Crítica do filme La La Land

Um musical nostálgico, sentimental e divertido

por
Thiago Moura

12 de Janeiro de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Paramount Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 7 min

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Sim, mais uma história de amor, e das boas. Se você acompanhou o Globo de Ouro deve ter notado que um tal ““La La Land” dominou a premiação, vencendo todas as categorias em que foi indicado. Nada menos que sete estatuetas, fazendo desse filme o maior vencedor de Globos da história. E talvez você pense que isso é um exagero e premiações não significam muito no quesito “filme bom”. Mas nesse caso, não é a toa!

Não ouse esperar por um musical infantil ou brega, e principalmente não tente comparar com Glee! “La La Land” é sobre dois sonhadores na cidade de Los Angeles. Presos no congestionamento de uma rodovia, ele buzina para ela acelerar, pois finalmente o trânsito começou a fluir. Ela responde elegantemente mostrando o dedo do meio. O amor é lindo, não é mesmo?

Seu nome é Sebastian (Ryan Gosling), um excelente pianista frustrado, que precisa ganhar a vida tocando músicas de natal ao invés de jazz, sua verdadeira paixão. Enquanto isso, Mia (Emma Stone) trabalha em um café próximo aos grandes estúdios hollywoodianos, dividindo seu tempo entre ensaios e testes para papéis em filmes que não tem nada a ver com ela.

City of stars, are you shining just for me?

O musical foi escrito e dirigido por Damien Chazelle, com músicas escritas por Justin Hurwitz e letras de Benj Pasek e Justin Paul. Chazelle é o mesmo diretor de “Whiplash”, e é visível que os dois filmes são sobre sonhadores, porém executados de formas distintas. “Whiplash” foca na ideia que os sonhos são destrutivos e que sem esforço eles nunca se realizarão. Enquanto em “La La Land”, é preciso correr atrás do sonhos e fazer de tudo para alcançá-los, arcando com todos os custos, largando o emprego chato e deixando para trás coisas que não te ajudem a chegar lá.

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Parte do propósito do filme é visitar o passado e enaltecer uma Hollywood de raiz, nesse sentido a cidade serve como um personagem. Durante diversas cenas, vemos o casal se conhecendo enquanto contam um para o outro sobre lugares históricos e sua importância, tanto sobre jazz quanto cinema. E é um musical, lembra? Raramente vemos um protagonista começar a cantar e dançar enquanto caminha pela cidade e isso parecer algo natural. A divisão entre o real e os sonhos fica cada vez mais tênue durante o decorrer do filme, e é impossível não se deixar levar por isso tudo.

O filme é estruturado pelas quatro estações, e além do óbvio propósito de passagem de tempo, as sutis emoções evocadas pelo clima ficam evidentes, com pessoas explodindo de alegria e dançando na rua durante o verão, em contraste a algo mais fechado e intimista no inverno.

Como era de se esperar, a trilha sonora é um dos destaques do filme. Mas é um musical, não deveria ser O destaque? Sim, a trilha é encantadora e faz qualquer um querer cantarolar e sair dançando, e o trabalho de Justin Hurwitz é impecável. Mas as músicas só servem de apoio para Ryan Gosling e Emma Stone brilharem de verdade, com uma química tão sobrenatural que até parece coisa de filme.

E assim como esse romance dançante e divertido, a grande sacada do filme é que em Los Angeles tudo e todos parecem fingir ser algo diferente do que realmente é. Mas o diretor fez questão de mostrar as coisas como são, por mais artificiais e falsas que possam parecer. O que dizer desse céu incrível,, só pode ser falso, certo? Errado!

A paleta de cores de “La La Land” é vibrante por diversas razões, mas a principal é que Chazelle escolheu filmar em  2.55 CinemaScope, um formato usado predominantemente nos anos 1950, antes de Hollywood convencionar usar 2.40:1, o formato utilizado até hoje. Novamente, uma homenagem ao cinema de raiz.

Explosão de cores, música contagiante e danças espetaculares

Em uma das cenas, Sebastian diz que hoje em dia a palavra “romântico” é usada como palavrão, de forma pejorativa mesmo. Ele vai na contramão dessa ideia, abraça o romantismo e envolve Mia nesse pensamento, que nem tudo precisa ser sombrio, cinzento e triste. Há coisas, lugares, pessoas, músicas e momentos lindos no mundo, e é preciso enaltece-los.

Tanto Stone quanto Gosling colocam muito sentimento nas canções. Eu fui surpreendido positivamente diversas vezes ao longo do filme, é incrível a capacidade desses dois lindos. O elenco de apoio não é tão significativo, com breves participações de JK Simmons como chefe de Sebastian no bar em que trabalha, e o músico John Legend como seu parceiro musical.

Mas eu preciso falar do amor da minha vida, Emma Stone. Seus papéis são geralmente voltados para comédia e alguns dramas, sempre encantadores. Em “La La Land” além das grandes cenas de dança que divide com Gosling, ela faz um grande solo de tirar o fôlego e derreter o coração gelado de qualquer um. É surpreendente que com sua voz rouca e dicção tão características ( ) a canção se encaixe tão perfeitamente na voz dessa deusa, algo que poderia ser facilmente dublado por uma cantora mais experiente, é tirado de letra por Stone.

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Os mais puristas podem se sentir incomodados pelo filme tratar de jazz e ser protagonizado por um casal de branquelos. Mas convenhamos, que casal lindo! Sinceramente, eu assistiria qualquer coisa que a Emma Stone faça, inclusive esse musical, que não é nem de longe um gênero que me interesse. A química dos dois é praticamente palpável, é fácil acreditar que o romance está acontecendo mesmo, inclusive na parte final que eu não vou revelar porque ela precisa ser vivida!

Apesar de parecer um "roubo" cultural, o filme é sobre um casal que se conhece, se apaixona e correm atrás dos próprios sonhos. O jazz serve de base para Sebastian, que apesar de ser branco ama a música de todo coração, idolatra e presta homenagem aos gênios revolucionários do passado. Se fosse um ator negro, seria melhor representado nesse sentido? Sem dúvida. Mas novamente, esse não é o foco do filme, então acredito que a escolha tenha sido acertada.

Desde a primeira cena fica claro que o filme se trata de um passeio por uma Los Angeles idealizada e repleta de sonhos a serem realizados. E é fácil olhar pra isso tudo de forma cínica, difícil é não se deixar levar por uma direção tão impressionante e descaradamente romântica, no melhor sentido. Esse é o tipo de filme que vale a pena desembolsar um dinheiro a mais para ver num cinema de boa qualidade, principalmente de boa qualidade sonora. E prepare-se para a montanha russa emocional.

Fonte das imagens: Divulgação/Paramount Pictures

La La Land - Cantando Estações

Isso deve ser o começo de algo novo e lindo!

Diretor: Damien Chazelle
Duração: 126 min
Estreia: 12 / Jan / 2017
Thiago Moura

Curto as parada massa.