Crítica do filme The Cloverfield Paradox

Futuro do pretérito do indicativo

por
Carlos Augusto Ferraro

09 de Fevereiro de 2018
Fonte da imagem: Divulgação/Paramount Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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A melhor maneira de se apreciar The Cloverfield Paradox é assisti-lo como The God Particle - nome utilizado durante a pré-produção do filme, e uma referência ao Bóson de Higgs. O filme mostra uma equipe de astronautas multiétnica a bordo de uma mega estação espacial/acelerador de partículas cujo único propósito é resolver uma crise energética na Terra que ameaça levar o planeta a uma nova guerra mundial.

As coisas não vão muito bem, até que os cientistas finalmente obtém sucesso disparando o acelerador e criando um feixe de energia capaz de alimentar a Terra ilimitadamente. Porém, como era de se esperar quando se tenta recriar as forças elementais do Big Bang em um filme de ficção científica, algo dá muito errado e a Terra simplesmente desaparece, e esse nem é o maior dos problemas da equipe que passa a lidar com situações cada vez mais estranhas até que a maioria morra ou fique perdida no espaço deixando apenas um ou dois sobreviventes no final.

Em suma, apesar de muitos clichês, The God Particle é um bom filme de ficção científica com toques de suspense e de quebra ainda conta com um elenco bem interessante. Com nomes de peso, temos um grupo diverso e inclusivo, com mulheres em papéis de destaque e afrodescendentes em posições de comando.

No entanto, não estamos falando de God Particle, mas sim de Cloverfield Paradox, e é aqui que as coisas ficam mais complexas. Carregando a bagagem da franquia Cloverfield, a nova produção, cuja estratégia de marketing surpreendeu a todos - haja vista que o filme foi revelado oficialmente apenas algumas horas antes da sua estreia mundial, diretamente no serviço de streaming Netflix - tomou para si o penoso trabalho de servir como “origem” para toda a saga.

Antologia do interesse

É importante ter em mente que a franquia Cloverfield se transformou em uma antologia de filmes independentes que compartilham o mesmo universo. O próprio título original, Cloverfield: Monstro opera em diferentes níveis sendo que a presença do “kaiju” é apenas um gancho para contar uma história que funcionaria em outro cenário, basta substituir o monstro gigantesco por um ataque terrorista e a trama correria da mesma forma, abordando os mesmos temas.

A máxima se prova verdadeira quando observamos o segundo título da série, Rua Cloverfield, 10, que só teve sua inserção na franquia confirmada pouco tempo antes de seu lançamento. Em Rua Cloverfield, 10, temos um suspense inquietante, perturbador e repleto de reviravoltas, tudo sem nenhuma conexão aparente com os eventos do primeiro filme.

O que nos traz até Cloverfield Paradox. Doug Jung (de Star Trek: Sem Fronteiras), roteirista do filme, explica que quando escreveu o seu filme não havia nenhuma referência aos outros Cloverfields. Tratava-se apenas de mais uma ficção científica, mas J.J. Abrams viu algo mais. O “Spielberg hipster”, percebeu a oportunidade de entregar uma espécie de prólogo, mostrando como as estranhas criaturas chegaram a Terra. Pronto, com algumas modificações na história The God Particle virou Cloverfield Paradox.

O filme tem vários elementos interessantes, mas por ser obrigado a se equilibrar nas costas da franquia Cloverfield muito acaba se perdendo. Algumas inserções do roteiro são apressadas e mal elaboradas, resultando em um filme esquizofrênico, que não encontra sua verdadeira personalidade.

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Um viva para a diversidade

Se o roteiro sofre com alguns altos e baixos, as atuações se mantém em um nível superior, sem decair. A diretora Ava DuVernay (de Selma - Uma Luta Pela Igualdade) elogiou as escolhas de elenco, não apenas por incluir afrodescendentes em posições de destaque, incluindo atrás das câmeras na cadeira de diretor, mas também por contar com uma mulher protagonista.

Por sinal, Gugu Mbatha-Raw (do episódio San Junípero de Black Mirror) é o destaque em todos os sentidos. A atriz entrega uma atuação sólida sem cair no precipício melodramático que seu personagem transita perigosamente. No elenco ainda temos o sempre intenso Daniel Brühl (Bastardos Inglórios), o carismático David Oyelowo (de Selma) e Chris O'Dowd (Missão Madrinha de Casamento), que consegue entregar humor mesmo nos momentos mais tensos.

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Paradoxo Cloverfield

Com uma premissa interessante e um desenvolvimento pouco original, Cloverfield Paradox tem seus momentos, mas nunca alcança todo seu potencial. Está cada vez mais claro que toda a franquia Cloverfield não passa de um laboratório de talentos da Bad Robot.

O principal defeito são as tentativas de se reescrever a história para que a trama se encaixe dentro desse universo, eis o verdadeiro Paradoxo Cloverfield.

A companhia de produção de J.J. Abrams já está suficientemente solidificada no mercado para poder experimentar novos projetos e, ao carimbar o selo Cloverfield, ela consegue “vender” roteiros que passariam despercebidos se não tivessem um diferencial comercial. Cloverfield Paradox é o capítulo mais fraco da antologia, o que de maneira alguma significa que se trata de um filme ruim. 

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Ajustando sua visão para esse fato, The Cloverfield Paradox é um filme mediano que até consegue prender a atenção dos fãs do gênero. No final das contas é uma boa adição ao catálogo da Netflix, mas certamente teria problemas brigando por espectadores nas salas de cinema.

Fonte das imagens: Divulgação/Paramount Pictures

The Cloverfield Paradox

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Diretor: Julius Onah
Duração: 102 min
Estreia: 5 / Feb / 2018