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Crítica do filme Pantera Negra | Wakanda para sempre!

Se você já está morto por dentro e não suporta mais esse filmes de heróis, a boa notícia é que “Pantera Negra” diverge em muitos aspectos já tradicionais desse gênero. É possível assistir sem nunca ter visto nenhum outro filme da Marvel e mesmo assim ter uma experiência incrível. Felizmente não é o caso da maioria, já que T’Challa (Chadwick Boseman) angariou diversos fãs desde sua aparição em “Capitão América: Guerra Civil”. O texto não contém grandes spoilers, mas é extremamente recomendável assistir antes de ler.

O filme inicia pouco tempo após os eventos que dividiram os Vingadores em dois times e da trágica morte do rei de Wakanda, T’Chaka. Agora o princípe T’Challa se prepara para assumir o manto e comandar a nação como Pantera Negra. Fica claro que não é apenas mais um filme de origem, já que T’Challa vem sido treinado para ser rei e Pantera desde criança. Agora é necessário assumir novas responsabilidades e aos poucos entender as escolhas controversas de seus antepassados enquanto comanda uma nação secreta composta por cinco tribos que apesar de pacíficas, não possuem um consenso em todos os assuntos.

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Ryan Coogler é o responsável pela direção e roteiro, juntamente com Joe Robert Cole. Ambos contribuíram de uma forma muito rica para a construção da história. Ryan nasceu em Oakland, Califórnia, e sua cidade natal está representada com muito cuidado no longa, assim como grande parte da cultura africana. Wakanda, a nação mais desenvolvida tecnologicamente do mundo, fica camuflada sobre o manto de um país de simples fazendeiros. Mas assim que o manto é desvelado, entramos de cabeça em uma maravilhosa paisagem afrofuturista.

O Afrofuturismo é um movimento que surgiu na década de 60 e prega um encontro entre a história, o resgate da mitologia e cosmologias africanas com a tecnologia, a ciência, o novo e inexplorado. Wakanda é exatamente isso, o relacionamento entre o real e o fantástico que também é representado visualmente ao longo do filme. A cidade é um misto entre periferia urbana, com grafites e pichações, tribo africana e metrópole futurista, ainda que com um aspecto familiar a qualquer um que observe seu cotidiano.

Não podemos esquecer do lado mais místico, com diversos ritos de passagem e utilização de uma planta com o poder de conectar o usuário aos seus antepassados em uma paisagem surreal particular para cada um, desde uma savana até um apartamento no subúrbio da Califórnia, sem que nada disso soe estranho para o espectador.

El Dorado é logo ali

Logo no ínicio é revelado que a fonte de toda essa riqueza é o Vibranium, um raro metal  miraculoso e versátil. Um meteoro rico em Vibranium caiu na Terra há eras, e os povos locais souberam utilizar esse presente como fonte energética, desenvolvendo sua cultura e tecnologia absurrdamente em comparação ao resto do mundo, tudo isso por trás da fachada de um simples país de terceiro mundo.

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O povo de Wakanda assiste aos eventos do mundo “exterior” sem nunca se envolver, sabendo que sua supremacia só pode ser mantida em segredo, e eles gostam muito disso. Só que nem todos os afrodescendentes têm o privilégio de morar em Wakanda, alguns nasceram lá e foram enviados a outros países para vigiar e reportar. E fora de Wakanda eles não são tão bem tratados quanto deveriam.

Enquanto seus aliados debatem qual a posição do país em relação ao mundo turbulento que está em constante mudança, inimigos externos tornam ainda mais difícil tomar uma decisão. Ulysses Klaue (Andy Serkis), um traficante de armas e artefatos e um ex-soldado das forças especiais americanas chamado Erik 'Killmonger' Stevens (Michael B Jordan) estão atrás de vibranium, mas cada um com razões diferentes: Klaue só quer lucrar com o raro material enquanto Killmonger quer encontrar uma forma de chegar até Wakanda e clamar pelo trono, acreditando ser o herdeiro legítimo.

Apesar da maioria dos filmes Marvel ser pautado em diversas piadas e questões que não vão muito além de “como mataremos esse vilão que quer conquistar o mundo?”, Coogler faz questão de deixar tudo isso de lado e aborda questões como racismo, o tratamento dos africanos e afrodescendentes ao redor do mundo, de que forma confrontar os erros de seus ancestrais e o que uma nação superdesenvolvida significa para países menos prósperos. Todos esses assuntos são bem sérios e relevantes, mas Coogler consegue adicionar essas camadas a um blockbuster com elegância e sutileza, sem parecer uma palestra para audiência.

Claro que as piadas estão presentes, afinal é um filme Marvel. Mas é tudo muito bem dosado e inserido nos momentos certos, sem o exagero dos outros filmes mais recentes. A ação também está bem afinada aos moldes pré-estabelecidos, tudo muito impressionante. Mas essa nem é a parte mais interessante do filme.

O que acontece agora determina o que acontece com o resto do mundo

É necessário enaltecer o trabalho de todos os atores envolvidos. Todas as escolhas foram extremamente acertadas, só tem gente talentosa e bonita! É notável o fato do elenco contar com apenas dois atores brancos, Andy Serkis e Martin Freeman, que interpreta o agente da CIA, Everett Ross. Ele até tem algumas cenas de destaque, mas fica bem apagado em comparação ao resto do elenco, só servindo de conexão entre Wakanda e os EUA.

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Chadwick Boseman, o grande rei T’Challa, está bastante confortável como Pantera, mas seu papel dentro da trama torna ele um dos personagens menos interessantes. Não entenda mal, sua atuação está excelente, com um sotaque falso bem convincente, cenas de ação incríveis e diversos momentos e falas bem marcantes. Acontece que os outros personagens são tão complexos quanto o protagonista, que se a história fosse sobre qualquer um deles o filme seria tão incrível quanto.

Destaque principalmente para as mulheres, que ao contrário da maioria dos filmes são numerosas e com papéis realmente importantes. Começando por Okoye, interpretada por Danai Gurira, conhecida como Michonne pelos fãs de Walking Dead. Ela é a líder das Dora Milage, um grupo de mulheres guerreiras que atuam como guarda-costas do rei Pantera Negra. É comum que quando ela esteja em cena ela roube a atenção, as vezes apenas olhando de forma ameaçadora e pronta para derrubar qualquer ameaça a Wakanda.

Letitia Wright é outra surpresa maravilhosa. Ela já mostrou do que é capaz no episódio Black Museum, de Black Mirror. Aqui ela é Shuri, irmã caçula de T’Challa, com um intelecto quase inigualável, superando facilmente gênios da tecnologia como Tony Stark. Ela é responsável por boa parte das cenas mais engraçadas do filme, além de comandar TODO o desenvolvimento tecnológico de Wakanda. Ela é a responsável por criar a roupa de vibranium do Pantera, por exemplo.

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E ainda temos Nakia (Lupita N’yongo), que poderia facilmente ser apenas o par romântico do rei Pantera, mas só se ela quisesse — e não quer. Ela é a bússola moral do filme, enquanto Okoye representa a tradição, ela faz uma ponte entre a ancestralidade e o novo. Seu desejo é que Wakanda abra suas fronteiras, para poder finalmente ajudar todos os necessitados. Ela também é uma guerreira que poderia facilmente intregrar as Dora Milage, mas prefere atuar fora de Wakanda, onde sabe como agir para fazer a diferença, mas não deixa de ser querida entre os seus conterrâneos por esse motivo.

No lado masculino, temos o excelente Winston Duke como M’Baku, que possui um papel de antagonismo dentro de Wakanda, por ser líder da tribo que venera o deus macaco Hanuman, enquanto a tribo dominante venera a deusa pantera Bast. Daniel Kaluuya, indicado ao Oscar por “Corra!”, é W’Kabi, responsável pela tribo que vigia as fronteiras de Wakanda.

Panteranegra 1 f66aaTodos os personagens representam um avanço na história ou algum aspecto dos conceitos a serem explorados dentro da trama, exatamente como tem que ser. Também vale destacar o cuidadoso trabalho de Ruth E. Carter, responsável pelo figurino. Ela se inspirou em tribos e na história africana para dar vida aos modelos de roupa de Wakanda, cada vestimenta dá aos personagens uma profundidade a mais.

Mas quem rouba mesmo a cena é o vilão. Killmonger (Michael B Jordan) tem uma motivação convincente e possui quase tanto tempo de tela quanto seu rival, não é tão absurdo torcer por ele em alguns momentos. Considerando o sutil teor político que o filme propõe, temos o radicalismo de um homem que pretende chegar ao poder e armar seus irmãos oprimidos contra seus opressores, vingando todo seu sofrimento. Do outro lado, há um pacifista, que prega a defesa dos semelhantes, não quer atacar ninguém, no máximo reagir às agressões.

Os meios são distintos, mas o objetivo é o mesmo. A luta contra o racismo é um debate que vem desde Malcom X e Martin Luther King, é bem fácil de aplicar essas ideias a um filme e cair num simples maniqueísmo. Mas apesar de ser um filme de super-herói, com herói e um vilão, existe uma compreensão entre os dois pontos de vista, algo bem semelhante ao que acontece com Professor Xavier e Magneto nos filmes X-Men. 

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E para acompanhar toda essa doidera filosófica e estética, Kendrick Lamar foi responsável pela trilha sonora, reunindo cantores e MCs sul-africanos, americanos e britânicos. "Black Panther: The Album - Music From And Inspired By:" conta com diversos convidados como SZA, 2 Chainz, Vince Staples, The Weeknd, James Blake, entre outros, apostando numa variedade sonora, desde graves pesados até cordas mais calmas, além de letras que vão desde rap até algo mais pop. Ouça a trilha aqui:

Ao quebrar a famigerada “fórmula Marvel” e adicionar camadas de filosofia pautadas em movimentos sociais e momento político que vivemos, "Pantera Negra" eleva o já consagrado gênero “filme de herói” a um novo patamar, e a sensação de frescor ao ver um filme que poderia facilmente cair na mesmice ir tão longe é algo bastante notável. A tradição das duas cenas pós-crédito é mantida, a primeira deixando um gancho legal para uma sequência e de quebra cutucando Trump e sua política separatista, enquanto a última interliga "Guerra Civil" a "Guerra Infinita", que felizmente trará diversos desses personagens novamente as telas. Vale a pena conferir, pois dificilmente esse filme será esquecido tão cedo.

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Com base em eventos reais e dirigidos pelo premiado diretor José Padilha (Tropa de Elite), "7 Dias em Entebbe" é sobre o seqüestro de 1976 do Air France Flight 139 que estava indo de Tel Aviv a Paris e a missão de resgate que se seguiu.

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Crítica do filme Sobrenatural: A Última Chave | Traiçoeiro até o último suspiro

Apresentada há quase oito anos, a série Sobrenatural conquistou seu espaço ao revelar um universo de espíritos ousado, ainda que, vamos combinar, pouco convincente em muitas vezes. Ao longo dos anos, o título original ganhou sequências, que nos levaram a ficar perdidos e, vez ou outra, assustados em meio às tantas peripécias da parapsicologista Elise Rainier.

Neste quarto filme, que pode ser o último da saga (dado a dica no nome), acompanhamos uma história que mescla passado e futuro ao revelar os primeiros contatos da protagonista com o além. Sim, novamente, temos uma história que se encaixa antes do primeiro filme, já que você já deve estar ciente do destino fatídico dado à personagem.

Como de praxe, a sinopse repleta de adjetivos medonhos nos leva a crer que agora temos um demônio ainda mais perigoso e assustador. Na prática, a história pode ser levemente diferente, mas não se deixe enganar, porque o roteirista Leigh Whannell pode não ter se perdido totalmente e, quem sabe, talvez haja alguns pontinhos de medo e choro aqui.

Conforme você deve se lembrar do terceiro episódio, os personagens engraçadinhos que ajudam a caçar os espíritos estão de volta — e agora com uma participação talvez até excessivamente prejudicial à trama. De qualquer forma, o idealizador da história ainda tem truques, porém é possível que os fãs do terror não aceitem tão bem esse novo capítulo, ainda mais depois do filme anterior.

Chega de bagunça

Bom, em teoria, a história de “Sobrenatural: A Última Chave” vem para dar um início concreto à carreira espiritual de Elise. Com uma casa assombrada por entidades — provenientes das execuções de uma prisão de segurança máxima nas redondezas — como cenário principal, o longa começa a tomar forma de maneira forçada, mas engata depois de muita insistência.

O pulo no enredo para um futuro com a personagem já em sua fase mais experiente (como a conhecemos em outros filmes) vem a calhar, já que o filme deixa de patinar em argumentos pouco sólidos do passado. Entretanto, a personagem que antes roubava a cena com sua expertise parece estar bastante frágil — e o problema é que o roteiro todo se apoia nela.

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O grande xis da questão, no entanto, são os argumentos fracos para os casos paranormais da jovem Elise e também de seu retorno ao local mal-assombrado. Acompanhando sem prestar muita atenção ou aceitando tudo mastigado até pode funcionar, mas a falta de coerência na construção da protagonista é algo que acaba sendo um verdadeiro tombo no escuro.

Fora isso, a questão familiar de Elise também não é lá muito interessante. O destaque fica para a mãe da jovem médium, porém o restante dos parentes se mostram desastrosos em quase toda a construção do roteiro. Novamente, enfatizo que dá para engolir, mas umas pitadas de inspiração poderiam ter gerado uma trama mais ousada para uma saga tão famosa.

O último a sair apaga as luzes

E falando em parentes e amigos, vale voltar ao ponto dos personagens secundários. A dupla de “médios” (uma piada que será repetida incessantemente) clama por atenção a todo instante, o que só deixa a história mais chata e pouco atraente. Fora isso, a ideia de colocar relacionamentos forçados é uma verdadeira besteira num filme desse tipo. Simplesmente péssimo!

Falando na família, há integrantes (fora a mãe) que acabam agregando valor a este universo espiritual. Sim, se você pensou em mais alguém com poderes, você acertou na mosca. Não é preciso dar spoiler, mas é claro que a inclusão de alguém especial pode ser um gancho para uma futura continuação. Oremos para que isso não aconteça, pois as ideias parecem já ter se esgotado em termos de história.

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Quem acompanha filmes de terror sabe que é muito difícil inovar no desenvolvimento dos momentos de tensão, sendo ainda mais desafiador bolar sequências que culminem em cenas realmente assustadoras, dado que a plateia já conhece 99% dos truques. Contudo, eis aqui um ponto que vale menção em “Sobrenatural: A Última Chave”. O novo vilão é, de fato, bem assustador, muito mais do que aquele outro de cara pintada.

Não, não se trata de algo tão ousado como “Invocação do Mal 2” ou “IT – A Coisa”, porém as situações mais amedrontadoras levam algum mérito por evitar o óbvio. Parte do trabalho fica por conta da fotografia caprichada, que usa muito bem luz, sombra, fumaça e tons de azul para moldar o além, mas nada de novo se pensarmos nos episódios anteriores.

Aliás, a produção aqui parece ser mais modesta, algo limitado principalmente em função do roteiro. Dado a proporção do “além” visto nos primeiros filmes, os fãs certamente podem estar ansiosos por algo mais ousado, mas não crie expectativas tão altas. Enfim, é uma pena que uma saga com vários episódios tenha seu fim de forma sucinta e pouco convincente. O negócio é apagar as luzes e deixar essas coisas ruins de lado.

Top Secret! Superconfidencial | Trailer oficial e sinopse

Nesta paródia dos filmes de espionagem da Guerra Fria, o cantor de rock americano Nick Rivers vai para a Alemanha Oriental fazer um show que, na verdade, serve como distração para um ataque. Na viagem, ele acaba se apaixonando por uma bela heroína que faz parte da resistência.