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Crítica do filme Zumbilândia: Atire Duas Vezes | Morreu, mas passa bem

Retornando dos mortos tal qual os zumbis do título, “Zumbilândia: Atire Duas Vezes” é a continuação que ninguém esperava mas que é muito bem vinda. Desnecessário dizer que o filme é excelente, já que seu elenco conta com a cativante vencedora do Oscar Emma Stone ❤.

Zumbilândia” estreou em 2009, uma década em que zumbis ocupavam um espaço considerável na cultura pop. Então, depois de dez anos certamente os cadáveres já puderam se decompor e finalmente descansar, certo? Claro que não!

Quem assistiu o primeiro filme deve lembrar que Bill Murray era o único personagem que interpretava ele mesmo. Em “Atire Duas Vezes”, a justificativa do querido ator sobre a razão dos estúdios continuarem fazendo sequências de filmes antigos é muito simples: drogas custam dinheiro.

Regra #32: Aproveite as pequenas coisas da vida

Um dos maiores charmes de Zumbilândia é a utilização da metalinguagem e a ousadia em fazer piadas nas horas mais inapropriadas. Não por acaso, o diretor Ruben Fleischer assinou a direção do controverso “Venom”, e os roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick foram os responsáveis pelo roteiro de “Deadpool”. Certamente eles trabalham com o que gostam, mas a eficiência de todos esses filmes pode ser resumida em pontos como baixo orçamento e quebra de expectativas.

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“Zumbilândia”, de 2009, era pautado nas regras de como sobreviver em um apocalipse zumbi. Desenvolvidas pelo protagonista e narrador Columbus (Jesse Einsenberg), as regras exemplificam as cenas que viriam a acontecer, tudo com um tom bastante descontraído.  A princípio, “Zumbilândia: Atire Duas Vezes” segue o mesmo caminho, mantendo-se bastante fiel ao original apenas para quebrar as próprias regras.

A desajustada família composta por Columbus (Eisenberg), Tallahassee (Woody Harrelson), Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin) decidem se estabelecer em um novo lar, então começam a morar na Casa Branca. Por um breve período, a vida doméstica e pacata parece satisfazê-los, mas a tentativa de encaixar as mulheres em papéis tradicionais, a filha que precisa de proteção constante e a leal esposa, faz com que elas fujam do ninho.

Para expandir um pouco o universo da terra de zumbis, temos algumas adições peculiares. Desde o princípio os personagens são claramente estereotipados, mas em “Atire Duas Vezes” fica explícito. O melhor exemplo é Madison (Zoey Deutch), uma garota que parece ser retirada das comédias escrachadas do começo do século, com piadas recorrentes que envolvem a sua inteligência limitada.

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Regra é coisa pra frouxo

Há algumas surpresas a respeito dos zumbis, que agora são classificados em tipos: alguns muito lentos e burros, outros inexplicavelmente inteligentes e também alguns vorazes e praticamente indestrutíveis. É preciso notar também que boa parte do enredo se baseia na história e cultura estadunidense, o que pode parecer meio sem graça para quem não conhece ou não se importa com esse tipo de coisa.

Tallahassee, sendo um grande fã de Elvis Presley, tenta transmitir essa paixão à Little Rock. Ambos sonham em conhecer Graceland, a famosa mansão em que Elvis morou, e lá os nossos heróis conhecem Nevada (Rosario Dawson), tão apaixonada pelo Rei do Rock que decidiu cuidar pessoalmente do museu. Basicamente apenas um par romântico para Tallahassee, ela faz drinks, dá tiros e sabe dirigir loucamente enquanto atropela zumbis.

Outra adição hilária são os personagens espelhados em Tallahassee e Columbus, Albuquerque (Luke Wilson) e Flagstaff (Thomas Middleditch), respectivamente. É curioso que quase todos os outros sobreviventes do apocalipse são absurdamente burros e despreparados, quebrando propositalmente os conceitos do primeiro filme apenas pela diversão. O roteiro é repleto de falhas, mas isso não importa nem um pouco, é tudo pelo bem dos fãs e gostosas risadas.

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“Atire Duas Vezes” tem uma duração ideal, uma boa direção, um elenco competente e piadas com o timing certo. Os efeitos de gore estão incríveis, apostando mais nos efeitos práticos e usando o digital como complemento. Certamente uma década de Walking Dead colaborou muito para essa evolução.

Por não se levar a sério e deixar isso claro desde os primeiros minutos, a experiência descontraída para quem ainda é fã de zumbis (Walking Dead ainda existe?) e quer um entretenimento leve é garantida. Por mais que seja uma sequência totalmente desnecessária, vale a pena contribuir para os produtores comprarem mais drogas. Não saia do cinema antes dos créditos finais, pois as gargalhadas são garantidas.

Lista | As melhores turminhas do barulho

Dia 12 de outubro é o dia da criança, pelo menos por aqui na Terra Brasilis, talkey. Aproveitando o vácuo comercial até o Natal, a indústria de brinquedos resolveu formar o seu próprio feriado pra vender bugiganga, mas chega desse papo comunista ai, nada de doutrinar as pessoas com esse discurso desagregador, afinal, a criançada não está nem ai pra isso, quer mais é saber daquele presentão bonito pra fazer inveja no coleguinha e encher a paciência do irmãozinho.

Pra entrar de cabeça nessa “data tão especial”, cheia de inocência e esperança, o Café com Filme preparou uma lista de aventuras radicais com altas confusões, só pra essa turminha do barulho poder aproveitar a data de montão. Tem a galerinha que curte esportes, brincadeiras, assassinato, luta antifacista, culto pagão e outras coisas gostosas típicas da infância...

Beerfest | Trailer legendado e sinopse

Dois irmãos americanos viajam até a Alemanha para acompanhar as festas da tradicional Oktoberfest e, principalmente, para concretizar uma tradição de família: e espalhar as cinzas do avô falecido durante o evento. Lá, acabam participando de uma centenária e secreta competição chamada ''Fight Club'', que elege o maior bebedor de cerveja de todos os tempos.

Crítica do filme Coringa | Vilão, herói ou vítima?

No próximo ano, o personagem Coringa completa 80 anos, sendo não apenas o maior vilão das histórias do Batman, mas também um dos mais importantes da DC Comics. Apesar desse longo tempo de figuração nos quadrinhos, filmes, séries, desenhos animados e games, o detentor do sorriso mais marcante das HQs nunca teve uma origem bem definida.

Já tivemos várias versões convincentes — algumas até aclamadas pelos fãs —, mas a verdade é que, tirando algumas características icônicas, não há sequer um nome definido para a pessoa por trás da maquiagem. Assim, diferente de Bruce Wayne que tem sempre a mesma história retratada nas diferentes mídias, o Palhaço segue sendo um personagem misterioso.

Foi assim que Todd Phillips e Scott Silver optaram por criar uma versão inédita do comediante. No filme “Coringa”, acompanhamos não apenas uma história inédita no cinema, mas também cheia de novidades para os fãs dos quadrinhos. A trama trata das desventuras de Arthur Fleck (que sequer existe nos gibis), um homem desprezado na já conhecida Gotham.

Assim, é perfeitamente normal haver polêmicas do porquê da existência de um filme que não usa o material de base já consagrado para adaptações cinematográficas, bem como dos motivos que levaram a Warner (nem temos referências significativas à DC Comics durante a projeção) a liberar a produção de um longa-metragem sobre um vilão.

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Alguns poderia alegar que o motivo é a moda, ainda mais após o sucesso de “Venom”, mas o que digo é que “Coringa” não é necessariamente um filme sobre quadrinhos, vilões e estopins para o surgimento de heróis. Estamos numa época em que é preciso reinventar o cinema, o que a Warner parece ter visto de antemão e, assim, optou por ir na contramão da concorrente.

De louco, todo mundo tem um pouco

Se você pensa em ver um filme com o carimbo DC Comics, nos moldes de Esquadrão Suicida ou mesmo na pegada de qualquer Batman, você pode parar por aí. O filme “Coringa” está mais para um drama do que para um filme que tenta se encaixar em uma adaptação de quadrinhos. E essa nova ideia de reinventar gêneros cinematográficos é primordial para levar novidades a um público já cansado da mesmice.

Além disso, é muito importante constatar algo de antemão: a existência de um vilão sem seu rival. Não é de todo errado pensar que o Joker não existiria sem o Batman, ainda mais que — em sua essência — ele nasceu na HQ do Homem-Morcego, mas o filme “Coringa” vem para provar que o personagem existe sem seu arquinimigo, podendo ser o protagonista de sua própria história. Afinal, apesar de ser um vilão, também estamos falando de um ser humano.

Óbvio que, da mesma forma em que há uma genialidade aqui, essa tomada de decisão tem um lado que vai contra a popularidade: a insatisfação de fãs presos às “reais” origens do Joker. É claro que essa mudança de abordagem com um tom muito mais dramático e realista tira toda a referência a um filme do gênero, mas aqui entra a velha história de que não é possível agradar gregos e troianos.

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Conservadores poderiam alegar que não se deve contar histórias sobre criminosos (e há polêmicas sobre uma possível incitação à violência aqui), mas o script do “Coringa” vai justamente na questão primordial do debate: como surgem os vilões? Assim, além de ter seu mérito por trazer um personagem icônico às telonas, o filme de Todd Philips se destaca pela ousadia em fomentar algo raro num título do gênero.

Oras, se esta é uma história de origem, é até necessário que possamos entender o processo de transformação do personagem. E eis aqui o trunfo do filme, que opta por não jogar seguro e fugir do óbvio, afinal seria fácil adaptar um conto conhecido das HQs. Então, sem dúvidas podemos classificar a obra como audaz por propor uma explicação mais humana — e menos fantasiosa.

Os vilões que criamos

Genial em sua concepção, a ideia central pode, por outro lado, ser um tanto repetitiva ou talvez até alongada para quem busca um filme mais com a cara do Coringa e menos com a cara de Arthur Fleck. Particularmente, eu mesmo achei que as coisas poderiam ter sido um tanto aceleradas ou mesmo mais unificadas para evitar a repetição de uma mesma mensagem.

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Contudo, ao mesmo tempo em que vale a crítica a tal aspecto, eu acho justíssimo ter divagações ou até repetições de determinados momentos para que a gente possa apenas desfrutar do talento exuberante de Joaquin Phoenix. Eis aqui o homem que fez tudo isso possível, afinal somente um ator muito gabaritado poderia suscitar as nuances mais sutis de um ser humano tão complexo.

E eu digo ser humano, pois o “Coringa” não é um filme que tem o personagem apenas como um apoio para determinadas cenas. O filme é totalmente focado no protagonista, de modo que não há uma sequência que se sustente sem a presença do ator. Phoenix está aqui para dar dramaticidade nos momentos mais tensos, fazer o Joker resplandecer com danças e ações performáticas e externar sua mensagem nos momentos mais intensos.

Falando em espetáculo, resta enaltecer três pilares que dão sustentação para toda a obra: fotografia, direção e trilha sonora. Primeiro que este é provavelmente o primeiro retrato mais ousado de Gotham durante o período diurno. Por não precisar focar no Batman, o filme não necessita criar situações que obriguem a execução no período noturno.

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Segundo, temos uma direção surpreendente de Todd Philips (que muita gente só conhece de “Se Beber, Não Case!”). A versatilidade do cineasta para sair de uma pegada muito cômica para encarar uma obra muito dramática surpreende, principalmente pela sua visão intimista e também pelo olhar preciso da grande Gotham. E, terceiro, que trilha é essa? A composição de Hildur Guðnadóttir (das séries “Trapped” e “Chernobyl”) é o complemento perfeito para extrair esse novo Coringa!

E olha, para ser sincero, eu passei boas horas refletindo e escrevendo esse texto, tentando ponderar prós e contras, vendo as diferentes perspectivas, que o próprio filme propõe. Contudo, não há uma conclusão simples, assim como deveria ser em qualquer obra engenhosa. Se “Coringa” nos consegue fazer pensar em tópicos como criminalidade, vilões, heróis, sociedade, política, cotidiano e afins, eu acho que ele alcança seu resultado com maestria.

Na minha opinião, o filme “Coringa” é uma obra genial justamente por ser despretensioso ao tratar de um personagem de quadrinhos, mas por ser incisivo em suas mensagens intrínsecas quanto ao nosso lado mais humano. Talvez, para alguns o tom seja até glamourizado, porém eu acho que o recado vem de forma precisa para que tantos possam enxergar a desgraça.

Hannah Arendt | Trailer legendado e sinopse

Hannah Arendt é o retrato do gênio que sacudiu o mundo com sua descoberta da "banalidade do mal". Depois de participar do julgamento do nazista Adolf Eichmann, em Jerusalém, Hannah Arendt ousou escrever sobre o Holocausto em termos nunca antes ouvidos.

Seu trabalho instantaneamente provocou escândalo, mas Arendt continuou forte mesmo sendo atacada igualmente por amigos e inimigos. Porém, ao mesmo tempo em que os emigrantes judeu-alemães lutam para superar suas dolorosas associações com o passado, o filme expõe a sedutora mistura de arrogância e vulnerabilidade de Hannah Arendt -- revelando uma alma definida e marcada pelo exílio.

Crítica do filme Predadores Assassinos | Eles vão te caçar até você cansar!

Não é preciso ser um cinéfilo para perceber que há um mar de filmes (e oportunidades de fazer dinheiro fácil) com criaturas marinhas aproveitando situações oportunas para encher suas respectivas panças ou simplesmente para caçar por diversão. Na verdade, essa onda de filmes com predadores selvagens começou há algumas décadas e teve grandes títulos como “Tubarão” que marcaram época.

Todavia, as marés nem sempre foram favoráveis para outros monstros considerados reis do mundo animal: os crocodilos. Há alguns exemplos de filmes protagonizados por répteis famintos, mas esses são exceções e não muito famosos. Assim, “Predadores Assassinos” chega para tentar conquistar seu lugar em águas internacionais e fazer uma moral com um público que já está cansado dos Sharknados.

Curiosamente, a distribuidora do filme até tenta esconder essa informação na sinopse oficial, mas o cartaz e o próprio trailer não omitem tal detalhe, o que na verdade vem a calhar para chamar a atenção da garotada que adora um bom filme de caçadores ferozes da natureza. Contudo, a tática de esconder ao máximo essa surpresa é um tanto óbvio: garantir o máximo de ineditismo para o público.

Uma coisa interessante foi a forma como o roteiro foi montado, aproveitando para criar uma trama coerente e para unir dois tipos de filme em um só. Tudo começa quando um furacão atinge a Flórida e Haley (Kaya Scodelario) ignora as ordens das autoridades e vai procurar seu pai desaparecido (Barry Pepper). Assim, os dois ficam presos na inundação e logo descobrem que a chuva é o menor dos problemas.

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Essa ideia de misturar desastre natural e criaturas sinistras num mesmo local pode parecer um tanto forçada, mas “Predadores Assassinos” tem suas táticas para nos convencer e o faz de forma inteligente para prender nossa atenção — e, depois de um tempo, isso nem importa, porque o negócio é ver a bicharada fazendo a festa. Para quem não quer muitos detalhes adicionais, vale dizer que este é um filme completo de monstrão e certamente a história envolta em sustos vai fisgar você!

À toa na Lagoa

Essencialmente, a sinopse acima resume bem toda a trama da película, de modo que os poucos minutos de introdução são apenas uma contextualização para o miolo do longa-metragem, que realmente foca na dinâmica entre caça e caçador. Assim, analisando do ponto de vista de roteiro, o filme “Predadores Assassinos” realmente não tem muito o que contar, já que a ideia é entreter pelo susto e não pela história.

A parte interessante desse processo de “encher linguiça” é que o filme realmente faz uma ponte legal entre os dois gêneros propostos (desastre e predadores). Para quem é fã de filmes nesses estilos, certamente a união das duas ideias vai parecer coerente e permitirá, ao menos, desfrutar de boas cenas em meio aos fortes ventos e à inundação que se mostra incessante a cada instante.

Agora, é importante frisar que está tudo bem criar uma história com um mínimo de argumentos para chegar num clímax que anime a plateia. O problema é que o script dos irmãos Rasmussem dá rodeios desnecessários (e mesmo espichando, o filme ainda fica curto) e constrói personagens de forma forçada para tentar convencer o público do porquê da dupla protagonista estar submersa nesta situação um tanto inusitada.

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Ok, eventualmente, alguns argumentos vão servir para desenvolver os protagonistas, mas não temos nada de genial no roteiro. Para falar a verdade, o uso de flashbacks e toda a trama familiar acaba sendo irritante mesmo, pois o público não quer saber disso e nem tem tempo para se afeiçoar aos dois, uma vez que não estamos tratando de personagens famosos.

Nadando de braços aberto no terror

Bom, se por um lado “Predadores Assassinos” se afoga aos poucos em bobeiras na história, por outro ângulo temos uma composição de terror bem diversificada e até inovadora em alguns pontos. Dada a prisão do script num mesmo lugar, o script tem algumas cenas bem ousadas, tanto do ponto de vista técnico quanto da premissa de criar sustos em momentos oportunos.

Além do timing preciso nas aparições dos monstros, o filme conta com uma montagem inteligente, que abusa da fotografia permeada por penumbras, bem como de lugares que ficam ocultos ao espectador. Tudo isso cria um clima de tensão constante, que parece nunca terminar, criando um grande clímax do meio do filme até o final.

Vale mencionar que as cenas mais assustadoras não abusam da técnica de jump scare, mas se valem da construção das situações inusitadas, que fazem com que tenhamos uma perspectiva bem ampla de tudo que está acontecendo. Uma coisa bacana é que o roteiro dá conta de trazer algumas explicações científicas, que permitem à plateia ter noção de para quais locais devem manter seus olhos fixos.

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E, no fim do dia, o filme “Predadores Assassinos” sabe brincar com o perigo, trazendo muitas cenas bem montadas (com bons efeitos visuais e uma trilha sonora no capricho) e faz isso sem economizar no banho de sangue. Um filme que cumpre bem os principais requisitos para se encaixar na categoria “filme de bichão faminto” e que certamente vai ser um prato cheio para ver na telona!