Ó grande Outubro da classe operária! Erguem-se enfim os que viveram tanto tempo Vergados ao jugo! Ó soldados, que haveis Finalmente apontado as armas para o alvo certo! Os que cultivaram a terra na Primavera Não o faziam para si próprios. O Verão Mais os vergou. A colheita ainda Foi para os celeiros dos senhores. Mas o Outubro Viu já o pão nas mãos certas!
Antes de ser rosa, o Outubro era VERMELHO. Apesar de ter começado em Fevereiro de 1917, foi em Outubro do mesmo ano que a A Grande Revolução Socialista Soviética pos fim ao domínio do tsar na Rússia, quebrando a hierarquia social exploradora vigente. Operários, soldados e camponeses, guiados pelos bolcheviques, tomaram o poder e deram início ao Estado dos Sovietes.
A Revolução de Outubro de fato abriu as portas para o período de recuperação graças a estrutura democrática garantida por Vladimir Lenin. Entretanto a morte do líder bolchevique levou muito dos ideais revolucionários para a mesma cova e apesar de roper um ciclo histórico de abuso, tentando introduzir um processo mais igualitário, o Outubro Vermelho de 1917 não conseguiu concretizer o sonho utópico comunista, sendo que no final, quanto mais as coisas mudaram, mais elas continuaram iguais, apenas com novos chefes, iguais aos chefes antigos...
Para relembrar os subversivos da primeira revolução comunista marxista do século XX preparamos uma breve lista com alguns filmes vermelhos para corromper a mente da nossa juventude.
Retornando dos mortos tal qual os zumbis do título, “Zumbilândia: Atire Duas Vezes” é a continuação que ninguém esperava mas que é muito bem vinda. Desnecessário dizer que o filme é excelente, já que seu elenco conta com a cativante vencedora do Oscar Emma Stone ❤.
“Zumbilândia” estreou em 2009, uma década em que zumbis ocupavam um espaço considerável na cultura pop. Então, depois de dez anos certamente os cadáveres já puderam se decompor e finalmente descansar, certo? Claro que não!
Quem assistiu o primeiro filme deve lembrar que Bill Murray era o único personagem que interpretava ele mesmo. Em “Atire Duas Vezes”, a justificativa do querido ator sobre a razão dos estúdios continuarem fazendo sequências de filmes antigos é muito simples: drogas custam dinheiro.
Regra #32: Aproveite as pequenas coisas da vida
Um dos maiores charmes de Zumbilândia é a utilização da metalinguagem e a ousadia em fazer piadas nas horas mais inapropriadas. Não por acaso, o diretor Ruben Fleischer assinou a direção do controverso “Venom”, e os roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick foram os responsáveis pelo roteiro de “Deadpool”. Certamente eles trabalham com o que gostam, mas a eficiência de todos esses filmes pode ser resumida em pontos como baixo orçamento e quebra de expectativas.
“Zumbilândia”, de 2009, era pautado nas regras de como sobreviver em um apocalipse zumbi. Desenvolvidas pelo protagonista e narrador Columbus (Jesse Einsenberg), as regras exemplificam as cenas que viriam a acontecer, tudo com um tom bastante descontraído. A princípio, “Zumbilândia: Atire Duas Vezes” segue o mesmo caminho, mantendo-se bastante fiel ao original apenas para quebrar as próprias regras.
A desajustada família composta por Columbus (Eisenberg), Tallahassee (Woody Harrelson), Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin) decidem se estabelecer em um novo lar, então começam a morar na Casa Branca. Por um breve período, a vida doméstica e pacata parece satisfazê-los, mas a tentativa de encaixar as mulheres em papéis tradicionais, a filha que precisa de proteção constante e a leal esposa, faz com que elas fujam do ninho.
Para expandir um pouco o universo da terra de zumbis, temos algumas adições peculiares. Desde o princípio os personagens são claramente estereotipados, mas em “Atire Duas Vezes” fica explícito. O melhor exemplo é Madison (Zoey Deutch), uma garota que parece ser retirada das comédias escrachadas do começo do século, com piadas recorrentes que envolvem a sua inteligência limitada.
Regra é coisa pra frouxo
Há algumas surpresas a respeito dos zumbis, que agora são classificados em tipos: alguns muito lentos e burros, outros inexplicavelmente inteligentes e também alguns vorazes e praticamente indestrutíveis. É preciso notar também que boa parte do enredo se baseia na história e cultura estadunidense, o que pode parecer meio sem graça para quem não conhece ou não se importa com esse tipo de coisa.
Tallahassee, sendo um grande fã de Elvis Presley, tenta transmitir essa paixão à Little Rock. Ambos sonham em conhecer Graceland, a famosa mansão em que Elvis morou, e lá os nossos heróis conhecem Nevada (Rosario Dawson), tão apaixonada pelo Rei do Rock que decidiu cuidar pessoalmente do museu. Basicamente apenas um par romântico para Tallahassee, ela faz drinks, dá tiros e sabe dirigir loucamente enquanto atropela zumbis.
Outra adição hilária são os personagens espelhados em Tallahassee e Columbus, Albuquerque (Luke Wilson) e Flagstaff (Thomas Middleditch), respectivamente. É curioso que quase todos os outros sobreviventes do apocalipse são absurdamente burros e despreparados, quebrando propositalmente os conceitos do primeiro filme apenas pela diversão. O roteiro é repleto de falhas, mas isso não importa nem um pouco, é tudo pelo bem dos fãs e gostosas risadas.
“Atire Duas Vezes” tem uma duração ideal, uma boa direção, um elenco competente e piadas com o timing certo. Os efeitos de gore estão incríveis, apostando mais nos efeitos práticos e usando o digital como complemento. Certamente uma década de Walking Dead colaborou muito para essa evolução.
Por não se levar a sério e deixar isso claro desde os primeiros minutos, a experiência descontraída para quem ainda é fã de zumbis (Walking Dead ainda existe?) e quer um entretenimento leve é garantida. Por mais que seja uma sequência totalmente desnecessária, vale a pena contribuir para os produtores comprarem mais drogas. Não saia do cinema antes dos créditos finais, pois as gargalhadas são garantidas.
Não é preciso ser um gênio para perceber que a cada dia que passa chegamos mais próximos do fim da humanidade como conhecemos e vivemos hoje. Em tempos em que a ganância de grandes corporações e a ignorância das pessoas têm combatido a ciência, podemos ter noção de como nossas ações podem resultar, eventualmente, em catástrofes globais ou em pandemias que podem dizimar toda uma população.
Esses são temas já comuns na indústria de Hollywood, mas muitos buscam exaltar mais o lado dos desastres, principalmente com incríveis efeitos visuais para impressionar a plateia com as tantas hipóteses de um eventual apocalipse. Todavia, vez ou outra, temos a chances de ver algumas ideias que saem do lugar-comum, sendo que “A Luz no Fim do Mundo” se encaixa justamente nessa categoria.
Em vez de partir de explicações sobre o passado ou tentar reproduzir o fim do mundo, o filme escrito, dirigido e protagonizado por Casey Affleck larga mão do tradicional para ir no lado mais reflexivo de situações extremas. Nesta história, acompanhamos um pai (Casei Affleck) e sua filha adolescente, Rag (Anna Pniowsky) buscando formas de sobreviver em um mundo devastado por uma pandemia.
E este poderia ser apenas um filme de ação com toques de sentimentalismo, mas o que vemos são indagações mais profundas, numa obra que acaba pendendo muito mais para um drama com pitadas de suspense. Assim, em vez de entregar absolutamente todas as respostas, “A Luz no Fim do Mundo” visa propor mais questões sobre como nos portaríamos quando temos que lutar pela sobrevivência de um filho.
Sem pressa no fim do mundo
O que fazer para passar o tempo quando o mundo está à beira de um colapso? Como manter a sanidade em um ambiente hostil? Quais sentimentos afloram para quem não tem nada a perder? E quais habilidades desenvolvemos quando temos tudo a perder? Essas podem parecer questões aleatórias, mas que são pertinentes se fossemos imaginar um cenário similar ao proposto nesta trama.
Ao que parece, Casey Affleck quis justamente colocar esses pequenos detalhes como o fundamento para o desenvolvimento do filme, algo que pode afastar o público mais tradicional já na primeira cena. O pontapé inicial é tudo que o espectador precisa para entender o cerne do filme, então se você não gosta de diálogos longos, pausados e sem trilha sonora, talvez você já pode ter noção que este não é o filme mais apropriado para você.
E esta poderia ser apenas uma cena perdida para dar suporte ao filme, porém, dado todos os argumentos introduzidos na trama e as situações de extrema cautela, o que temos é uma ampliação desse desenvolvimento pausado. O que é muito legal nessa abordagem é que a obra não entrega tudo de mão beijada, sendo que vamos compreendendo os detalhes do passado em pequenos detalhes e flashbacks.
Apesar do começo vagaroso e do ritmo lento (que parece ser ainda mais arrastado dado a duração total de duas horas de projeção), é válido ressaltar que isso não elimina o clímax do filme, tampouco impede a colocação de cenas mais tensas no meio da película. Muito pelo contrário, se você realmente prestar atenção aos detalhes, o filme consegue te captar pelas nuances do inesperado, afinal ficamos observando tudo nos cenários.
Apreciando o declínio da humanidade
Longe de ser um apocalipse devastador, o caos proposto em “A Luz no Fim do Mundo” é muito mais “pé no chão”, o que ainda garante que o público fique curioso para entender os detalhes do que aconteceu, mas que evita que o filme tenha que inventar situações mirabolantes. Assim, o que temos são paisagens tomadas pelos efeitos do tempo e da natureza, que toma de volta o espaço.
A produção é caprichada nesse sentido, já que a composição visual e a fotografia são elementos cruciais para criar um ambiente mais convincente. Interessante também que com a história proposta, o filme consegue abordar diferentes cenários do fim do mundo, o que deixa a gente mais vislumbrado, bem como permite rumos inusitados na trama.
Falando nisso, crucial para o andamento da história são as atuações de Casey Affleck, que aqui continua sendo ele mesmo — numa pegada bem calma à la “Manchester à Beira Mar” — e da pequena Anna Pniowsky, que nos encanta a cada instante com sua personalidade fantástica. É claro que essa dinâmica entre os dois seria importantíssima, então o filme acerta em cheio ao ter dois artistas tão talentosos.
É claro que apesar de ter seu brilhantismo, os cinéfilos de plantão talvez associem muito do que há em “A Luz no Fim do Mundo” com o universo de “A Estrada”. Todavia, ao que me parece, as únicas coincidências são o fim do mundo e a relação paternal, pois do contrário são histórias e rumos bem distintos — cada um na sua pegada e com seus respectivos méritos.
No fim do dia, “A Luz no Fim do Mundo” é um ótimo filme para quem gosta de apreciar nosso lado mais humano, mas talvez não a melhor opção para os fanáticos por ficções sobre apocalipses. De qualquer forma, não duvido nada que o longa tenha algumas indicações nas principais premiações, pois é muito bem executado.
Sob a batuta de Ang Lee, diretor oscarizado de O Segredo de Brokeback Mountain, estrelado pelo multipremiado Will Smith, e sob os cuidados do mega-produtor arrasa-quarteirão e manjador mor dos paranaue, Jerry Bruckheimer , Projeto Gemini parece destinado ao sucesso... Certo?
Apostando em efeitos especiais de alta qualidade e uma nova tecnologia de cinematografia de altíssima definição, o filme entrega o que promete, mas não coloca nenhum adereço na embalagem. O roteiro raso (e um tanto datado) e a direção receosa de Ang Lee não exploram todo o potencial da película, que mesmo assim ainda agrada sem fazer muito esforço.
Com o perdão da brincadeira, em um mar de filmes clones sem qualquer inovação real, qualquer vestígio de criatividade deve ser celebrado e em Projeto Gemini existe muita criatividade por trás das câmeras, infelizmente nem todas essas ideias aparecem na frente das lentes, o que reduz toda a produção a mais um filme de ação. Sem qualquer demérito ao gênero, fica a ressalva de que, mesmo sendo um bom filme de ação, Projeto Gemini não alcança todo seu potencial.
Um maluco no encalço
Rodando por Hollywood desde 1997, a trama de Projeto Gemini parecia muito mais interessante na época em que foi concebida pelo roteirista Darren Lemke do que agora, mais de vinte anos e algumas revisões depois. Como era de se esperar de uma obra que foi reescrita por diferentes mãos, incluindo David Benioff (de Game of Thrones), o produto final sofre de uma esquizofrenia narrativa que afeta em muito o desenvolvimento da história.
Em Projeto Gemini acompanhamos Henry Brogan (Will Smith) um operativo de elite de uma agência de inteligência governamental. O problema é que a idade chega para todo mundo e Henry, um cinquentão, já não conta com os mesmos reflexos da sua juventude. Ciente de suas limitações, ele resolve entrar com o pedido de aposentadoria (antes que a reforma da previdência coloque ele na linha de tiro).
Infelizmente, o trabalho de Henry não conta com muitos direitos trabalhistas e um de seus ex-comandantes, Clay Verris (Clive Owen) não aceita muito bem a ideia de ter uma “ponta solta” como Brogan andando por ai sabendo o que ele sabe sobre o submundo da espionagem internacional, desencadeando assim uma série de tentativas de eliminar essa ameaça.
Agora, com um assassino de elite em seu encalço, Brogan, acompanhado de Danny Zakarweski (Mary Elizabeth Winstead), uma agente infiltrada, ele sai fugindo mundo afora acionando seus velhos contatos e antigos amigos de profissão. A coisa fica ainda mais confusa quando Brogan descobre que a pessoa que está em seu encalço é, na verdade, seu clone.
Apesar de apresentar conceitos interessantes, tudo parece desprovido de personalidade, derivativo. Na década de noventa poderia ter sido muito mais original vermos a história de um assassino veterano sendo caçado/traído pelo seu empregador/governo/parceiro. Atualmente, mesmo com a adição da reviravolta do oponente ser uma versão mais jovem de si, pouco se acrescenta ao extenso elenco de produções do gênero.
Uma pena, haja vista o potencial do elenco, direção e tecnologia por trás de Projeto Gemini. O talento de Ang Lee certamente poderia explorar o alcance dramático de Will Smith levando o que seria um mais um filme de ação em um título mais denso, cativante e até mesmo introspectivo.
Olho no lance
Poderíamos falar por horas a fio do feito tecnológico por trás de Projeto Gemini. Apostando em um salto tecnológico, o diretor Ang Lee, que já havia flertado com o cinema de altíssima definição com A Longa Caminhada de Billy Lynn — rodado em 4K e 3D com uma taxa altíssima de quadros por segundo — entrega um filme com efeitos filmados a impressionantes 120fps (no que foi batizado de 3D+).
Essa técnica deixa toda a experiência cinematográfica muito mais fluída, além de oferecer uma sensação de profundidade mais nítida aos efeitos 3D. Se esta tecnologia é, o não é, o futuro da fotografia no cinema ainda vamos ver, mas Projeto Gemini certamente se beneficia desse trunfo.
Além disso, também merece destaque o rejuvenescimento digital de Will Smith. O construto, totalmente virtual, é impressionante e só apresenta defeitos quando superexposto. Em outras palavras, se você pretende ver Projeto Gemini faça isso em uma sala que suporte o 3D+.
Big Willie Style
Ang Lee não acrescenta os efeitos e tecnologia apenas pela extravagância técnica. O diretor explora o sistema, experimentando novas possibilidades e estilos possibilitados pela ferramenta. Com um personagem protagonista totalmente digital criado a partir da captura de movimentos, o diretor consegue colocar o ator frente a frente com sua contraparte rejuvenescida de maneira muito convincente.
A ressalva quanto à direção de Ang Lee é justamente por conta do que ele nos apresenta como possibilidade, mas não engaja o suficiente dentro do filme. Tecnicamente, o diretor comanda o filme de maneira inteligente, mas não explora seu maior recurso, Will Smith e o resto do elenco. Mary Elizabeth Winstead tem um grande momento no filme, mas é pouco utilizada dentro da trama, enquanto Clive Owen entrega uma atuação descompromissada e extremamente caricata. Por sua vez, Will Smith age no piloto automático, entregando uma atuação consistente, mas pouco elaborada.
Parece que dois Will Smith não são suficientes para carregar um filme inteiro
O alcance dramático de Will, que já lhe rendeu duas indicações ao Oscar poderia explorar até mesmo uma faceta existencialista dentro do filme, vereda que acrescentaria muito mais consistência ao título, que se contenta em entregar releituras de filmes de ação dos anos 90. Projeto Gemini tem boas cenas de ação — com destaque para a sequencia nas ruas de Cartagena e o "bike-fu" de Will Smith — e para expremer todo o suco é melhor assistir em uma grande tela com o sistema 3D+
Dia 12 de outubro é o dia da criança, pelo menos por aqui na Terra Brasilis, talkey. Aproveitando o vácuo comercial até o Natal, a indústria de brinquedos resolveu formar o seu próprio feriado pra vender bugiganga, mas chega desse papo comunista ai, nada de doutrinar as pessoas com esse discurso desagregador, afinal, a criançada não está nem ai pra isso, quer mais é saber daquele presentão bonito pra fazer inveja no coleguinha e encher a paciência do irmãozinho.
Pra entrar de cabeça nessa “data tão especial”, cheia de inocência e esperança, o Café com Filme preparou uma lista de aventuras radicais com altas confusões, só pra essa turminha do barulho poder aproveitar a data de montão. Tem a galerinha que curte esportes, brincadeiras, assassinato, luta antifacista, culto pagão e outras coisas gostosas típicas da infância...
Há um certo encanto nos filmes que é difícil de descrever, uma atmosfera hipnotizante que nos mantêm vidrados por horas contemplando existências fictícias. Boa parte desse encanto provêm de excelentes atores e atrizes que tanto amamos, como Brad Pitt.
Como protagonista dessa aventura espacial, a escolha desse magnífico ator é bastante acertada, pois os adjetivos e elogios servem tanto para ele quanto para “Ad Astra – Rumo às Estrelas". É fácil notar que tudo que estamos presenciando é a partir do ponto de vista do protagonista, desde seus pensamentos e avaliações psicológicas até momentos de extrema tensão em que ele se mantém plácido e extremamente eficaz na resolução dos problemas, tanto físicos quanto filosóficos.
James Gray assina a direção e co-escreveu o roteiro com Ethan Gross em um longa que assim como a performance de Brad Pitt, é bastante controlado e contemplativo, ainda que possua boas doses de adrenalina e desespero em momentos chave. Há uma familiaridade em “Ad Astra”, obviamente devido a todos os filmes sobre exploração espacial, mas também há uma certa particularidade que torna o filme um misto de realidade e ficção, uma espécie de sonho lúcido de um futuro próximo que talvez nunca aconteça.
Per aspera ad astra
A sequência inicial já impressiona bastante. Após um terrível acidente que passa a ser conhecido como “O Surto”, o major Roy McBride (Brad Pitt) recebe a notícia de que a sobrevivência de nosso planeta está ameaçada graças a uma misteriosa onda de energia que viaja através do espaço.
Isso pode ter relação com o sumiço de seu pai, Clifford McBride (Tommy Lee Jones), um astronauta dedicado a encontrar vida inteligente fora da Terra. Agora sua missão é viajar em direção ao espaço profundo e solucionar esse mistério, com segredos que podem ameaçar a existência humana.
A trama se passa em “um futuro próximo”, deixando propositalmente em aberto os eventos que o filme retrata. Apesar de ter um os pés bem firmes no chão e ser incomodamente semelhante a nossa realidade, “Ad Astra” possui muitas liberdades poéticas nas questões científicas.
Isso já foi abordado por diversos cientistas em sites sobre o tema, então não compensa comentarmos a respeito. Basta dizer que é tudo bastante convincente, sem os exageros que a ficção científica normalmente se utiliza, simplesmente pelo desenvolvimento da história e o que ela significa. Em “Ad Astra” o que importa é a jornada e não o destino.
Pai, por que me abandonaste?
Praticamente o filme todo é ancorado por Roy. É um personagem cativante, misterioso e totalmente controlado. Além de ser filho de um astronauta admirado como um herói por todos, ele é conhecido por sua capacidade inexplicável de manter-se calmo em situações de extrema tensão, algo que se mantêm ao longo do filme, ou quase isso.
Ao prestar atenção nos diálogos internos, descobrimos que essa armadura de frieza são resultado do projeto espacial que seu pai iniciou quando Roy ainda era criança e como a dedicação ao trabalho atrapalhou sua vida pessoal. Por fora, ele é calmo, responsável e simpático, mas internamente ele não consegue se relacionar com outras pessoas e vive apenas fugindo de seus conflitos internos e isso tudo transparece na película em detalhes sutis, mas que entregam exatamente o que o protagonista está passando.
Infelizmente, por ser tão focado em Roy, “Ad Astra” nunca explora os outros personagens devidamente. Eve (Liv Tyler), a esposa de Roy, tem no máximo duas falas no filme todo, apesar de ser tão importante para o protagonista. Helen Lantos (Ruth Negga), personagem que lidera a colônia em Marte serve apenas como um facilitador de eventos para Roy, ainda que sua relação com o protagonista seja no mínimo conflitante. A sensação é de que cada um dos personagens pudesse protagonizar um filme a partir de seu ponto de vista, tamanha sua complexidade e subutilização.
Pode-se dizer que filmes sobre exploração espacial não são novidade, por isso mesmo que “Ad Astra“ chama atenção. Já é tudo familiar, ainda que com suas características próprias e de certa forma, um ângulo diferente. A expectativa sobre o que pode acontecer é tão subvertida que acaba surpreendendo pelo óbvio. Mas a verdade é a que a mensagem que o filme passa é tão impactante que é difícil ficar impassível como Roy. Vale a pena embarcar nessa jornada, tanto pela inspiração quanto pelo entretenimento.