solitário e melancólico, que vive em uma mansão e é cadeirante, consequência de um acidente que levou sua esposa e filha. Sua única companhia é um cachorro que está em uma condição semelhante, paralisado e praticamente morto. Mas logo nos primeiros momentos, Berta (Clara Lago) aparece para uma visita, juntamente com sua filha que não fala e tem problemas para se relacionar com outras pessoas.

Joaquin havia colocado um anúncio para alugar o quarto o quarto do andar superior, já que  não podia mais subir as escadas e o espaço vago não estava sendo utilizado, então Berta e Betty (Uma Salduende) se mudam imediatamente, trazendo junto um pouco de energia para a vida deprimida de Joaquin.

Berta trabalha como stripper, mas só faz isso porque gosta de dançar e precisa criar sua filha. Ela tenta seduzir, distrair e animar Joaquin de diversas formas, enquanto Betty desenvolve afeição pelo cachorro que passa a reagir melhor com a presença da criança. Aos poucos ele vai cedendo e deixando seu bloqueio emocional para trás. Mas enquanto trabalha arrumando computadores em seu porão, acaba descobrindo que um bando de ladrões pretende roubar um banco cavando um túnel que passa por debaixo de sua casa.

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Então, com um equipamentos de imagem e som de altíssima qualidade, Joaquin acompanha todo o plano e acaba descobrindo que Berta, como já era de se esperar, é na verdade uma distração colocada pelo líder da gangue, Galetero (Pablo Echarri). Mas esse é apenas o começo de uma trama cheia de reviravoltas e revelações perturbadoras.

Atenção, os próximos dois parágrafos contém spoilers!

Apesar de muito bem construído, é preciso suspender algumas ideias para que o filme faça sentido. Por exemplo, não fica claro qual a motivação de Joaquin querer uma parte do dinheiro do roubo, correndo o risco de ser exposto e até mesmo morto.

Se a questão era o dinheiro, ele bem que poderia vender a mansão em que vive sozinho e está praticamente abandonada, algo apontado logo nos primeiros momentos do filme. Outro ponto que incomoda é a quantidade de recursos que ele possui, desde os equipamentos de som e câmeras até os “remédios” que ele utiliza de formas duvidosa, como as injeções que ele aplica em Berta diariamente.

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Do ponto de vista técnico, a película impressiona por tantos acertos. Os três ambientes principais, a mansão, o “porão” e o túnel foram construídos com ricos detalhes. Quase todo o filme se passa durante a noite, e o filme conta com um trabalho de claro/escuro que adiciona muita dramaticidade nos momentos de tensão, além de uma ótima produção sonora e ângulos de câmera ousados.

Como o núcleo não é muito grande, sobrou espaço para todos os personagens serem muito bem desenvolvidos. Destaque para as interpretações de Sbaraglia, que conseguiu encarnar um cadeirante com habilidades de McGyver e que fará os espectadores suarem frio em diversos momentos. Outra brilhante performance fica por conta de Pablo Echarri, com o vilão sádico e psicopata Galetero, com certeza a frase “traga o cobertor” nunca teve um sentido tão pesado quanto o que esse personagem impõe.

Se rastejar por esse túnel vai se sujar

“No fim do túnel” é uma excelente obra, mas alguns detalhes podem incomodar. Claro que esses apontamentos não vão estragar o filme em um contexto geral, mas vale a pena citá-los. Por exemplo, Joaquin toma algumas decisões importantes fora de cena, e suas escolhas só ficam claras para o espectador mais tarde e quase por acidente, mas nada que atrapalhe a história. Porém o final é especialmente frustrante, sendo resolvido da forma mais simples possível, quase que ingênua, distoando das diversas reviravoltas e revelações intrigantes durante o filme.

Outro momento que me pareceu desnecessário e de certa forma mal executado é a cena em que Berta resolve fazer uma “dança sensual” para Joaquin. Uma música estridente e nada sexy acompanha a dançarina em paralelo com outras cenas que não tem nada a ver com o momento, mas que são bem mais relevantes para o andamento da trama. Como dito, basta abstrair um pouco e seguir em frente.

Seguindo a tradição, infelizmente o filme vai estrear em pouquíssimas salas e por um curto período, mas é sem dúvida uma ótima opção para quem busca algo diferente dos blockbusters americanos, e com certeza vale o ingresso para quem conseguir encontrar um horário para assistir.

Fonte das imagens: Divulgação/Warner Bros. Pictures
Thiago Moura

Curto as parada massa.