Omar Sy - Café com Filme

Crítica do filme Era uma vez um Deadpool | A segunda vez ainda é boa

Era um belo dia e estava você estava lá dando aquela navegada no Café com Filme e, de repente, se depara com um filme chamado “Era uma vez um Deadpool”. E aí a primeira coisa que vem à cabeça é se já não teve um filme do Deadpool esse ano?

Bingo! Acertou na mosca. Lá pelo mês de maio, a Fox trouxe o capítulo 2 das loucas aventuras do anti-herói para as telonas do Brasil e todo mundo amou o que viu. Então, o que diabos seria esse novo filme? Já está na hora de um terceiro longa-metragem?

Bom, a verdade é que, depois do sucesso do filme “Deadpool 2”, os produtores da Fox ficaram se questionando como eles poderiam fazer mais dinheiro sem ter que gastar muita coisa. Aí alguém na sala teve a brilhante ideia de “e se a gente relançasse o filme sem o sangue e com interferências sonoras nos palavrões?” (tipo a ideia de relançar “Logan”).

Pronto, era só essa ideia que os caras precisavam pra encher “o rabo de dinheiro”. Então, pra resumir, é bem simples: “Era uma vez um Deadpool” é basicamente o “Deadpool 2”com leves modificações. Temos aqui um narrador ainda mais presente, diálogos entre algumas cenas e umas surpresinhas.

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Dito isso, antes que você continue a leitura, aproveito para adiantar que não vou falar de “Deadpool 2” neste texto, pois já temos uma crítica do filme, então os parágrafos a seguir focam nessa nova pegada mais light.

Legal, Fábio, mas vale a pena pagar pra ver o mesmo filme no cinema? A resposta é sim e não. No fundo, quem amou o filme não vai ver muito problema em pegar aquela sessão de promoção pra dar boas risadas e quem perdeu a chance de ver o cretino atirador na telona em maio tem agora mais uma chance – o que incluiu os mais jovens que não podiam entrar na sala desacompanhados.

Por outro lado, vale a dica de usar a grana pra ver outro filme na telona, já que as novas cenas não fazem deste um novo longa-metragem, ainda que possam agregar algumas novas piadas (incluindo as que já estão no trailer). Se for somar todas as cenas novas, talvez a gente está falando de uns 10 minutos adicionais, mas que não mudam o desfeche da parada.

Uma nova narrativa, que empolga, mas cansa, mas ainda empolga, só que cansa

A história de “Deadpool 2” já estava fechada e não havia como mexer nela para relançar o filme, então qual foi a brilhante ideia para chamar a atenção do público? Basicamente, os roteiristas resolveram colocar o próprio Deadpool não apenas como um narrador em segundo plano, mas com cenas dedicadas para contar a história.

Ele apenas conversando com o espectador não daria certo, por isso a tomada de narrativa se dá após mostrar o mascarado lendo um livro dele mesmo para Fred Savage (que você talvez não conheça, mas que já fez vários filmes e séries que você talvez nunca viu). E por que esse cara? Oras, por motivos de porque sim (agora tudo precisa ter justificativa?).

A pegada do filme é a mesma do trailer, com piadinhas de que o filme podia ser bom se fosse da Marvel, com outras piadas rebatendo que agora a Fox é da Disney, que é dona da Marvel, que é dona do Deadpool, que não é dono de nada, e por aí vai... Algumas piadas funcionam bem, outras são bem forçadas, mas ajudam a dar um novo folêgo para o filme.

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O único problema é que esse vai e vem entre as cenas originais e as novas interações podem ser mais frequentes do que precisava ser, o que torna o ritmo um tanto esquisito. Não é ruim, mas também não precisava exagerar. Talvez cenas que fugissem do tradicional ambiente do quarto e um cara mais engraçado poderiam colaborar para uma melhor dinâmica.

É tipo um sorvete que você já comeu, mas com outra calda por cima; que não é igual o primeiro sorvete com sabor inédito, mas ainda é bom porque é sorvete delícia

A falta de sangue e as interferências sonoras na hora dos palavrões pode incomodar os espectadores mais sanguinolentos, mas a ideia era alcançar um novo público, então a Fox está “pouco se lixando” pra quem não gostar (até porque quem quiser pode rever o Deadpool 2). No fim, o resultado de “Era uma vez um Deadpool” ficou divertido e tem uma breve (muito breve) homenagem ao Stan Lee, então são pequenas surpresas que valem a pena.

Crítica do filme Caixa de Pássaros | De olhos bem fechados

Malorie está grávida de uma relação que já terminou e vive um momento de incertezas. Como será sua maternidade? Deve manter a criança ou entregá-la para adoção? Será que ela consegue – ou, será que ela quer? – incorporar o papel de mãe? A artista plástica, no entanto, tem suas reflexões e suas dúvidas da maternidade interrompidas quando, ao lado de sua irmã, Jessica, observa o mundo inteiro ir à loucura.

Em diferentes lugares espalhados pelo mundo, as pessoas começam a tomar atitudes incompreensíveis. Expostas à luz, elas veem algo que ninguém sabe muito o que é, mas que faz com que desejem a morte e se suicidem das maneiras mais dolorosas, porém sem sentir nada.

A instigante história criada por Josh Malerman em seu best seller "Caixa de Pássaros" chegou ao catálogo da Netflix na forma de um longa-metragem dirigido por Susanne Bier (das séries The Night Manager e The Undoing) e com roteiro adaptado por Eric Heisserer, trazendo Sandra Bullock no papel da protagonista.

Em mais um belo trabalho de atuação, a atriz de "Gravidade" e "Um Sonho Possível" incorpora brilhantemente a personagem que, antes incerta de suas decisões e despreocupada ao lado da irmã, interpretada por Sarah Paulson, agora dá lugar a uma mãe destemida, que vai lutar com unhas e dentes, de venda sobre os olhos e tudo, para proteger sua prole.

Sandra Bullock consegue captar cada um dos diferentes momentos da personagem, o que faz toda a diferença para retratar também fases distintas na narrativa

No elenco ao lado dela, estão nomes como John Malkovich, BD Wong, Trevante Rhodes, Rosa Salazar, David Dastmalchian, Parminder Nagra, Machine Gun Kelly, Tom Hollander e Jacki Weaver, que interpretam outros sobreviventes de um surto que fez com que boa parte da população fosse dizimada da face da Terra.

Suspenses dos sentidos

Na linha de Um Lugar Silencioso, suspense pós-apocalíptico que foi o grande sucesso do gênero nos cinemas em 2018, "Caixa de Pássaros" é outro filme que tem toda sua trama envolta nos sentidos. Enquanto o primeiro se passa em um universo no qual qualquer barulho, mesmo os mais leves e discretos sons, podem atrair criaturas assassinas, no segundo o responsável por espalhar o terror é uma força desconhecida e que permanece nas sombras.

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Tudo o que os personagens – e o público – sabem é que não se deve abrir os olhos e olhar para a luz. Como lidar com um inimigo que não tem rosto? O brilhantismo do roteiro de "Caixa de Pássaros" que é trabalhado também com primazia no livro, talvez de uma forma ainda melhor elaborada nas páginas escritas, é justamente o mistério em torno do vilão. É uma força magnética? Uma criatura invisível? Um ser sobrenatural?

Malorie e os demais sobreviventes ficam, literalmente, no escuro. Para se proteger contra os efeitos deste inimigo desconhecido, todos só sabem de duas coisas: É preciso cobrir as janelas e bloquear qualquer entrada de luz e há uma única forma de saber que algo se aproxima: os pássaros.

Para garantir a subsistência, eles só conseguem sair de casa se estiverem vendados – o que faz com que o filme se torne quase um "Ensaio Sobre a Cegueira", mas sem toda a dose de reflexão sobre o mundo e a cegueira social proposta por José Saramago em seu livro/filme.

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A trilha sonora típica de suspense e a estética que trabalha muito em cima dos jogos de luz e da iluminação indireta sobre os ambientes também contribuem para ajudar a construir o clima do filme, que consegue envolver o espectador no desenrolar da trama, contada de forma não linear, mesclando passado e presente para, aos poucos, fazer com que o espectador entenda como Malorie chegou onde chegou.

Mesmo com todas as diferenças de linguagem entre os dois meios, o filme consegue se bastante fiel à proposta da história original contada no livro de Malerman, fazendo apenas algumas poucas e justas adaptações para tornar certos aspectos mais ou menos evidentes, mas nada que cause estranhamento para os leitores mais apegados à obra escrita.

Apesar disso, no entanto, quem desfrutou cada uma das páginas do livro pode sentir que, na tela, a história se desenrola apressadamente, quase demais. Alguns fatos que consomem horas e horas de leitura e que, no livro, fazem com que os espectadores percebam com muito mais intensidade a passagem do tempo, são visitados muito brevemente no longa-metragem da Netflix – necessário, se a intenção era contar toda a história em menos de duas horas, porém um pouco atropelado

Arctic Dogs | Teaser trailer oficial e sinopse

Animais do ártico que ganham super-poderes e se juntam com outros amigos pouco experientes (e desacreditados) para derrotar o maligno Doc Walrus, uma morsa dublada por John Cleese (Harry Potter).

Critica do filme Millennium: A Garota na Teia de Aranha | Bug do Millennium

A série literária “Millennium” conseguiu, ao longo da última década, vender mais de 80 milhões de cópias ao redor do globo. A trilogia original, escrita pelo falecido escritor sueco Stieg Larsson, rendeu uma série de filmes em sua terra natal — que ajudaram a mostrar o talento da sueca Noomi Rapace para o mundo — bem como uma refilmagem estadunidense comandada pelo brilhante, David Fincher.

Mesmo com algumas diferenças, as duas adaptações conseguiram fazer um belo trabalho em trazer todo o clima de tensão dos livros. Na verdade, um dos pontos mais interessantes das adaptações é como tanto na versão sueca como na hollywoodiana, a cadência narrativa e o clima de mistério são análogos, focando na investigação e desenvolvimento dos personagens. Vale destacar que a refilmagem de David Fincher foi indicado para cinco estatuetas do Oscar 2012, faturando o prêmio de melhor edição.

Apesar de a Sony ter planejado as continuações para a Millennium: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres (2012), os projetos nunca saíram do papel. Enquanto isso, no reino da 6ª arte, lá nos idos de 2013, o escritor David Lagercrantz foi incumbido pela editora Norstedts de escrever uma continuação da Trilogia Millennium de Stieg Larsson. Batizado no Brasil como A Garota na Teia de Aranha (Det som inte dödar oss) o quarto romance da série Millennium, promoveu o retorno da dupla Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist.

Percebendo a volta do interesse do público, a Sony resolveu retomar o projeto diretamente da quarta  parte, A Garota na Teia de Aranha, deixando para trás o diretor David Fincher e os atores Rooney Mara ( Lisbeth Salander) e Daniel Craig (Mikael Blomkvist). Sob a tutela de Fede Alvarez, responsável pelo ótimo O Homem nas Trevas, e com um elenco revigorado — encabeçado por Claire Foy (O Primeiro Homem) — a nova adaptação é um misto curioso de continuação e reboot (recomeço) da série, se distanciando das outras iterações e tentando criar um estilo próprio.

Grande é a teia que tecemos, quando aos outros enganamos

Como dito anteriormente, o filme se inspira no quarto livro da franquia Millennium, o primeiro de David Lagercrantz, que assumiu a linha após a morte do criador Stieg Larsson. Por conta disso, é inevitável a estranheza quanto ao cenário, pois assume-se que espectador está minimamente familiarizado com os personagens e temas da série. 

Sem perder tempo, Fede Alvarez coloca nos dentro do duro mundo de Lisbeth Salander. Após os eventos da trilogia original — que não recebem sequer um “flashback” para benefício dos espectadores mais deslocados — Mikael Blomkvist (Sverrir Gudnason) seguiu escrevendo para a revista Millennium, na qual publicou várias reportagens sobre o Lisbeth Salander (Claire Foy) e seu passado sombrio. 

A hacker ficou conhecida como uma espécie de anti-heroína, que ataca homens corruptos e misóginos. Apesar da fama repentina, ela consegue se manter distante da mídia até que contatada por Balder (Stephen Merchant), um programador que pede que Lisbeth recupere uma de suas criações o Firefall — um projeto governamental capaz de assegurar o controle os arsenais nucleares de qualquer nação.

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Lisbeth, temendo que o programa caia nas mãos erradas, aceita a missão e consegue extrair o programa dos servidores da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos. Entretanto, um grupo de criminosos conhecidos como Aranhas, também estão interessados no sistema, sendo que os mesmos também possuem uma conexão muito próxima a Lisbeth.

Como esperado em qualquer tecno-thriller temos uma boa dose de digitação acelerada em telas múltiplas. A trama, que não traz nada de original, se desenvolve razoavelmente bem, introduzindo algumas curvas morais e dilemas éticos. Entretanto, tudo parece muito distante do estilo taciturno estabelecido tanto na trilogia original como na refilmagem de David Fincher.

A investigação ainda acontece, mas de uma maneira muito mais acelerada. A escolha de Fede Alvarez pela ação em detrimento do suspense pode afastar fãs das histórias originais, ao mesmo tempo em que deixa claro seu intento em criar algo diferente.

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O beijo da mulher-aranha

Claire Foy é o maior destaque do filme, não apenas por ser o nome mais famoso do elenco — seguida talvez por Sylvia Hoeks (Blade Runner 2049) — mas por entregar uma interpretação sólida.  A atriz — que ganhou fama com o seriado The Crown, mas que já vinha mostrando seu talento em filmes como Distúrbio, Uma Razão para Viver e do recente O Primeiro Homem — consegue emular o estilo de suas predecessoras, as igualmente excelente Rooney Mara e Noomi Rapace.

Elementos quintessenciais como a fluidez de gênero e sexualidade são evidenciadas por movimentos sutis e pela própria caracterização andrógina de Claire Foy. Se alguns podem questionar o sotaque da atriz, pouco se pode criticar quanto a forma como ela entrega as falas. Com um talento especial ela consegue se apropriar da personagem ao mesmo tempo em que faz referência ao estilo daquelas que a antecederam, seja no tom de voz ou até mesmo na forma como segura um cigarro.

Todavia há uma disparidade entre a Lisbeth de Claire Foy e a Lisbeth imaginada por Alvarez. Claire Foy faz um belo trabalho em trazer para telas o simulacro esperado pelos fãs da série, entretanto, “A Garota na Teia de Aranha” é uma nova visão da série Millennium e fica claro como o diretor tentou imprimir seu estilo, inserindo muito mais ação do que nas iterações anteriores. Assim a atuação de Foy acaba destoando um pouco do cenário, haja vista que ela traz muito da essência taciturna dos originais e não parece abracar totalmente o estilo “Jason Bourne” da nova Lisbeth.

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Porque aranhas não ficam presas nas próprias teias?

Millennium: A Garota na Teia de Aranha é um bom thriller policial, repleto de ação, mistério e algumas reviravoltas interessantes. Fede Alvarez entrega um trabalho interessante, mesmo que menos criativo do que O Homem nas Trevas, enquanto Claire Foy domina a película como a hacker-vingadora-feminista-pansexual Lisbeth Salander.

O grande ponto, negativo ou não, é a dissonância de A Garota na Teia de Aranha com o resto da franquia. Nos livros, nas adaptações suecas e na refilmagem estadunidense, fica evidente o tom sóbrio da narrativa e dos personagens. No entanto, em A Garota na Teia da Aranha temos algo totalmente diferente, com uma Lisbeth mais ativa, um Blomkvist que beira a inutilidade, e uma história megalomaníaca que se espelha em um episódio da franquia 007.

Fede Alvarez entrega um bom filme, que não tem nada a ver com a franquia Millennium!

As mudanças abalam a apreciação do filme como uma nova edição da série Millennium, mas ajudam a entregar um filme ágil que possui uma identidade própria e que abre muitos caminhos para o futuro da personagem. A pergunta que fica é se esse distanciamento todo é algo bom ou ruim? 

A Língua das Mariposas | Trailer oficial e sinopse

O mundo do pequeno Moncho estava se transformando: começando na escola, vivia em tempo de fazer amigos e descobrir novas coisas, até o início da Guerra Civil Espanhola, quando ele conhecerá a dura realidade de seu país. Rebeldes fascistas abrem fogo contra o regime republicano e o povo se divide. O pai e o professor do menino são republicanos, mas os rebeldes ganham força, virando a vida do garoto de pernas para o ar.

Culpa (2018) | Trailer legendado e sinopse

O policial Asger Holm (Jakob Cedergren) está acostumado a trabalhar nas ruas de Copenhaguem, mas devido a um conflito ético no trabalho, é confinado à mesa de emergências. Encarregado de receber ligações e transmitir às delegacias responsáveis, ele é surpreendido pela chamada de uma mulher desesperada, tentando comunicar o seu sequestro sem chamar a atenção do sequestrador. Infelizmente, ela precisa desligar antes de ser descoberta, de modo que Asger dispõe de poucas informações para encontrá-la. Começa a corrida contra o relógio para descobrir onde ela está, para mobilizar os policiais mais próximos e salvar a vítima antes que uma tragédia aconteça.