Crítica do filme Venom
Uma simbiose entre bom e ruim
Mais um filme baseado em quadrinhos, para a alegria dos fãs. “Venom” é uma aposta bem arriscada de pegar carona no Universo Cinematográfico Marvel, em que a Sony utiliza os direitos dos personagens (secundários e que quase ninguém se importa) para criar seu próprio mundo de “heróis”.
Venom é um dos vilões mais icônicos do Homem-Aranha, muito popular nas histórias em quadrinhos e permeando o universo Marvel de diversas formas. O principal desafio de produzir esse filme era pegar um vilão extremamente vinculado ao Aranha e desassociar os dois, contando uma origem independente, para então transformá-lo em anti-herói em apenas um longa. Essa missão quase impossível foi bem sucedida?
O problema não seria tão grande se toda a origem do personagem não fosse baseada nos poderes e ódio mútuo de Eddie Brock e Venom contra Peter Parker/Cabeça de Teia. Porém, para quem estava esperando uma inserção no universo Marvel, ou mesmo uma breve aparição do Homem-Aranha, pode esquecer, ele nem ao menos é mencionado.
Os arcos das histórias em quadrinhos “Protetor Letal” e “Planeta dos Simbiontes” foram inspirações declaradas, e para quem curtiu o filme (sério?) ou pelo menos se interessou pelo personagem, vale a pena buscar pela fonte original. Os roteiristas Scott Rosenberg e Jeff Pinkner fizeram todos os milagres possíveis, mas infelizmente os milagres vão até onde os direitos da Sony acabam. É visível o esforço em introduzir detalhes e personagens conhecidos dos fãs mais fervorosos para justificar essa bagunça, mas o melhor mesmo é esquecer tudo que você sabe sobre Venom e apenas assistir sem pretensão.
O início do filme é atropelado, conhecemos Eddie Brock (Tom Hardy), um repórter investigativo relativamente competente, mas impulsivo e meio sem noção. Ele está em um noivado com Anne Weying (Michelle Williams), uma advogada que representa a Fundação Vida.
Entre tecnologia avançada, indústria farmacêutica e pesquisa e exploração espacial, a Fundação Vida é encabeçada por Carlton Drake (Riz Ahmed), um jovem gênio milionário que aparenta ser uma boa pessoa mas possui desvios éticos preocupantes. O fato é que a Fundação encontrou vida fora da Terra e conseguiu trazer para cá, mas elas precisam de um hospedeiro para sobreviver no nosso planeta, o que pode ser chamado de parasita, mas como isso é ofensivo para essas formas de vida eles preferem o termo “simbionte”, sugerindo um benefício mútuo.
O roteiro é absurdamente fraco, com diversas situações convenientes e que nem são tão relevantes para a história. Em filmes deste gênero é sensato ter um bom nível de suspensão de crença, mas “Venom” abusa. Não é nem necessário pontuar esses buracos, já que é claro o desleixo apenas para que cenas específicas aconteçam.
A sensação é de que são dois filmes distintos. Em um deles, todos os atores tentam entregar um papel coerente e “sério”, enquanto no outro Tom Hardy parece estar possuído, atuando em um filme de paródia pastelão digno da Sessão da Tarde. E por incrível que pareça, essa é a graça do filme. Toda a relação e descobertas de Venom e Brock são bastante engraçadas, os diálogos internos e principalmente as cenas de ação são a única razão do longa ser “assistível”.
A atuação de Michelle Williams é um bom contraponto para Hardy, apesar da personagem feminina que serve de mãe e esposa. Riz Ahmed rouba a cena sempre que aparece, mas suas motivações são tão rasas quanto o roteiro do filme, assim como todos os outros personagens secundários. É melhor focar só nas cenas de ação e no humor ocasional mesmo.
Aparentemente o diretor Ruben Fleischer apenas seguiu a risca o que a Sony exigiu para o longa. Com uma fotografia sombria, talvez buscando um possível clima de terror ou algo mais “maduro”, fugindo do colorido tradicional dos super heróis. Porém, destoa totalmente do clima do filme.
Mas Fleischer acerta nos efeitos especiais e cenas de ação, com cenas claras e sem cortes desnecessários, explorando o potencial dos poderes dos simbiontes tanto na aparência quanto nas lutas, tudo bem orgânico, diferente da terrível versão de Sam Reimi em Homem Aranha 3. Apesar de que em diversos momentos Venom devora pessoas pela cabeça, consumindo totalmente o corpo em questão de segundos, porém é compreensível que isso seja mais um alívio cômico do que um erro propriamente dito.
Esse é o possível começo de um universo da Sony com personagens secundários que ninguém liga, já que Tom Hardy tem contrato para três filmes como Venom, porém nada é certo. Há uma cena pós-crédito que serve mais como um agrado aos fãs do que uma chance real de uma sequência interessante, mas isso só o futuro (e a bilheteria) dirá.
A última cena pós-crédito não tem relação com o filme, mas mostra um trecho da animação "Homem-Aranha no Aranhaverso” essa sim uma abordagem do aracnídeo que deve agradar todos os fãs.
Enfim, “Venom” não deve ser tomado como uma obra de arte indispensável, mas um entretenimento leve e despretensioso. Com todos os seus defeitos, ao menos não é cansativo e diverte até o final, exatamente como um filme de heróis deve ser.