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Crítica do filme O Convite | Há convites que não devem ser aceitos

Ineditismo é uma coisa um tanto rara em filmes de suspense, já que muitos se aproveitam de velhos roteiros, bem como clichês, e apenas trocam alguns elementos para surpreender o público, que, muitas vezes, nem se toca das similaridades.

Não é por acaso que “The Invitation”, filme que chegou há pouco tempo no Netflix, vem despertando a atenção de muita gente. Apesar de ter uma história bastante simples, o longa-metragem de Karyn Kusama consegue prender a atenção do espectador com pequenas coisas.

A história do filme trata de uma situação um tanto bizarra, mas talvez aceitável para muitas pessoas.  Will (Logan Marshall-Green) recebe um convite de sua ex-esposa, Éden (Tammy Blanchard), para participar de um jantar entre amigos na casa onde viviam.

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Sem entender direito do que se trata a reunião, Will decide aparecer, junto com sua atual esposa, Kira (Emayatzy Corinealdi), para o tal jantar. Chegando lá, ele revê a ex-esposa após dois anos do término do relacionamento, bem como conhece o novo marido dela, David (Michiel Huisman).

Uma reunião dessas já não seria muito amigável em situações normais, mas o passado trágico dos divorciados deixa tudo ainda mais esquisito. Todavia, Will logo suspeita do comportamento da ex-esposa e de alguns convidados. A noite promete ser longa e qualquer atitude parece fora do normal.

Torta de climão com cobertura de tensão

Como você pode ver pelo resumo acima, a história de “The Invitation” não é extraordinária. A trama se apoia sobre um argumento simples, que é a questão da dificuldade em superar um antigo relacionamento. Contudo, o grande trunfo é a intensificação da tensão, com vários acontecimentos que deixam o espectador cada vez mais curioso e na defensiva.

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Ao chegar na casa para o jantar, Will é induzido a cair numa teia de mistérios. Ele conhece vários personagens peculiares, principalmente o novo marido de sua ex-esposa, e logo começa a suspeitar de que tem caroço nesse angu há muitos segredos guardados na sua antiga casa. Por trás de cada feição, o protagonista enxerga uma série de possibilidades que o deixam encucado.

Os diálogos são, em alguns casos, vagos e, noutros, um tanto esquisitos. Todos que estão ali parecem suspeitos e cada ação tomada nos leva a fazer várias perguntas em segundo plano. Será que essa reunião é uma história de vingança? O que aconteceu para Will e Éden se divorciarem? Quem são as novas pessoas que não fazem parte do círculo de amizades?

Sabe aquela pulga atrás da orelha? Então, ela não sai dali o filme todo...

São muitas indagações e o climão só aumenta. Curiosamente, o texto é de Phil Hay e Matt Manfredi, dupla que já escreveu coisas como “Fúria de Titãs” e “R.I.P.D. - Agentes do Além”. Desta vez, contudo, eles acertaram, pois não ficaram nos clichês e montaram uma história de suspense bastante interessante. O clima do filme é mais ou menos o que você vê no trailer, mas o roteiro toma rumos inesperados, o que é bastante positivo.

Paranoia constante

A história de “The Invitation” é o ponto principal do filme, porém parte do mérito se deve às boas ideias na execução. Primeiramente, temos um elenco bastante convincente, que, além de combinar com a trama, se mostra competente na hora de criar as discussões e embolar o espectador no meio da teia de mentiras e joguinhos sujos.

Os destaques mesmo ficam para Logan Marshall-Green (Will), Tammy Blanchard (Éden) e Michiel Huisman (David), que são os principais e, obviamente, são mais constantes nos diálogos. Logan mostra seu talento ao transparecer desconfiança em cada olhar e ação tomada. O ator — que já mostrou seu talento na série Quarry — é misterioso e combina perfeitamente com o personagem.

Bom, mesmo sem ter muita conexão com o restante da história, a primeira sequência do filme já acerta na dosagem de suspense, de modo que o espectador fica curioso para saber o que vai acontecer na sequência. A produção abusa de cenas desfocadas, aproximação de objetos e uma movimentação apertada em cenários internos. Tudo isso incomoda, mas no sentido positivo, já que a ideia é passar a sensação de desconforto.

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A fotografia do filme, ainda que bastante restrita, também colabora para a montagem da história. A casa isolada, os ambientes internos, a iluminação, a presença de penumbras e outros recursos contribuem para incrementar o suspense. Nunca se sabe o que há no outro cômodo, nem que segredos a casa guarda.

Agora, se tem uma coisa que funciona bem demais é a trilha sonora. Cada nota é introduzida com cautela, dando tempo para o espectador prestar atenção nos demais sons e aguardando o momento certo para apresentar uma continuidade que deixa a respiração cada vez mais ofegante. A música do trailer dá uma boa ideia do que é apresentado ao longo do desenvolvimento da trama.

Com tudo isso dito, fica o conselho para conferir de perto “The Invitation” na sua telinha em casa. É a pedida perfeita para ver no escurinho, com uma boa xícara de café e o som em alto volume. Só não pense em chamar ex-namorado para essa sessão.

Crítica Sete Homens e Um Destino | Sai o épico, entra a representatividade

“Eu procuro justiça, mas aceito vingança”

O Sete Homens e Um Destino original, de 1960, é provavelmente um dos maiores nomes do gênero western produzidos até hoje. Seu enredo foi baseado no clássico japonês Os Sete Samurais, do lendário diretor Akira Kurosawa, que por sua vez, também bebia na fonte dos filmes de faroeste ocidentais, mais precisamente dos longas de John Ford.

Nesse emaranhado criativo ganhamos ao longo dos anos algumas refilmagens, continuações e releituras da obra original, tendo como destaque, por exemplo, a animação Vida de Insetos, da Pixar (isso mesmo, você não leu errado).

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De volta ao velho oeste

Sete Homens e Um Destino (The Magnificent Seven) de 2016 utiliza sem pudor a premissa básica da história e assume o caráter de um remake completo. Um vilarejo no velho oeste americano sofre nas mãos de um magnata do ouro, o qual usa toda a violência de seus capangas (e até mesmo de homens da lei) para controlar as minas de ouro da região, deixando a desolada cidadela a mercê de suas vontades. Para confrontar a situação, os habitantes locais, que não possuem aptidão nenhuma para lutar, decidem contratar alguns forasteiros para os protegerem.

É nessa hora que entram os heróis em cena. Os sete escolhidos formam um grupo de homens habilidosos – e atores de renome – para combater os vilões, cada um com uma característica diferente. O filme reúne o brilhantismo do oscarizado Denzel Washington, o senhor das estrelas Chris Pratt, o cult Ethan Hawke, e o atual rei do crime da série do Demolidor, Vincent D'Onofrio. Completam o time os atores Byung-hun Lee (sul-coreano), Manuel Garcia-Rulfo (mexicano) e Martin Sensmeier (nativo norte-americano).

A união de astros de etnias diferentes é um êxito da refilmagem. Um negro assume a liderança de um grupo composto por diferentes rostos, entre eles um oriental e um índio. A escolha pela diversificação racial passa muito além de uma opção comercial ou marqueteira. A pluralidade aqui está diretamente atrelada à qualidade do filme, sendo o que ele oferece de melhor.

O diretor Antoine Fuqua dá um tiro certeiro no comando de seus atores. Outros acertos do diretor são: fotografia digna de um western, com planos abertos e que sabem utilizar a luz natural, mesmo que sejam inflamadas por lentes de correção pós-produção; o encaixe da trilha sonora típica, empolgando nas cenas de ação ou criando suspense quando necessária; um storytelling honesto que não tem acanho ou vergonha de seguir os mesmos passos de seu antecessor, mas que procura saídas mais objetivas para adequar o produto em seu tempo.

Muito tiro, pouca ousadia

Em questões técnicas, mesmo contando com a ótima fotografia de Mauro Fiore ou com a trilha sonora precisa de James Horner e Simon Franglen, ele não possui nenhuma passagem marcante ou de impacto que ficará gravado por anos em sua memória. Um contraste direto é com a própria múscia. Impossível não lembrar do tema do original de 60 e seu instrumental exorbitante. (pan pan pan pan, pan pan pan pan pan ♫)

A versão moderna deixa o épico de lado e vai atrás do cinema politicamente correto, mesmo com o alívio cômico de alguns do bando de protagonistas. Saem os bandidos mexicanos do passado e entra o americano imperialista, que explora seu próprio povo. Não obstante, a criação de elementos genéricos, os quais se tornaram vícios de blockbusters atuais, se tornam presentes.

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O nêmesis escolhido é um retrato claro. O bandido feito por Peter Sarsgaard chega a ser tão dispensável quanto os chistes de sua personagem. Já os “mocinhos”, que são a maioria foras-da-lei em busca de redenção ou um punhado de dólares, até apresentam uma certa profundidade, como o atirador que tem medo de atirar “Goodnight Robicheaux”, papel de Ethan Hawk, ou o cavaleiro solitário com cicatrizes do passado em busca de justiça, Sam Chisolm, interpretado por Denzel Washington – papéis os quais ficam aquém da caricatura de Charles Bronson, por exemplo, pistoleiro da versão clássica.

Saudosismo à parte, se por um lado o novo Sete Homens e Um Destino não é um filme de impacto que será lembrado daqui 50 anos, ele é um remake que merece atenção por representar sua geração, na qual um branco pode ser antagonista e um negro pode ser herói.  

Crítica do filme Conexão Escobar | Muita astúcia, mas pouca ousadia

Pablo Escobar foi um dos maiores desgraçados da face do planeta Terra, tendo destruído milhares de vidas e feito uma fortuna ao ser o rei da cocaína por muitos anos.

Não é por acaso que vários diretores e escritores dedicam tempo e recursos para mostrar as peripécias de um canalha que colocou medo em toda uma nação e prejudicou tantas vidas.

É claro que Escobar não agia sozinho. Ele tinha alguns homens de confiança para ajudar a colocar os filhos dos outros nas drogas. O filme “Conexão Escobar” retrata a história real de como um agente do FBI conseguiu a confiança de muitos amigos do colombiano e como foi o esquema para encurralar vários criminosos.

Na película, acompanhamos parte da carreira do agente federal Robert Mazur (Bryan Cranston), que conseguiu se infiltrar no maior cartel de drogas colombiano usando a identidade de Bob Musella, um empresário especializado em lavagem de dinheiro que, neste processo, ficou amigo de Roberto (Benjamin Bratt), um dos braços de Pablo Escobar.

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“Conexão Escobar” é baseado na verdadeira história da batalha de um homem contra o maior cartel de drogas do mundo, a qual foi escrita pelo próprio Robert Mazur. Um filme que impressiona ao mostrar como funcionava parte das alianças e da atuação do grupo que atuava em escala internacional. Merece atenção pelas boas atuações e a trama cheia de surpresas.

O nome é Musella, Bob Musella

Gênio, manjador, corajoso, astuto. Estes são adjetivos que poderiam ser usados para descrever Bryan Cranston, mas também são características do personagem que ele interpreta em “Conexão Escobar”. Se tem uma coisa que dá vida à história dos fatos que estamparam os jornais lá na década de 1980 é a vivacidade com que Cranston interpreta Musella.

O protagonista desta história é sujeito muito familiar, mas que se mostra dedicado a combater a criminalidade. Sempre muito correto, Mazur não é o tipo do cara corruptível, tampouco alguém que fica satisfeito com pouco. Ele sempre mira em coisas grandes e não por acaso ele arquiteta toda uma tramoia para pegar os capangas de Escobar.

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Todavia, é a capacidade de mentir com convicção que garante o sucesso da missão. Após virar Bob Musella, ele leva uma vida de bandido – e até deixa de lado seu lar, já que as relações com os criminosos exigem muita dedicação. Agora, na obra cinematográfica, toda essa teia de mentiras só é possível graças ao talento de Cranston, que nos convence em cada ação.

O Bob Musella de Bryan Cranston é um cara admirável, que finge muito bem cada detalhe, que é boa pinta, que não gagueja, que não pestaneja. Se tem uma coisa que faz este filme andar é o talento deste ator, que acertou novamente ao pegar um personagem que ele é capaz de dominar e nos convencer de que estamos perto dos fatos.

Um mundo não tão perigoso...

Bom, a história de “Conexão Escobar” e os acertos do elenco são características que valem todo o tempo sentado no cinema, mas a experiência poderia ser melhor com um capricho adicional em alguns pontos da execução.

Primeiro, vamos falar de direção. Brad Furman não é um cara com uma carreira expressiva. Ok,  ele já trabalhou com Matthew McConaughey (em "O Poder e a Lei"), Tyrese Gibson e, desta vez, chama o Cranston para sua lista de amigos, mas ter gente top no time não é tudo.

A ação é mantida no freio de mão, derrapando em partes que poderiam ser angustiantes

Para falar bem a verdade, a execução de “Conexão Escobar” não é nada espetacular. A pegada do diretor foge bastante do que esperamos de um filme desse tipo. A direção de Furman cumpre o papel de mostrar a história, mas a simplicidade na execução não garante toda a emoção possível para um roteiro tão cheio de perigo. É só o arroz com feijão mesmo.

Para ser sincero, a falta de explicitude incomoda bastante. Um filme que trata sobre o mundo das drogas e não mostra os reais problemas e perigos acaba sendo bastante simplório. A ação é mantida no freio de mão, derrapando em partes que poderiam deixar a plateia muito angustiada e com medo pelos protagonistas.

Tirando uma ou outra cena, o filme se mantém mais na defensiva do que na linha de frente, onde realmente mora o perigo. Tudo bem, a história real pode ter tido muitos acontecimentos nos bastidores, mas o roteiro poderia reverter as cenas mais violentas ao entregar um pouco mais de ousadia.

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Felizmente, há algum capricho em outras partes, como figurino, trilha sonora, elenco de apoio e fotografia. As cenas com os figurões do crime são ótimas, com muito clima de tensão e boa resolução de diálogos. Aí é que atores como Benjamin Bratt em trajes muito finos acabam marcando boa presença. Algum tom de comédia com John Leguizamo também deixa a trama mais leve, o que é bem interessante num roteiro denso.

Enfim, "Conexão Escobar" não é um blockbuster, não tem efeitos especiais de deixar impressionado, então não espere muita coisa inovadora. O filme é pé no chão e apresenta o que tem de apresentar, mas certamente poderia ficar mais envolvente e agitado. De qualquer forma, uma boa pedida para as telonas!

Crítica do filme Passageiros | Embarcando em uma canoa furada

Dez pessoas sobrevivem à queda de um avião. Imediatamente, a jovem psiquiatra Claire (Anne Hathaway) é chamada por seu chefe Perry (Andre Braugher) para acompanhar os passageiros que conseguiram escapar com vida da tragédia e que, compreensivelmente, estão transtornados. 

Em um clima de suspense, muito mais do que de tensão ou qualquer outra coisa, Claire começa a conhecer os sobreviventes, o que aguça sua curiosidade – mas nem um pouco seu desconfiômetro.

Entre as pessoas deste grupo está Eric (Patrick Wilson), um jovem executivo que é, de longe, o mais misterioso dos remanescentes. Além de recusar o tratamento com a psiquiatra, ele demonstra estar muito alegre e conformado para alguém que acabou de vivenciar uma experiência trágica e sobreviver a um acidente que matou centenas de pessoas.

Quando coisas estranhas começam a acontecer e pessoas esquisitas passam a ter atitudes bizarras e improváveis, Claire percebe que pode ter muito mais por trás do acidente do que ela imagina.

Qualidade em queda livre

Admita, eu falei em queda de avião, sobreviventes e coisas bizarras e você já relacionou isso com ilha deserta, organização secreta e aquele auê todo de Lost. Se você é uma das pessoas que se decepcionou com o final da série e que não curte muito coisas sem grandes explicações, ou ainda, se um roteiro consistente e personagens bem construídos são fatores que lhe importam em um filme, larga essa vida de “Passageiros” e vai ver outra coisa.

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Dirigido por Rodrigo García (que, de acordo com o IMDB, pelo jeito curte fazer umas séries com nome de mulher), o longa-metragem tem roteiro de Ronnie Christensen, ambos com poucas grandes produções no currículo. 

Mas este, meus amigos, é um verdadeiro desperdício do talento de atores como Andre Braugher e Anne Hathaway. O plot até parece interessante, tanto que nos fez clicar no play lá no Netflix. Mas desde as primeiras cenas o roteiro já começa a demonstrar alguns furos e inconsistências.

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E não é nem questão de deixar o mistério no ar pra você preencher com a sua criatividade, coisas que alguns filmes conseguem fazer muito bem. É pura falta de explicação mesmo. A começar pela protagonista, que merece uma leitura um pouco mais detalhada. 

A pior psiquiatra que já existiu

Claire é o clichê cinematográfica da psicóloga que não consegue sequer resolver seus próprios problemas, que dirá ajudar os pacientes. O longa-metragem dá a entender que, por algum motivo que desconhecemos, ela está afastada da prática clínica e se dedica a dois mestrados e a um PHD, e que o atendimento aos sobreviventes é uma forma de fazer com que ela reviva esse lado da carreira.

O problema é que ela faz isso incrivelmente mal, mas não só porque a personagem é retratada como, de certa forma, incompetente. As cenas em que ela aparece atendendo os personagens são predominantemente esquisitas, não há outra palavra. 

As sessões são, ora coletivas, ora individuais, e Claire termina sempre encurralada pelos pacientes, além de, obviamente, se envolver emocionalmente com Eric. Mas, acima de tudo, me digam que tipo de psiquiatra em sã consciência entra num carro pra perseguir algo misterioso quando um paciente pede? Ou abre a porta de casa para um paciente psiquiátrico sozinha no meio da noite?

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A personagem segue tomando atitudes impensadas e se colocando em situações de risco que vão contra algumas regras de ética da profissão, sem falar do bom senso. E não apenas ela. Em geral, são personagens fracos com histórias superficiais e que não se sustentam, o que vale para o roteiro e a forma como ele se desenrola.

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O que também não se sustenta é parte técnica do filme. As cenas da queda do avião são bastante fracas e incoerentes, além de faltar capricho da produção na hora do desmonte da aeronave.

Em geral, são personagens fracos com histórias superficiais e que não se sustentam.

Com figurino bem simples e nada de muito chamativo também na parte de maquiagem e ambientação, sobrariam mesmo as cenas do acidente como destaque, e nessa parte faltou capricho.

O que se salva é a trilha sonora, que até tenta contribuir pra nos deixar tensos ou angustiados com a situação, mas trilha sozinha não faz verão, e “Passageiros” não convence. De longe, um dos piores filmes que eu vi recentemente. E olha que não faz muito tempo que eu fui ao cinema pra assistir “Contrato Vitalício”.

Crítica do filme Bruxa de Blair | Se perdendo em lugares conhecidos

Apenas recentemente, durante a San Diego Comic-Con, foi anunciado que o projeto intitulado “The Woods”  (ou A Floresta, o famoso matagal) era na verdade uma sequência do The Blair Witch Project (o primeiro Bruxa de Blair), e isso deixou todo mundo meio confuso e intrigado.

Mistérios a parte, o sucesso do “Bruxa de Blair” original foi gerado por conta do marketing viral em cima da história, tentando convencer que o conteúdo do filme não era fictício, inclusive colocando cartazes de “desaparecido” com os rostos dos atores. E apesar de ser um marco no estilo “mockumentário”, convenhamos que o filme não era nada demais, apenas adolescentes perdidos numa floresta, pedras empilhadas, uns gravetos e uns barulhos de galhos. Então o grande atrativo do filme era a surpresa e a expectativa do público.

Dessa forma, cabe o aviso. Se você nunca viu o primeiro Bruxa de Blair, e se por acaso não viu nem o trailer desse novo filme, pare agora e vá ao cinema, Essa é a única forma de ter a experiência completa e morrer de medo da Bruxa. Caso contrário, não espere muitas novidades.

Ninguém sabia que estava sendo produzido, mas ninguém pediu também

Não entenda mal, esse não é um filme ruim. Mas de fato é extremamente parecido com o primeiro, com absolutamente todos os mesmos elementos e apenas pequenas adições que acabam sendo irrelevantes dentro do contexto geral. Nesse sentido, as cenas exploram muito mais a parte física e explícita, com ferimentos abertos, sangue, e uma bruxa absurdamente forte, capaz de derrubar árvores e arrastar qualquer pessoa pela floresta. Mas ela nunca é inteiramente visível, apenas cenas rápidas, tudo isso para manter o pouco de mistério que sobrou, e contando muito com a imaginação do espectador.

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Acredito que a grande falha seja exatamente a ausência dessa aura de mistério, pois hoje em dia o melhor que conseguiram fazer foi esconder a produção do filme com um título falso. Em nenhum momento você vai acreditar que aquilo pode realmente ter acontecido, que a maldição da Bruxa é verdadeira e que aquelas pessoas se perderam tentando provar isso. Não tem nada de errado nisso, afinal sabemos que é só um filme, mas essa camada a menos deixa o filme um pouco menos atrativo na minha opinião. "Baseado em fatos reais" já me dá mais medo, mesmo que seja mentira.

Pra quem não sabe ou prefere esquecer, Bruxa de Blair teve uma sequência chamada “A Bruxa de Blair 2 - O Livro das Sombras”, que também contava com os acontecimentos do primeiro filme para base da história, mas narrada de forma tradicional, se arriscando a explorar o mito da Bruxa ainda mais, o que acabou sendo um fiasco. Talvez para encobrir e evitar que o erro se repetisse, o diretor director Adam Wingard não ousou muito, mantendo tudo bem parecido ao original, como já foi dito.

Melhores equipamentos, mesmos erros

Como no original, o filme é feito a partir de gravações encontradas na floresta, mas as circunstâncias não ficam claras. Tudo começa quando James (James Allen McCune) encontra um vídeo da suposta cabana de Rustin Parr, o eremita que foi enforcado pelo assassinato de sete crianças, um crime que deu início ao projeto "Bruxa de Blair", pois ele justifica seus atos dizendo que foi a Bruxa que ordenou ele a fazer tudo aquilo. James é o irmão mais novo de Heather (aquela da cena que todo mundo lembra, chorando e com ranho escorrendo do nariz), que desapareceu 20 anos atrás (no primeiro filme). Ele acredita ter visto seu reflexo durante o vídeo, e pretende acampar no mesmo lugar em que ela e seus colegas desapareceram.

CPT543360405 hd 7ae64Pensando em clichês, advinha quem será o primeiro a desaparecer do grupo?

Com isso em mente, eles partem para cidade de Burkittsville em Maryland, anteriormente conhecida como Blair. Juntamente com Lisa (Callie Hernandez), uma amiga que está filmando um documentário sobre James(?), Peter (Brandon Scott), amigo de infância de James, e sua namorada Ashley (Corbin Reid). Lá eles se encontram com DarkWeb666, um morador do local que encontrou a gravação e enviou ao Youtube. Na verdade seu nome é Lane (Wes Robinson), e ao lado de sua namorada Talia (Valorie Curry), eles são fascinados pelas lendas locais, e se convidam para acampar junto.

Para documentar tudo e não se perderem, os jovens contam com uma câmera que se acopla na orelha e possui GPS embutido, além de um drone que é bem mal utilizado, câmera com visão noturna e lanternas que falham nas horas menos oportunas. Então tudo o que vemos é a partir desses equipamentos, de uma perspectiva em primeira pessoa.

Isso foi absurdamente bem trabalhado, todas as cenas são perfeitamente encaixadas usando esses ângulos, e toda a montagem das cenas estabelece um ritmo excelente ao filme. Mesmo em momentos improváveis, como quando o personagem cai, o plano acaba mostrando algo relevante, e não simplesmente mostrando o chão ou a mata vazia.

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Outro grande acerto é a edição de som. É seguro dizer que toda a tensão, sustos e ritmo do filme se dão por conta dos sons. Apesar de boa parte do filme ser gente perdida na floresta gritando nomes incessantemente, cada vez que um barulho estranho acontece, você vai querer prestar mais atenção e obviamente se assustar em seguida.

Talvez a maior diferença dentro dos elementos de "Bruxa de Blair", seja a cabana no final. Para quem assistiu o primeiro, lembra que Mike está virado para parede e apenas vemos ele de costas. Aqui, a cena da cabana é bem mais longa e melhor explorada, e até uma nova perspectiva sobre a Bruxa e seus poderes acaba sendo apresentada, apesar de que superficialmente.

No geral, o filme não é ruim, mas também não é nada demais. O encanto e mistério do mito que serve de base acaba sendo deixado de lado logo de cara, e tudo que acontece é bem previsível. Agora, se me convidar pra acampar no mato depois de assistir, eu não vou.

Crítica do filme Virei um Gato | House of Cats

Em 30 anos de carreira, Kevin Spacey já foi de tudo um pouco. Do bandido Verbal, em “Os Suspeitos”, ao ambiciosíssimo Frank Underwood, em House of Cards, passando pelo pai suburbano frustrado Lester Burnham, em Beleza Americana, esse grande ator já teve oportunidade de representar quase todo o tipo de pessoa. Então, por que continuar dando vida a humanos?

Deve ter sido esse o raciocínio seguido por Spacey ao assinar o contrato para o papel do excêntrico milionário Tom Brand na comédia “Virei um Gato”.

No filme, que é a verdadeira definição de “comédia sessão da tarde”, o empresário é uma daquelas pessoas extremamente ocupadas com o trabalho e obcecada com os objetivos profissionais, que não consegue tirar tempo nem para comprar o presente de aniversário da filha.

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Depois de muita enrolação e propostas de alternativas, ele decide comprar o que a menina realmente pediu de presente, um gato. Porém, devido a uma série de infortúnios entre a decisão de comprar o gato e chegar para a festa da filha, Brand passa por um curioso e inesperado acidente que faz com que ele troque de corpo com o bichano.

Elenco que é purrrr-a diversão!

No que diz respeito aos aspectos técnicos, o longa-metragem dirigido por Barry Sonnenfeld (Família Adams, a trilogia MIB e agora responsável pela nova sequência de Desventuras em Série) e escrito por Gwyn Lurie e Matt Allen não inova em quase nada.

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Muitas tomadas internas, salvo uma ou outra exceção. Figurino ok, maquiagem também ok, trilha sonora bastante compatível com a proposta. 

O diferencial de “Virei um Gato” é, na verdade o seu elenco. Além do próprio Kevin Spacey, o longa-metragem traz também Jennifer Garner, no papel da esposa de Brand, Lara, além de Cheryl Hines e Christopher Walken.

A menina Malina Weissman também chama a atenção. Não que se trate de um super destaque, mas faz um bom trabalho e é bom prestarmos atenção nela, já que foi a atriz escalada para o papel de Violet na “Desventuras em Série” que o Netflix está produzindo com exclusividade.

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Dito isso, bem, ninguém vai ao cinema ver um filme chamado “Virei um Gato” esperando uma grande obra prima do cinema, certo? Então baixe os níveis de exigência com o perfeccionismo técnico e se entregue à diversão.

Os mais engraçados clichês

Apesar do plot bastante óbvio, essa comédia com uma pegada infantil não decepciona não. O motivo pelo qual “Virei um gato” dá certo (ainda que com esse nome bem  pouco criativo, né, gente), é a junção das boas e velhas lições de moral com algumas boas piadas e cenas de gatinhos fazendo gatices e fofices. 

A presença do fofíssimo Sr. Bola de Pelos (Mr. Fuzzypants) é diversão garantida. É claro que, se fosse só por isso, a gente podia apenas ficar uma hora e meia na frente do computador vendo vídeos engraçados de gatinhos no youtube. Mas, a dublagem de Kevin Spacey dá o tom da graça que faz valer a pena ver o filme.

Somados a algumas cenas feitas com computação gráfica, os takes do gatinho que “interpreta” Sr. Bola de Pelos conseguem nos divertir do começo ao fim – especialmente se você for um amante dos bichanos. Nesse caso, dá um pause aí no scroll do Cats of Instagram e vai lá dar um incentivo ao novo filme do Kevin Spacey, que a diversão é garantida.

Confira a galeria de imagens e entre no clima!