Stan Lee - Café com Filme

Crítica do filme Rainhas do Crime | Um desfavor sublime

O feminismo é uma pauta que — se não está em seu auge — está numa tendência crescente, o que tem levado a indústria cinematográfica a apelar para qualquer oportunidade de fazer uma graninha em cima do tema. Assim, a cada pouco temos um novo título que chama a atenção, seja pela pegada do empoderamento ou pela aposta em um elenco caprichado de Hollywood.

A produção da vez que apela para o comercialismo das mulheres fortes é “Rainhas do Crime”, um filme baseado em uma história em quadrinhos publicada em 2015 pela Vertigo (uma subdivisão da DC Comics). Trata-se de um título que não apenas abusa dessa temática, como ainda traz Melissa McCarthy, Tiffany Haddish e Elisabeth Moss como protagonistas.

Na história de “Rainhas do Crime”, acompanhamos três donas de casa, que residem na Nova York de 1978, mais especificamente no bairro de Hell’s Kitchen (daí o nome da HQ, inclusive). Occorre que seus maridos mafiosos são mandados para a prisão pelo FBI, de modo que elas ficam na dependência dos outros integrantes da máfia irlandesa.

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Todavia, ao perceber os problemas do bairro, elas decidem fazer um esquema diferente para conseguir uma grana para suas famílias. Assim, num plano mirabolante, elas aos poucos assumem as rédeas do grupo de criminosos, mas é claro que elas vão ter que lidar com vários marmanjos no meio do caminho, principalmente os comparsas de seus maridos.

Nadinhas no crime

Talvez a história dos quadrinhos seja diferente da que é contada no cinema, mas se formos falar apenas da adaptação para as telonas, o roteiro de “Rainhas do Crime” não tem nada de extraordinário. Na verdade, trata-se de uma simples história de máfia em que mulheres tomam o comando da parada, mas não que isso seja uma mensagem incrível do feminismo.

Na verdade, se for pensar bem em empoderamento, este filme vai até quase na contramão da pauta. Primeiro que temos esposas submissas, que nunca se impuseram e que só aproveitam uma oportunidade para fazer dinheiro, de modo que o capital parece mais importante do que a mensagem do feminismo. MAS ok, eu sei que o filme que se passa na década de 1970.

Todavia, eu acho que dá pra ver que falta muita substância para conseguir convencer o público e entregar a mensagem da melhor forma possível. Mesmo que as protagonistas tomem o controle, elas ainda dependem de outros capangas (homens, claro) e se submetem à vontade de outros homens (que você vai entender no decorrer da história).

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Aliás, é interessante pontuar que a gente está falando de uma ficção, então eu não sei qual era a dificuldade de fazer um roteiro coerente e colocar elas como poderosas, em vez de cair em clichês permeados por fofocas, histeria e vinganças baratas. A história até que tenta dar uns dribles com algumas surpresas, mas no fim acaba não convence e talvez até insulte em alguns pontos.

Mais uma produção DC

Se por um lado o roteiro de Andrea Berloff decepciona pelos clichês, a direção dela surpreende em vários aspectos. A cineasta parece beber da fonte de outros filmes da DC Comics, com cenas áreas que ousam mostrar a Nova York antiga e enquadramentos que realmente nos colocam nas ruas perigosas de Hell’s Kitchen.

Infelizmente, muitas cenas de ação acabam ficando apenas para personagens masculinos, mas aí novamente é uma cagada do roteiro. As cenas com as protagonistas passam muito mais um tom de glamour e respeito, do que de medo, algo que seria bem-vindo num filme sobre as donas da máfia.

A tonalidade geral do filme é um sépia que serve bem pra datar a película, algo que é obviamente reforçado pelo trabalho exemplar de cenário — e eu sempre fico impressionado com esse tipo de coisa, porque é muito difícil reproduzir uma Nova York antiga, mesmo com estúdios grandes — e figurino, que acompanha a transição das protagonistas.

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Não temos lá grandes efeitos especiais por se tratar de um filme mais pé no chão, mas o trabalho é competente e casa perfeitamente com a boa qualidade sonora, que combina bem os ambientes da época com trilhas icônicas. Enfim, uma típica produção DC, no melhor sentido da coisa: sombria, séria, luxuosa e convincente.

Enfim, boa direção, boas atrizes (mas que fazem só o "arroz com feijão") e boa produção, mas sem um roteiro convincente. Se você quer ver um filmão de feminismo, pode segurar os cavalos aí, porque “Rainhas do Crime” é mais uma obra na pegada de “As Viúvas”, ou seja, não é ruim no todo, mas está longe de alcançar o potencial que a gente imagina de um filme desse naipe. Minha dica: pode esperar pra ver em casa.

Assassinos de Guerra | Trailer legendado e sinopse

No ano de 1944, um grupo de soldados americanos fica conhecido como "The Filthy Thirteen" por terem se tornado um problema crescente para seus superiores, desobedecendo ordens atrás de ordens. Até que esses oficiais rebeldes são selecionados para integrarem a primeira unidade a saltar de pára-quedas atrás das linhas alemãs, durante a invasão da Normandia.

Barrados no Shopping | Trailer legendado e sinopse

De Kevin Smith, o aclamado director, vem esta estória singular de dois vadios, Jeremy London e Jason Lee, que passam todo o tempo metidos no shopping. Quando Brodie (Lee) é abandonado pela namorada, Shannen Doherty, ele se muda para o shopping com o amigo T.S. (London), cuja namorada também o deixou. Entre reflexões profundas e visitas à praça de alimentação, o desmotivado duo decide reconquistar as namoradas com a ajuda dos mais modernos delinqüentes, Silent Bob (Kevin Smith) e Jay (Jason Mewes), cujas aventuras constantes dão à palavra "incômodo" um significado completamente novo.

Crítica do filme Homem-Aranha: Longe de Casa | Curtindo férias frustradas

"Homem-Aranha: Longe de Casa" é a conclusão da Saga Infinita e o que começou com o primeiro "Homem de Ferro", finalmente, se encerra. Pelo menos até a próxima fase, que promete ser ainda mais grandiosa que a anterior. Peter Parker (Tom Holland) e seus amigos estão em férias pela Europa, mas eles não vão conseguir descansar.

Peter terá que desvendar o mistério de criaturas que causam desastres naturais e destruições pelo continente, enquanto lida com a perda de seu grande mentor Tony Stark (Robert Downey Jr.). Ele contará com a ajuda de uma nova figura heróica apelidada pelos jornais de “Mysterio”, também conhecido como Quentin Beck (Jake Gyllenhaal).

Apresentando-se como um misterioso guerreiro de uma dimensão paralela muito parecida com a “nossa”, responsável por batalhar contra os Elementais, um grupo de monstros horríveis baseados nos quatro elementos. Beck conta que seu mundo foi dizimado por essas criaturas, mas foi capaz de escapar até outra dimensão a tempo de prevenir a catástrofe novamente. Vale mencionar que Jake Gyllenhaal eleva um personagem que usa um aquário na cabeça a um novo patamar, incrivelmente carismático e divertido com todas as suas particularidades.

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Nick Fury (Samuel L. Jackson) acredita na história do misterioso e simpático herói e resolve ajudar, visto que a Terra pode estar em grande perigo e tentar prevenir o fim do mundo faz parte do seu dia a dia. Para tal empreitada, ele convoca nosso garoto aracnídeo, que prefere passear com seus amigos na Europa do que salvar o mundo. Mas a SHIELD tem métodos bem eficazes de persuasão e Peter acaba aceitando a missão, indignado por nenhum outro Vingador estar disponível.

Seu amigo da vizinhança

Aliás, tudo isso se passa após os eventos de “Vingadores: Ultimato”. Ou seja, metade da população foi apagada e restaurada cinco anos depois, evento carinhosamente chamado de “Blip”, então universos paralelos parecem plausíveis após essa loucura toda. A primeira cena já vai cativar seu coração, servindo como homenagem para aqueles que já se foram e dando o tom humorístico esperado para um filme do Homem Aranha. As consequências do “Blip” são explicadas logo de cara, de forma descontraída mas sem parecerem bobas.

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Quando “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” foi lançado, comentou-se bastante sobre como o filme não era tão influenciado por outros filmes do gênero "heróis", mas principalmente de longas no estilo do diretor John Hughes, como “Clube dos Cinco” e “Curtindo a Vida Adoidado”. Distanciando-se das versões anteriores (principalmente a de Andrew Garfield), Peter era apenas um garoto tentando conciliar uma vida normal, indo para escola, morando com sua Tia May (Marisa Tomei) e talvez salvando a vizinhança com seus poderes de Aranha. Provavelmente a maior qualidade do diretor Jon Watts ainda seja seu trabalho com o elenco jovem e com o clima despojado de uma comédia adolescente.

Agora, depois de ir para o espaço, entrar para os Vingadores, enfrentar vilões com poderes imensos, sem contar os cinco anos que se passaram, é difícil voltar a uma vida pé no chão sem se preocupar com as futuras ameaças, principalmente sendo praticamente forçado a se tornar “o novo Homem de Ferro”.

Spiderman, Spiderman, does whatever a spider can

Eu tive que pensar durante um tempo e apesar de ter gostado MUITO do filme, alguns pontos me pareceram bem fracos ou forçados demais. Em “De Volta ao Lar” a direção de Jon Watts não parecia muito confiante nas cenas de ação, apesar de todo o excelente trabalho de Tom Holland, mas em “Longe de Casa” tudo parece mais ambicioso e bem encaixado, exceto se comparado ao “Aranhaverso”, uma comparação quase inevitável, apesar das mídias distintas. Apesar disso os efeitos visuais estão excelentes, e as cenas de ação evoluíram muito.

O que me incomodou realmente foram algumas soluções do roteiro propostas por Chris McKenna e Erik Sommers. Algumas são convenientes demais para serem críveis, mesmo se considerarmos o universo fantástico em que o longa se insere. Sem dar spoilers fica difícil explanar, mas um exemplo é após uma batalha especialmente difícil, Beck e Parker vão até um bar para beber.

Eles simplesmente tiram a máscara e conversam sobre “assuntos heróicos”, enquanto as pessoas ao seu redor não prestam a menor atenção a eles. O desenvolvimento da cena pode justificar a situação, mas é apenas uma das situações de que tudo é conveniente demais, assim como a utilização da tecnologia em momentos cruciais da trama.

Nos dias de hoje, as pessoas acreditam em qualquer coisa

Peter só quer curtir suas férias na Europa com seu amigo Ned (Jacob Batalon) e planeja se declarar para MJ (Zendaya), mas as circunstâncias forçam ele a ser muito mais Homem Aranha do que Peter Parker. Estando em um estado de negação e luto, ele torna-se suscetível a qualquer um que queira se aproveitar dessa vulnerabilidade emocional, um dos pontos chaves da trama. Enfim, prepare-se para grandes surpresas e desconfie de tudo.

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“Longe de Casa” é um filme sobre legados e o peso de nossas ações. Apesar de apresentar uma história mais contida e pessoal, a sensação de que o longa serve como mais uma peça no enorme quebra-cabeça do Universo Marvel é inevitável. Não que isso seja algo ruim, já que ainda podemos ver Peter Parker em uma excursão escolar pela Europa junto com seus amigos, se apaixonando, talvez indo para a faculdade?

Porém, com grandes poderes vêm grandes responsabilidades, e depois de ver as duas cenas pós-créditos o futuro é tão incerto que independente do rumo da próxima fase Marvel, estaremos lá. Você vai acreditar em tudo o que eu disse ou vai conferir com os próprios olhos?

Entre Facas e Segredos | Novo trailer legendado e sinopse

O aclamado escritor e diretor Rian Johnson (Looper, O Último Jedi) homenageia a mentora do mistério Agatha Christie em KNIVES OUT, um mistério de assassinato divertido e moderno, onde todos são suspeitos. Quando o famoso romancista especializado em crimes Harlan Thrombey (Christopher Plummer) é encontrado morto em sua propriedade logo após seu 85º aniversário, o detetive Benoit Blanc (Daniel Craig) misteriosamente se alista a investigar.

Da família disfuncional de Harlan à sua equipe dedicada, Blanc examina uma teia de mentiras falsas e mentiras para descobrir a verdade por trás da morte prematura de Harlan. Com um elenco de estrelas, incluindo Chris Evans, Ana De Armas, Jamie Lee Curtis, Don Johnson, Michael Shannon, Toni Collette, LaKeith Stanfield, Katherine Langford e Jaeden Martell, KNIVES OUT é uma espirituosa comédia policial, com uma eleganacia que seguramente manterá o público adivinhando até o fim.

Crítica do filme MIB: Homens de Preto – Internacional | Não seja neuralizado

“Homens de Preto” de 1997 deve seu sucesso a inesperada química entre os atores Will Smith e Tommy Lee Jones, juntamente de um conceito interessante inspirado livremente nos quadrinhos de Lowell Cunningham. A ideia de uma agência secreta protegendo a Terra de alienígenas é simples e eficaz, além de ser pautada em diversas teorias da conspiração que retroalimentam os filmes e tornam qualquer evento estranho envolvendo celebridades ou cultura pop potencialmente uma cena em que Homens de Preto vão pedir para você olhar para um dispositivo e apagar sua mente.

As sequências de 2002 e 2012 não agradaram tanto quanto o original, ainda que Homens de Preto 3 tenha seus momentos graças a dupla Will Smith e Josh Brolin, interpretando uma versão mais jovem do personagem de Tommy Lee Jones. Em "MIB: Homens de Preto – Internacional", uma tentativa de recomeçar a franquia expandindo o universo para além dos Estados Unidos, utiliza a mesma fórmula básica com dois novos agentes, H (Chris Hemsworth) e M (Tessa Thompson), trabalhando na agência de Londres.

Tudo começa com a pequena Molly (Thompson) encontrando um alien e deixando ele escapar dos Homens de Preto. Sua família conseguiu ser “neuralizada”, mas Molly conseguiu manter as lembranças do encontro com o pequeno et. Intrigada pelo acontecimento, ela dedica sua vida a encontrar e descobrir quem são os agentes e finalmente tornar-se uma recruta.

Com muita dedicação, esforço e sorte, Molly é recrutada pela Agente O (Emma Thompson) para um período de testes, sendo enviada para a agência de Londres. Porém, seu treinamento praticamente não é mostrado e quase sempre ela parece preparada para o que a situação pede, como saber exatamente como uma arma funciona e nunca errar um tiro. Apesar de ser mais uma escolha do diretor do que uma falha propriamente, boa parte da graça de Homens de Preto é aprender com os erros dos agentes, mas não é nada de grave, apenas uma escolha para pular diretamente para a ação.

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A zoeira fica por conta de H, um agente experiente que faz tudo do seu jeito, raramente seguindo as regras e que é praticamente um herói na agência após enfrentar um misterioso alienígena chamado ”A Colméia”. Após esse evento, algo mudou em H, o filme vai te lembrar constantemente disso, e agora ele é uma espécie de playboy que tem muita moral com o chefe da divisão de Londres, o agente Grande T (Liam Neeson).

Difícil saber o quanto vem do roteiro ou simplesmente improviso dos atores mas certamente o carisma de Thompson e Hemsworth são o que carregam o filme. Todas as cenas são divertidas sem parecerem forçadas, claramente os dois estão bastante confortáveis nos papéis, quase que agindo naturalmente e não interpretando.

O clima de conspiração mundial e espionagem lembra muito os filmes do James Bond. As coreografias das lutas e sequências de ação são ótimas e as novas espécies de alienígenas são utilizadas com todo seu potencial. O design dos ets são interessantes e criativos, ainda que eu sinta falta de mais efeitos práticos e menos computação gráfica. Ao contrários dos vilões esquisitos e marcantes dos filme anteriores, agora os antagonistas são dois gêmeos (Laurent e Larry Nicolas Bourgeois, dançarinos conhecidos como Les Twins) que praticamente não falam e só ficam ali sendo lindos (porque suas formas verdadeiras são duas nebulosas bem espetaculares), dançando e moldando materiais em armas letais.

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Outro exemplo é o pequeno alien de uma raça baseada em peças de xadrez, Pawny (dublado por Kumail Nanjian). Colocado ali para ser um apelo para as crianças e um alívio cômico desnecessário, foi a única coisa que me incomodou de verdade no longa, desde seu design até sua presença nas cenas. Vale mencionar também todo o trabalho na divulgação e localização do filme, inserindo personalidades de diversos países como se fossem extraterrestres. No nosso caso, temos Sérgio Mallandro e suas loucuras em um das cenas no filme, além de dois comerciais que você pode assistir aqui.

Seguindo a mesma fórmula dos anteriores, a história deixa um pouco a desejar. Algumas cenas parecem arrastadas enquanto outras terminam abruptamente, principalmente o final que é bastante acelerado. A relação entre H e seu mentor Alto T é explorada de forma bastante superficial e é difícil dar uma importância ou sentido emocional quando nada é mostrado, apenas mencionado.

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MIB Internacional pode não ser perfeito, mas não precisa. O roteiro tem falhas, alguns personagens não têm seus arcos finalizados e o final talvez seja apressado demais. Entretanto, é um ótimo filme para apenas assistir e divertir-se sem muita pretensão, exatamente como os originais. Pautado totalmente no carisma e química de Tessa Thompson e Chris Hemsworth, é uma ótima sequência da franquia especialmente para as novas gerações, com potencial para boas continuações e spin-offs, quem sabe com um pouco mais de ousadia e originalidade, mas com certeza vale a ida ao cinema.