Crítica do filme Selma

Recorte preciso de uma belíssima história

por
Douglas Ciriaco

05 de Fevereiro de 2015
Fonte da imagem: Divulgação/
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 3 min

☕ Home 💬 Críticas 🎭 Opinião

Contar a vida de figuras históricasno cinema não é algo fácil, e não é difícil encontrar cinebiografias que tentam resolver toda uma vida, toda a complexidade de um personagem, em um vídeo de três horas. Felizmente, não é esse o caso de “Selma - Uma Luta Pela Igualdade”, que faz um recorte bastante específico e decisivo da vida de Martin Luther King Jr. e da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos.

No filme, o espectador acompanha os esforços do histórico líder negro interpretado por David Oyelowo (“Interestelar”) para garantir direitos eleitorais dos negros — algo que, apesar de já regulamentado pela lei, ainda não é aceito pelos costumes dos brancos que dominam o estado do Alabama.

Os acontecimentos têm início na pequena cidade de Selma, no interior do Alabama, e culminam em uma grande marcha até a capital do estado, Montgomery, não sem antes passar por inúmeros obstáculos. A opção pela não violência de King é radical e isso fica bem evidente na obra, assim como estratégias, às vezes com consequências trágicas, empregadas para atrair a atenção da imprensa e da opinião pública a fim de pressionar o presidente Lyndon Johson (Tom Wilkinson).

A paz que luta

A obra começa com King recebendo o Prêmio Nobel da Paz em Oslo, Suíça, e então volta para as questões locais do ativista negro. O roteiro do estreante Paul Webb consegue levar bem a história adiante, passando os fatos de modo cronológico e sem atropelar nada, o que ajuda a tornar tudo mais compreensível e comovente, pois parte dos pequenos detalhes — como quando Annie Lee Cooper (Oprah Winfrey) é humilhada ao tentar registrar seu título de eleitora — para embates mais amplos — como a presença constante da violência policial e de civis e a persistência de King em manter-se irredutível — sem desandar.

Selma

Talvez tenha faltado apenas aprofundar mais as questões familiares de King, como os seus problemas conjugais. Outro destaque é a presença, mesmo que tímida, de Malcolm X, na trama: aqui, “Selma” resolve uma questão fundamental das diferenças entre os dois personagens, antagônicos a maior parte da vida, mas jamais inimigos. É um detalhe que pode passar sem ser percebido pelos mais desatentos, mas que dá ainda mais significado à obra.

A excelente direção de Ava DuVernay (“Middle of Nowhere”) é capaz de manter o ritmo e de explorar muito bem a emoção dos atores e da situação como um todo. O enquadramento de King em seus discursos colaboram para transformar o filme em uma espécie de homenagem fiel à História. Além disso, o enfoque em detalhes durante os protestos ou um ataque da polícia complementam o ótimo trabalho da diretora, pois carregam no drama sem apelar para a pieguice e expõem de forma crua a dureza daqueles dias.

Por fim, não se pode deixar de destacar a atuação de Oyelowo, que percebe a profundidade certa da personalidade de King e “encarna” o ativista de modo perfeito. A entonação profética do reverendo e seus sorrisos largos estão presente em “Selma”.

Fonte das imagens: Divulgação/

Selma - Uma Luta pela Igualdade

Um sonho de liberdade

Diretor: Ava DuVernay
Duração: 128 min
Estreia: 5 / Feb / 2015
Douglas Ciriaco

Cê tá pensando que eu sou lóki, bicho?