Omar Sy - Café com Filme

Crítica do filme Invasão de Privacidade | Ninguém está seguro

Não é de hoje que ouvimos notícias sobre problemas de segurança e privacidade na web, as quais podem ser desdobradas em dezenas de outras com pautas bem preocupantes.

O crescimento no uso das tecnologias tem motivado Hollywood a apostar algumas fichas em temas que abordam tanto a tecnologia quanto a ingenuidade – e até a perversidade – de algumas pessoas.

Uma ideia recorrente é mostrar a grande quantidade de dispositivos e serviços que expõem a privacidade, a qual também é usada na trama de “Invasão de Privacidade”, que ressalta coisas como a dependência dos usuários e perigos extremos aos quais estamos expostos.

O roteiro é centralizado em Mike Regan (Pierce Brosnan), um empresário bem-sucedido que tem tudo: esposa maravilhosa, linda filha adolescente e casa com tecnologia de última geração. Como bom milionário que é, Regan usa e abusa da tecnologia em cada canto se sua vida, inclusive em sua empresa de aviação.

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Sua companhia está prestes a mudar o ramo com um novo aplicativo, mas a coisa já desanda quando nem mesmo o arquivo de PowerPoint funciona direito. Para dar um jeito na situação, o magnata chama Ed Porter (James Frecheville), novo funcionário temporário de TI, para dar uma forcinha na apresentação.

O rapazinho manja dos computadores, o que desperta a atenção de Regan, que não pensa duas vezes em contratá-lo e também pedir uma mãozinha para melhorar o WiFi em casa. O milionário só não imaginava que o jovem aproveitaria as oportunidades para tomar o controle de brechas na vida dele e deixar o jogo perigoso.

Tecnologias de ponta, mas pouco convincentes

Como todo hacker cheio de esperteza, Ed Porter aparece na trama com brinquedinhos de última geração, os quais até são mais sofisticados do que os mais tops do mercado. O cara trabalhou até para a NSA e por isso detém um arsenal de tecnologias fantásticas, prontas para impressionar o espectador e dar o pretexto necessário para o desenvolvimento do roteiro.

Um problema recorrente dos filmes de Hollywood é subestimar a esperteza da plateia, algo que também acontece neste longa. Tudo bem que os roteiristas elaboram textos pensando num público enorme, mas é preciso pensar algumas decisões para não deixar a história pouco inteligente e cheia de brechas, principalmente quando tem tecnologia envolvida.

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É claro que há dificuldades em trabalhar com tecnologias nas telonas, já que cenas no âmbito virtual são complicadas de conversar com situações do mundo real, porém, neste caso, é preciso que a produção dedique algum empenho adicional para a construção dessas ocasiões.

Cenas com interfaces digitais tentam desapegar dos visuais que já conhecemos, mas descuidos trágicos acabam complicando a execução. Cenas malfeitas ou até genéricas deixam o filme um tanto maçante. Outras que tentam impressionar com aparatos acabam não convencendo, pois obviamente é um exagero descomunal só para causar a sensação de perigo.

Há algumas coisas que se salvam e que podem acontecer no mundo real, caso de invasões à distância que podem garantir ao hacker o acesso a vários dispositivos. O modo como isso é executado que incomoda, ainda mais quando há momentos em que o filme divaga com trilhas pouco empolgantes e o jovem hacker digitando qualquer coisa aleatória no computador.

Brechas de lógica no roteiro

O roteiro de “Invasão de Privacidade” é bem previsível, ainda mais com o trailer que revela quase toda a trama. Todavia, há determinadas sacadas no roteiro que tentam ajudar e desenvolver algumas ideias pouco abordadas no cinema ou que simplesmente merecem ser discutidas perante ao atual panorama de segurança no mundo digital.

Primeiro, temos a descaracterização do estereótipo nerd – do tipo gordo, de óculos, tímido e desajeitado –, que vem a calhar na construção do personagem interpretado por James Frecheville, já que quebra padrões e se encaixa de forma mais natural aos acontecimentos do roteiro.

Tecnologias de ponta não salvam um roteiro bem fraco, mas há bons argumentos na trama

Aliás, a construção deste personagem é interessante, uma vez que não temos aqui apenas um nerd. Ed Porter agrega outras características em sua história, algumas até bastante perigosas e outras que visam acrescentar outras temáticas ao filme – não que isso seja feita de forma muito convincente ou inteligente, mas há uma tentativa de ir além do óbvio.

“Invasão de Privacidade” pauta também o debate sobre o descuido nas redes, algo ainda mais recorrente por adolescentes (como a filha de Mike Regan) que compartilham tudo sem tomar o mínimo de cuidado. É como uma crítica à exposição de privacidade que os próprios usuários cometem sem se dar conta.

Entretanto, se por um lado o filme tem alguns acertos, há mancadas incabíveis que deixam o espectador questionando toda a trama. Quem imaginaria que um milionário teria uma equipe de TI tão ruim em sua empresa que está lançando uma nova tecnologia no mercado? E pior, quem poderia imaginar que esse magnata não teria seguranças em casa? Enfim...

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Bom, “Invasão de Privacidade” ressalta uma importante mensagem: ninguém está seguro. Não importa as tecnologias, as senhas, os métodos de segurança. Todos são vulneráveis. O mundo retratado no filme – ainda que falho e com coisas estúpidas – é um espelho do real, em que humanos são protagonistas.

O mal e a inocência reside em nós. Resta saber se você é um elo frágil – que deixa rastros e brechas na web –, alguém controlado ou um vilão. No geral, temos aqui um filme com ideias legais, mas nada de extraordinário que justifique a ida ao cinema. Veja em casa e com a internet desligada!

Tezza: o pai d’O Filho Eterno fala sobre a adaptação do livro para o cinema

É só um livro queridinho virar filme que já começam as especulações. Entre grandes e desvairadas expectativas e aquele bom e velho pé atrás, é quase inevitável que os leitores que já mergulharam na história por meio das páginas na literatura esbocem qualquer tipo de reação quando a película é anunciada.

Mas, vocês já pararam pra pensar sobre o que passa na cabeça do cara que bolou aquela trama toda quando vê suas linhas arduamente construída tomarem forma para além daquela que o leitor vai construir com a ajuda da imaginação?

Essa brincadeira entre haters e lovers das adaptações já gerou bastante confusão entre fãs de sagas como O Senhor dos Anéis, por exemplo, assim como dos tantos títulos de Stephen King. King, inclusive, já se manifestou diversas vezes contra algumas das releituras de seus livros. "O Iluminado" dirigido por Kubrick, por exemplo, foi achincalhado pelo autor.

Aqui no Brasil, volta e meia algum livro também vira filme e o mais recente sucesso das livrarias que foi parar no cinema é o premiado "O Filho Eterno".

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A obra conta a emocionante história de um escritor que espera ansiosamente a chegada do primeiro filho e que descobre que terá de se acostumar com uma nova ideia – ser pai de Fabrício, uma criança com Síndrome de Down. São 12 anos de obstáculos, conquistas e descobertas conduzidas com carinho pelo escritor Cristóvão Tezza.

O que esperar desse relato tão íntimo quando ele escapa das página e vai se fixar em outra superfície, a das películas? Para quem já leu, a pergunta que surge é: como é que o diretor Paulo Machline vai conseguir transmitir todo o sentimento envolvido nas palavras do pai? E será que o autor do livro vai gostar do resultado.

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Bom, a gente foi perguntar a opinião de quem mais conhece essa história toda. O Café com Filme conversou com Cristóvão Tezza pra saber o que ele pensa disso tudo!

Café com Filme: O senhor já teve a oportunidade de ver o filme? O que achou?

Cristóvão Tezza: Sim, vi na pré-estreia no Rio de Janeiro, durante o Festival Internacional. Gostei do filme – é uma ótima narrativa, que segura o espectador do começo ao fim. Marcos Veras está particularmente bom como o pai, assim como Débora Falabella, a mãe, e o menino, Pedro Vinícius, que é uma graça. E achei perfeita a escolha de centrar a história no pai, no seu drama, o que é uma concepção narrativa bastante fiel ao livro.

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CF: Ao leitor de "O Filho Eterno", o livro parece ser muito "seu", parece carregado de um olhar muito pessoal sobre um assunto bastante íntimo. Causa-lhe algum estranhamento a ideia de ter essa história contada nas telonas? Como recebeu essa ideia?

CT: Sou bastante “cuca fresca” com adaptações. O meu trabalho eu já fiz, que foi escrever o livro – a literatura é a minha linguagem. Entendo um filme ou uma peça de teatro baseados em algum livro meu como obras independentes, leituras especiais, individuais, do potencial que está no livro de origem. “O filho eterno”, o filme, é uma obra autoral de Paulo Machline, uma leitura específica, em outra linguagem, do livro que eu escrevi. Assim como a peça de teatro (montada pelo grupo Atores de Laura) é uma obra de Daniel Herz, baseada no meu romance. São leituras bem diferentes, porque são linguagens diferentes. É verdade que, nos dois casos, o roteiro tem uma grande importância, mas é o diretor que lhe dá vida.

CF: Houve alguma participação sua na adaptação? Como consultor, talvez?

CT: Não – desde os anos 1990, quando participei diretamente da adaptação de “Trapo” para o teatro (com direção de Ariel Coelho), faço questão de não participar mais de adaptações. Acho que, como autor, eu seria um péssimo conselheiro. Não tenho a prática viva de roteirista de cinema – e ela é fundamental. E, como escritor do livro, acabo sendo suspeito. É impossível adaptar um livro para o cinema sem modificá-lo muito, sem colocá-lo sobre outra perspectiva. É melhor o desapego ao livro – afinal, minha obra já está inteira nas suas páginas. Um filme é outra leitura.

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CF: Adaptações de livros para o cinema costumam ser polêmicas, no sentido de que muitos leitores exigem uma fidelidade que a diferença de linguagens nem sempre consegue comportar na hora de traduzir uma história literária para um filme. Qual é a sua opinião sobre essa diferença de linguagem?

CT: Como eu disse, são linguagens substancialmente distintas. Vou dar um único exemplo, que me parece cristalino: no romance “Desonra”, a obra-prima do sul africano J.M.Coetze, em nenhum momento o narrador esclarece se os personagens são brancos ou negros (uma informação particularmente relevante em função do histórico racista do país) – ele não dá essa informação ao leitor, e esta “ausência” cria uma tensão especial na leitura. Pois bem, no cinema esta sutileza é absolutamente impossível. É uma variável que a adaptação teve de desprezar.

"O filme cria “outras realidades” que não estão no livro. Isso é absolutamente inevitável."

CF: Existe alguma adaptação que lhe seja especialmente querida nos cinemas?

CT: Gosto de imaginar que a adaptação do romance “O estrangeiro”, de Albert Camus, feita por Visconti, é perfeita. Assisti ao filme em 1968 ou 69 por aí, assim que saiu, e eu tinha acabado de ler o livro. Fiquei fascinado com a fidelidade. Mas nunca mais vi o filme – não existe cópia à disposição em lugar algum.Assim, não posso comprovar, 40 anos depois, se era mesmo tão perfeito assim... Engraçado que, no meu último livro, “A tradutora”, um personagem faz referência a um festival em São Paulo de filmes adaptados de obras literárias, e cita expressamente “O estrangeiro”, de Visconti, como um dos filmes da mostra. Corrigi na ficção esta falha terrível da vida real!...

CF: Em algum momento o senhor já cogitou escrever algo direcionado para esse tipo de linguagem, um roteiro para cinema ou televisão?

CT: Não – a literatura já me ocupa integralmente. Não há mais espaço na minha cabeça para me aventurar em outras linguagens.

Crítica do filme Doutor Estranho | Esqueça tudo que você sabe e divirta-se

O Universo Marvel continua expandindo a cada novo filme, e finalmente é a vez da magia entrar nessa história. Doutor Estranho, como o próprio nome sugere, tem uma história bem peculiar e talvez não seja um nome familiar para aqueles que não acompanham os quadrinhos.

Atenção! O texto contêm diversos spoilers!

Dr. Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) é um renomado neurocirurgião, conhecido por operar casos considerados impossíveis dentro de sua area profissional. Infelizmente sua motivação em remover tumores cerebrais inoperáveis e consertar espinhas dorsais irreparáveis é menos altruísta do que parece. Na verdade o Doutor gosta mesmo é da fama e da fortuna que seu trabalho proporciona, não se importando tanto com os pacientes quanto seu status.

Tudo isso fica bem claro logo na primeira parte do filme, sua arrogância e prepotência são equivalentes apenas a seu talento nas operações. Nesse momento conhecemos a enfermeira Christine Palmer (Rachel McAdams), que trabalha com as emergências do hospital e que além de ser extremamente competente no que faz, havia trabalhado lado a lado com Strange no passado, quando eles tiveram um relacionamento que acabou devido às “qualidades” egoísticas do Doutor.

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Em seguida, dirigindo uma Lamborghini em uma estrada nas montanhas e decidindo se vai pegar um caso que envolve um militar em uma armadura experimental que sofreu um acidente que danificou suas costas (Máquina de Combate em Guerra Civil?), Strange acaba perdendo a direção e é arremessado colina abaixo, mutilando suas mãos na queda. Meses se passam, milhões de dólares são gastos com procedimentos experimentais, mas nada consegue curar seus instrumentos de trabalho.

Em um último esforço para reparar suas mãos e recuperar a fama de habilidoso neurocirurgião, Strange viaja para Kamar-Taj, no Nepal. Lá ele descobre que a Terra vem sendo protegida por séculos por uma sociedade secreta de magos, homens e mulheres responsáveis por manter a ordem natural do mundo e protegê-lo de ameaças sobrenaturais.
Eles são liderados por uma figura que se chama apenas Anciã (Tilda Swinton), que entre outros diversos aprendizes é auxiliada por Barão Mordo (Chiwetel Ejiofor).

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É revelado para Strange, e consequentemente para o público, que o mundo não é tão óbvio quanto parece, e que diferentes planos de existência podem ser acessados para alterar a realidade. Porém, um antigo aluno corrompido pelas forças do mal retorna para ameaçar os portais que protegem a Terra, e Strange precisa decidir se vai usar seus novos conhecimentos a seu favor e voltar a sua vida antiga, ou tomar parte numa guerra interdimensional que provavelmente o levará a servidão e auto sacrifício.

Ampliando um grande universo para o infinito

Acompanhei diversos comentários e críticas a respeito do filme, acusando-o de seguir a “Fórmula Marvel”. Bem, estamos falando de uma sequência de filmes que se propõe a unir heróis distintos da Marvel em um universo compartilhado, iniciado com “Homem de Ferro” em 2008. A razão para seguir essa fórmula é porque ela funciona, e essa familiaridade que ela proporciona ajuda a explorar os conceitos particulares de cada herói sem precisar explicar cada ideia básica em todos os filmes, servindo então de base para contar cada história particular do herói em questão. Então adivinha só, já que é para falar o óbvio: é um filme da Marvel, por isso segue a “fórmula Marvel”.

Sim, é bem fácil traçar um paralelo entre “Doutor Estranho” e o primeiro “Homem de Ferro”. São histórias de origem, explicando como eles viraram heróis. Ambos são bilionários, playboys e gênios, o que os torna arrogantes e egocêntricos. Um acidente faz com que saiam de suas vidinhas perfeitas, exigindo um recomeço.

Stark baseia-se na tecnologia e ciência, Strange descobre a magia e faz o favor de ampliar o já grandioso universo Marvel para dimensões infinitas e poderes cósmicos. Não por acaso, esse é o primeiro filme solo da fase III, contando a origem, introduzindo novos conceitos e preparando o que virá a seguir, que não é pouca coisa.

O diretor Scott Derrickson conseguiu criar uma experiência visual única e personagens cativantes, e apesar das referências aos outros filmes do Universo Marvel, consegue se sustentar tranquilamente como filme solo.

No quesito humor, diversas piadas podem parecer forçadas ou em momentos inoportunos, mas isso também está previsto na supracitada “fórmula”. O carisma de Cumberbatch pode ser novamente comparado ao de Robert Downey Jr, pois ambos possuem um estilo descontraído e natural para seus respectivos personagens, às vezes parece até que eles nem estão interpretando.

Visualmente, esse é sem dúvida o mais interessante até agora. Os efeitos psicodélicos de viagens interdimensionais, cidades sendo distorcidas enquanto as lutas acontecem, um mundo paralelo espelhado em um caleidoscópio e mandalas de energia sendo utilizadas como escudos contra espadas feitas de ar, para falar o mínimo.

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É fácil comparar aos filmes de Christopher Nolan, como Inception e Interstellar, mas Derrickson foi muito além e revelou em sua conta no Twitter que se inspirou em O Gabinete do Doutor Caligari (1920), Viagem Alucinante (2009), 2001 - Uma Odisseia no Espaço (1968) e Viagens Alucinantes (1980) para criar esses efeitos, algo que os cinéfilos vão sacar de cara e agradecer a referência, ou apenas entrar junto na loucura.

As cenas de luta acontecem de diversas formas, nada de armas de fogo ou gente se acotovelando. Aqui vemos verdadeiras danças coreografadas com efeitos de luz surreais. E para sustentar a mágica, diversos apetrechos místicos são apresentados, o que é praticamente parte do conceito do Doutor Estranho nos quadrinhos.

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O famoso Manto de Levitação, que possui vontade própria e acaba proporcionando diversos momentos cômicos, o Olho de Agamotto, que já é importante na história original e se revela ainda mais relevante dentro dos filmes, entre diversos outros itens com nomes fantásticos e funções incríveis, tudo isso servindo para enriquecer ainda mais a história.

E por falar em enriquecer, por ser uma história de origem os coadjuvantes acabam ficando meio de lado, mas nem por isso eles são menos geniais. Karl Mordo (Chiwetel Ejiofor), Christine Palmer (Rachel McAdams), e Wong (Benedict Wong) são personagens que ainda serão explorados nos próximos filmes, por isso acabaram servindo só de suporte.

Já o antagonista Kaecillius (Mads Mikkelsen) conta com a interpretação desse incrível ator, apesar de ser um personagem fraco, assim como diversos vilões dos filmes Marvel (a fórmula, pois é…) ele é apenas uma versão sombria do protagonista. Mas é inegável que ele possui motivações reais, seus atos são sinceros e me pareceu uma ameaça muito maior do que o verdadeiro vilão do filme, e todas as suas cenas são bem cativantes.

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Tilda Swinton como Anciã (em inglês é Ancient One, sem gênero definido), causou muita polêmica entre os fãs puristas, pois o personagem original é masculino e tibetano. Pessoalmente achei o papel impecável, Swinton já é uma atriz consolidada, além de quebrar o modelo de “velho sábio da montanha”, é interessante ver uma mulher num papel de destaque, lutando e manjando dos paranauês sem ser objetificada de nenhuma forma. Além de quebrar a arrogância e ensinar todos os conceitos mágicos para o Doutor Estranho, ela é responsável por diversas lições e até momentos de dúvida moral durante o filme.

O terceiro ato possui o famigerado buraco negro que vai engolir o mundo (sim, a fórmula, não vamos mais falar sobre isso!). Porém, novamente Derrickson distorceu esse conceito e conseguiu utilizar o poder do tempo para recriar a cidade ao invés de destruí-la.

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Apesar de ser uma solução inventiva e um dos momentos mais cômicos do filme, a luta final contra Dormammu me decepcionou um pouco. É um personagem que tem um design bem maneiro, mas virou apenas mais uma cabeça flutuante no espaço, tipo o Zordon dos Power Rangers, ou se quiser mesmo revirar o lixo: Galactus e Parallax, dos filmes Quarteto Fantástico e Lanterna Verde, respectivamente. Entendo que são entidades cósmicas e que não tem como vencê-los no soco, mas não consigo aceitar essa solução visual.

Mas não acredite apenas em minhas palavras, se você não assistiu ainda, junte suas economias e veja em IMAX, pois a experiência visual vale muito a pena. Até o 3D, essa “tecnologia” realmente estranha que tentam nos empurrar goela abaixo está incrível.

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Por fim, é um ótimo filme que deixa o gosto de “quero mais”, de saber o que vai acontecer daqui pra frente ou só vê-lo fazendo alguma coisa que distorça a realidade com um efeito lisérgico. E como já é uma regra (a fórm… ah, parei), o filme possui duas cenas extras.

A primeira é no meio dos créditos, com o Doutor se inserindo de vez no Universo Marvel entrando em contato com um dos Vingadores, e a que passa depois dos créditos de fato mostra o futuro de um personagem aliado se tornando um vilão. Pra quem acompanha os quadrinhos, não é uma grande novidade, mas é interessante ver que não será subaproveitado.

Em tempo, a presença obrigatória de Stan Lee sempre divertida, aqui é um easter egg a parte. Ele está lendo "As Portas da Percepção" de Aldous Huxley, sobre estados alterados de consciência que abrem a percepção para o infinito, e o próprio Stan Lee ri sobre essa loucura. Então esqueça tudo que você sabe e vá praticar sua visualização de portais!

Depois da Tempestade | Trailer legendado e sinopse

Ryoda, um escritor em decadência que desperdiça o pouco dinheiro que ganha como detetive particular em jogos de azar, mal consegue pagar a pensão alimentícia de seu filho. Sua mãe, sua linda ex-mulher e seu jovem filho estão seguindo seus caminhos, enquanto Ryota luta para retomar o controle de sua vida e reconquistar o amor e respeito de sua família. Até que uma noite de verão tempestuosa oferece a oportunidade que ele precisava para reatar esses laços.

John Wick: Um novo dia para matar | Trailer legendado e sinopse

O lendário John Wick é forçado a deixar a aposentadoria em função de um criminoso que conspira para tomar o controle de um clã de assassinos internacionais. Por causa de um pacto de sangue, John Wick viaja para Roma com o objetivo de ajudar um velho amigo a derrubar a organização internacional secreta, perigosa e mortal de assassinos procurados em todo o mundo.

Crítica do filme Inferno | Um símbolo despretensioso para a sua época

Quando foi lançado há 13 anos, o romance policial do escritor norte-americano Dan Brown, O Código Da Vinci, se tornou um marco na literatura mundial, e virou um best-seller em poucos meses. 

A temática ficcional que mistura suspense com religião chocou a comunidade cristã por propor uma história diferente de Jesus Cristo e de segmentos do cristianismo presentes na bíblia sagrada. Além disso, a linguagem fácil e estrutura de capítulos pequenos, divididos em duas ou três páginas, colaborou para propagar a fama do trabalho, tanto para bom, quanto para ruim. 

Após três anos, em 2006, tivemos a adaptação cinematográfica da obra, pelo diretor Ron Howard e grande elenco. A grande bilheteria, embalada pelo sucesso (e polêmica) do livro garantiu logo em 2009 a primeira sequência nas telonas, Anjos e Demônios – segundo livro sobre as aventuras do professor Robert Langdon – e também mais continuações literárias da franquia pela mão de Dan Brown. 

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Após esse salto de sete anos, Ron Howard e sua equipe de produção retornam para a terceira adaptação, dessa vez de Inferno, que é na verdade o quarto livro da saga, pulando o capítulo O Símbolo Perdido. De acordo com o próprio diretor, a escolha foi pela facilidade de adaptar o roteiro de Inferno, ao contrário de seu antecessor. 

A vida de Robert Langdon vira um Inferno

Se você não está familiarizado com o tema de Inferno, aqui vai uma breve sinopse. Ele é basicamente o mesmo dos outros filmes, focando na caça por segredos e antiguidades raras, porém com leves mudanças nos enigmas e obras de arte. 

Dessa vez sai o retrato da Mona Lisa e a andança no Vaticano pela correria por Florença e Istanbul. Os vilões também mudam: saem Opus Dei, Cavaleiros Templários e os illuminati para a entrada de... milionários ultrarradicais terroristas?!

O suspense integra a obra literária Inferno, do il sommo poeta da língua italiana, Dante Alighieri. Robert Langdon acorda num quarto de hospital em Florença, sem memória do que aconteceu nos últimos dias. A partir daí o professor se envolve em uma séria de confusões e planos mirabolantes para exterminar a raça humana com um vírus mortal, o qual só ele pode parar com seus conhecimentos sobre a obra magistral de Dante e sobre as entradas secretas nos museus italianos. 

Mesmo sem ter grandes nomes do circuito comercial, o filme tem uma boa equipe de atores. Tom Hanks retorna para o papel principal, ao lado de sua fiel companheira feminina, que dessa vez é interpretada por Felicity Jones. Os atores Omar Sy, Ben Foster e Irrfan Khan completam o rol de atuação principal. 

É interessante notar que o começo do filme empolga mais que o final. Ele busca se distanciar dos outros capítulos da franquia adicionando um ritmo frenético com cenas de ação sem explicação nenhuma, com a ideia de te puxar para o inferno próprio, sem fôlego e com muito suor. A mescla de cenas no presente com flashbacks aterrorizantes e obscuros do passado intensificam a proposta. E consegue o seu resultado, mas por pouco tempo. O início ‘quente’ dá lugar a um desenrolar e conclusão frios ao longo de 2 horas. 

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O inicial impactante vai se perdendo ao passar dos minutos, e logo se encontra na estrutura original das histórias de Dan Brown. Assim, a descoberta dos segredos do mapa do Inferno pintado por Sandro Botticelli acaba se tornando banal pelo desinteresse do próprio filme em si. 

O Inferno não é tão ruim assim

Salvo uma ou duas cenas de aula de história do prof. Langdon, na qual ele explica que o conceito atual de inferno vem diretamente da obra artística de Botticelli ou que o significado de quarentena remete à peste negra em Veneza, o longa não se encontra como suspense baseado em fatos históricos, ficando se balançando entre um blockbuster de ação e aventura de sessão da tarde. 

Se você é fã das aventuras do prof. Robert Langdon e de Dan Brown, Inferno é uma boa sugestão de entretenimento. Porém, para uma franquia que começou com a polêmica de questionar a divindade de Cristo e misturar religião com ciência, trazendo vários debates interessantes à tona, o terceiro filme da trilogia passa longe de se tornar qualquer ponto de discussão. Essa é uma história rumo ao ostracismo ideológico.