Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald

A magia de uma franquia gigante

por
Thiago Moura

13 de Novembro de 2018
Fonte da imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 9 min

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Essa crítica é livre de spoilers e o filme será muito melhor se você não souber nada sobre ele, além é claro de ter lido todos os livros e visto todos os “Harry Potter”  e “Animais Fantásticos e Onde Habitam”. Se você já assistiu, evite contar publicamente sobre os segredos da trama.

A segunda parte de uma franquia sempre traz diversos desafios. O charme do primeiro filme precisa ser reproduzido enquanto uma nova história é contada. E quando o filme é o segundo de uma série de cinco, a dificuldade aumenta consideravelmente. Esse é possivelmente o maior problema de “Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald”, ser uma história inacabada e incompleta no meio de um mundo fantástico repleto de magia.

É preciso contar uma história que se insira em um contexto maior e preencher com momentos feitos para agradar os fãs de forma balanceada, e infelizmente não foi dessa vez que isso aconteceu. Novamente David Yates assume a direção e quem assina o roteiro é ninguém menos que a autora J. K. Rowling, responsável por criar todo o mundo de Harry Potter, mas que como roteirista é uma ótima escritora de livros.

Menos animais, mais crimes

O filme começa imediatamente após os eventos do primeiro filme, onde o sinistro mago das trevas Gellert Grindelwald (Johnny Depp) foi capturado pelo MACUSA (Congresso Mágico dos Estados Unidos da América) com a ajuda de Newt Scamander (Eddie Redmayne). Contudo, cumprindo sua promessa, Grindelwald fugiu da prisão e passou a reunir seguidores que, na maioria dos casos, desconheciam suas verdadeiras intenções: criar magos de sangue puro para dominar todos os seres não mágicos.

Na tentativa de frustrar os planos de Grindelwald, Albus Dumbledore (Jude Law) recruta seu ex-aluno Newt Scamander, que concorda em ajudá-lo, sem saber dos perigos que enfrentará pelo caminho. Tina (Katherine Waterston), Queenie (Alison Sudol) e Jacob (Dan Fogler) voltam para se aventurar pela Europa, enquanto dois lados se enfrentam, à medida que o amor e a lealdade são postos à prova, até mesmo entre amigos e familiares, em um mundo de bruxaria cada vez mais dividido.

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Assim como “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban” marcou uma mudança de tom na franquia, em “Crimes de Grindelwald” tudo é muito mais sombrio. O filme todo é mágico, os efeitos especiais são fascinantes e impecáveis, assim como o design de roupas, locações e principalmente as criaturas fantásticas.

Porém, se em “Animais Fantásticos e Onde Habitam” eles eram parte central da trama, aqui eles são meramente um artifício para demonstrar efeitos especiais ou vender bonecos. O foco é voltado totalmente para o desenvolvimento dos personagens, o que não é necessariamente ruim, mas destoa totalmente do que o primeiro filme propõe.

Como ser um trouxa no mundo mágico

Não entenda mal, eu adorei o filme e tenho certeza que será um sucesso entre os fãs. Mas ao sair do cinema e voltar para a realidade, você com certeza vai se questionar sobre o sentido de tudo. Mas fazendo uma respectiva, é apenas um monte de ideias jogadas na tela, algumas até desnecessárias.

Um bom exemplo é Nagini (Claudia Kim), a Maledictus destinada a se transformar permanentemente em uma cobra, algo que foi revelado durante um trailer. O fato dela mais tarde se tornar o animal de estimação de Voldemort é bastante relevante, porém durante o filme ela simplesmente está ao lado de Credence (Ezra Miller), fazendo nada.

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Quanto ao tão aguardado papel de Jude Law como o jovem Dumbledore. Seu relacionamento com Grindelwald é sugerido de forma tão sutil que talvez até passe despercebido. Pessoalmente achei que apesar de Law não aparecer tanto durante o filme, Dumbledore continua sendo uma figura bastante respeitável e poderosa, com certeza veremos mais demonstrações de sabedoria e poder nos próximos filmes, mas aqui a sensação de insaciedade permanece.

E é nesse ponto que eu gostaria de chegar. É claro que todo fanservice é agradável, mas no final a sensação é que não havia uma história ali, apenas momentos que serão explorados em um dos próximos filmes, tornando “Os Crimes de Grindelwald” apenas uma prévia para algo que ainda não existe. O roteiro se perde em diversas tramas confusas e desnecessárias, com personagens demais e nenhuma profundidade.

Rowling é uma excelente escritora, mas a diferença de livros para o cinema é gritante. Ela tende a adicionar muito mais do que o filme precisa, detalhes, monólogos cansativos e cenas sem graça, algo que poderia ser facilmente solucionado com um co-roteirista ou até mesmo um editor para guiá-la até o produto final. A esperança é que isso aconteça nos próximos capítulos.

Só magia top

O principal problema do primeiro filme era a falta de desenvolvimento dos personagens, focando mais nas criaturas. Esse problema foi revertido de forma bem eficaz, já que agora tudo gira em torno de relacionamentos e confrontos familiares.

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Redmayne continua impressionante como Scamander. Sua incapacidade de olhar nos olhos de alguém por mais que alguns segundos, sua doçura cativante e empatia com qualquer criatura transborda em todos os momentos. O problema é que colocam esse ser tímido e esquisito no meio de um confronto épico e ele precisa decidir de que lado vai ficar, tomando partido ativamente para mudar o mundo ao invés de esperar que outras pessoas façam isso por ele.

Dumbledore diz que admira Newt porque ele não procura poder, mas que “simplesmente pergunta-se, essa é a coisa certa a se fazer?”. Newt não vem de uma linhagem poderosa ou é o protagonista de uma profecia antiga, seu superpoder é simplesmente sua bússola moral, sendo um perfeito herói do ponto de vista narrativo. Redmayne retrata magistralmente todo o conflito de Scamander, seus olhos brilham e ele fica em paz enquanto está perto de uma criatura mágica, mas parece melancólico enquanto precisa fazer coisas mais mundanas e sérias.

Conhecemos também a relação de Newt com seu irmão Theseus Scamander (Callum Turner), um auror que representa tudo que ele não gostaria de ser, além de Leta LeStrange (Zoe Kravitz) a moça do retrato que Newt carregava e todos os motivos que levaram Leta e Newt não ficarem juntos.

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O retorno de Jacob e Queenie deixam de ser apenas o alívio cômico para dar lugar a questionamentos a respeito do que é seguro e moral em relacionamentos amorosos. Tina continua sendo uma Auror de respeito e a tensão entre ela e Newt é um contraponto perfeito a Jacob e Queenie. Gostaria de explorar mais sobre esses assuntos, mas é melhor você assistir.

Credence Barebone, o Obscurial do primeiro filme não tem muito desenvolvimento, passando a maior parte do tempo emburrado e tentando descobrir quem ele é realmente, mas sem muito sucesso. Por outro lado, Grindelwald (Johnny Depp) é instantaneamente cativante como vilão, tanto por seu histórico fora das telas quanto por seu jeito e aparência bizarros. Particularmente acho Grindelwald um vilão muito mais interessante que Voldemort (Ralph Fiennes), um ponto positivo é que não se parece com nenhum dos já característicos personagens de Depp.

Seu crime foi amar demais?

J.K. Rowling adiciona milhares de referências ao universo bruxo que todos conhecem e amam, versões mais novas de personagens consagradas (algumas até contradizendo materiais anteriores) e expande a magia para além dos muros da escola. Porém os problemas de narrativa atrapalham um pouco o encanto, apesar de todas as reviravoltas que a história conta. 

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Os Crimes de Grindelwald te convidam a investir novamente em personagens que talvez sejam realmente incríveis em filmes futuros, mas que por enquanto são apenas ideias colocadas alternadamente em cenas magníficas e tediosas. É bastante ambíguo sim, assim como os supracitados crimes, você vai ser convidado a amar ou odiar o longa, sem chance para ficar em cima do muro.

Fonte das imagens: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald

Magos das trevas e onde habitam...

Diretor: David Yates
Duração: 134 min
Estreia: 15 / Nov / 2018
Thiago Moura

Curto as parada massa.