Crítica do filme Ninfomaníaca

A desconstrução de um tema polêmico

por
Fábio Jordan

10 de Fevereiro de 2014
Fonte da imagem: Divulgação/Califórnia Filmes
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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Lars von Trier gosta de ser polêmico. Depois de apresentar dois filmes (Anticristo e Melancolia) um tanto inusitados e incomuns (o primeiro é pra lá de bizarro e o segundo é bem depressivo), o diretor dinamarquês resolveu embarcar em uma temática sexual: a ninfomania.

Como de costume, o cineasta é detalhista, algo que ajuda a acrescentar um bocado na película, que, ao todo, tem 5 horas e 30 minutos de duração. A primeira parte que chegou recentemente aos cinemas brasileiros tem apenas 2 horas, mas dá uma boa noção da proposta.

A "Ninfomaníaca" idealizada por Lars é Joe (Charlotte Gainsbourg), que, desde menina, procura uma forma de saciar as vontades de sua genitália. O filme mostra as brincadeiras de quando ela ainda era uma garotinha, passando pelas descobertas da adolescência, até, por fim, chegar em sua juventude, época em que perde o controle e se entrega aos desejos sem fim.

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Quem ouve toda a história de Joe é um senhor conhecido apenas como Seligman (Stellan Skarsgård). O misterioso homem encontra a protagonista da história em um beco, local onde ela foi abandonada após algum evento violento. Depois que ela recusa assistência médica, o homem a leva para sua casa, onde, após receber uma xícara de chá, ela conta seus causos.

Uma jovem talentosa

Desconstruir a ninfomania não é coisa fácil, mas Lars tenta fazê-lo da maneira mais difícil. Conforme Joe vai contando os acontecimentos de sua longa jornada, Seligman vai fazendo um paralelo bem curioso com a pescaria (sim, acredite, não tem nada a ver, mas funciona).

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Na primeira parte de Ninfomaníaca, todos os fatos são contados por Joe em sua fase adulta, mas, como ela está relembrando o passado, a protagonista que domina todas as cenas é a jovem Joe, interpretada pela talentosa Stacy Martin. Desconhecida por todos, até por não ter atuado em nenhum filme anteriormente, Martin surpreende e atua excepcionalmente bem.

Falando pelo lado da ciência, muita gente vê a ninfomania como uma doença terrível, que degenera a pessoa e a faz refém de uma droga (o sexo) de difícil libertação. Contudo, a película nos dá a impressão contrária. A vida de uma ninfomaníaca não é nada entediante. Não se trata apenas de fazer sexo a todo o momento.

A jovem Joe não é uma mera vítima, pelo menos não nessa primeira parte do filme, e ela busca formas de explorar o sexo longe do amor. Através de jogos, personagens e outras ideias malucas, a Ninfomaníaca choca (ok, algumas pessoas talvez não fiquem tão chocadas) a plateia com suas maratonas sexuais e os tantos parceiros que tem.

Qual é o problema em transar com todo mundo?

Bom, você pode estar pensado que esse filme é apenas uma projeção pornográfica que tenta se disfarçar de drama. Entretanto, eu consigo ver o longa-metragem de um ângulo bem diferente. A chave do sucesso aqui está justamente no ouvinte da história. Sim, Seligman é a chave fundamental para que tudo funcione tão bem.

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Diferente do que o público tende a fazer (não adianta mentir, quase todo mundo julga a galera da transa pesada), o bom velhinho, que acolhe Joe, não a julga de primeira. Ele ouve, digere a informação e indo contra todas as expectativas — inclusive da própria Ninfomaníaca —, Seligman faz comentários inteligentes e que não atacam a protagonista.

Para mim, o que fica claro, é que além de descontruir a ninfomania, Lars von Trier tenta esclarecer que não há qualquer problema em fazer sexo com todo mundo. Tudo bem, do ponto de vista da população conservadora, isso seria um tremendo perigo, pois você está sujeito a doenças e perigos, mas, no fundo, não há qualquer problema.

Afinal, se podemos fazer outras coisas para aliviar a tensão e nos divertir, por que o sexo não pode ser um ponto de fuga? Não estou dizendo que isso é certo ou errado, tampouco o autor deixa isso explícito, mas o importante é a reflexão.

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Não há por que julgar, ainda mais se a pessoa não está fazendo nada de errado. Quem sabe, tanto sexo faça mal, mas não cabe a nós, meros mortais com pouca experiência, apedrejar ou criticar a pessoa que adora fazer sexo. Talvez, o diretor dinamarquês passe outras mensagens (ainda mais que tem uma segunda parte), mas acho que esse ponto é importante.

É pau, é pica, é pênis!

Bom, até agora tentei ser o mais polido possível, mas a grande verdade é que, apesar de o filme tratar a ninfomania com seriedade, ele inevitavelmente é, falando no bom português, recheado de putaria da grossa. O charme da película está justamente nisso, pois apesar de ser um filme dramático, ele é recheado de erotismo, sensualidade e pornografia.

Se você é do tipo conservador, que já ficou ofendido com os termos que usei no subtítulo acima, nem pense em comprar ingresso para Ninfomaníaca. O filme não tem qualquer pudor, foca nos atos sexuais e busca deixar o público constrangido, desconfortável, excitado e curioso.

O cineasta trata tudo com muita elegância e faz o absurdo (inaceitável, chocante, polêmico) virar uma obra de arte linda de se apreciar por horas e horas — eu, particularmente, fiquei ansioso para assistir logo às 5 horas e tanto de filme. Há cenas em que Lars von Trier faz uma mixagem perfeita entre imagens da natureza, música clássica e cenas de transa das fortes.

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Entretanto, apesar desse cuidado e de levar para o lado artístico, digo e repito: quem não é acostumado com a temática — seja lá por qual for o motivo —, pode ficar chocado com os slides de pênis (que eu, carinhosamente, apelidei de PowerPinto) dos mais variados tipos, cores, formatos e tamanhos.

Ninfomaníaca é um filme carimbado por Lars von Trier. Todos os ingredientes do diretor estão ali. Eu adorei a ideia do filme e fiquei bem satisfeito com a primeira parte. O filme "Ninfomaníaca" é excitante (se é que você me entende), dramático, engraçado (pois é, a plateia dá algumas boas risadas) e chocante. Se você gosta do tema e topa um “Ménage à trois” (entre Joe, Seligman e você), vale a pena conferir essa obra genial no cinema!

Fonte das imagens: Divulgação/Califórnia Filmes

Ninfomaníaca

Confira o trailer deste filme dirigido por Lars von Trier

Diretor: Lars von Trier
Duração: 330 min
Estreia: 10 / Jan / 2014