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Crítica do filme A Primeira Noite de Crime | Crítica social foda!

Já faz cinco anos que os cidadãos de todo o mundo esperam ansiosamente por novos capítulos da franquia “Uma Noite de Crime”. Mais recentemente, os produtores resolveram se arriscar e trazer mais histórias que compõem este universo um tanto sádico, macabro e dramático.

Neste ano, tivemos duas gratas surpresas: uma série exclusiva da Amazon Prime Video e, agora, um novo episódio que chega aos cinemas e conta a origem dessa ideia inusitada e um bocado perigosa — ainda mais em tempos de governos extremistas e que buscam soluções muito questionáveis.

Para quem caiu de paraquedas neste campo de guerra urbano, vale uma introdução. O expurgo (palavra proveniente do título original, “The Purge”) é um evento anual que visa reduzir a taxa de criminalidade ao longo do ano. Trata-se de uma única noite (de 12 horas) em que os cidadãos podem cometer qualquer tipo de crime sem penalidades.

O evento já consolidado nos demais filmes é bastante apreciado pelo público, mas até então não tínhamos uma ideia clara de como se deu a primeira faísca para uma prática tão absurda. No filme “A Primeira Noite de Crime”, finalmente podemos ver quem encabeçou esta teoria sociológica e como os primeiros participantes reagiram a tal proposta.

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A visão principal se dá sob a ótica de Nya e seu irmão Isaiah, que moram num bairro pobre e, de repente, descobrem sobre essa barbárie autorizada pelo governo. Paralelamente, acompanhamos outros tantos casos de cidadãos que topam participar do evento, quando os realizadores oferecem 5 mil para quem conseguir sobreviver ao experimente e bônus para quem participar ativamente.

A arte imita a vida

A primeira coisa bastante interessante deste episódio da franquia é o debate que o filme traz à tona, afinal cada indivíduo do público-alvo tem concepções diferentes — e possivelmente acompanha o desenrolar da história por interesses distintos. Muitos adoram o clima de terror desta ficção, outros gostam do drama de situações tão perigosas e há quem aproveite o filme para uma reflexão.

Particularmente, eu gosto da mistura proposta pelos filmes da franquia, mas principalmente pela verossimilhança com os recentes “debates” (que mais parecem um circo) com discursos marcados pela violência como solução para a… violência. Pois é, não é de hoje que uns e outros buscam soluções fáceis para problemas bem mais complexos.

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De qualquer forma, seja no mundo real ou na telona, a violência é uma pauta recorrente e, querendo ou não, muitas das vezes as pessoas chegam à conclusão de que situações extremas exigem medidas extremas. Este é justamente o ponto central do roteiro de “A Primeira Noite de Crime”. Os poderosos desistem do governo e tentam um extermínio dos pobres pelos próprios pobres. E por mais louco que isso possa soar, não é algo tão distante na cabeça de muitas pessoas.

A ficção, ainda que um tanto absurda, não está longe de algumas falas — que empregam termos como “cidadão de bem” e “família tradicional” —, as quais colocam um estereótipo irreal acima de outrem, como se alguns fossem mais humanos do que outros. E aqui podemos incluir no panorama os cidadãos que se julgam parte desse grupo superior e que assinam embaixo qualquer proposta que possa acabar a violência — mesmo que a solução seja liberar armas para todo mundo se matar.

Na vida real, isso implica em consequências terríveis e, como um reflexo do mundo, o filme mostra com detalhes o potencial destrutivo e odioso do ser humano. Como um espectador, é fácil ficar enojado e com um sentimento de repulsa pelos canalhas por trás do poder. Por outro lado, ao se colocar no lugar das vítimas, o filme propõe um olhar amedrontador: o terror de não sobreviver numa guerra provocada pelo alto escalão.

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Em um terceiro olhar, temos a oportunidade de perceber como uma situação tão extrema poderia colocar criminosos de todos os tipos, psicopatas, grupos paramilitares, milícias, políticos e ricos juntos para combater e extinguir um único inimigo em comum: o pobre indefeso que “suga” os recursos governamentais, que cada vez ganha mais direitos, que ocupa novos lugares de fala e que, na cabeça destes lunáticos, representa uma ameaça para os poderosos.

O medo toma conta

Quem acompanhou os outros filmes do expurgo sabe que há vários olhares possíveis do evento: desde uma família trancada em casa, passando por grupos resistentes que se organizam para sobreviver até chegar em situações de muita tensão com bandidos mascarados aterrorizando cidadãos indefesos.

A Primeira Noite de Crime” se apoia justamente nessa diversidade de perspectivas para mostrar os protagonistas da história, que interagem com tantos outros personagens e grupos, enquanto tentam sobreviver às terríveis doze horas de agonia. O roteiro se apoia em algumas situações um tanto frágeis, que são facilmente questionadas pelo espectador, mas temos de considerar que as pessoas tomam decisões burras em situações de vida ou morte.

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Assim, ainda que a história seja um tanto fraca e que muitas ideias sejam difíceis de engolir, o filme tem algum sucesso ao criar uma empatia da plateia com os personagens. Muito dos acertos está no tom severo da violência, que nos provoca inúmeras sensações, afinal nunca sabemos a reação dos criminosos, quem está por trás das máscaras e qual será a tática de atuação dos bandidos.

Nesse ponto, a franquia sempre foi bem-sucedida e continua genial. A composição dos cenários, o figurino criativo com tantos disfarces e fantasias, bem como o modus operandi dos psicopatas são aspectos que merecem atenção, pois surpreendem a cada instante. É na somatória desses pontos que o filme funciona legal, ainda mais com a ação desenfreada de alguns combates, bem embalada por raps devidamente pensados para o ambiente periférico.

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No fim do dia, entre mortos e feridos, a franquia continua funcionando e este filme deve ser um adendo apropriado para dar mais substância ao ritual do expurgo. Contudo, já deixo um alerta: há alguns exageros, personagens bizarros e muitos atos desnecessários no script. Vale lembrar que a Noite de Crime não é uma franquia de terror que pretende ser imaculável, então não espere muita coerência ou atuações excelentes, pois o negócio aqui é ver o circo pegar fogo.

Boa sorte e bom expurgo!

Crítica do filme PéPequeno | A ignorância é uma benção

Todo mundo adora um bom filme de animação, já que normalmente são para todas as idades. Em “PéPequeno” um mito bastante popular é revisitado e de certa forma recriado, onde o lendário Pé Grande encontra algo que para ele não existia, um simples humano.

A mais recente produção da Warner Animation Group tem como protagonista o Yeti chamado Migo (Channing Tatum), também conhecido como Abominável Homem das Neves. Na verdade ele não tem nada de monstruoso, toda a sua espécie vive de forma pacata e feliz em uma comunidade isolada no topo do Himalaia, todos cumprindo regras que foram escritas em pedras sagradas há muitos anos.

Todos os questionamentos são desencorajados, pois, de acordo com as escrituras, “a ignorância é uma bênção”. O líder da comunidade é conhecido como Guardião da Pedra e possui um manto com todas as leis, que previne qualquer pensamento diferente do que já está imposto.

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Acontece que após um acidente, Migo encontra um “Pé Pequeno”, algo previsto nas “pedras da lei” como algo que absolutamente não existe. Sem saber como agir frente a algo inesperado, Migo tenta convencer os outros Yetis, mas não consegue nenhuma prova física.  É claro que se isso for verdade, significa que uma das pedras sagradas está incorreta, e o que garante que apenas uma delas não é verdadeira?

 “Não se trata de apenas abandonar as velhas ideias. É sobre encontrar ideias novas”.
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“PéPequeno” possui um humor focado no público mais infantil, com piadas óbvias e situações facilmente emprestadas de desenhos animados, como quedas e gritos engraçados, por exemplo. Apesar dessa característica, que difere de animações mais populares (como as da Pixar), o filme traz discussões interessantes principalmente na mensagem por trás da história.

Toda a questão em torno das regras inquestionáveis escritas em pedra propõem uma crítica às crenças cegas, fanatismo religioso e até mesmo as intenções verdadeiras dos governantes, e o quanto isso é prejudicial para o desenvolvimento de uma sociedade.

O longa é embalado por músicas que infelizmente não ficaram boas na versão dublada. Um exemplo é a releitura de Under Pressure da banda Queen, aqui performada por James Corden, que empresta sua voz ao Pé Pequeno Percy Patterson. A canção dublada simplesmente não faz sentido e é apenas incômoda, assim como todos os momentos em que eles resolvem cantar.

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A qualidade da animação não deixa a desejar. O design das criaturas, que possuem variações interessantes entre si, é excelente. Destaque para os pelos sedosos de todos os Pés Grandes, além da ambientação das cidades nas neves, tudo muito elaborado. Vale citar também a utilização das cores, sempre mantendo o clima positivo que a trama pede.

No geral, “Pé Pequeno” não inova, mas é uma boa pedida para as crianças. Manter a mente aberta, questionar as ideias mas sempre respeitar as diferenças, são mensagens sempre relevantes e que são transmitidas de forma divertida.

Crítica O Mistério Do Relógio na Parede | Magia para uma nova geração

Você que tem seus vinte e tantos anos ou quase trinta provavelmente deve se lembrar com carinho de filmes como “Gasparzinho”, “A Família Adamms” e “Edward Mãos de Tesoura”. Esses e outros tantos títulos marcaram época com inúmeras exibições na Sessão da Tarde.

Eram obras com uma pitada de suspense, um bocado de magia e uma boa dose de comédia. Uma receita equilibrada com esses elementos, que nos fazia acreditar no lúdico e nos encantava na mesma proporção em que, às vezes, nos assustava.

De lá para cá, uma ou outra obra conseguiu trazer o tom de mistério de volta às telonas, mas já fazia algum tempo que não víamos essa magia enchendo os olhos das crianças — e de alguns adultos, é claro. Assim, a chegada de “O Mistério Do Relógio na Parede” aparece como um passe de mágica para nos encantar com um belo universo cheio de surpresas.

Na história deste filme, conhecemos o pequeno Lewis (Owen Vaccaro), um menino de apenas 10 anos, que acaba de perder os pais e vai morar com seu tio Jonathan Barnavelt (Jack Black). O que o jovem não tem ideia é que seu tio e a vizinha da casa ao lado, a senhora Zimmerman (Cate Blanchett), são, na verdade, feiticeiros.

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Agora, conforme o garoto descobre alguns segredos de seus novos amigos, ele também acaba sendo devorado pela enxurrada de novidades da sua nova casa. No meio de tantas novidades, fica um mistério incômodo: um tique-taque constante que parece vir de dentro das paredes. O que seria este barulho? O que seu tio anda escondendo?

Surpreendentemente encantador

Bom, sem entrar muito no mérito da história, é bom ressaltar logo de cara que “O Mistério Do Relógio na Parede” é um filme bonito, que nos faz querer fazer parte deste universo de feitiços. Assim como o jovem Lewis é levado a novas descobertas, a plateia também é tomada de surpresa por cada situação que ocupa um espacinho no roteiro.

Com efeitos especiais competentes e uma direção que colabora para mostrar esse lado místico da casa do tio Jonathan, o filme consegue prender nossa atenção a todo instante e dar alguns sustos bem legais a cada novo cômodo explorado na residência. É claro que o fator novidade contribui muito também, afinal não estamos falando de um episódio de uma franquia.

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Agora, se roteiro e direção conversam bem para a magia funcionar, é a direção de arte e a fotografia que fazem o truque acontecer de verdade. O trabalho na concepção dos cenários, no figurino e na maquiagem torna o resultado final simplesmente incrível. Com uma mistura afinada de cores vivas e penumbras, o clima de suspense se torna convidativo e charmoso.

É bom notar, contudo, que as reviravoltas do roteiro não mantêm o espectador refém no mesmo ambiente, de modo que somos levados a conhecer outros cenários sinistros da história. O clima não é de terror, sendo que o filme deve ser tranquilo para crianças com mais de 10 anos e ainda bem aceitável para os mais velhos.

Magia divertida e animadora

A produção de “O Mistério Do Relógio na Parede” é suficiente para nos conquistar nos detalhes, mas é a história com boas surpresas — apesar do ritmo descompassado — e as boas atuações que deixam o resultado final ainda mais consistente.

A história é quase que toda centrada em Lewis, o que acaba sendo um tanto maçante pelo personagem um tanto carente e repetitivo em suas ações. O ator mirim Owen Vaccaro também não é alguém tão carismático, o que acaba deixando a gente até um tanto impaciente para ver capítulos mais emocionantes.

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Todavia, o garotinho é bem curioso e quando contracena com a dupla Cate Blanchett e Jack Black, temos uma história conduzida de forma magistral, sem deixar o script cair no tom de monotonia. O resultado é um filme que tem altos e baixos, mas que ainda deve convencer pelo tom atraente da magia, do inusitado, do novo.

No fim das contas, “O Mistério Do Relógio na Parede” pode não ser um filme genial, mas é uma boa pedida para a criançada e deve ser um filme que vai conquistar gerações futuras ao fazer parte do catálogo da Sessão da Tarde. Uma boa pedida para relembrar bons tempos de filmes fantasiosos com um toque de novidade e comer uma pipoquinha com a família.

Critica do filme O Predador (2018) | As definições de porradaria foram atualizas

Mesmo lá atrás, nos saudosos anos 80 — quando músculos, piadas e desejos homoeróticos camuflados dominavam as bilheterias com astros bombados e filmes explosivos — ninguém realmente esperava um impacto permanente quando “O Predador” chegou às telas em 1987. Com personagens marcantes e um roteiro ágil (incluindo aqui uma tonelada de frases de efeito) o filme estrelado pelo maioral, Arnold Schwarzenegger e uma trupe de machões (incluindo Carl Weathers, Jesse Ventura e Sonny Landham) — cuja metragem acumulada de bíceps deve guardar alguma menção no Livro Guinness dos Recordes — acertou em cheio na mistura de ficção científica, suspense e ação.

Duas continuações, outros dois filmes derivados e uma sorte de brinquedos, videogames e histórias em quadrinhos depois, a franquia O Predador parecia destinada a mediocridade. Sem nunca ter encontrado o mesmo tom que a produção original, a série não consegue deslanchar. Eis que Shane Black — uma verdadeira cria dos anos 80, tendo participado do filme original — promete recuperar a franquia adaptando seu peculiar estilo oitentista para uma nova geração de fãs.

Nesta nova edição da série, a criatura ressurge ainda mais perigosa e encontra adversários formidáveis que conseguem entregar todo o humor e ação que tanto definiram a geração de Black. Apesar do roteiro inconsistente, o filme se sustenta muito bem ao se basear no elenco carismático, ação alucinada e humor rápido. “O Predador" (2018) pode não ser o melhor da franquia, mas tira por completo o gosto ruim deixado pelas edições anteriores. 

A caçada evoluiu 

A história foca em Quinn McKenna (Boyd Holbrook de “Logan”), um atirador de elite do exército estadunidense em missão no México que tem um inesperado encontro com um Predador quando a nave da criatura cai na Terra. Mckenna sabe que ninguém acreditará na sua história e resolve enviar partes do equipamento alienígena para sua casa nos Estados Unidos, mantendo assim um trunfo contra as autoridades que pretendem simplesmente eliminar as testemunhas do evento. No entanto, o pacote acaba sendo interceptado por seu filho Rory McKenna (Jacob Tremblay) — um garoto com transtorno do espectro do autismo, cujo savantismo linguístico o torna essencial na luta contra os alienígenas.

Entre alienígenas, agências governamentais secretas, e alienígenas ainda maiores, os Mckenna terão que correr muito para sobreviver. Eis que entram em cena os “pirados”, uma unidade de ex-militares com distúrbios psicológicos, que assumem a briga de McKenna conforme tentam lidar com seus próprios demônios.

Shane Black assina o roteiro com outro ícone oitentista, Fred Dekker (Deu a Louca nos Monstros, A Noite dos Arrepios, RoboCop 3…), e a dupla usa e abusa do que eles mais sabem — clichês dos anos 80. Não faço aqui uma crítica, bem com a dupla também não parece fazer uso disso como sátira dentro do filme. A impressão é que os dois realmente entendem desse estilo e finalmente tem a liberdade para “refinar a sua arte”.

Os outros caras legais...

Você vai encontrar todas aqueles elementos clássicos de 30 anos atrás. A trupe de desajustados (carismáticos e com talentos peculiares), a criança que parece saber mais do que todos os adultos, rivais que devem unir forças para superar um inimigo comum… Estão todos aqui.

A dupla “Black & Dekker” revê esses elementos sem deixá-los datados. Mesmo com os deslizes da história no terceiro ato, os dois conseguem entregar um filme coerente, engraçado e que agrada em cheio aos fãs do gênero, independente da sua idade.

Ao bom caçador convém boa caça!

Manejando com muita habilidade as cenas de ação com os momentos mais calmos, Shane Black oferece a medida certa de conteúdo para os personagens se desenvolverem e não parecem meros alvos para o Predador. Entra aqui o grande trunfo do filme, o elenco. Sustentando todo o filme, o elenco principal, encabeçado por Boyd Holbrook, carrega a película com muito louvor.

Na velha tradição do “chocolate com baunilha”, Holbrook encontra em Trevante Rhodes um parceiro à altura. Na pele de Gaylord "Nebraska" Williams, Rhodes ajuda a definir a dinâmica que rege todo o filme, equilibrando brutalidade e humor.

Suas atualizações de porradaria foram atualizadas!

A química entre os personagens transparece de maneira natural, mesmo quando o ritmo do filme fica mais acelerado. Além de Quinn e Nebraska, que agem como parceiros de longa data, outra dupla também se destaca: Keegan-Michael Key (como Coyle) e Thomas Jane (na pele de Baxley). Familiarizados com comédias de ação, os dois são o “alívio cômico” propriamente dito.

Do outro lado temos o excelente Sterling K. Brown como o asqueroso Will Traeger. Em uma atuação bem distante do Randall Pearson (do seriado “This is Us”), Brown assume por completo o papel de “vilão” não-oficial da película.

“A caça pode ferir mortalmente o caçador”

Entre erros e acertos, Shane Black faz justiça a uma das franquias mais interessantes e mal aproveitadas de Hollywood. Com uma criatura imponente e uma mitologia que se expande muito além do cinema, os filmes da série nunca conseguiram alcançar o mesmo apelo que o original. Ciente disso, Black se conforma em “reescrever” o que deu certo no passado, entregando uma grande ode aos filmes de ação dos anos oitenta e reinterpretando alguns elementos para uma nova geração.

O Predador (2018) é uma releitura interessante do estilo oitentista de "chutar traseiros"

O diretor constrói cenas de ação elaboradas e empolgantes. Essa correria toda ajuda na maior parte do filme, desviando a atenção do espectador da trama, no entanto, tudo desmorona no terceiro ato. Quando colocada em foco, a história não possui fôlego suficiente para se sustentar sozinha. Felizmente o elenco ajuda a carregar esse peso e mesmo com os inúmeros deslizes narrativos o filme como um todo é muito agradável.

Fãs da franquia podem questionar as influencias para o futuro da franquias, ou o uso indevido da criatura dentro da sua mitologia expandida, mas considerando o histórico, “O Predador” (2018) merece muito louvor ao criar algo diferente dentro de um modelo já explorado a exaustão. O que não significa dizer que a memória de "O Predador" (2018) predurará com você muito além de alguns passos depois de sair da sala de cinema...

Crítica do filme Alfa | Um menino e seu cachorro

Keda (Kodi Smit-McPhee) é o filho do líder de uma tribo de homens (pelo recorte de 20.000 anos atrás, muito provavelmente um grupo Cro-Magnon do Paleolítico Superior). Em um mundo duro no qual “somente os fortes sobrevivem” o rapaz atravessa os ritos de passagem da maturidade que devem formar o herdeiro da liderança do bando.

No entanto, diferente de seus companheiros, Keda não apresenta a mesma aspereza dos outros, tirando sua força do “coração” e não dá brutalidade. Durante sua iniciação em uma caçada em grupo, o rapaz acaba sendo jogado de um penhasco por uma manada de bisões e é dado como morto por seus companheiros.

Agora, ferido e longe de sua família, o jovem deve empreender uma “incrível jornada” de volta para casa, mas ele não estará sozinho ao longo do seu caminho. Ao cruzar com um lobo, igualmente machucado e isolado de sua alcatéia, os dois formam uma aliança que transformará para sempre as suas vidas e a história da humanidade.

Todos os problemas de Alfa, e são vários, não impedem Albert Hughes de entregar um filme leve que evoca toda a diversão pueril típica dos filmes “família” das matinês. O roteiro, previsível e arrastado, é compensado por visuais belos e empolgantes.

Uma imagem vale mais...

Se visualmente Albert Hughes se esforça para trazer uma linguagem arrojada, o diretor simplesmente abdica de qualquer “inovação” na hora de amarrar o roteiro (assinado por Daniele Sebastian Wiedenhaup) com os visuais exuberantes.

Talvez Hughes deveria ter tirado algumas lições de Jean-Jacques Annaud e seu maravilhoso épico pré-histórico “A Guerra do Fogo”, e ter buscado outras formas de comunicação para passar sua mensagem - mesmo que as “ferramentas linguísticas” do Paleolítico Superior serem mais desenvolvidas -, fugindo assim de diálogos desnecessários, e piegas.

Os poucos diálogos, compostos quase que exclusivamente de frases de efeito que parecem saídas diretamente dos pôsteres de divulgação, revelam a superficialidade da narrativa. Hughes mostra algum talento na direção. Apoiado na fotografia de Martin Gschlacht, o diretor trabalha bem os planos e os ângulos para mostrar toda a beleza do mundo e a fragilidade do protagonista. O uso inteligente da câmera lenta também entrega cenas estilizadas e cinematograficamente empolgantes.

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A trama, com uma pegada realista/naturalista à lá Jack London - traçando paralelos entre homem e fera, natureza e civilização - tem elementos interessantes. Infelizmente as falhas narrativas acabam entregando uma história superficial que nunca alcança seu potencial.

Parafraseando o jovem Morty (da animação Rick e Morty) as histórias deveriam começar do início e não no momento em que elas ficam interessantes. O primeiro ato se estende demais, com um flashback que rouba tempo do que realmente importa, a jornada de Keda e Alfa, seja ela literal (retornando para casa) ou figurativa (de crescimento).

Chamado Selvagem

Longe de se equiparar a clássicos como “Caninos Brancos”, ou até mesmo o recente “O Regresso”, Alfa faz um trabalho decente em tentar contar uma história batida em um cenário diferente. A jornada de volta para a casa está recheada de clichês, que não elevam o gênero, mas se encaixam no formato juvenil, próprio dos contos de fada, com a evolução física e emocional do herói.

No final, Alfa é uma boa desculpa para quem quer comer um balde de pipoca

No melhor estilo “um garoto e seu cachorro” de tantos outros filmes “família”, Alfa faz a lição de casa, mesmo que erre algumas tarefas. A história é pobre e a direção não compensa essa superficialidade da trama, mesmo assim, Albert Hughes apresenta um filme “fechado” que agrada sem impressionar.

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Crítica do filme A Freira | Cê é loka, irmã! Sangue de Jesus tem poder!

E olha só se não é a temporada da profanação chegando aos cinemas. Depois de muita espera, os fãs do universo sobrenatural idealizado lá em 2013 pela Warner ganha um novo capítulo.

A Freira” é o quinto título que integra o folclore obscuro de “Invocação do Mal”, sendo mais um spin-off (junto com Annabelle) das aventuras paranormais do casal Warren.

No centro desta nova história, temos a criatura demoníaca trajada de freira — apresentada ainda em “Invocação do Mal 2”. Todavia, o enredo aqui não dá continuidade aos fatos deste capítulo lá de 2016, tampouco tenta criar uma conexão direta com os investigadores.

Aproveitando a pegada que já tivemos da boneca amaldiçoada, os idealizadores de “A Freira” (incluindo o já renomado James Wan) optaram por desenvolver uma história do zero — até porque estamos falando de uma criatura que apareceu no filme e não tinha um background definido na época.

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O hype foi grande desde a primeira imagem da produção e aumentou exponencialmente com a divulgação do trailer. E, também, é claro que os fãs do terror, tendo visto os episódios até aqui, já tinham a certeza de que o resultado seria excepcional. No entanto, um conselho de amigo já neste primeiro momento: não vá com muita sede ao poço amaldiçoado.

A verdade é que “A Freira” é assustador em sua essência — principalmente pela concepção da criatura e de todo o misticismo que a cerca —, mas que talvez fique levemente aquém do esperado no quesito convicção, por conta de uma história um tanto enevoada. É um filme imperdível para os aficionados pelo gênero, porém há algumas ressalvas nessa missa.

A profanação em novos hábitos

Não sei se vocês repararam nos filmes recentes de terror, mas muitos títulos têm usado táticas para conseguir driblar a tecnologia e facilitar o clima de tensão. Afinal, se você pode acender a luz, usar um celular  pra chamar a polícia — que já vai chegar e mandar chumbo grosso nos demônios — ou mesmo pegar um carro e sair no pinote, o medo já cai por água benta abaixo.

Aí, para facilitar nesse sentido e ainda pra desenrolar melhor uma história de origem, os responsáveis pelo roteiro de “A Freira” voltaram algumas décadas no tempo e optaram por terras longínquas na Romênia. Nesse cenário, a gente acompanha o suicídio de uma freira que vive enclausurada numa abadia, situação que será investigada pelos protagonistas do filme.

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No centro dessa história, a gente tem o padre Burke, que, seguindo as orientações do vaticano, leva a jovem e inocente Irmã Irene — que ainda está prestes a fazer seus votos finais — para investigar o caso. A dinâmica do filme é bem dividida entre os dois, mas é interessante como a garota tem um peso muito mais importante no decorrer dos eventos.

As atuações são convincentes, mas, novamente, o destaque fica para Taissa Farmiga (Irene), a qual se mostra muito mais expressiva e faz a ponte para o público sofrer um impacto muito maior. Demián Bichir não deixa a desejar, porém se mostra mais tímido, talvez também por conta do seu personagem. Agora, algo muito infeliz, é a presença de Jonas Bloquet, que está aqui sumariamente para fazer graça, destoando de tudo que a gente podia esperar no filme.

Integra o time, de forma muito importante, a própria Freira e suas irmãs. Falando especialmente da peça-chave do filme, temos aqui um misto de atuação em cena e fora de cena. Muitas das vezes, a Freira aparece sutilmente como uma sombra ou em meio a penumbra, sendo que suas aparições contribuem com o que mais gostamos neste tipo de filme: medo em sua pura forma.

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É bom a gente comentar aqui como é interessante ver essa mudança de uma personalidade habitualmente abençoada para uma criatura diabólica. O contraste entre bem e mal numa mesma figura é impressionante, pois o simples fato de vermos qualquer uma das freiras já nos dá calafrios. E nesse sentido, todas as integrantes do convento são fundamentais na trama.

Deus acaba aqui

A concepção do personagem principal certamente foi o que mais demandou tempo (e dinheiro) nessa produção. E ainda bem que gastaram bons trocados nisso, pois toda a construção do personagem — o que inclui aí a maquiagem e os efeitos especiais — é o que mais chama atenção durante os noventa e poucos minutos da película.

A criatura maligna se esconde em qualquer canto e não perde uma chance de levar o nosso coração ao limite. Inclusive, eis aqui outro acerto do filme: fotografia. É notável que “A Freira” é muito dependente desse jogo de luz e sombra. Tanto é que as circunstâncias do roteiro apelam muito para cenas com velas e ocasiões de pouca luz.

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Há também um apelo constante para a presença de névoa, algo que deixa um mistério no ar e nos faz questionar constantemente a sanidade dos personagens — e também a nossa. Tudo muito bem pensado e funcional para manter o suspense a todo instante.

Paralelamente, a gente tem um design de som coerente, que abusa dos cenários claustrofóbicos do castelo, mas que não perde a chance de usar um cemitério e algumas sinetas para ecoar o clima de tensão em nossa cabeça. A trilha sonora talvez seja um tanto simplista, mas não deixa de cumprir seu papel.

No fim do dia, apesar de um esforço colaborativo do elenco e da construção funcional do terror em muitas cenas, o maior tombo de “A Freira” está nos tropeços do roteiro, que fica dando voltas desnecessárias, focando em frivolidades e apelando demais para o famoso jump scare. O script parece meio perdido, sem saber para onde ir e optando por recursos bem relaxados.

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Particularmente, eu esperava algo muito mais elaborado no roteiro e, sinceramente, a eliminação total e completa do clima de humor — não existe qualquer razão de ter esse lado num filme desse tipo. Além disso, eu tenho a certeza plena que um terror mais psicológico, com uma pegada mais ousada, deixaria o resultado muito mais assustador.

De qualquer forma, a gente tem aqui um longa-metragem razoável para os fãs, mas quem sabe um novo capítulo possa ser mais tenebroso. Boa sorte para quem for assistir ao filme nos cinemas. Levem seus crucifixos, bíblias e água benta.

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E vai quebrando senhor toda maldição e em nome de Jesus vai caindo por terra toda potestade e intercede deus de mistério quebra toda feitiçaria e todo poder e glória aleluia jesus e olha deus fazendo a obra recebaaa!