Stan Lee - Café com Filme

A Promessa (2017) | Trailer legendado e sinopse

Durante os turbulentos últimos dias do Império Otomano, surge um triângulo amoroso entre Michael, um estudante de medicina, Ana, uma sofisticada mulher, e Chris, um renomado jornalista americano.

Thor: Ragnarok | Novo Trailer legendado e sinopse

E se houvessem forças desconhecidas capazes de abalar o poder dos asgardianos? Thor vive seu pior pesadelo após conhecer Hela (Cate Blanchett), que ameaça a sobrevivência de seu povo. Agora, por mais bizarro que isso pareça, o poderoso herói de longas madeixas terá de enfrentar um amigo: o poderoso Hulk.

Crítica do filme T2 Trainspotting | Você é um viciado em nostalgia

Não tente retornar ao seu passado. Tudo era maior, mais colorido e intenso do que parece hoje em dia, como adulto. Mantenha sua memória vívida, mas não tente reviver aquele momento, pois vai parecer muito chato. Embora o diretor Danny Boyle tenha afirmado em entrevistas que não pretendia recriar algo tão icônico quanto o original, "T2 Trainspotting" bebe e revive o passado constantemente.

Considere os tumultuados anos 90, onde o grunge deu seu lugar a raves e música eletrônica, ao lado de diversas drogas sintéticas e toda a estética estranha que tanto amamos. Lembra de Born Slippy? É claro que sim! Mas estamos em 2017, muita coisa mudou e é nesse cenário que "T2" encontra-se.

O marcante discurso de "Choose Life" é um grande desafio que é aceito por Boyle, que sabe exatamente como retratar isso com diálogos inteligentes, imagens divertidas e cenas marcantes. Só que tudo isso já estava no primeiro filme, então sua relação com "T2" vai depender da sua identificação com o "Trainspotting" original.

Mesmas pessoas, erros diferentes

t2 3 dff0d

Um dos motivos do hype por "T2" é o retorno de todo o elenco original. Ewan McGregor (Mark Renton), Jonny Lee Miller (Sick Boy/Simon), Robert Carlyle (Begbie), Ewen Bremner (Spud) e até uma breve participação de Kelly Macdonald (Diane, a colegial). É justo dizer que após 20 anos eles até que envelheceram bem, principalmente se levarmos em conta a quantidade de drogas utilizadas.

Brincadeiras a parte, a química entre os atores é tão tangível que realmente parece um reencontro de velhos amigos, exceto que o final do primeiro filme não foi exatamente amistoso. As 16 mil libras que deveriam ser repartidas igualmente entre eles foram levadas por Mark, e obviamente seus companheiros não ficaram felizes com isso.

Renton retorna para Edimburgo, encontrando Simon tentando manter um bar que não é exatamente popular na cidade, viciado em cocaína e que busca chantagear figurões da cidade com sua parceira Veronika (Anjela Nedyalkova). Begbie está preso e alimenta um ódio mortal por Renton, enquanto Spud voltou a usar heroína após uma série de desastres em sua vida pessoal. Basicamente estão todos tão perdidos na vida quanto a 20 anos atrás.

“Trainspotting” foi baseado no livro de Irvine Welsh, tendo uma sequência intitulada “Porno”, onde o foco é o vício em pornografia. Algumas ideias foram emprestadas desse material, mas no geral é uma história nova que se conecta diretamente ao primeiro filme.

Mas e as drogas?

t2 2 61495

Bem, eles continuam usando drogas sim. Mas de forma bem menos regular e decadente, ao invés de simplesmente sair por aí ficando doidões, o foco agora é outro. E infelizmente cenas icônicas como Mark tentando resgatar um supositório no pior banheiro da Escócia ou bebês bizarros andando no teto não cabem em "T2".

Em diversas cenas, os protagonistas estão cercados de memórias e nostalgia; Simon tem diversas fotografias antigas a sua volta, Spud começa a escrever todos as aventuras quase inacreditáveis da juventude ao lado de seus amigos e Mark revisita locais e até reencena momentos do primeiro filme, enquanto Begby não conseguiu se conformar com a traição.
Todos estão presos ao passado e não conseguem amadurecer para ter uma vida melhor, em grande parte pelas memórias que os prendem.

Sendo assim, para quem não conhece o primeiro “Trainspotting”, pode parecer uma história fresca e intrigante, mas os fãs recebem essa sequência como um complemento bem-vindo as questões que ficaram no passado, além de rever os personagens queridos. Contudo, a nostalgia é o combustível.

Não tente fugir do vício, seja viciado em outra coisa

t2 4 4b4e0

Mesmo sem as drogas e todo o discurso velado dos anos 90, "T2" é de certa forma deprimente, mostrando que se você não fizer nada pra mudar, daqui a 20 anos vai ser tudo igual na sua vida. O primeiro filme engana ao mostrar a traição de Renton, roubando dinheiro dos amigos e fugindo em busca de uma oportunidade nova, dando esperança de que tudo pode melhorar. Mas a verdade é que a história se repete, uma nova oportunidade de traição aparece e tudo volta ao começo, as vezes pior.

Nostalgia pode prover um certo conforto, mas como Sick Boy diz para Renton, “Você é um turista em sua própria memória. Só está aqui pela nostalgia.” Isso serve muito bem para você, assistindo o mesmo filme que te marcou a vários anos atrás. O ponto é que o filme mostra que o conforto pode ser bastante prejudicial. Quem nunca parou para pensar em algum ponto da sua vida “estou fazendo algo significativo?”

Enfim, o discurso que encerra o primeiro filme da forma mais catártica possível está presente aqui, mas repaginado para nossa época. Renton proclama essas palavras durante o trailer, mas no filme é totalmente deslocado e não condiz minimamente com a filosofia de “escolha a vida”. De qualquer forma, são ótimas ideias e um ótimo filme.

Conta Comigo (1986) | Trailer legendado e sinopse

Em uma pequena cidade florestal do Oregon, quatro amigos — o sensível Gordie (Wil Wheaton), o durão Chris (River Phoenix), o destemido Teddy (Corey Feldman) e o acovardado Vern (Jerry O'Connell) — estão à procura do corpo de um adolescente desaparecido. Querendo ser heróis diante dos amigos a aos olhos da cidade, eles partem numa inesquecível viagem de dois dias que se transforma em uma odisséia de auto-conhecimento. Eles fumam escondidos, contam casos assustadores e descobrem que precisam ficar unidos e encontrar forças que nem imaginavam possuir.

Crítica do filme A Lei da Noite | Nuances de um criminoso romântico

A época é de Oscar, mas hoje vamos falar de um filme que, apesar de promissor, não conseguiu uma vaga na tão cobiçada premiação.

Quem sabe, você nem sabia desta produção, porém tem um punhado de argumentos que justificam o hype e até discussões entre os cinéfilos que aguardavam mais uma grandiosa obra de Ben Affleck.

Diretor, roteirista, produtor, ator, cameraman, rapaz do café, responsável pela limpeza, estilista dos amigos, Bruce Wayne, Batman, forte, bonito e inteligente. Esses são os cargos de Affleck em “A Lei da Noite” filme que, com tantos pitacos do premiado diretor, prometia chegar na pinta do Argo, mas com uma proposta mafiosa e cheia de reviravoltas criminosas.

Quer mais? Além de Affleck em posições tão importantes, o filme ainda conta com Leonardo DiCaprio, Jennifer Todd (de “Amnésia”) e Jennifer Davisson Killoran (produtora de “O Regresso”) como produtores. Junte todas essa informações com “o esboço do filme começou faz cinco anos” e temos uma grande promessa.

A história se passa nos buliçosos anos 1920, quando a proibição da Lei Seca americana não interrompeu o fluxo de bebidas em estabelecimentos dirigidos por mafiosos.

A oportunidade de ganhar poder e dinheiro estava à disposição para qualquer homem com ambição e nervos suficientes, e Joe Coughlin (Ben Affleck), o filho do Superintendente da Polícia de Boston, há muito tempo deixou para trás sua rígida educação para sucumbir à adrenalina de ser um fora-da-lei.

leidanoite0 6646c

Acontece que, neste caminho perigoso, Joe cometeu uma grande cagada: traiu duplamente um poderoso chefão da máfia, ao roubar seu dinheiro e sua mulher. O romance termina em tragédia, e Joe decide se vingar. Movido por ambição, romance e traição, ele resolve se aliar a outro mafioso para dominar o contrabando de rum na cidade de Tampa.

Essa pitadinha do roteiro já vende bem, mas o trailer é a cartada final para deixar o espectador ansioso quanto a esse mundo cheio de estilo e violência. O filme dá certo, com uma pegada diversificada (similar ao que vemos no jogo Mafia) e com ousadia na produção, só que os rumos do roteiro podem ter sido um verdadeiro tiro no pé (com o perdão do trocadilho).

Criminoso convicto, mas um tanto perdido

Quem sou eu para argumentar sobre o roteiro de Ben Affleck, não é mesmo? Só vamos combinar que até gênios podem dar mancadas. Eu não li o livro que deu base para o filme (para dizer se eles têm a mesma estrutura), mas um bom roteirista deve polir sua joia até que ela esteja pronta. Não dá para misturar as mídias, um filme tem de funcionar sozinho e convencer a plateia de que tudo ali apresentado tem vida própria.

Ao que tudo indica, o que aconteceu aqui foi uma sobrecarga do senhor Affleck. Sim, ele dá conta de tudo, o filme funciona, tem bons momentos de ação, uma direção que reafirma porque o cara ganhou um Oscar, porém tem algumas decisões de roteiro que são questionáveis, a começar pela construção do personagem principal.

leidanoite1 b45ff

Histórias triviais são comuns e bem aceitas em filmes, mas não dá para dizer que isso funciona muito bem no mundo da máfia. Somente homens cruéis se dão bem neste meio e Joe Coughlin talvez não seja bem esse tipo de cara. O resultado é que acompanhamos a história de um cara que fica em cima do muro e não decide se quer abraçar o crime ou viver um grande romance.

A história de Coughlin, na verdade, segue mais uma trilha de emoções, do que a carreira de ambição dos mafiosos. E é nessa de ficar de amorzinho para todos os lados que o roteiro se perde e não desenvolve todo o seu potencial. É claro que há espaço para contar qualquer história, mas, em “A Lei da Noite”, o protagonista parece até deslocado de seu universo.

A parte boa de mudar de foco é que o filme consegue tratar de outras importantes situações da época, incluindo a dependência química, os problemas com religiões, os extremistas, a chegada de vários imigrantes (e aqui até cabe pauta para racismo e mistura de cultura) e outros pontos muito pertinentes. Todavia, o espectador pode sentir falta de um envolvimento maior no mundo da máfia.

Uma época violenta em toda sua beleza

Se por um lado, Ben Affleck perde as estribeiras no roteiro, toda sua equipe dá o máximo para levar o espectador a uma época de glamour com direito a ambientação impecável. Joe Coughlin vive numa cidade pequena, porém há espaço de sobra para mostrar os clubes pomposos, os figurinos espetaculares e carros de luxo da época.

Nesse ponto, o roteiro um tanto disperso ajuda a mostrar os cenários e dar vez para um retrato bem fidedigno da época (não que eu tenha vivido em 1920, porém a gente tem referenciais, os quais são levados a um patamar elevado nesta obra). A fotografia caprichada é explorada de inúmeras formas, incluindo o uso de planos gerais, que dão uma visão do todo.

Entra em jogo também o excelente uso de luzes e sombras. A máfia costuma se esgueirar pelas penumbras, então nada mais óbvio do que colocar Coughlin num mundo escuro, definido por tons em sépia, em que seu chapéu recobre sua face e esconde suas tramoias. Ok, isso não dá muito certo nessa parte de manter segredos, mas funciona para criar um clima de mistério.

leidanoite2 8d1b1

Para orquestrar tudo isso, a gente tem o gênio Ben Affleck por trás das lentes. “A Lei da Noite” é um filme muito agitado, com cenas fortes, que exigem movimentação constante. Sequências de perseguição em alta velocidade, tiroteios incessantes e diálogos tensos — intensificados pela trilha sonora bastante imponente — exigem dinamismo, algo que Affleck tira de letra. O problema do filme definitivamente não está na direção.

O elenco é muito competente, ainda que apenas pareçam interpretar um filme (nada melhor do que obras que nos convencem de estar frente às verdadeiras figuras). Novamente, o roteiro pode ter alguma culpa, com um desenvolvimento fraco de personagens, que não permitem ao público dar a devida importância.

Com tom de romance excessivo, “A Lei da Noite” não passa de um filme que retrata um período turbulento, mas que não nos leva para este universo perigoso e atraente. Muito caprichado em quesitos técnicos, porém longe de ser uma obra no nível de Argo. Apesar de alguns inconvenientes, ainda é uma boa pedida para o cinema.

Crítica do filme Manchester À Beira-Mar | Realismo e muita sofrência

Indicações ao Oscar não são (ou não deveriam ser) sinônimos de filmes bons. Por sinal, não existe um parâmetro muito claro para o filme ser indicado. Dito isso, “Manchester À Beira-Mar” é um drama que não se vê com tanta frequência no cinema americano atual. A história não é muito complexa e juro que me esforcei bastante, mas o sentimento de tédio me dominou durante a exibição.

A trama conta como Lee Chandler (Casey Affleck), um simples zelador de Boston, é forçado a voltar a sua cidade natal ao saber da morte de seu irmão Joe (Kyle Chandler). Ele precisa confrontar seu passado trágico enquanto lida com a responsabilidade de cuidar do sobrinho adolescente Patrick (Lucas Hedges), já que sua mãe o abandonou e supostamente desapareceu anos antes de seu pai falecer.

E não há muito mais que isso, além do motivo de Lee ter se tornado uma pessoa acabrunhada, depressiva, e incapaz de  superar um trauma. Mas se quiser mergulhar bem fundo, os personagens atuam de formas distintas em relação a algo que afeta a todos: a inevitabilidade da morte, seja ela trágica ou não.

maxresdefault e27c3

A trama gira em torno da relação entre Lee e Patrick, e como eles estão lidando com o fato de perder um ente querido. Mas não espere por um final de redenção, catártico e repleto de lágrimas. O diretor Kenneth Lonergan preocupa-se em demonstrar uma investigação emocional lenta, delicada e focada em detalhes de um personagem engolido pelo sofrimento, Lee, enquanto Patrick se agarra a vida e tenta levá-la da melhor forma possível.

O filme é repleto de planos longos e diálogos realistas, que reforçam os pontos de vistas distintos dos protagonistas, e criam os conflitos necessários para a história andar. Praticamente tudo é filmado de um ângulo distante, talvez para refletir o distanciamento emocional de Lee.

A crua realidade e complexidade das emoções humanas são as bases da trama

Lee é um personagem fechado, apático e rude em algumas situações que o deixam desconfortável. Em mais de uma cena ele começa uma briga de bar, apenas para extravasar suas frustrações, o que não condiz com sua personalidade no cotidiano. Isso é interessante para mostrar a complexidade da personalidade de cada um. O falecimento de seu irmão impõe diversos reajustes em sua vida rotineira, entre elas preparar o funeral e velório e servir de tutor para Patrick.

Mas o maior desafio é voltar a viver, já que Lee estava evitando tudo devido ao trauma do passado, então situações cotidianas passam a ser uma tarefa árdua. Apesar da grande carga emotiva que o filme evoca, não é algo apelativo. Isso fica bem claro com Patrick, que consegue manter uma boa relação com o tio, enquanto toca em uma banda, joga Hockey na escola e tem duas namoradas. Os dois trilham a narrativa através de diálogos delicados, onde suas vontades são completamente diferentes, já que lidam de maneira distinta com o sofrimento.

Manchester by the Sea 1 Full 28a70

Michelle Williams interpreta Randi, ex-mulher de Lee, precisa ser mencionada pela excelente atuação mas infelizmente não aparece mais do que dez minutos no filme. Em determinada situação eles se encontram, e fica claro que ela ainda o ama, mas precisou ignorar esse sentimento para consguir seguir em frente com sua vida. Assim como o filme todo essa cena também é bem realista nos diálogos e reações.

ALERTA DE SPOILER, se não quiser pule para o próximo parágrafo
O que me incomodou bastante foi o fato de Lee não querer superar a tragédia do passado, sendo que toda a situação apresentada é praticamente perfeita para isso. Patrick é como seus filhos seriam na adolescência, ele só precisaria de alguém ali para tarefas básicas e um leve apoio emocional, nada muito complexo. Até mesmo sua rotina não mudaria muito, já que ele só ia ter que se mudar para uma mansão ao invés do apartamento minúsculo em que vivia. Mas Lee parece preferir a solidão e tristeza que já está habituado, e por mais que isso sirva como retrato da realidade, me parece menos plausível ele decidir continuar na miséria e sofrimento do que pelo menos tentar superar.

Em última instância, Manchester À Beira-Mar é o retrato de um luto insuperável, mas por negar a chance de superação que é claramente apresentada. Pegue seu café mais amargo, deixe esfriar e tome durante as duas horas de filme, sozinho. Dessa forma talvez você consiga sentir-se mais próximo de Lee.