Crítica do filme Suspiria - A Dança do Medo

Você acredita em bruxas?

por
Carlos Augusto Ferraro

10 de Abril de 2019
Fonte da imagem: Divulgação/Play Arte
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Tempo 🕐 5 min

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É muito injusto compara o trabalho de Luca Guadagnino com a obra-prima do mestre Dario Argente. Lançado originalmente em 1977, o clássico Suspiria foi um marco do gênero, apresentando uma narrativa diferente, misturando terror e suspense com um estilo “gótico-lisérgico”.

A Dança do Medo, epiteto da refilmagem comandada por Guadagnino, acerta o tom para apresentar uma boa história de bruxas para uma nova geração de fãs de terror. O grande problema são as inevitáveis comparações com o original.

Como um fã de Argento, não compreendo o conceito por trás de refilmar Suspiria, mas ao assistir o trabalho de Luca Guadagnino eu entendo seus méritos e considero o filme uma espécie de anzol, uma ferramenta para fisgar o espectador e puxá-lo para dentro do barco de Argento. A Dança do Medo é um bom filme, mesmo que desnecessário em sua essência, e fãs de um bom suspense sobrenatural ficaram bem servidos, mesmo que a nostalgia ainda nos chame de volta ao clássico de Argento.

Escuridão, lágrimas e suspiros

Na Berlim dividida de 1977, entre a Guerra Fria e da Segunda Guerra Mundial, Susie (Dakota Johnson) — uma jovem menonita de Ohio — chega pra tentar ingressar na prestigiada escola de dança Markos. Com o recente desaparecimento de uma das estudantes, a jovem Patricia (Chloë Grace Moretz), Susie consegue uma audição, na qual apresenta todo seu talento e perfeccionismo, chamando assim a atenção da Madame Blanc (Tilda Swinton) uma das professoras líderes da instituição.

Mas essa é apenas uma das histórias que se entremeiam ao longo do filme, eis aqui um dos pontos altos e mais problemáticos do filme. O paradoxo é real, pois, diferentemente do que vemos no original, o roteiro é muito trabalhado, entrelaçando várias histórias dentro de uma narrativa só.

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O grande problema é que Guadagnino não consegue puxar todos os fios e amarrar todas as histórias.  São algumas boas ideias que nunca são devidamente exploradas e acabam por deixar o filme mais longo do que o necessário sem grandes recompensas no final.

O filme abre caminhos para discussões interessantes sobre história, memória, culpa, violência, maternidade, feminismo isso se de fato explorasse tais subenredos. No final, não ficamos com o “gostinho de quero mais”, mas com a sensação de que fomos privados de algo. A única trama paralela que é de fato abordada é de Klemperer, o psicólogo que tenta encontrar sua paciente desaparecida, Patricia.

A jornada de Klemperer adiciona muito ao filme, conferindo muito mais substância e motivação a um personagem secundário. Entretanto, o mesmo cuidado não se aplica as outras histórias secundárias que aumentam o filme não acrescentam conteúdo, uma pena, haja vista o potencial de algumas das premissas reveladas.

A linguagem escondida da alma…

O elenco do novo Suspiria é uma cabala de talento maior. Tilda Swinton, sempre interessante na tela, aparece como uma altiva e sóbria professora Blanc. A atriz mantém um olhar assustador ao longo de todo o filme e evoca o medo sem imposições físicas.

Enquanto isso, Dakota Johnson, mesmo sem muito brilho, consegue entregar um desempenho equilibrado, misturando bons e maus momentos na frente da câmera. Diferente de Chloë Grace Moretz, que apesar de aparecer em alguns poucos minutos, é muito mais impactante do que sua colega de cena.

Também vale destacar a presença de Mia Goth -- a britânica, filha de uma brasileira – que vem trilhando um caminho interessante desde a sua estreia em Ninfomaníaca. Outra menção honrosa é a participação de Jessica Harper, a Susie Bannion do filme original, que deponta em uma digna homenagem a atriz que protagonizou o filme de Argento. 

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O delírio é uma mentira que mostra a verdade

Podemos dizer que, em determinados momentos, essa refilmagem de Guadagnino é sim superior ao clássico de Argento, todavia a genialidade quintessencial da obra original sublima qualquer contraponto técnico. Argento usa a câmera de maneira angustiante, e abusa das cores para transformar o ambiente em parte da narrativa, algo podado justamente pelo refinamento técnico da refilmagem.

A fotografia proposta por Guadagnino é diametralmente oposta a de Argento, e funciona dentro de uma proposta estética e narrativa diferente da vista no filme original. Méritos também para Inbal Weinberg (Três Anúncios para Um Crime) que assina o design de produção e Giulia Piersanti (Um Mergulho no Passado) cujo figurino reconstrói os turbulentos anos 70 em uma cidade cuja divisão ideológica se materializava em um muro.

Além disso, a trilha sonora de Thom Yorke (da banda Radiohead) é outro ponto forte do filme. A melancolia característica do artista ajuda a traduzir o sentimento da época e o próprio medo inerente a saga de Susie.

Lindo e cativante, o filme propoem a exploração do poder feminino, mas não ajuda o espectador nessa jornada

Suspiria – A Dança do Medo tem vários méritos, mas suas limitações são rapidamente aumentadas devido as inevitáveis comparações com a obra original. Se os defeitos do filme original são sobrepujados pelo arrojo artístico de Argento, o mesmo não ocorre na produção de Guadagnino, assim, o ritmo lento e o roteiro mal estruturado acabam pesando muito mais. Independente disso, A Dança do Medo ainda é um bom suspense sobrenatural, especialmente se não tivesse o prefixo Suspiria.

Fonte das imagens: Divulgação/Play Arte

Suspíria - A Dança do Medo

Escute os sussurros...

Diretor: Luca Guadagnino
Duração: min