Crítica do filme Transcendence - A Revolução

A tecnologia tem suas falhas

por
Fábio Jordan

16 de Junho de 2014
Fonte da imagem: Divulgação/
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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A tecnologia é um assunto geralmente abordado com superficialidade em muitos filmes. Talvez por conta da complexidade do tema (o que pode dificultar a explicação de partes da trama) ou por simples medo de entrar em uma área que pode ser meio controversa, muitos roteiristas evitam mergulhar de cabeça no tema.

Em “Transcendence - A Revolução” (o subtítulo é totalmente desnecessário), o roteirista novato Jack Paglen tenta criar uma trama que é toda baseada em um futuro tecnológico, em que os computadores chegaram a um nível surpreendente de evolução (sendo que já temos até mesmo a computação quântica bem funcional).

O protagonista da história é o Dr. Will Caster (Johnny Depp), um verdadeiro gênio na área de pesquisa da inteligência artificial que criou uma máquina impressionante chamada PINN. Ele é casado com a Dra. Evelyn, que sonha em transformar o mundo em um lugar melhor.

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As pesquisas dos dois vão muito bem, mas de repente um grupo antitecnologia começa a destruir esses projetos com medo de que os cientistas não possam freá-los e acabem prejudicando a humanidade. Num desses atentados, o Dr. Will acaba sendo atingido por uma bala e logo tem seus dias contados.

Mas e se for possível usar toda essa tecnologia avançada para salvá-lo? O filme propõe justamente essa transposição de mente de um corpo humano para uma máquina — uma ideia que não é tão absurda e que a ciência realmente estuda. O experimento dá certo (e isso não é spoiler, pois no trailer você vai saber muito mais) e daqui para frente é que o caldo desanda.

Vamos falar de tecnologia

“Transcendence - A Revolução” é o tipo do filme que consegue atrair o expectador pelas ideias geniais que propõe em seu trailer. De fato, toda a parte tecnológica do longa é muito bem trabalhada, sendo que o roteiro é bem construído (nessa parte em específico) e os fatos são apresentados de forma que a plateia consegue acompanhar as explicações e reviravoltas.

A tecnologia é realmente avançada, mas ainda é muito pé no chão. Muito do que é mostrado no filme são avanços que hoje ainda são apenas teorias. Não há nada de muito extraordinário em um primeiro momento, sendo que podemos aceitar muito bem todo o avanço da inteligência artificial e a transcendência (a transferência da mente humana para a máquina), visto que a computação quântica pode realmente nos levar a lugares surpreendentes.

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Aos poucos, o filme tenta dar alguns saltos na tecnologia, graças à evolução de Will Caster enquanto máquina. Primeiro, ele quer se conectar a rede mundial de computadores, depois quer criar melhorias para os humanos e aos poucos, o doutor some e a tecnologia assume o papel de vilão (e isso também não é spoiler, porque você já viu no trailer).

Esse negócio de querer controlar os humanos, ser autossuficiente, evoluir sem parar, buscar a perfeição, etc. são aspectos que já vimos em outras inteligências artificiais de outros filmes. A novidade aqui é que o Dr. Will Caster vai muito além de várias ideias que já vimos em outros filmes. Toda essa parte é extremamente bem-vinda e bem elaborada.

Apesar das falhas, ainda é um filme de qualidade

Johnny Depp é o grande nome da película, mas, ainda que seja o elemento principal para todo o desenrolar, ele não é o protagonista. É complicado comentar sobre a atuação do ator, pois seu papel é um bocado robótico. Isso deixa dúvidas se ele apenas seguiu o script ou se  está apenas sendo o Depp — que já não vem se destacando há algum tempo.

Rebecca Hall, que podemos considerar como a personagem principal, é que acaba surpreendendo. Quer dizer, seu papel é de uma moça apaixonada que faz muita burrice, mas ela consegue expressar bem a confusão interna da Dra. Evelyn e encarar o papel de forma natural. Quer dizer, em minha opinião, não teria muito como encarar uma situação como a do filme de uma forma muito diferente.

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O restante do elenco é meia boca, com a exceção de Morgan Freeman (que faz piadinhas e tem uma voz sensacional, então já leva pontos por isso) e Cillian Murphy, que também consegue convencer no papel de agente do governo. Kate Mara e sua turma são bem razoáveis, mas dá pra relevar.

O que não dá pra relevar são as ideias e ações do grupo antitecnologia. Ainda que eles tenham um fundamento por trás de suas atitudes, o grupinho demora muito para fazer alguma coisa (algo que possivelmente foi uma falha danada de roteiro). Durante o filme, é capaz que você nem note isso, mas, depois, se você parar pra pensar, muita coisa poderia ser diferente e deixar o filme mais conciso e coerente.

O diretor estreante Wally Pfister (que é diretor de fotografia em todos os filmes de Christopher Nolan) acertou em muitas coisas. As cenas em slow motion, as jogadas de câmera e a condução do roteiro são notáveis. Como ele estava encarregado da direção, desta vez ele não foi o responsável pela direção de fotografia, sendo que Jess Hall conseguiu bons cenários para a execução do longa-metragem. O filme é bonito mesmo.

Eu, como grande apaixonado por trilhas sonoras, fiquei maravilhado com o incrível trabalho do senhor Mychael Danna (que já tem algumas dezenas de composições em sua carreira, incluindo a trilha de As Aventuras de Pi). As músicas são perfeitas para o clima tecnológico da película e, de alguma forma, elas me lembraram de muitos sons de Solaris. Imersiva e cativante, a sonoridade do filme faz muita diferença!

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No fim, “Transcendence - A Revolução” tem sim algumas falhas desnecessárias em sua história.  Muitas cenas de encerramento são confusas e parece mesmo que o roteirista deixou parte do trabalho para um estagiário.

Boa parte da lógica é jogada no lixo, algumas falas são tiradas do nada e há muita coisa que acaba ficando desconexa. Se você gosta de tecnologia, vá ver o filme no cinema, porque tem efeitos legais e assim você não sofre com spoilers. Do contrário, aguarde até que passe nos canais da TV a cabo.

Para concluir, preciso dizer que para um primeiro trabalho de Wally Pfister, o filme está de bom tamanho.

"Transcendence - A Revolução" estreia nesta quinta-feira, dia 19 de junho.

Fonte das imagens: Divulgação/